segunda-feira, 6 de junho de 2011

"Bebo porque é líquido!"; leia mais em livro sobre a cachaça
da Livraria da Folha

Curiosidades e mitos sobre a influente bebida brasileira

Dentre todos os complexos de vira-lata que o Brasil suporta, um dos mais evidentes é quanto a qualidade e "sofisticação" de sua mais tradicional bebida. A cachaça é a representante maior para harmonizar com o carnaval e o futebol, os eventos culturais mais conhecidos e apreciados pelo povo.

Contudo, para ir um pouco além desse lugar comum, o livro "A Verdadeira História da Cachaça" retoma com muito sucesso todo o trajeto da branquinha e sua popularização no país, desfaz mitos culturais e mostra que ela tem passado por um processo de "valorização" por sua própria gente e está no caminho certo para conquistar o mundo.


O pesquisador Messias S. Cavalcante reúne informações fantásticas e preciosas sobre todo o processo de feitura, transporte, armazenamento e consumo da destilada bebida.

Além disso, o autor reúne frases e menções artísticas que se referem à cachaça. A frase do título, "Bebo porque é líquido! Se fosse sólido, comê-lo-ia", é atribuída ao ex-presidente Jânio Quadros. Outro ex-presidente, Lula, também tem algumas anotadas, como "O dia em que o mundo experimentar uma boa cachaça brasileira, o uísque vai perder mercado".

Messias, que detém a maior coleção de cachaça do mundo, com 12.800 garrafas diferentes, registrada no Guinness, oferece uma pesquisa de qualidade e dá um passo a favor de homenagear a bebida que cada vez ganha mais terreno em todos os tipos de classe social.
Finlândia vende champanhe de 200 anos por 30 mil euros

DA FRANCE PRESSE, EM MARIEHAMN

Uma garrafa de champanhe da marca Veuve-Cliquot de 200 anos, que fazia parte de uma carga encontrada no ano passado em um barco afundado no Báltico, alcançou 30.000 euros (quase R$ 70 mil) na sexta-feira (3) em um leilão no arquipélago de Aaland.

Até agora, o recorde em um leilão pertencia a uma garrafa de Dom Pérignon rosé de 1959, vendida por 27.600 euros em 2008.


As duas garrafas vendidas na sexta fazem parte de uma carga encontrada em julho de 2010 nos restos de um navio

Uma outra garrafa de Juglar --uma casa já extinta-- recuperada na mesma carga foi comprada por 24.000 euros.

"Procedente da Ásia, a mesma pessoa comprou as duas garrafas", declarou Samantha Compono, porta-voz da casa de leilões especializada em vinho Acker Merrall & Condit.

As duas garrafas vendidas na sexta fazem parte de uma carga encontrada em julho de 2010 nos restos de um navio que afundou entre 1825 e 1830 próximo ao arquipélago autônomo finlandês de Aaland.

Entre os lotes em venda também havia outras 40 garrafas de Veuve-Cliquot mais recentes do que as duas recuperadas, e que superaram os mil euros cada uma.
Síria promete resposta firme após emboscada que matou 120

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O ministro do Interior da Síria, Ibrahim Shaar, disse nesta segunda-feira que vai reagir de maneira "firme e decisiva" aos ataques de grupos armados contra forças de segurança.
"Não vamos nos calar", disse Shaar, no que parece ser a antecipação de uma reação ainda mais dura do governo contra os protestos oposicionistas iniciados em março. "Partindo da responsabilidade do Estado de proteger a vida dos cidadãos, militares e civis, e as instalações governamentais que pertencem ao povo, vamos tratar com firmeza, força e segundo a a lei. Não vamos ficar tranquilos diante de qualquer ataque armado."
Um novo balanço da TV estatal da Síria elevou para 120 o número de policiais e agentes de segurança mortos em uma emboscada de "grupos armados" em Jisr al-Shughour, uma área onde as forças de segurança realizaram violentas operações contra manifestações de oposicionistas.
Segundo o mais recente relato da TV estatal, 82 das vítimas foram mortas em um ataque dos "grupos armados" a um posto de segurança. As demais teriam sido mortas em tiroteios em outras partes da cidade.
A TV diz que os policiais foram atacados primeiramente quando atendiam uma chamada de moradores por proteção contra os grupos armados --não identificados.
A TV estatal classificou a ação de massacre. Os grupos armados estariam se escondendo em casas e atirando contra soldados e civis, sem discriminação. Os grupos estariam ainda usando moradores como escudos humanos durante as trocas de tiros e teriam explodido ainda um posto dos correios, queimado prédios do governo e mutilado corpos.
A notícia não pode ser confirmada de maneira independente. O governo sírio restringiu a atuação da imprensa e expulsou repórteres estrangeiros em meio a onda de revoltas pela queda do ditador Bashar al Assad.
Desde sábado, as forças de segurança conduzem operações militares em Jisr al-Shughour para conter os movimentos oposicionistas. Um ativista ouvido pela rede de TV CNN diz que a cidade é um reduto da opositora Irmandade Muçulmana.
Grupos de direitos humanos afirmam que ao menos 35 moradores foram mortos na região desde sábado.
Desde o início, Assad culpou "grupos estrangeiros" de incitar os protestos contra seu regime, visando a desestabilizar o país.
Após visita ao Brasil, Chávez segue para Equador

