terça-feira, 27 de março de 2012

A coragem para ser feliz
Continuamos a perder muitas coisas na vida só por causa da falta de coragem. Na verdade, nenhum esforço é necessário para conquistar – só é preciso coragem – e as coisas começarão a vir até você, em vez de você ir atrás delas. Pelo menos no mundo interior é assim.
E para mim, ser feliz é a maior coragem. Ser infeliz é uma atitude muito covarde. Na realidade, para ser infeliz, não é preciso nada. Qualquer covarde pode ser, qualquer tolo pode ser. Todo mundo é capaz de ser infeliz; para ser feliz é preciso coragem – é um risco tremendo.
Não temos o costume de pensar assim. Nós pensamos: “ O que é preciso para ser feliz? Todo mundo quer ser feliz.” Isso está absolutamente errado. É muito raro uma pessoa estar pronta para ser feliz – as pessoas investem tanto na infelicidade! Elas adoram ser infelizes. Na verdade, elas são felizes por serem infelizes.
Há muitas coisas para se entender – sem entendê-las é muito difícil se livrar da mania de ser infeliz. A primeira coisa é: ninguém está prendendo você; é você que decidiu ficar na prisão da infelicidade. Ninguém prende ninguém. O homem que está pronto para sair dela, pode sair quando quiser. Ninguém mais é responsável. Se uma pessoa é infeliz, é ela mesma a responsável. Mas a pessoa infeliz nunca aceita a responsabilidade – é por isso que continua infeliz. Ela diz: “ Estão me fazendo infeliz” .
Se outra pessoa está fazendo com que você seja infeliz, naturalmente não há nada que você possa fazer. Se você mesmo está causando a sua infelicidade, alguma coisa pode ser feita... alguma coisa pode ser feita imediatamente. Então ser ou não ser infeliz está nas suas mãos. Todavia as pessoas ficam jogando nos outros a responsabilidade – às vezes na mulher, às vezes no marido, às vezes na família, no condicionamento, na infância, na mãe, no pai... outras vezes na sociedade, na história, no destino, em Deus – mas não param de jogar nos outros. Os nomes são diferentes, mas o truque é sempre o mesmo.
Um homem torna-se realmente um homem quando aceita a responsabilidade total – é responsável pelo quer que seja. Essa é a primeira forma de coragem, a maior delas. É muito difícil aceitá-la porque a mente vai continuar dizendo: “Se você é responsável, porque criou isso?”. Para evitar isso, dizemos que os outros são responsáveis: “O que eu posso fazer? Não tem jeito... sou uma vítima! Sou jogado daqui para ali por forças maiores que eu e não posso fazer nada. Posso no máximo chorar porque sou infeliz e ficar ainda mais infeliz chorando”. E tudo cresce – se você cultiva uma coisa, ela cresce. Então você vai cada vez mais fundo... mergulha cada vez mais fundo.
Ninguém, nenhuma outra força, está fazendo nada a você. É você e só você. Isso resume toda a filosofia do karma – que é o seu fazer; karma significa ‘fazer’. Você fez e pode desfazer. E não é preciso esperar, postergar. Não é preciso tempo – você pode simplesmente pular fora disso.
Mas nós nos habituamos. Se pararmos de ser infelizes, nos sentiremos muito sozinhos, perderemos nossa maior companhia. A infelicidade virou nossa sombra – nos segue por toda a parte. Quando não há ninguém por perto, pelo menos a infelicidade está ali presente - você se casa com ela. E trata-se de um casamento muito, muito longo; você está casado com a sua infelicidade há muitas vidas.
Agora chegou a hora de se divorciar dela. Isto é o que eu chamo de a grande coragem – divorciar-se da infelicidade, perder o hábito mais antigo da mente humana, a companhia mais fiel.
OSHO, The Buddha Disease, # 27
É importante ressaltar que coragem nada tem a ver com impulsividade. A primeira é um ato planejado, estruturado, com um alvo a se alcançar. Daí o indivíduo utiliza esta força para superar os desafios e alcançar suas metas. A segunda é resultante do descontrole que, conseqüentemente, trará um resultado imprevisível. O líder, antes de tudo, precisa ter a confiança de seus liderados e isso somente será possível com atitudes corajosas e não impulsivas. Imagine uma situação de risco: um incêndio, por exemplo. Líder é aquele que corajosamente organiza o grupo, orienta e tomas as decisões acertadas. Aqui está a diferença: ele toma as decisões corretas! Mas como saber que as decisões foram as melhores? Simples: ele atua com determinação, planejamento, senso crítico e não por impulso. O líder tem que prever o futuro, imaginar as possibilidades, enxergar o que ainda não veio. Assim, poderá tomar as atitudes acertadas e com isso garantir sua eficácia na condução de equipes.
Isto me faz lembrar da história narrada no Livro das Virtudes II, de William J. Bennett, sobre Alexandre, o Grande, e que transcrevo a seguir. Certa vez ele conduzia seu exército de volta para casa depois da grande vitória contra Porus, na Índia. A região que cruzavam no momento era árida e deserta, e os soldados sofriam terrivelmente de calor, fome e, mais que tudo, de sede. Os lábios rachavam e as gargantas ardiam por falta de água. Muitos estavam prestes a se deixar cair no chão e desistir.
Um dia, por volta de meio-dia, o exército encontrou um destacamento de viajantes gregos. Vinham montados em mulas, e carregavam alguns recipientes com água. Um deles, vendo o rei quase sufocar de sede, encheu um elmo com água e ofereceu-lhe.
Alexandre pegou o elmo nas mãos e olhou em torno de si. Viu os rostos sofridos dos soldados, que ansiavam, tanto quanto ele, por algo refrescante.
- Pode levar - disse ele -, pois se eu beber sozinho o resto ficará desolado, e você não tem o suficiente para todos.
E devolveu a água sem tomar uma gota. Os soldados, aclamando seu rei, puseram-se de pé e pediram que o líder continuasse a conduzi-los adiante.
Por isso afirmo que liderar é um ato de coragem! Nem sempre o líder será aceito por todos, ou suas idéias serão assimiladas. Nesta hora é fundamental coragem para e aceitar críticas e, se necessário, mudar. O grupo percebe aquele que titubeia diante de uma decisão. A pior coisa que pode acontecer a um “líder” é não ter o respeito de sua equipe. Sabemos que a verdadeira liderança não se conquista pela força opressiva, mas pelas atitudes de coragem reconhecidas pelos liderados.
A história da humanidade e das grandes conquistas, a mitologia, a ciência e muitas outras áreas do conhecimento demonstram que ter coragem é o primeiro passo para se atingir um objetivo. Um exemplo marcante é Lee Iacocca. Ficou famoso pela determinação e coragem para reerguer a Chrysler e transformar-se em benchmark sobre gestão de pessoas e de negócios. Assim sendo, podemos concluir que liderar é um ato de coragem! O sujeito covarde, pessimista, que desacredita da própria sorte é esquecido, largado, deixado de lado por todos e até mesmo por si próprio. Ninguém acredita naquele que teme o futuro, muito menos nos desafios da vida.
A Hora do Amor
Pablo Neruda

Completamente bêbado de amor estou agora
Levantaram-se em minha alma as doçuras perdidas,
As trêmulas campanas de uma vida sonora
Carregam os celestes cansaços desta vida.

