sábado, 27 de dezembro de 2014

ENTREVISTA

Entrevista

No dia 16 de agosto, o professor e coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria, José Renato Ferraz da Silveira, lançará a obra A tragédia da política em Ricardo II, fruto de sua tese de doutoramento defendida em 2009 na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. José Renato dá sequência a uma pesquisa que já rendeu bons frutos quando da publicação de sua dissertação de mestrado – A tragédia da política em Ricardo III.   

O       lançamento será na Livraria Nobel, 2° andar, Shopping Royal Plaza, às 17 horas.


Do que o livro trata?
José Renato: Vivemos tempos sombrios, tempos difíceis, tempo de tragédia, tempo de grandes mudanças, quando se entrelaçam destinos pessoais e históricos em registro extremo. É o retrato de tempos assim que é a matéria deste livro. Estão em jogo a tensão e a ruptura dramática entre orientações políticas básicas na passagem da era medieval para a moderna. Como se vê neste livro, ao tratar de Ricardo II Shakespeare mobiliza os grandes temas que dão unidade à sua dramaturgia política, centrada na figura trágica do homem que está no centro da ação e tem sua capacidade de fazer frente aos entrechoques de ambições e paixões continuamente posta à prova. Procuro demonstrar pela contextualização histórica da figura de Shakespeare, a qualidade primeira que ele vê no monarca  no qual consiste em ser capaz de manter sob controle as ambições e hostilidades daqueles que o cercam. Ser capaz de centralizar e concentrar na sua pessoa o poder, não mais por injunção divina e sim (e aqui cabe Maquiavel) por virtú. Unificar o mando, consolidar a nação; realizar, portanto, a grande tarefa histórica do momento, a da construção do Estado nacional. É esse tema, nas suas diversas dimensões e na transfiguração que lhe confere a grande obra de arte, que se encontrará reconstruída neste livro.


A peça Ricardo II pode ser lida como uma obra política?
JR: Sem dúvida. Ricardo II é obra singular, imprescindível ao campo da ciência política e proporciona ao leitor um ângulo privilegiado para observar a transição de um fundamento teológico da Idade Média para uma justificação moderna de legalidade-legitimidade dos reis, apresentada por Shakespeare por meio da tragédia lírica. De fato, essa obra dramatúrgica possui potencial para enriquecer e/ou complementar obras da filosofia e teologia política, em um fluxo multidirecional. Cito parte do prefácio do amigo,  professor e cientista político Reginaldo Teixeira Perez “vislumbram-se, assim, os planos que interagem na obra de Silveira: um autor contemporâneo (século XXI) se debruça sobre uma peça shakespeariana (final do século XVI), que, de sua parte, com o possível intento de metaforizar o reinado de Elisabeth, retrata um drama histórico-político da segunda metade do século XIV. Não é necessário recorrermos às exigências vergastadas por Quentin Skinner[1] a uma boa recuperação de um tempo pretérito – a saber, erudição à farta na apreensão dos significados dos termos dos debatedores daquele contexto – para reconhecermos a coragem incomum do professor José Renato no tratamento dado aos seus temas estudados. O que se depreende de sua obra (em tempo: de agradabilíssima leitura) – e que certamente o aproxima de perspectivas shakespearianas – é uma possibilidade que a todos fascina: os indivíduos teimam em não ser escravos de seu contexto de formação, ceteris paribus, parece ser necessário reconhecermos componentes constantes nas nossas condutas. O exame da política – assim como o de seu sujeito, o político –, em sua dimensão agônica e universal, apresenta-se como um bom caminho”.


Qual a importância da sua obra para o leitor?
JR: O que observamos é que cada vez mais as vivências políticas dos estadistas são teatralizadas, em que as “sombrias forças” do poder impactam principalmente neles. A obra procura evidenciar a crise generalizada que intima profundamente a dimensão cultural, artística, política, ecológica, espiritual e filosófica de nosso tempo, pois todas estão tocadas, no seu âmago, por um sentimento de desorientação e incerteza. A angustiante insatisfação das populações com as democracias ocidentais tem sido parte da História. Elevam-se as vozes que interrogam as escolhas e decisões que determinaram a economia política das sociedades. Mas ao mesmo tempo, vemos sinais da criação de novas formas de viver e de pensar, inspirados na memória das lutas políticas e dos movimentos sociais. A presente obra A tragédia da política em Ricardo II demonstra essa singularidade histórica do Ocidente (podemos pensar também em termos do Brasil do século XXI), entrelaçando experiências trágicas e esperanças messiânicas.
Creio quem tiver a oportunidade de adquirir e ler a presente obra terá o privilégio de ver os seguintes aspectos: a) a imbricada relação entre arte e política, uma incômoda reunião, outras vezes, uma surpreendente união como diria o cientista político Miguel Chaia; dois, a análise centrada nas relações de poder, sob a visão realista conquista, manutenção e queda; três, os conflitos que são inerentes ao jogo político numa linguagem acessível; quatro, a dimensão trágica do poder, principalmente no que se refere a queda do rei Ricardo II; cinco, conhecimento de história medieval e moderna inglesa; seis, conhecimento literário da peça Ricardo II; sete, conhecimento da biografia do dramaturgo William Shakespeare; oito, é fruto de minha tese de doutorado, muito original, criativa e rica em linguagem e cultura política.

José Renato Ferraz da Silveira é coordenador e professor do curso de Relações Internacionais na Universidade Federal de Santa Maria. Estudioso da obra shakespeariana desde 1999. Publicou Sob o signo da Fênix lançado pela editora canal 6, participou da obra Arte e Política (sob organização de Miguel Chaia) e publicou A tragédia da política em Ricardo III, ambos lançados por esta editora. É membro do Núcleo de Estudos em Mídia, Política e Arte (NEAMP) e líder do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais de Santa Maria (PRISMA). Atualmente pesquisa guerras e conflitos simbólicos, cultura e teoria política e a permanência da tragédia na política.





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