DA ANSA, EM QUITO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, vai se reunir amanhã com o equatoriano Rafael Correa para firmar uma série de acordos de cooperação bilaterais.
O encontro vai ser realizado na cidade equatoriana de Salinas e também prevê uma análise de tratados assinados em 2007 nas áreas de petróleo e siderurgia.
De acordo com um informe do Ministério das Relações Exteriores do Equador, os dois mandatários analisarão 'temas da agenda bilateral: energético, financeiro comercial, produtivo, segurança e defesa, conhecimento e social'.
Esta reunião estava prevista para novembro de 2010, mas teve que ser suspensa por motivos de agenda e devido às chuvas que atingiram a Venezuela no fim do ano.
A viagem de Chávez ao Equador ocorre uma semana depois que Correa condenou as sanções impostas pelos Estados Unidos à estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA) por manter relações comerciais com o Irã.
Os Estados Unidos impediram a petrolífera de participar de qualquer contrato direto com o país, terem acesso às facilidades de crédito do Banco de Importação e Exportação e obterem licenças para tecnologias petrolíferas.
Chávez está realizando um giro internacional pela região. Hoje o mandatário se reuniu com Dilma Rousseff em Brasília. Depois de visitar o Equador, ele irá a Cuba.
Deputado americano admite envio de foto de cueca pelo Twitter

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O congressista democrata Anthony Weiner admitiu nesta segunda-feira que enviou uma foto em que aparece de cueca postada recentemente em sua conta no microblog Twitter.
Weiner disse que enviou a foto de si mesmo a uma estudante de 21 anos. Na semana passada, ele havia negado ter conhecimento da imagem.
"Eu lamento profundamente o que fiz, mas não vou renunciar", disse ele em coletiva de imprensa. "A imagem era minha e fui eu que enviei".



Weiner --que é uma importante voz democrata na Câmara dos Representantes e pretendia concorrer à prefeitura de Nova York em 2013-- também adimitiu ter mantido "conversas impróprias" por telefone e pela internet com ao menos seis mulheres, mas negou ter mantido relações com alguma delas.
A foto apareceu na conta de Weiner no Twitter na sexta-feira passada, e aparentemente foi enviada a uma estudante universitária de 21 anos no Estado de Washington. O deputado, no entanto, havia dito na quarta-feira (25) que não tinha sido ele quem postou a foto, deixando no ar a possibilidade da foto ter sido alterada.
"Eu não enviei essa foto", afirmou o democrata em declarações ao canal MSNBC. Ao ser questionado se era ele quem aparecia na imagem, Weiner respondeu: "Não posso dizê-lo com certeza. Meu computador foi atacado por hackers".
"As fotos podem ser manipuladas, podem ser inseridas", ressaltou o congressista de Nova York, que afirmou ter solicitado a ajuda de especialistas em segurança cibernética.
O nova-iorquino já vinha tentando fugir de perguntas sobre o assunto. Durante uma conferência telefônica na terça-feira passada (24), Weiner se irritou com os jornalistas que exigiam mais detalhes sobre a foto, sobre a mulher que a recebeu e sobre por que ele não entrou em contato com autoridades para iniciar uma investigação.
Na conversa, o político chamou um dos jornalistas de "burro".
Lula, Soros, Ollanta Humala

No meio da campanha eleitoral de 2002 no Brasil, trombei com George Soros, o megainvestidor (ou especulador, ao gosto do freguês), em um jantar oferecido pelo Council on Foreign Relations para os participantes de um seminário em que ambos estávamos.

Soros, como é de seu hábito, foi cru na sua avaliação sobre o pleito brasileiro: "Ou é Serra ou o caos" (Serra, claro, era José Serra, o adversário principal de Luiz Inácio Lula da Silva).

De fato, os mercados, que abominavam Lula, líder nas pesquisas, apostavam contra o Brasil: o dólar subia, a Bolsa caía, o risco-país subia e por aí vai.

Tolo e ingênuo ainda me dei ao trabalho de perguntar a Soros se não era antidemocrático esse tipo de comportamento dos ditos mercados. Concordou que era mas filosofou: como na Roma antiga, votam os patrícios (que seriam, no caso, os agentes de mercado).

Como nas democracias modernas vota também o tal de povo, Lula acabou eleito. Mas a pressão dos mercados condicionou o novo governo: Lula se viu obrigado a nomear para o Banco Central um deputado eleito exatamente pelo partido de Serra (Henrique Meirelles), indicou para conduzir a economia um ex-trotskista convertido ferozmente ao livre-mercado (Antonio Palocci) e adotou uma política econômica conservadora para acalmar os mercados.

O encontro com Soros me vem à memória, nove anos depois, porque a história está se repetindo com o virtual presidente eleito do Peru, Ollanta Humala. Foi só a apuração apontar a sua vitória para que o dólar subisse, a Bolsa peruana tivesse que interromper o pregão quando a queda já era de obscenos 12,5% e até na Bolsa de Santiago do Chile, despencavam as ações de empresas chilenas que operam no Peru.

Simultaneamente, escancarava-se a pressão para que Ollanta indique seus Paloccis e Meirelles para a Economia e o Banco Central. Humberto Speziani, presidente da Confiep (a confederação das indústrias), não teve o menor pudor até em indicar o nome que prefere para o BC: Julio Velarde, que vem a ser o atual presidente do Banco Central, corresponsável, portanto, por uma política econômica pró-mercado.

É bom que se diga que essa política, do ponto de vista do crescimento, deu até mais certo do que a que Lula acabou adotando no Brasil: enquanto, nos oito anos do lulismo, o crescimento médio anual foi de 4%, nos cinco anos do atual presidente peruano, Alan García, o crescimento médio foi quase o dobro (7,1%).

Não obstante, prevalece o caráter antidemocrático do cerco dos mercados aos eleitos: por muito que o país tenha crescido, uma pesquisa feita no mês passado pela Universidade Católica mostrou que apenas 22% dos pesquisados achavam que a política econômica deveria ser mantida pelo governo que sairia das urnas de domingo, relatou o "New York Times". Acrescentou um comentário de Steven Levitsky, professor de governo da mitológica Harvard University que este ano está lecionando em Lima: "Dado o 'boom' econômico, o fato de que um de cada cinco peruanos não quer manter o status quo é extraordinário".