Vem crepúsculo morno, vem aurora rosada,
Vem fragrância de beijos, vem calor de mulher.
Tanto tempo já faz que não espero a amada,
Que me mordem os cães do desejo e da sede.

Mas se bêbado vou de amor já não me importa,
A esperança longínqua que não pode volver,
As minhas rosas levo se a vida me for curta,
É claro!, os meu rosais seu que vão florescer.

Se porém levo todos os meus rosais fechados,
Dá-me fraterna mão, dá-me um fruto, Senhor,
Dá-me dois seios mornos e dois olhos amados,
Porque sem eles, Ai, que me vai ser do amor?
A tipologia das três formas do poder


Os estudos de política geralmente iniciam com uma análise do fenômeno do poder social. Bertrand Russel definiu-o da seguinte maneira: “Poder é a posse dos meios que levam à produção de efeitos desejados”.
Em outras palavras, o indivíduo que detém os meios de poder torna-se capaz de exercer várias formas de domínio e, por meio delas, pode alcançar os efeitos que desejar.
O fenômeno do poder costuma ser dividido em duas categorias: o poder do homem sobre a natureza e o poder do homem sobre outros homens. Frequentemente, essas duas categorias de poder andam juntas, uma influindo na outra.
A ciência política estuda, sobretudo, o poder do homem sobre outros homens, isto é, o poder social, mas também se interessa pelo poder sobre a natureza, porque essa categoria de domínio também se transforma em instrumento de poder social.
Se levarmos em conta o meio do qual se serve o detentor do poder para conseguir os efeitos desejados, destacam-se três formas de poder: o econômico, o ideológico e o político.
O poder econômico utiliza a posse de certos bens socialmente necessários para induzir aqueles que não os possuem a adotar determinados comportamentos, como, por exemplo, realizar determinado trabalho.
O poder ideológico utiliza a posse de certas idéias, valores, doutrinas, para influenciar a conduta alheia, induzindo as pessoas a determinados modos de pensar e agir.
O poder político utiliza a posse dos meios de coerção social, isto é, o uso da força física considerada legal ou autorizada pelo direito vigente na sociedade.
O poder econômico preocupa-se em garantir o domínio da riqueza controlando a organização das forças produtivas por exemplo: o tipo de produção e o alcance de consumo das mercadorias. O poder ideológico preocupa-se em garantir o domínio sobre o saber controlando organização do consenso social (por exemplo: os meios de comunicação de massa – televisão, jornais, rádios, revistas, etc.). E o poder político preocupa-se em garantir o domínio da força isntitucional e jurídica controlando os instrumentos de coerção social (por exemplo: forças armadas, órgãos de fiscalização, polícia, tribunais, etc.).
Vinho branco:

Frango
Peixe
Salada
Massas servidas ao molho branco
Cozinha japonesa ou tailandesa
Vinho tinto vai bem com:

Carne vermelha
Queijos e patês
Ensopados
Massas ao sugo
Faisão ou outras aves de caça
As formas de desigualdade

As castas

1) Max Weber afirma que a casta é uma ordem social, o que nos leva a dizer que o sistema de castas expressa uma forma de organização específica. A ordenação social baseada nesse tipo de agrupamento definia a posição dos indivíduos nos planos econômico e político, assim como a forma de funcionamento de suas instituições.
2) Pertencer a uma determinada casta podia conferir a seus membros uma posição social que era também política ante as demais castas numa dada comunidade.

A sociedade de castas

3) A sociedade de castas encerra algumas características básicas, como, por exemplo, a hierarquização rígida, baseada em critérios como hereditariedade, profissão, etnia, religião, que determinam uma “situação de respeitabilidade” e de relações sociais. A definição desses critérios ocorre a partir de um conjunto de valores, hábitos e costumes definidos pela tradição.
4) Pode-se dizer que nas sociedades antigas, a organização social baseava-se no sistema de castas. As desigualdades políticas, jurídicas, religiosas, etc. expressavam-se através do lugar que o indivíduo ocupava na estrutura de cargos e profissões, definidos pela hereditariedade.
5) A Grécia Antiga pode ser tomada como exemplo da especialização hereditária, com a caracterização das famílias a partir de suas profissões: família de médicos, de sacerdotes, de guerreiros, e assim por diante. Heródoto (484-425 a.C) chegou a definir três classificações para a terra: terras militares, terras reais, terras sagradas.

As castas e a sociedade hindu

6) Ainda hoje existe na Índia o sistema de castas, embora modificando, pois coexiste com um sistema de classes sociais.
7) Uma das características que marcaram a estratificação social hindu foi a hereditariedade; o nascimento era a condição básica para se definir uma dada posição na ordem social. A hierarquização dava-se com base na hereditariedade e, também, nas profissões, que definiam os indivíduos como pertencentes a grupo de status diferente.
8) Os pertencentes à casta inferior eram considerados impuros e não podiam sequer prestar serviços aos membros das outras castas superiores, pois tudo o que os impuros tocassem ficava contaminado: alimento, água, roupa, etc.
9) Apenas as castas puras (superiores) eram consideradas aptas a desempenhar funções públicas e a participar de determinadas atividades religiosas. As castas impuras eram praticamente segregadas, a elas não sendo permitido freqüentar escolas e templos, dentre outros locais.
10) De forma generalizada, é possível dizer que as quatro castas principais na Índia durante muito tempo foram as seguintes: brâmane (brahmin – casta superior a todas), chátria (ksbatriya – casta intermediária, formada pelos guerreiros), vaixá (vaishya – casta intermediária, mas abaixo da chátria, formada pelos comerciantes, agricultores e pastores) e a sudra ou pária (casta inferior a todas as demais, a dos impuros).

Os estamentos

11) A sociedade feudal, que teve seu apogeu entre o século IX e o XIV, tinha a sua organização social baseada em estamentos, ou estratos. A tradição contava como um dos elementos fundamentais na definição do conjunto de relações estabelecidas entre os diferentes estratos ou estamentos: nobreza, clero e servos.
12) A honra, hereditariedade, a linhagem, eram os elementos organizadores dos estamentos, ou seja, a hierarquização se estabelecia com base num conjunto de valores culturais, definidos pela tradição.



A organização política na ordem estamental

13) Max Weber afirma no livro Economia e sociedade que o feudalismo é uma estruturação política patrimonialista por excelência. A dominação tinha como base na posse e no uso da terra.

As classes sociais

14) As classes sociais, na teoria de Marx, expressam as desigualdades sobre as quais se assenta a sociedade capitalista.
15) Para Marx, a forma como os indivíduos se inserem no conjunto de relações, tanto no plano econômico como no sociopolítico, pode explicar a divisão da sociedade em classes sociais.

As classes sociais: uma relação antagônica

16) As classes sociais se constituem em relação umas com as outras. A classe trabalhadora se constitui em relação com a classe capitalista e vice-versa. Para Marx, a classe operária e a classe burguesa estão ligadas por uma relação de antagonismo, de contradição, que se baseia no processo de expropriação (econômica) e de dominação (política).
17) Para Marx, essa relação, antagônica e contraditória, é necessária e fundamental para que exista o capitalismo.

Max Weber e a estratificação social

18) Para Max Weber, a sociedade se assenta sobre três dimensões distintas: a econômica, a social e a política.
19) A dimensão econômica estratifica a sociedade através dos critérios pautados na riqueza, na posse e na renda.
20) A dimensão social funda uma maneira de estratificação baseada no status. O seu elemento definidor é a honra e o prestígio que as pessoas/ e ou grupos desfrutam, ou não desfrutam, a posição que ocupam na sua profissão, o seu estilo de vida, etc.
21) A dimensão política funda um modo de estratificação baseado no poder. Quanto mais poder os indivíduos e/ou grupos ostentarem, melhor eles se posicionarão na escala de reconhecimento no interior dessas relações de poder e de dominação.
Chopin, Fryderyk Franciszek


Gênio da música. Um dos maiores Compositores e concertista polonês. Nasceu em Zelazowa Wola, perto de Varsóvia, em 1° de março de 1810, faleceu em 17 de outubro de 1849, Paris.
As obras de Chopin, elevam-se a centenas, quase todas elas de difícil execução. Sua obra restringiu-se quase que exclusivamente a peças para piano. Ele refletiu muito através de sua obra o romantismo e o culto nacionalista.
DIMENSÃO POLÍTICA EM SHAKESPEARE
Miguel Chaia
Artigo publicado originalmente com o título 'O palco do poder' em Revista Entrelivros - clássicos, nº 2, Ediouro e Duetto editorial, São Paulo, 2006.



A política é um conceito polissêmico e William Shakespeare foi um autor que contribuiu significativamente para delinear uma específica concepção de política. A simples leitura das peças, sua pesquisa e encenação sempre encontraram inúmeras entradas para um mergulho na obra deste dramaturgo. Entre tantas possibilidades, ele propicia uma abordagem política que pode ser construída a partir da seguinte fala de Hamlet: “The time is out of the joint/ O tempo está fora dos eixos”. Não se trata de uma política institucional, pois mesmo que Shakespeare desenvolva seus temas em volta do trono, com personagens envolvidos num embate com o poder, ele nos fala de uma política atravessada pela gravidade e pela disjunção, imprimindo significados distintos à história de uma cidade e de uma nação.

Em movimentos pendulares perpétuos, constituem-se dois caminhos que estruturam e desestruturam as relações de poder nas peças de Shakespeare. O primeiro é delineado pelo par de opostos legitimidade-usurpação, e o segundo pela dupla estabilidade-guerra. A peça Ricardo III é emblemática desses dois movimentos ao compor uma sangrenta trajetória política devido ao desejo e projeto de ruptura institucional e ao apresentar um astuto personagem que se encontra envolvido na Guerra das Duas Rosas, que se deu entre as Casas de York e Lancaster, no século XV. Ao final da peça, com a Batalha de Bosworth Field, que encerra a Idade Média e a Guerra entre as duas casas, tem início uma nova era com Henrique de Richmond, futuro Henrique VII. Este personagem, ao vencer Ricardo III, comemora proferindo um monólogo, no qual aponta para a paz e estabilidade futura da Inglaterra: “Proclamai meu perdão para os soldados / ... / Uniremos as rosas branca e rubra. / Que o céu sorria sobre essa união, / Depois de ter chorado a inimizade. / ... / Curada a chaga, a paz é o nosso bem; / Pra quem a preservar, Deus diga ‘Amém’”.

A quebra da ordem, seja pelo golpe ou pela guerra, desestabiliza a política, retirando-a de seu curso normal, abrindo espaços para os mais diferentes tipos de violência. Neste sentido, tem-se em Shakespeare a aproximação entre política e vida, à medida em que nada separa as duas esferas, uma vez que todos os indivíduos sofrem, direta ou indiretamente, os efeitos das ações políticas, sejam eles os filhos de Henrique IV, Ofélia, Romeu e Julieta, soldados e tantos outros. Esta interrupção da legitimidade não gera medo apenas no governante, mas também amedronta familiares, súditos e governados. Nas obras de Shakespeare, usurpadores e tiranos assustam seus governados: “Oh, horror! Horror! Horror! / Boca nem coração poderão nunca / Nomeá-lo ou concebê-lo!”, grita Macduff, personagem de Macbeth, ao abrir a porta do quarto e ver chão e paredes ensangüentados pelo dilacerado corpo de Duncan, rei legítimo da Escócia, assassinado por trama do casal Macbeth. Com esta peça, Shakespeare deixa entrever não apenas uma visão devastadora que a política pode adquirir, mas aponta, inclusive, para a idéia do poder como armadilha que gera o medo e a insegurança experimentados por todos os personagens quando se rompe com a legitimidade. Este recorte de política privilegiado pelo autor é demarcado pelo tempo desestabilizado.

Se a usurpação dá início a grande parte das peças de Shakespeare, com a devida reposição da ordem no final delas, o mesmo se verifica com relação à guerra, constantemente presente nas suas obras e sendo colocada no começo e no término dos acontecimentos. Macbeth, por exemplo, inicia-se com uma guerra e termina com outra, indicando, no primeiro momento, como o resultado de uma confronto bélico pode deflagrar a instalação de um regime tirânico, pois foi para Macbeth, o general vencedor, que as três bruxas anunciaram que "sereis rei um dia". Num segundo momento, a invasão militar conduzida por Macduff leva a um bom desfecho a tensa e tirânica política interna implantada por Macbeth.

Shakespeare, na peça Macbeth, apresenta uma visão metafórica da guerra colocada numa imagem que afronta a natureza: o movimento das árvores, solidamente fixas no solo. Tanto que para Macbeth "Tal jamais se verá! Que destemido / Pode mandar nas árvores, fazer / Uma floresta inteira obedecer / És suas ordens? Augúrios excelentes! / Rebelião, não me mostreis os dentes / Antes que contra mim toda não ande / De Birnam a floresta. Até lá, o grande / Macbeth há de reinar. Chegará ao fim / Normal de sua vida, como assim / O quer a natureza". Em Macbeth, a guerra, seja ela programada ou inesperada, é fenômeno da continuidade da política interna, da desavença entre Estados vizinhos mas, também, evento que destaca a grandeza e a fragilidade dos seres humanos. Assim, ela desdobra-se em diferentes níveis: afeta a trajetória da vida e também altera as formas do regime político e, ainda, anexa reinos ou Estados vizinhos. A política da guerra, tomada da perspectiva do trono, reúne no mesmo destino homens, governantes e Estado. A guerra em Shakespeare aparece como algo estruturalmente ligado ao tipo de sistema social, como se fosse um fenômeno estreitamente ligado à difícil sociabilidade alcançada pelos homens.