Nada impede que Humala repita Lula, guine para o conservadorismo e, ainda assim, se dê bem como se deu o brasileiro.

Mas também nada garante que conseguirá a estabilidade que Lula obteve, graças a seus méritos mas também à sua conversão.

Ao contrário, os indícios são incômodos, a saber:

1 - A diferença entre Humala e a perdedora, Keiko Fujimori, foi bem mais estreita do que no Brasil, inferior a três pontos percentuais.

2 - Humala não tem atrás de si um partido enraizado na sociedade e embricado com organizações sociais.

3 - O ataque ao real, no Brasil, deu-se durante a campanha eleitoral e não depois da votação, ao passo que, no Peru, está ocorrendo "uma derrota histérica" dos anti-Humala, como escreve Augusto Álvarez Rodrich, em "La República".

4 - Mesmo os que, no segundo turno, optaram por Humala como o peruano mais famoso, o escritor Mário Vargas Llosa, não lhe estão dando um cheque em branco. "Se esta candidatura não cumprir [o prometido], claro que intervirei com a mesma energia e convicção com que interferi na campanha em favor de Ollanta Humala", disparou esta segunda-feira.

Sendo o Nobel de Literatura um liberal da mais pura cepa, se Humala arranhar a economia de mercado, encontrará um adversário de verbo terrível.

Se eu fosse obrigado a apostar, diria que Humala será cauteloso até mais do que Lula. Afinal, Bill Richardson, ex-governador do Estado norte-americano do Novo México, prócer democrata, observador da Organização de Estados Americanos para a eleição peruana, é capaz de jurar, depois de encontros reservados com os dois candidatos finalistas, que "Humala é um nacionalista com pontos-de-vista em evolução e que corre numa faixa pragmática", como disse ao "New York Times".

Resta ver se pragmatismo basta.


Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às quintas e domingos na página 2 da Folha e, aos sábados, no caderno Mundo. É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo e "O Que é Jornalismo".
Secretário-geral da ONU quer se reeleger

DA FRANCE PRESSE

O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), o sul-coreano Ban Ki-moon, 66, anunciou nesta segunda-feira em coletiva de imprensa que quer se reeleger. Seu mandato atual termina em 31 de dezembro deste ano, mas Ban pretende ficar mais cinco anos no cargo.
O comunicado foi feito durante uma reunião do grupo asiático das Nações Unidas.
O atual mandato de Ban começou em 2007 e já sofreu severas críticas pelo fato de ser brando demais com países que abusam dos direitos humanos, como a China, particularmente após a detenção do Nobel da Paz Liu Xiaobo no ano passado.
Apesar disso, o secretário não tem rivais para concorrer ao cargo e nenhum dos cinco
membros do Conselho de Segurança da ONU se opôs a sua candidatura. "É 100% de certeza que ele levará o posto novamente", disse um diplomata do Conselho.
As eleições devem ocorrer ainda este mês.
Secretário-geral da ONU quer se reeleger

DA FRANCE PRESSE

O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), o sul-coreano Ban Ki-moon, 66, anunciou nesta segunda-feira em coletiva de imprensa que quer se reeleger. Seu mandato atual termina em 31 de dezembro deste ano, mas Ban pretende ficar mais cinco anos no cargo.
O comunicado foi feito durante uma reunião do grupo asiático das Nações Unidas.
O atual mandato de Ban começou em 2007 e já sofreu severas críticas pelo fato de ser brando demais com países que abusam dos direitos humanos, como a China, particularmente após a detenção do Nobel da Paz Liu Xiaobo no ano passado.
Apesar disso, o secretário não tem rivais para concorrer ao cargo e nenhum dos cinco
membros do Conselho de Segurança da ONU se opôs a sua candidatura. "É 100% de certeza que ele levará o posto novamente", disse um diplomata do Conselho.
As eleições devem ocorrer ainda este mês.
No Peru, Keiko Fujimori reconhece vitória de Ollanta Humala