Desta forma, a polarização política-horror e política-paz está intermediada, em Macbeth, pela guerra, que tanto deflagra uma política tirânica quanto pode renovar as esperanças, permitindo a implantação de um novo regime baseado na legitimidade. É nesse sentido que se pode fazer uma leitura da última fala de Malcolm, ao ser introduzido por Macduff como o novo rei da Escócia, após abater Macbeth: "...O que me resta / Por fazer, e que as novas circunstâncias / Pedem venha a cumprir-se, como seja: / Reconduzir ao lar nossos amigos / Que, fugindo às ciladas do tirano, / Tiveram que passar-se ao estrangeiro; / Desembuçar os pérfidos ministros / Do carniceiro morto e da diabólica / Rainha, que, ao que dizem, por suas próprias / Mãos se matou violentas; isto e o mais / Que for mister, farei executar, / Com a graça de Deus, em seu lugar / E tempo. A todo vós, agradecido, / A Scone, à minha coroação convido." Desprende-se desta fala que um novo initium político se fará, inaugurando outro começo; e também indica que o novo esforço político de recondução à ordem exigirá o uso da violência contra os pérfidos inimigos sobreviventes da tirania.

A guerra final, em Macbeth, é iniciada como reação ao governo tirânico deste rei, reunindo conspiradores que desenvolvem atividades políticas e militares com objetivos específicos. Macduff, ao fugir para a Inglaterra, começa a articulação de uma invasão a partir do exterior para derrubar o tirano, associado às ações desenvolvidas por Malcolm. A síntese desta trama encontra-se no ato IV, cena III, que se desenrola na Inglaterra, na Sala no Palácio do Rei. Fala Malcolm: “Procuremos alguma desolada / Sombra e em lágrimas tristes aliviemos / Os nossos corações”. Responde Macduff: “Não! Empunhemos / Nossas mortais espadas: como bravos, / Defendamos a pátria malferida. / Cada nova manhã novas viúvas / Gemem de dor e novos órfãos choram / Novas calamidades bofeteiam / Os céus na face, e eles ressoam como / Se sentissem com a Escócia e os mesmos gritos / De dor soltassem”. Ao saber das ações tirânicas, que incluíam assassinatos de mulheres e crianças, assim Ross se refere à Escócia: “Ai, pobre pátria! / Mal ousa conhecer-se. Nem podemos / Chamar-lhe mãe, que é, antes, sepultura; / Onde ninguém se vê sorrir, exceto / Quem não sabe o que faz; onde suspiros / E lamentos e gritos dilaceram / O ar sem serem notados, e violentas / Dores parecem já triviais pesares...”

Macbeth é um “príncipe novo”, astuto mas sem virtú, conforme descrições de Maquiavel ao analisar o principado obtido pela força das armas, porém com a intemperança na alma que, como fala Macduff, quando ilimitada “é tirania em nós da natureza”. O destino de Macbeth é marcado por dois fatos. O primeiro é a nomeação das bruxas que acenam com uma possibilidade política alimentando a ação de Macbeth, levando-o a confundir-se entre a possibilidade da continuidade da profecia e a sua interrupção. Ao tomar a previsibilidade como uma utopia distanciada, Macbeth deixa-se guiar apenas pela sua natureza de homem intempestivo e pela natureza do poder, não agindo virtuosamente e nem sabendo domar a fortuna, qualidade de um bom príncipe. A tirania é um resultado imediato deste tipo de indivíduo quando se encontra com o poder. O segundo acontecimento marcante é a presença de Lady Macbeth que impulsiona e reforça "as fúrias da tempestade!", conforme antecipa a primeira bruxa. Macbeth e Lady Macbeth configuram a imagem metafórica do trono manchado de sangue, expressando a presença da dualidade “racionalidade masculina-percepção e desejo feminino” nas articulações políticas. Desdobra-se, assim, o par razão-loucura, dificultando ou impossibilitando o equilíbrio temporário necessário ao fluxo normalizado das conjunturas políticas.

O esforço de Macbeth para cumprir a profecia por meio de ações políticas ilícitas voltadas a assegurar seu governo é um indício de que o poder é uma força descomunal, de difícil controle e que pode ser acionado e exercido ou com imprevisibilidade ou através de regras que tendem a impedir o seu descontrole. Macbeth é o exemplo do primeiro caso, quando ocorre um embate cego entre homem e poder. Ao analisar esta peça, Northrop Frye assinala que um rei legítimo pode ser cruel e inescrupuloso e ainda assim permanecer rei mas, ser for fraco ou incompetente, criará um vácuo de poder na sociedade, pois a ordem da natureza e a vontade de Deus exigem um governante forte e centralizador.

Neste sentido, pode-se recuperar a idéia de que o poder como força descomunal engendra uma dimensão de tragédia, onde o medo e o sangue invadem o mundo. Diz Macbeth: “Haverá sangue. / Dizem que o sangue pede sangue...” A peça Macbeth reforça, assim, as dores de uma metamorfose política e a afirmação do mal, que inverterá valores e desordenará uma ordem social. É o caso de se pensar que nesta peça o poder aparece como anjo devastador, que por um período de tempo, durante o reinado de Macbeth, torna a política o reino do horror.

Mesmo considerando a existência de tais tensões e paradoxos, Macbeth sempre será um homem de ação, deflagrando inúmeras tramas políticas que tendem a acelerar e a radicalizar a tirania. Com isso organizam-se oposiçðes e articulações tendo em vista sua deposição. As decisões e ações violentas de Macbeth e Lady Macbeth criam as condições para as, também, violentas reações políticas, resumidas na forma de guerra ofensiva comandada por Macduff e Malcolm. O tempo político instaurado por Macbeth atingiu as circunstâncias da sua própria interrupção, como se observa na seguinte fala de Malcolm: “As nossas forças estão prontas / Para marchar. Só falta despedirmo-nos. / O tirano Macbeth está maduro / Para ser sacudido; e as forças do Alto / Preparados já têm seus instrumentos. /Aceitai o conforto que em tamanha / Dor possa dar-vos nossa simpatia: / Longa é a noite que nunca chega ao dia.” No outro extremo ao reinado de Macbeth pode-se encontrar uma nova política, na qual o governante reconduz ao lar os exilados e dá esperanças aos amigos perseguidos.

Nesta sucessão de conjunturas que avançam em equilíbrio e desequilíbrio, verifica-se que em Shakespeare está presente uma visão de história cíclica, muito próxima à concepção aristotélica, na qual as boas formas de governo e as boas constituições podem se degenerar e, por sua vez, o inverso também acontece com a corrupção sendo eliminada e dando lugar à estabilidade. Assim, o ciclo inicia, termina e reinicia sucessivamente, alternando bons e maus governos. Se Macbeth interrompeu um ciclo legítimo, o seu reinado será cortado pela ação decisiva do próximo governante, no caso Macduff , que implantará um novo governo legítimo.

Em Shakespeare, a “animalidade política” do ser humano, numa outra possível comparação com Aristóteles, e o cenário envolvente do “grande mecanismo”, conforme tese de Jan Kott, são duas referências significativas para se apreender uma concepção específica de existência e de organização política. Assim, pode-se verificar neste dramaturgo que quanto mais as ações humanas se voltam para o poder ou são atraídas por ele, mais perdem o controle das suas ações, até o limite da fuga da razão ou da subjugação da virtuosidade. Nestas circunstâncias todas dadas pela quebra da legitimidade, pela irrupção da guerra e pelo exacerbamento da violência política, os textos de Shakespeare permitem formular um conceito específico, o da política como tragédia.

Do ponto de vista do gênero artístico, Shakespeare produz sob uma nova estrutura trágica, avançando em direção ao drama, forma que surge no período elisabetano sob o capitalismo e cujo foco ainda passa pelo desígnio do destino mas está centrado no indivíduo enquanto protagonista moderno. Hamlet é um bom exemplo desta encruzilhada da qual o dramaturgo quer dar conta, pois o príncipe da Dinamarca se esforça para alterar o fluxo dos acontecimentos, experimentando um dilema ético e vivendo a dúvida quanto ao sucesso dos resultados das suas ações. Trata-se de um personagem fragilizado pelos conflitos internos (produzidos pelas novas sensibilidades do sujeito) e externos (nascidos das podres relações políticas do reino da Dinamarca). Confessa, assim, o dilacerado Hamlet: “Vivo na lua, insensível à minha própria causa, / E não sei fazer nada, mesmo por um rei / Cuja propriedade e vida tão preciosa / Foram arrancadas numa conspiração maldita. / Sou então um covarde? Quem me chama canalha? / Me arrebenta a cabeça, me puxa pelo nariz, / E me enfia a mentira pela goela até o fundo dos pulmões?” Mais tarde, Hamlet deverá pronunciar a clássica fala que expressa claramente esses conflitos do sujeito moderno: “Ser ou não ser, eis a questão. / Será mais nobre sofrer na alma / Pedradas e flechadas do destino feroz / Ou pegar em armas contra o mar de angústias / E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir...” Entretanto, não se deve raciocinar como se as dúvidas hamletianas impedissem a ação. A partir destes conflitos, Hamlet lê e pensa muito, mas também arma estratégias que vão da loucura à encenação teatral para desenvolver o seu projeto de vingança.

Ao se considerar que Shakespeare não trata mais da zona fronteiriça entre deuses e homens mas das fronteiras terrenas e existenciais que pressionam o ser humano, este dramaturgo propicia as referências necessárias para a elaboração do recorte específico da política, ou seja, a política como tragédia, ao estabelecer como seu fundamento o conflito permanente e irresolúvel, motor do conhecimento e da ação humana. Nos textos deste autor, a política é uma personagem maior, estruturante e encenada tragicamente, pois se mostra insuficiente para garantir a ordem permanente e a vida das pessoas. A política é um reino que está fundamentado nos mais diferentes paradoxos, como ordem-ruptura, estabilidade-instabilidade, concórdia-discórdia, paz-guerra e vida-morte. Por isso, em A Tempestade, Shakespeare escreveu: “Somo matéria de que os sonhos são feitos. E a nossa breve vida é circundada pelo sono.” Ou ainda, ampliando de outra forma essa idéia, escreve em Macbeth: “Que a vida / É uma sombra ambulante: um pobre ator / Que gesticula em cena uma hora ou duas / ... / Significando nada”. Se a política é trágica é porque a vida é trágica e, se esta assim se configura, deve-se à natureza do sujeito envolvido, agora, com as contingências modernas. Aliás, as contingências não só cercam os indivíduos no plano existencial mas também limitam as ações políticas. Procura-se mas nunca se encontra o gozo permanente se ele for procurado nas relações sócio-políticas. O funcionamento das instituições e a natureza humana são empecilhos para usufruir a liberdade. Este lado do sujeito e da vida é reforçado pela natureza do poder, apresentado por Shakespeare como uma esfera central de dominação com certo grau de autonomia, deixando atônitos os homens e as mulheres, permanentemente atraídos por ele. Neste sentido, Shakespeare aproxima-se bastante da concepção de política e poder como formulada por Maquiavel, com sua teoria do realismo político que contempla a dinâmica autônoma do poder, a idéia da instabilidade permanente das conjunturas políticas e a imprevisibilidade do desfecho da ação do príncipe. Afinal, Maquiavel diz “que a sorte seja o árbitro da metade das nossas ações, mas que ainda nos deixe governar a outra metade, ou quase”.

A visão de política shakespeariana guarda o tempo das contingências terrenas, como pode ser exemplificado com Ricardo III que começa com um “E agora...”, marcando o encerramento de um ciclo político e o início de outro, num cenário de permanentemente mutável coreografia dos homens em torno do poder. Agora, como diz o Duque Gloster, futuro Ricardo III, tem início o inverno da nossa desesperança. O medo e a guerra entram em cena. O “agora” é, por excelência, o tempo da política, uma vez que ela está sempre se fazendo no dia a dia pela ação humana, criando relações de forças estabilizadoras e desestabilizadoras que se sucedem num movimento cujo desfecho é imponderável.

Pode-se dizer que a obra de Shakespeare, enquanto equivalência dramática, permite encenar autores da filosofia política como Maquiavel, La Boètie, Hobbes e Marx, até chegar em Nietzsche. Este dramaturgo faz parte desta família de pensadores que compreende a política como uma forma moderna de tragédia, ao colocar no palco os agônicos e infindáveis conflitos dos indivíduos e das sociedades. Em Shakespeare, enquanto houver ser humano, vida e sociedade, a política se desenvolverá como tragédia.
Bibliografia

CHAIA, M. A Natureza da Política em Shakespeare e Maquiavel. São Paulo, Revista Estudos Avançados, USP, nº 23, 1995.
FRYE, N. Sobre Shakespeare. São Paulo, Edusp, 1992.
KOTT, J. Shakespeare, Nosso Contemporâneo. São Paulo, Editora Cosac & Naify, 2003.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1969.
SHAKESPEARE, W. Macbeth, tradução de Manuel Bandeira. São Paulo, Editora Brasiliense, 1989.
SHAKESPEARE, W. Ricardo III, tradução Ana Amélia Carneiro de Mendonça e Bárbara Heliodora. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1993.
SHAKESPEARE, W. A Tempestade, tradução de Geraldo Carneiro. Rio de Janeiro, Editora Relume Dumará, 1991.
SHAKESPEARE, W. Hamlet, tradução de Millôr Fernandes. São Paulo, Editora Peixoto Neto, 2004.
Miguel Chaia – professor e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-SP.
Direitos Fundamentais de Quarta Geração