DA FRANCE PRESSE, EM LIMA

A candidata direitista Keiko Fujimori reconheceu nesta segunda-feira sua derrota para o nacionalista Ollanta Humala nas eleições presidenciais peruanas deste domingo e desejou "sucesso" ao futuro governo do opositor.
Humala declarou vitória no pleito neste domingo, quando resultados da apuração de 87,8% dos votos apontavam vantagem de 2,5 pontos percentuais sobre a deputada direitista Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, que está preso.
De acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Onpe (Escritório Nacional de Processos Eleitorais), com 90,5 % dos votos apurados, Humala obteve 51,36 % contra 48,63 % de Keiko.
Após a divulgação dos primeiros resultados oficiais, Humala fez um breve pronunciamento e depois se dirigiu à praça Dois de MaIo, no centro de Lima, onde promoveu um comício diante de milhares de pessoas que o esperavam há várias horas.
"A grande transformação que chega ao Palácio do Governo no dia de hoje é o produto do trabalho de milhões de peruanos, homens e mulheres, que lutaram para defender a democracia e seus valores e que hoje estão aqui representados", afirmou.
Perante seus seguidores, muitos deles de origem humilde e que festejavam com bandeiras do Peru e da coligação nacionalista Gana Perú, o presidente eleito renovou seu "compromisso com o povo peruano de crescimento econômico com inclusão social".
"Trabalharemos as relações internacionais buscando afirmar o Peru como um país que procura a unidade latino-americana. Buscaremos relações de irmandade com cada povo da região. Vamos continuar o bem que se veio fazendo, vamos corrigir o mal e vamos fazer a transformação", enfatizou.
Segundo ele, isso será possível "lutando", e não colaborando com a corrupção e com os corruptos. Ele pediu a seus compatriotas que trabalhem junto com ele porque "esta tarefa não será fácil".
Mas Humala também destacou que sabe que "governar não é assunto de uma só pessoa", por isso se comprometeu a convocar "os melhores quadros técnicos, independentes, intelectuais, para poder fazer um governo de concentração, de larga base, onde ninguém se sinta excluído e todos se sintam representados".
CHEFES DE ESTADO
O triunfo de Humala foi parabenizado por chefes de Estado estrangeiros, como o chileno Sebastián Piñera, o boliviano Evo Morales, e o venezuelano Hugo Chávez, e personalidades locais, como o ex-presidente peruano Alejandro Toledo e o escritor Mario Vargas Llosa.
A presidente Dilma Rousseff telefonou nesta segunda-feira ao nacionalista Ollanta Humala para parabenizá-lo por sua vitória no segundo turno das eleições, afirmou o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.
Segundo Garcia, Dilma convidou o peruano para visitar o Brasil antes da posse marcada para 28 de julho. Garcia contou ainda que Humala estava "emocionado" e que aceitou o convite. O assessor disse que Dilma deve ir à posse do novo presidente peruano.
"Estamos muito satisfeitos", disse Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência. A presidente Dilma Rousseff telefonou para Humala na manhã desta segunda-feira (6), pouco antes da chegada do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao Palácio do Planalto.
"Foi uma boa conversa, [Dilma] desejou-lhe muita sorte. Ele estava muito emocionado, muito animado", afirmou Marco Aurélio.
A previsão é de que Dilma viaje para o Peru para a posse do novo presidente, no final e julho. Antes disso, a convite da presidente, Humala deve vir ao Brasil, como presidente eleito.
Dilma cumprimenta Humala e convida peruano a visitar Brasil

FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA

Atualizado às 16h31.

A presidente Dilma Rousseff telefonou nesta segunda-feira ao nacionalista Ollanta Humala para parabenizá-lo por sua vitória no segundo turno das eleições, afirmou o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.

Segundo Garcia, Dilma convidou o peruano para visitar o Brasil antes da posse marcada para 28 de julho. Garcia contou ainda que Humala estava "emocionado" e que aceitou o convite. O assessor disse que Dilma deve ir à posse do novo presidente peruano.

"Estamos muito satisfeitos", disse Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência. A presidente Dilma Rousseff telefonou para Humala na manhã desta segunda-feira (6), pouco antes da chegada do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao Palácio do Planalto.

"Foi uma boa conversa, [Dilma] desejou-lhe muita sorte. Ele estava muito emocionado, muito animado", afirmou Marco Aurélio.

A previsão é de que Dilma viaje para o Peru para a posse do novo presidente, no final e julho. Antes disso, a convite da presidente, Humala deve vir ao Brasil, como presidente eleito.

Humala declarou vitória no pleito neste domingo, quando resultados da apuração de 87,8% dos votos apontavam vantagem de 2,5 pontos percentuais sobre a deputada direitista Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, que está preso.

Com 89% dos votos apurados, ele aumentou sua vantagem para 2,68% sobre a direitista Keiko Fujimori, segundo o sexto resultado oficial divulgado nesta segunda-feira pelo Onpe (Escritório Nacional de Processos Eleitorais).

Segundo as cifras, Humala obteve 51,34% dos votos contra 48,66% para Fujimori. O resultado divulgado pelo Onpe na madrugada, quando havia 87% dos votos apurados, tinha apontado uma diferença de 2,5%.

VENCEDOR

Após a divulgação dos primeiros resultados oficiais, Humala fez um breve pronunciamento e depois se dirigiu à praça Dos de Mayo, no centro de Lima, onde promoveu um comício diante de milhares de pessoas que o esperavam há várias horas.

"A grande transformação que chega ao Palácio do Governo no dia de hoje é o produto do trabalho de milhões de peruanos, homens e mulheres, que lutaram para defender a democracia e seus valores e que hoje estão aqui representados", afirmou.

Perante seus seguidores, muitos deles de origem humilde e que festejavam com bandeiras do Peru e da coligação nacionalista Gana Perú, o presidente eleito renovou seu "compromisso com o povo peruano de crescimento econômico com inclusão social".

"Trabalharemos as relações internacionais buscando afirmar o Peru como um país que procura a unidade latino-americana. Buscaremos relações de irmandade com cada povo da região. Vamos continuar o bem que se veio fazendo, vamos corrigir o mal e vamos fazer a transformação", enfatizou.

Segundo ele, isso será possível "lutando", e não colaborando com a corrupção e com os corruptos. Ele pediu a seus compatriotas que trabalhem junto com ele porque "esta tarefa não será fácil".

Mas Humala também destacou que sabe que "governar não é assunto de uma só pessoa", por isso se comprometeu a convocar "os melhores quadros técnicos, independentes, intelectuais, para poder fazer um governo de concentração, de larga base, onde ninguém se sinta excluído e todos se sintam representados".