Em luta “contra o racismo, o machismo e a homofobia”. Com esse slogan impresso em sua bandeira colorida, a 11° edição da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo reuniu 3,5 milhões de pessoas neste ano, contra 3 milhões de 2006, dizem os organizadores. A cerimônia oficial de abertura da Parada Gay foi marcada no dia 1º de junho p.p., por críticas à falta de uma legislação que iniba a violência contra os homossexuais.
De acordo com dados fornecidos pela Associação Internacional de Gays e Lésbicas, em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos Internacionais de Gays e Lésbicas, em 1999 foram 169 homossexuais assassinados, em 2000 este número baixou para 130 homicídios. O Brasil, segundo as duas instituições, é o campeão mundial de homicídios contra as minorias sexuais. “A cada dois dias um homossexual é assassinado no Brasil”, disse Luiz Mott, 55, presidente do Grupo Gay da Bahia e professor de antropologia da Universidade Federal da Bahia. Esse número supera o de países como Estados Unidos e Inglaterra onde os crimes de ódio são freqüentes. Neles ainda existem restrições legais à prática homossexual. E preocupante saber que superamos até mesmo países islâmicos e africanos considerados mais homofóbicos, onde há uma legislação punitiva contra os praticantes daquilo que é classificado como “vício dos colonialistas brancos”. Em síntese: em nenhum país do mundo, inclusive na América Latina, são assassinados tantos gays como no Brasil.
O Estado democrático de direito que nasce das lutas burguesas contra o absolutismo tem como princípios norteadores: a supremacia da vontade popular, a igualdade de direitos e a preservação da liberdade. O primeiro, como destaca Dalmo de Abreu Dallari colocou o problema da participação popular no governo. Suscitou acesas controvérsias e deu margem às mais variadas experiências, tanto no tocante à representatividade, quanto à extensão do direito de sufrágio e aos sistemas eleitorais e partidários. O segundo, entendido sobretudo como o poder de fazer tudo o que não incomodasse o próximo e, também, como o poder de dispor de sua pessoa e de seus bens, sem qualquer interferência do Estado. O terceiro, entendido como a proibição de distinções no gozo de direitos, sobretudo por motivos econômicos ou de discriminação entre classes sociais, sexo, etnia, crença.
No Brasil, o debate relativo aos direitos fundamentais de quarta geração – opção sexual e ao biodireito – ainda é muito tímido e polêmico. Poucos avanços tiveram as legislações infraconstitucionais. A resistência de grande parte de nossos congressistas em relação a esses assuntos ainda é fortemente ideológica e preconceituosa. É o que percebe a respeito do tema união homossexual e direitos relativos à previdência e a herança. A Justiça de Goiás reconhece a união entre homossexuais. Por sua vez, o STJ reconheceu em 2005 o direito do companheiro homossexual receber pensão previdenciária por morte. A Justiça do RJ deu guarda ao filho da cantora Cássia Eller, morta em 2001, a sua companheira.
Com tanto preconceito e ódio rondando as minorias, Mott acredita nas campanhas de educação sexual, em punições mais rigorosas e na conscientização pelo respeito à dignidade humana como forma de mudar esse quadro. A expectativa é tirar o Brasil da primeira posição no ranking de crimes contra os homossexuais.
Na verdade, os crimes praticados contra homossexuais são, em grande parte, crimes de ódio. Crimes homofóbicos, tendo como móvel a não aceitação e ódio por parte do agressor em relação à vítima por ser gay, lésbica, travesti ou transexual. O chamado crime de ódio-intolerância contra minorias raciais, sexuais, físicas, religiosas ou políticas- caracteriza-se por insulto, destruição do patrimônio, agressão física e assassinato.
Eventos como a "Parada do Orgulho Gay", em São Paulo, são, na opinião de Mott, uma oportunidade para que a maioria das pessoas se familiarize com a diversidade sexual, aprendendo a desfazer preconceitos por meio da convivência.
Guardemos a intolerância para os políticos corruptos que infestam a nossa pátria cordial.
Existencialismo – A realização completa da vida humana

O termo existencialismo designa o conjunto de tendências filosóficas que, embora divergentes em vários aspectos, têm na existência humana o ponto de partida e o objeto fundamental de reflexões. Por isso, podemos designá-las mais propriamente filosofias da existência, no plural.
Se refletirmos sobre o que é existir, veremos que existir implica a relação do homem consigo mesmo, com outros seres humanos, com as coisas e com a natureza. São relações múltiplas, concretas e dinâmicas. E também relações determinadas e indeterminadas.
Nas diversas definições elaboradas pelos filósofos existencialistas sobre esses temas, encontramos algumas concepções básicas, cujo traço comum é a visão dramática do destino do homem.
Vejamos alguns traços que caracterizam o existencialismo:
- O ser humano é representado como uma realidade imperfeita, aberta e inacabada, que foi “lançada” ao mundo e vive sob riscos e ameaças.
- A liberdade humana não é plena, mas condicionada às circunstâncias históricas da existência. Nesse sentido, o querer não se identifica ao poder. O homem age no mundo superando ou não os obstáculos que se lhe apresentam.
- A vida humana não é um caminho linear em direção ao progresso, ao êxito e ao crescimento. Ao contrário, é marcada por situações de sofrimento, como a doença, a dor, as injustiças, a luta pela sobrevivência, o fracasso, a velhice e a morte. Assim, não podemos ignorar o sofrimento humano, a angústia interior, a exploração social. É preciso considerar esses aspectos adversos da vida e encará-los de frente.
Filósofos inspiradores do Existencialismo

As filosofias da existência propriamente ditas surgiram no século XX, mas sofreram grande influência do pensamento de alguns filósofos do período anterior. Entre eles destacam-se Schopenhauer, Kierkegaard, Nietzsche e Husserl.

Nietzsche

Friedrich Nietzsche (1844-1900) nasceu em Rocken, uma localidade da Alemanha atual. Filho de um culto pastor protestante, possuía um gênio brilhante, tendo estudado grego, latim, teologia e filosofia. Em 1869, tornou-se professor titular de Filosofia na Basiléia. A partir da leitura de O mundo como vontade e representação, de Schopenhauer, sentiu-se profundamente atraído pelas reflexões filosóficas.
Em sua obra, Nietzsche critica a tradição filosófica ocidental a partir de Sócrates, a quem acusa de ter negado a intuição criadora da filosofia anterior, pré-socrática. Nessa análise, estabelece a distinção entre dois princípios: o apolíneo e o dionisíaco – a partir, respectivamente, de Apolo (deus da razão, da clareza, da ordem) e Dionísio (deus da aventura, da música, da fantasia, da desordem). Para Nietzsche, esses dois princípios ou dimensões complementares da realidade, o apolíneo e o dionisíaco, foram separados na Grécia Socrática, que, optando pelo culto à razão, secou a seiva criadora da filosofia, contida na dimensão dionisíaca.
Posteriormente, Nietzsche desenvolveu uma crítica intensa dos valores morais, propondo uma nova abordagem: a genealogia da moral, isto é, o estudo da origem e da história dos valores morais. A conclusão de Nietzsche foi a de que não existem noções absolutas de bem e mal. Para ele, as concepções morais surgem com os homens, a partir das necessidades dos homens. Ou seja, são produtos da história humana. Os homens são os verdadeiros criadores dos valores morais, sobretudo as religiões, como o judaísmo e o cristianismo para a civilização ocidental, que impõem muitos desses valores humanos como se fossem produto da “vontade de Deus”.
Assim, se compreendermos que os valores presentes em nossa vida são construções humanas, estamos no dever de refletir sobre nossas concepções morais e enfrentar o desafio de viver por nossa própria conta e risco.
Segundo a análise de Nietzsche, no momento em que o cristianismo deixou de ser a “única verdade” para se tornar uma das interpretações possíveis do mundo, toda a civilização ocidental e seus valores absolutos também foram postos em xeque. O próprio Nietzsche disse: “Quem vos fala é o primeiro niilista perfeito da Europa”.
Ser niilista significa não crer em nenhuma verdade moral ou hierarquia de valores pré-estabelecidos. O niilismo de Nietzsche baseava-se na afirmação da “morte de Deus”, isto é, na rejeição à crença de um ser absoluto, transcendental, capaz de traçar “o caminho, a verdade e a vida” para o ser humano.
Apesar desse niilismo em relação aos valores consagrados da civilização, Nietzsche defendia outros valores, afirmativos da vida, capazes de expandir as energias latentes em nós. “Ouse conquistar a si mesmo” talvez seja o grande conselho nietzschiano “àqueles que buscam viver a “liberdade da razão”, sem conformismo, resignação ou submissão.

Husserl

Nasceu a 8 de abril de 1859, na cidade de Preossnitz, situada na Moravia, região que pertencia ao Império Austro-Húngaro. Estudou Matemática e entrou para a Filosofia influenciado pelo filósofo Franz Brentano (1838-1917). Morreu em 1938, aos 79 anos de idade, proibido de Lecionar e perseguido pelos nazistas devido a sua origem judaica. Husserl formulou um método de investigação filosófica conhecida como fenomenologia.
A fenomenologia consiste basicamente na observação e descrição rigorosa do fenômeno, isto é, daquilo que se manifesta, aparece ou se oferece aos sentidos ou à consciência. Dessa maneira, busca-se analisar como se forma, para nós, o campo de nossa experiência. O sujeito deve, portanto, orientar-se por ele.
Conforme analisou o filósofo existencialista francês Merleau-Ponty, Husserl tentou a “reabilitação ontológica do sensível”. Isso significou, na história da filosofia, uma volta às próprias coisas, das quais o sujeito tinha se afastado.

Heidegger

Nascido em Messkirch, na região de Baden, Alemanha, Martin Heidegger (1889-1976) desenvolveu sua formação filosófica na Universidade de Freiburg, onde foi discípulo de Edmund Husserl.
Em sua carreira universitária e filosófica, podemos destacar as seguintes etapas: doutorou-se em Filosofia no ano de 1914; assumiu uma das cátedras de Filosofia na Universidade de Masburg em 1923; publicou, em 1927, uma de sua mais importantes obras, Ser e tempo, em 1929, sucedeu na Universidade de Freiburg a seu antigo mestre Husserl.
Em 1933, ano em que Adolf Hitler se tornou chanceler da Alemanha, Martin Heidegger foi nomeado reitor da Universidade de Freiburg, aderindo formalmente ao Partido Nazista. No discurso que proferiu como reitor, Heidegger anunciou, efusivamente, suas esperanças no nazismo, julgando-o capaz de promover a redenção do povo germânico. Para manter-se coerente com o nazismo, afastou-se do seu antigo amigo Husserl, que era judeu.
Não muito tempo depois, talvez por tomar consciência das crescentes atrocidades praticadas pelos nazistas, Heidegger demitiu-se da reitoria da Universidade de Freiburg. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, buscou o isolamento em sua casa nas montanhas da Floresta Negra. Até sua morte, manteve raros contatos sociais, relacionando-se apenas com reduzido grupo de amigos.

O despertar pela angústia

Um dos objetivos básicos da obra de Heidegger Ser e tempo é investigar o sentido do ser. Para efetuar tal tarefa, começou pela investigação do ser que nós próprios somos. Criando uma terminologia própria, Heidegger denominou o modo de ser do homem, nossa existência, com a palavra Dasein, cujo sentido é ser-aí, estar-aí.
Analisando a vida humana, o filósofo descreveu três etapas básicas que marcam a existência e que, para maioria dos homens, culminam numa existência inautêntica:
• O fato da existência – o homem é “lançado” ao mundo, sem saber por quê. Ao despertar para a consciência da vida, já está aí, sem ter pedido.
• O desenvolvimento da existência – o ser humano estabelece relações com o mundo. Para existir, o homem projeta sua vida e procura agir no campo de suas possibilidades. Assim, move uma busca permanente para realizar aquilo que ainda não é. Em outras palavras, existir é construir um projeto.
• A destruição do eu – tentando realizar seu projeto, o homem sofre a interferência de uma série de fatores adversos que o desviam de seu caminho existencial. Trata-se do confronto do eu com os outros. Um confronto no qual o homem comum é, geralmente derrotado. O seu eu é destruído, arruinado, dissolve-se na massa humana. Em vez de tornar-se si mesmo, o homem torna-se aquilo que os outros desejam. O sentimento profundo que faz o homem despertar da existência inautêntica é a angústia, pois ela revela a nossa impessoalidade no cotidiano, o abandono do nosso próprio eu diante da opressão do mundo como um todo.
Fábrica de Moscas