O triunfo de Humala foi parabenizado por chefes de Estado estrangeiros, como o chileno Sebastián Piñera, o boliviano Evo Morales, e o venezuelano Hugo Chávez, e personalidades locais, como o ex-presidente peruano Alejandro Toledo e o escritor Mario Vargas Llosa.
Europa virou sistema de partido único, diz filósofo húngaro


CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

A última crise financeira enterrou os resquícios de diferença entre social-democratas e conservadores na Europa e vale para o continente a frase que o escritor Gore Vidal cunhou para caracterizar os EUA: é um sistema de um só partido com duas alas direitistas.
A afirmação é do filósofo húngaro István Mészáros, professor emérito da Universidade de Sussex (Reino Unido), que chega ao Brasil nesta semana para lançar livros e fazer palestras em quatro capitais. "É irônico que na Grécia e na Espanha a tarefa de impor uma dureza cada vez maior aos trabalhadores tenha sido passada a governos ditos socialistas e assumida por eles. Se quisermos superar a paralisia imposta pelo 'sistema de partido único', é preciso mudar o processo de tomada de decisões políticas", disse ele em entrevista à Folha.
Considerado um dos principais teóricos marxistas vivos, Mészáros, 81, deixou a Hungria após a invasão soviética de 1956. Se notabilizou pelas críticas à gestão opressiva no antigo bloco socialista, contidas em seu livro "Para Além do Capital" (Boitempo). Para ele, a crise que se manifesta hoje nos países ricos é estrutural e não parte dos movimentos cíclicos tradicionais do capitalismo. Portanto, diz, não está no horizonte uma "longa onda ascendente" de recuperação econômica.
Mészáros participa neste mês no Brasil de eventos de lançamento de um livro de ensaios em sua homenagem ("István Mészáros e os Desafios do Tempo Histórico") e do segundo volume de sua obra "Estrutura Social e Formas de Consciência", ambos da editora Boitempo. As apresentações ocorrerão no dia 8 em São Paulo e em seguida em Salvador (dia 13), Fortaleza (dia 16) e Rio de Janeiro (dia 20).
Leia abaixo a íntegra da entrevista, feita por e-mail.
FOLHA - A resposta dos social-democratas à crise foi voltar às ideias de John Maynard Keynes sobre intervenção estatal, enquanto governos de esquerda na América Latina reforçaram o papel do Estado no desenvolvimento. Eles estão certos?
ISTVÁN MÉSZÁROS - Governos social-democratas sempre tentam voltar a Keynes para solucionar o que acreditam ser crises financeiras. Isso pode trazer alívio temporário, mas não uma solução real. Isso porque as chamadas crises financeiras são também sociais, com extensas ramificações, especialmente sob as atuais condições de desenvolvimento socioeconômico global.
Nas últimas décadas nós assistimos a uma significativa --e também perigosa-- virada em favor do domínio econômico-financeiro, como uma alternativa em última instância inalcançável ao desenvolvimento produtivo, muitas vezes com consequências incontroláveis ou até mesmo fraudulentas, mesmo quando sancionadas pelo Estado. Em muitos países o resultado foi e continua sendo a falência maciça, seguida de resgates feitos pelo Estado, que mergulha mais e mais no chamado "endividamento soberano".
Na Europa três países estão obviamente falidos --Grécia, Irlanda e Portugal--, enquanto vários outros, incluindo economias maiores como a Itália e o Reino Unido, não estão muito longe disso. É verdade que "Estados soberanos" podem intervir para se proteger, por meio do agravamento de seu próprio endividamento. Mas também há um limite para isso, e ir além pode gerar problemas ainda piores. A dura verdade é que agora nós ultrapassamos as mais otimistas recomendações keynesianas: em vários países o volume de dívida insustentável chegou aos trilhões de dólares.
FOLHA - Como o sr. interpreta o predomínio de governos de direita hoje na Europa, incluindo uma forma bem extremada na Hungria?
MÉSZÁROS - Esses problemas são em grande medida cíclicos, e no próximo ciclo os governos podem ir para a outra direção. Mas o aspecto mais importante dessa questão é o tipo de desenvolvimento político-institucional a que estamos assistindo nas últimas duas décadas ou mais. O escritor americano Gore Vidal o caracterizou bem quando disse que nos Estados Unidos temos "um sistema de partido único com duas alas direitistas". O mesmo é verdade na maioria dos países europeus. É suficiente lembrar que tanto na França quanto na Itália os antigos partidos comunistas se transformaram em forças políticas muito difíceis de distinguir de seus oponentes neoliberais.
Claro que na Hungria a mudança no Parlamento assumiu uma forma chocante [dois terços das cadeiras estão na mão do ultraconservador Fidesz]. No entanto, é necessário lembrar que o partido que o antecedeu por oito longos anos no governo [nominalmente social-democrata] esteve muito longe de ser um partido de esquerda, com sua devoção a impor aos trabalhadores as políticas neoliberais mais dolorosas, disseminando o ressentimento e a alienação.
Se quisermos superar a paralisia do "sistema de partido único com duas alas direitistas", é preciso mudar o processo de tomada de decisões políticas. Na Grécia e na Espanha, por exemplo, temos supostamente governos "socialistas", mas nada que devamos comemorar. E na Inglaterra, na próxima eleição, devemos ver o retorno de outro governo "socialista". À luz da experiência passada, quem seria corajoso o suficiente para sustentar que um governo do "Novo Trabalhismo" representaria mais do que uma mudança cosmética?
FOLHA - O sr. está otimista com as últimas manifestações populares na Espanha e na Grécia?
MÉSZÁROS - A palavra otimista não cabe muito bem. Não penso nesses termos porque sei que muita coisa pode dar errado e, como resultado, muitas vezes os mais vulneráveis e fracos têm que arcar com o maior peso. No entanto, estou certamente esperançoso, e reconheço que é preciso encontrar esperança, do contrário seria apenas um "pensamento positivo" que se extinguiria numa ilusão derrotista.
De fato, há uma boa base para estar convencido de que nem a Grécia nem a Espanha podem se conformar com os requerimentos prescritos a elas pelo sistema bancário internacional. Também nesse aspecto há um limite. É de fato muito irônico que nesses dois países a tarefa de impor um arrocho cada vez maior aos trabalhadores tenha sido passada a um governo "socialista" e assumida por ele.
Inevitavelmente, essa circunstância carrega com ela um processo de aprendizado penoso e o necessário reexame das respostas institucionais tradicionais dadas à pergunta "o que fazer?". Seria ingênuo pensar que esse aprendizado pudesse trazer resultados rápidos. No entanto, a dimensão positiva de tudo isso é que grupos cada vez maiores de trabalhadores se veem diante do desafio inevitável de reavaliar tantos as formas de tomada de decisão com que se acostumaram no passado quanto as respostas a ela. Seria arrogante presumir que nada de significativo possa emergir desse processo.
FOLHA - Qual será sua principal mensagem aos universitários que o ouvirão no Brasil?
MÉSZÁROS - Em certo sentido é muito simples. Quero chamar sua atenção para a natureza da crise de nosso tempo e a necessidade de lidar com ela o mais rápido possível. Porque o que devemos encarar não é a crise cíclica tradicional do capitalismo, que vai e vem em intervalos regulares, mas algo radicalmente diferente. É a crise estrutural global do sistema do capital em sua integralidade, que não pode ser conceituada nos termos habituais da "longa onda descendente" (downturn) seguida da confortadora "longa onda ascendente" (upturn), dentro de um período de mais ou menos cinco décadas. Há muito tempo essa caracterização perdeu credibilidade e não há nenhum sinal da fictícia "longa onda ascendente".
A razão pela qual é importante reposicionar nossa atenção nessa direção é porque uma crise estrutural requer remédios estruturais radicais para sua solução. O que está em jogo é muito grande porque nossa crise estrutural está se tornando mais profunda, em vez de diminuir. A crise financeira global a que fomos submetidos nos últimos anos é um aspecto importante disso, mas só um aspecto. Não há lugar para a autocomplacência quando trilhões de dólares jogados fora mal puderam arranhar a superfície do problema real.
FOLHA - O sr. previu uma confrontação entre os EUA e a China. Também sugeriu que a China não pode ser classificada como um país capitalista. Ainda pensa assim?
MÉSZÁROS - Sim, nos dois casos, mesmo se desde que eu escrevi isso, há 12 anos, muitas coisas mudaram e devem continuar mudando. O principal ponto é a diferença dramática no nível de desenvolvimento econômico dos dois países, com sinais de conflitos de interesse significativos decorrentes desse fato surgindo em partes diferentes do planeta, incluindo a África e a América Latina.
Considerar a China simplesmente como um país capitalista é simplista demais. O fato é que alguns setores vitais da economia, especialmente na produção de energia e na extração de material estratégico, estão em grande medida sob o controle do setor estatal. Além disso, e isso é um fato de importância seminal, o setor bancário e o câmbio --questão muito debatida e ressentida pelos EUA-- estão sob controle estatal completo. Tente convencer as empresas capitalistas e o sistema bancário nos EUA a imitar isso.
Conflitos de interesse nessas linhas podem não apenas se intensificar como se tornar não administráveis, ao ponto da explosão. Mas claro que seria loucura pensar nisso em termos de fatalidade. No entanto, muitos problemas herdados do passado terão que ser confrontados no tempo certo para resolver as contradições subjacentes.
FOLHA - O sr. disse uma vez que "revoluções reverberam por séculos, até que suas causas profundas sejam resolvidas". O sr. vê alguma reverberação de revoluções passadas nas revoltas que ocorrem nos países árabes?
MÉSZÁROS - Sem dúvida podemos ouvir potentes reverberações, ao lado dos temas prementes às populações dos países em questão. É quase impensável que o chamado "Estado pós-colonial" de dominação e dependência da segunda metade do século 20 pudesse ser mantido permanentemente nesses países. E claro que estamos muito longe do fim desse processo doloroso.
Também não podemos nos esquecer que a grande maioria das pessoas nos países afetados tem o problema básico de se alimentar, problema que está se agravando com o aumento do preço dos alimentos em todo o mundo.
Além disso, quando o presidente Obama (ou os redatores de seus discursos) falam das virtudes da "democracia", eles falham em reconhecer que o governo criminalmente repressivo do presidente egípcio Hosni Mubarak, que deve ser julgado em agosto, esteve em total subserviência em relação aos EUA por três décadas. Isso sem mencionar a ausência total de qualquer referência crítica à Arábia Saudita, que é feudal, mas lucrativa militarmente.
As reverberações que ouvimos devem continuar e se tornar mais altas, porque têm uma base causal e uma realidade irreprimível.
Strauss-Kahn se declara inocente de acusações de abuso