A obra literária Senhor das Moscas escrita por William Gerald Golding (1911-1993), romancista e poeta inglês, recebeu, em 1983, o prêmio Nobel de Literatura por esse fascinante livro. Essa obra retrata a regressão à selvageria de um grupo de crianças inglesas de um colégio interno, presos em uma ilha deserta sem a supervisão de adultos, após a queda do avião que as transportava para longe da guerra. No início, os meninos apreciam a vida sem a supervisão de adultos e ocupam a maior parte de seu tempo brincando na água e jogando de acordo com a Enciclopédia livre. À medida que decorre a história, Ralph e Jack, protagonistas, confrontam-se pelo poder. Várias crianças são vitimadas por essa disputa política.
Muitos estudiosos apontam que o Senhor das Moscas é um trabalho de filosofia moral. Isso fica evidente, com o cenário parasídiaco da ilha, com toda a água e comida necessários. Golding nos revela nessa obra o cárater anárquico, catódico e sinestésico de uma comunidade de crianças ausentes de autoridade parental.
Autoridade, segundo o Dicionário Houaiss da língua portuguesa, de origem etimológica latina auctor, possui múltiplos significados, dentre os mais importantes, o direito ou poder de ordenar, de decidir, de atuar, de se fazer obedecer.
A necessidade de autoridade é fundamental? O que significa o enfraquecimento ou a destruição da autoridade em nossos dias? Por que clássicos de Homero, Shakespeare, Dostoievski, Kafka, George Orwell, ou mesmo, William Gerald Golding versam sobre o enfraquecimento da autoridade? De fato, essas questões norteiam um tema bastante recorrente nas Ciências Sociais, em específico, da Ciência Política: o excesso, a limitação ou a ausência da autoridade.
Autoridade é fundamental, isso é inegável. Seja por parte do Estado em relação à sociedade; seja por parte dos pais em relação aos filhos. “Assim como é da natureza do homem viver em sociedade, e esta exige o poder, é da natureza do homem desejar e obedecer ao poder. Mas se todos quisessem o poder e não obedecer, ou se todos se resignassem a obedecer e ninguém se dispusesse a mandar, a sociedade se dissolveria”.

Na família, autoridade é essencial na educação dos filhos. Os pais devem criar regras de conduta estimulando as crianças e os adolescentes a reproduzirem tais “mandamentos” em outras instâncias sociais, seja na escola ou no clube.
O sociólogo Richard Sennet (1943-) afirma que as crianças, os adolescentes precisam de autoridades que as orientem e tranqüilizem. Os adultos realizam uma parcela essencial de si ao serem autoridades: é um modo de expressarem interesse por outrem. Há um medo persistente de sermos privados dessa experiência.
Mas o que se constata na atual limitação da autoridade parental é a ausência de regras, ou seja, de disciplina. A psicóloga Viviane Namur Campagna afirma: “a atitude dos pais em geral, na vida, é mais importante do que aquilo que eles de fato se propõem a dizer ou fazer com os filhos”. Os pais muitas vezes querem que os filhos aprendam conceitos que eles na prática não exercem, por exemplo, querem que os filhos aprendam a respeitar os outros quando, na pressa de deixar os mesmos na escola, param em fila dupla ao invés de aguardar sua vez na fila, deixando os filhos em situação de perigo e passando na frente dos outros. Ensinamos assim na prática o ditado maquiavélico: “os fins justificam os meios”.
“Aprender a ter disciplina é aprender conceitos morais indispensáveis para ter um bom-caráter. Ter bom-caráter significa respeitar a si mesmo e aos outros”. Para educar é preciso de fato crer no que se educa e ter para si os mesmos valores e parâmetros. É um trabalho de auto-observação constante, onde a coerência tem que ser sempre procurada. Além de que essa responsabilidade não é delegada a parentes, professores, inspetores, diretores de escola ou outros. Essa responsabilidade são pertencentes ao pais. Esses devem ser firmes em seus propósitos de disciplina, apesar do cansaço e das contestações dos filhos. Exercer autoridade é assim, conquistar admiração e ensinar o respeito ao próximo. Moscas ou homens? Pais, vocês escolhem.
Devido à grande abertura proporcionada pela formação do internacionalista, são várias as áreas em que ele pode atuar.
Segundo Fred Halliday, pesquisador da London School of Economics, considerado hoje um dos maiores especialistas na área:
“Os três elementos constitutivos das Relações Internacionais, o interestatal, o transnacional e o sistêmico, permitem muitas especializações e várias abordagens teóricas. Hoje, as RI abrangem como subcampos somados à teoria internacional (isto é, a teorização destes três elementos), os estudos estratégicos, os estudos de conflito e paz, a análise de política externa, a economia política internacional, a organização internacional e um grupo de questões normativas pertinentes à guerra: obrigação, soberania e direitos. A estes subcampos, analiticamente distintos, pode ser somado o das especializações regionais nos quais as abordagens teóricas são aplicadas aos estudos de Estados individuais e de grupos de Estados. Tais subcampos podem não envolver diferentes perspectivas teóricas, mas variam consideravelmente na ênfase relativa atribuída às questões, por exemplo, de ideologia e direito, de economia ou de poder militar. Só nos anos 1980, várias novas questões internacionais foram incorporadas ao âmbito analítico da disciplina e ensinadas em cursos separados: o uso do mar e política de oceanos, mulheres e a arena internacional, as relações internacionais no Terceiro Mundo, as questões ecológicas, as dimensões internacionais da comunicação, dentre outras”.
(Halliday, Fred. Repensando as relações Internacionais. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1999: 22.).
Pinot Noir: Considerado mais leve do que o Merlot e o Cabernet, a variedade de uvas Pinot Noir revela um leve vinho frutado com sugestões de amoras, violetas e temperos bem sutis. Feito em vários países, é caracterizado pelo aroma da terra e uma textura sedosa. Melhor opção para compra: marcas americanas, de Washington ou de Oregon.
Merlot: A uva Merlot é parecida com a Cabernet, apesar de um pouco mais suave e suculenta. O vinho é rico, aromático e encorpado, com toques de rosa, carvalho, ameixa e até mesmo chocolate (que delícia). Merlots são frequentemente misturados com a Cabernet Sauvignons.
Chianti: Um tinto italiano, viçoso e seco, nomeado a partir da região Chianti, na Toscana. Antigamente identificado como garrafas de palha e toalhas xadrez, os Chianti vendidos nos Estados Unidos tornaram-se mais sofisticados e são uma excelente escolha para aqueles que procuram um tinto levemente ácido, mas leve e penetrante. Melhor opção: marcas italianas.
Vinhos tintos são mais vigorosos do que os brancos e portanto uma escolha bem aconchegante durante noites frias como hoje.

Cabernet: Nomeado a partir da clássica variedade de uvas vermelhas, o popular Cabernet é um tinto agradável e vigoroso que pode exibir toques de groselha, carvalho ou cerejas pretas. Fabricado no mundo todo, alguns Cabernets podem ter também toques de cedro e ameixa. Melhor opção para compra: Chilenos, argentinos e da Califórnia.
Como muitas coisas na vida, apreciar vinho é uma sensibilidade que se adquire. Muitos que já disseram não se importar tanto com vinho mudaram de ideia quando conheceram safras melhores. Se você pretende ampliar seus horizontes em qualquer aspecto da vida, você precisa estar aberto à experimentação e aproveitar as oportunidades para tentar coisas novas. Você pode ter algumas surpresas ótimas. Um dos obstáculos mais traiçoeiros para o novato sofisticado é a temida carta de vinhos. Apesar de existir um universo de vinhos a explorar, saber o básico deve ajudar você a evitar vacilos ou dar de ombros. Seja num restaurante ou numa adega, a chave é manter uma ou duas escolhas sempre em mente.