DE SÃO PAULO

O ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) Dominique Strauss-Kahn se declarou nesta segunda-feira inocente das acusações que sofreu por crimes sexuais supostamente cometidos contra uma camareira de hotel de 32 anos, informou a promotoria de Nova York.
O juiz que presidiu a audiência na Corte Suprema de Manhattan, Michael Obus, determinou que a próxima audiência --à qual terá que comparecer o político e economista francês, de 62 anos-- será no dia 18 de julho, já que a defesa alegou que precisará de seis semanas para sua preparação
Após queda histórica na Bolsa, presidente do Peru tenta acalmar mercado

DA ENVIADA ESPECIAL A LIMA (PERU)

A eleição de Ollanta Humala para a presidência do Peru neste domingo levou pânico ao mercado financeiro. A Bolsa de Valores de Lima teve sua maior queda na história, 12,51%, e encerrou as atividades por volta do meio-dia.
A repórter especial da Folha Patrícia Campos Mello está no Peru acompanhando a apuração e conta que "os investidores temem que Humala faça mudanças radiais no modelo econômico do país, que faz do Peru um dos países que mais cresce no mundo, com média de 7% ao ano".
Humala teve a maioria dos votos nas regiões mais pobres, já que apesar do crescimento, "não conseguiu melhorar de forma significativa a distribuição de renda", explica a jornalista.
De acordo com Patrícia, "Humala vem tentando tranquilizar investidores, dizendo que vai respeitar as políticas macroeconômicas e respeitar a independência do Banco Central".
Nesta segunda-feira, após a queda a Bolsa, assessores de Humala fizeram pronunciamento dizendo "não somos estadistas e acreditamos na economia de mercado. Não vamos desapropriar os cachorros e as galinhas de ninguém", numa tentativa de conter os ânimos do mercado financeiro.
Doze pontos do Concurso:

1 – Política externa brasileira: alinhamento automático e pragmático aos Estados Unidos
2 – Teoria realista: Hans Joachim Morgenthau e Edward Hallet Carr
3 – Teoria liberal: Liberalismo sociológico, republicano, institucional e da interdependência
4 – Teoria da Sociedade Internacional: Martin Wight e Hedley Bull
5 – Concerto Europeu: Hegemonia Coletiva e Sistema de Metternich
6 – Primeira Guerra Mundial: equilíbrio de poder europeu versus Wilson
7 – Segunda Guerra Mundial e o surgimento de uma nova ordem
8 – Período Entre Guerras: Stresemann e a volta dos vencidos (1919-1939)
9 – Guerra Fria: a política norte americana de contenção
10 – A nova ordem mundial e o colapso da URSS
11 - Economia política internacional
12 - Política externa brasileira: América Latina
A Teoria de Equilíbrio de Poder

Para muitos estudiosos da política internacional, a Teoria de Equilíbrio de poder, também conhecida como Teoria do Balanço de Poder, é o que próximo existe de uma teoria política das relações internacionais.
Na era moderna, com o surgimento e o desenvolvimento do Estado-nação, multiplicaram-se também as teorizações a respeito das relações internacionais. Em um contexto de anarquia internacional e de conflito entre os Estados, as práticas dos agentes e dos atores no sistema internacional levaram à formulação de uma teoria que pode ser considerada a precursora da análise convencional realista das relações internacionais, a Teoria de Equilíbrio de Poder.
A teoria de equilíbrio de poder percebe o cenário internacional em um situação de equilíbrio, no qual o poder é distribuído entre os diversos Estados. Quando um Estado começa a se destacar e a buscar aumentar seu poder frente aos demais, há uma perturbação no equilíbrio, e faz-se necessária uma coalizão das Potências para conter o Estado “pretensioso” e restaurar a ordem. Assim, pressupondo o Estado como um ator racional, a teoria defende que o balanço ou equilíbrio de poder é a escolha preferível e, portanto, a tendência do sistema internacional. A Teoria orientou as relações internacionais nos quatro séculos compreendidos entre a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Foi útil para justificar as condutas dos Estados e ações de governantes em um contexto anárquico e conflituoso.
Alguns autores distinguem entre o equilíbrio de poder como uma política (esforço deliberado para prevenir predominância, hegemonia) e como um padrão da política internacional (em que a interação entre os Estados tende a limitar ou frear a busca por hegemonia e, como resultado, há um equilíbrio geral).
A partir da 1° Guerra Mundial e as conseqüentes mudanças no cenário internacional e no equilíbrio de forças, em virtude dos traumas causados pelo conflito e do desenvolvimento do discurso pacifista junto à opinião pública, a Teoria do Equilíbrio de Poder foi questionada.
Se a guerra deve ser evitada a todo custo, essa doutrina não poderia perdurar num sistema a qual se fundamenta no Direito Internacional, na solução pacífica das controvérsias e na busca de uma estrutura supranacional que garantisse a paz: o Idealismo das Relações Internacionais.
O estudo das RI é mais do que nunca uma prioridade

José Renato Ferraz da Silveira

Nos últimos meses observo, confuso, perplexo e atônito, às considerações, abordagens e tergiversações mistificadoras - baseadas no binônimo cultura/religião - entre os “estudiosos de plantão” na busca de clarificar os principais aspectos das revoltas no mundo árabe. Ou seja, analistas sem a devida qualificação tratando de fenômenos internacionais com abordagens simplistas e às vezes com leituras infantis e ingênuas do fato.

Segundo Ricardo Young, na Folha de São Paulo, dia 28 de fevereiro p.p, “as revoltas no mundo árabe representam uma reação à miséria e à opressão a que estas populações vêm sendo vítimas há séculos. Excluídas da cidadania e dos avanços da chamada civilização, esses milhões de seres humanos cobram agora seus direitos por trabalho, bem estar e dignidade”. Somado a esse desejo de mudança social, há a necessidade e o anseio de reformas profundas nas instituições sócio-políticas desses países. Aliado ao fenômeno da globalização e os instrumentos tecnológicos advindos dos novos tempos – como a Internet e suas redes sociais – são os elementos catalisadores que desencadearam as ondas de revoltas das populações árabes.

De fato, esses acontecimentos reforçam a relevância cada vez maior do estudo das Relações Internacionais. Como ilustra o professor Ricardo Seitenfus: a “crescente interdependência entre os povos, a impossibilidade de traçar uma linha estanque entre as origens nacionais e as conseqüências dos fenômenos contemporâneos, o surgimento de temas transversais e difusos indicam a complexidade crescente das RI e demonstram sua vitalidade”.

Ou seja, a compreensão lógica do porquê das revoltas que se dão na África e no Oriente Médio ou em outras partes do mundo através do campo das Relações Internacionais nos permite sistematizar e explicar o fenômeno internacional de modo concreto e apropriado nos afastando do ajuizamento de valor, das suposições generalistas, simplificadoras e apressadas.

E a impressão que temos é que a sociedade internacional está tão interligada, tão integrada em um processo de globalização, que situações ocorridas na Líbia podem afetar a nós, brasileiros, do outro lado do planeta. Pensemos no aumento do preço do petróleo! Daí que o problema do outro passa a ser também um problema nosso e o bem estar de cada homem passa a significar o bem estar de toda a humanidade. Nesse contexto, se você não é parte da solução, é parte do problema!

O campo das Relações Internacionais

Como afirma o diplomata e professor de Ciência Política, Alain Rouquié, “as relações internacionais, até há pouco tempo, pertenciam quase que exclusivamente ao domínio dos diplomatas e de especialistas, teóricos ou filósofos. Hoje, o internacional é inseparável de todas as questões que afetam a vida das sociedades e dos indivíduos. Em nosso mundo finito e interdependente, busca-se em vão algo que dele possa se escapar. Mas tamanha ampliação pouco facilita sua compreensão e nós temos mais do que nunca necessidade de um saber internacional pertinente para nos orientar num mundo que perdeu seus pontos de referência”.

Na verdade, quando analisamos um fenômeno internacional, devemos estar atentos às seguintes questões-chave: o que? como? quando? motivações? implicações?

O desafio de responder estas questões paradigmáticas decorre das tentativas intelectuais de definir o que são relações internacionais.

Como diz Rouquié, o estudo das RI: “dá a chave para tornar inteligível o “espetáculo do mundo” e delimitar assim, com exigente rigor metodológico, um campo que cada vez menos se deixa facilmente circunscrever”.

Ipso fato, a resposta a estas indagações devem ser norteadas por meio de formulações teóricas, métodos, dados, hipóteses, variáveis quantitativas e qualitativas das Relações Internacionais para que o fenômeno internacional seja razoavelmente compreendido.

O estudo das Relações Internacionais

De acordo com o professor Ricardo Seitenfus: “a condição multifacetada das relações internacionais impõe um exercício intelectual ausente nas outras disciplinas das ciências sociais e humanas. Seu estudo pressupõe a utilização de parâmetros e utensílios cognitivos que transcendem o alcance das disciplinas pretensamente estanques”.

O campo de Relações Internacionais descende, desde seus primórdios, de uma linha multidisciplinar, como pode ser vista hoje, envolve conhecimentos gerais de direito, economia, administração, sociologia, política, história, filosofia, teologia, antropologia, estatística e, sobretudo, de questões internacionais contemporâneas.

No histórico de formação deste ramo do conhecimento podemos notar que as Relações Internacionais eram diretamente relacionadas aos governos, em especial, nos campos de Estratégia e Diplomacia, sempre ligados, de maneira direta, aos governantes.

Surge no direito e com o passar dos anos, na história, tendo o enfoque aos tratados entre Estados. “Os fenômenos das guerras, das alianças, dos tratados de comércio e amizade, sempre foram a principal preocupação os historiadores, que, muitas vezes, se esqueciam de escrever a história interna dos agrupamentos humanos, para centrar sua análise nos feitos históricos dos grandes líderes, na emergência ou desaparecimento de grandes impérios, em suma, na dominação de um povo sobre outro”, observa o professor Guido Soares.

Outro setor científico que se tem dedicado ao estudo das Relações Internacionais é o do Direito Internacional Público. Esse ramo é relativamente moderno pertencente à Ciência Jurídica, tratando de abordagens parciais de um fenômeno político complexo, que são as relações entre os Estados.


O estudo das Relações Internacionais no Brasil

No Brasil, as Relações Internacionais como campo de estudo, não chegou ainda há um grande debate. Até pouco tempo atrás, as Relações Internacionais permaneceram na condição de assunto quase exclusivo da competência do Ministério das Relações Exteriores. O Itamaraty herdou do Império a tradição da diplomacia portuguesa, com posição destacada na América Latina. Mesmo no âmbito do Poder Legislativo, as Comissões de Relações Exteriores da Câmara e do Senado jamais tiveram o dinamismo esperado. Isto também pode ser observado na história de nossa imprensa, carente de correspondentes no exterior, reproduzindo noticiário e análises das agências internacionais.
As Universidades Brasileiras, de uns anos para cá, multiplicaram-se iniciativas de ensino, pesquisa, extensão e publicações diante da agenda internacional. Foram implantados novos cursos de Relações Internacionais, em graduação e pós graduação. Havia 3 cursos de graduação em Relações Internacionais no início da década de 90. O curso pioneiro é o da Universidade de Brasília. Corpo docente altamente qualificado, acervo bibliográfico – o mais completo do país – e grade curricular com um corte inter estatal bem visível. O segundo curso, o da Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro, colocou em destaque o comércio exterior. Hoje, temos mais de cem cursos de graduação em Relações Internacionais. Embora, muitos “lançados ao mercado”, não poucos, nem sempre contam com efetiva presença de equipes de docentes e pesquisadores qualificados no campo das relações internacionais, com condições adequadas de trabalho, além da hora-aula, com biblioteca especializada, laboratórios, convênios, parcerias, contatos externos, conferencistas e incentivo à participação em Congressos do corpo docente. São exigências formais para aprovação de funcionamento ou de reconhecimento de cursos, mas nem sempre seguidas, dada a costumeira benevolência de avaliadores oficiais, sujeitos ao clientelismo das instâncias burocráticas da educação no Brasil e dada a passividade do corpo discente.


O internacionalista

De acordo com Seitenfus, “as relações internacionais devem ser entendidas como o cruzamento de várias disciplinas em um mundo cujos interesses e valores se interpenetram de maneira irrefreável. O internacionalista - profissional das relações internacionais - competente será aquele capaz de trilhar caminhos para os quais ele não se preparou. Que tenha a coragem de enfrentar o novo, de compreender o outro, de observar e avaliar o mundo com olhos que não são os seus”.

Dessa forma, o internacionalista, dotado de arcabouço enciclopédico, deve ser um intelectual curioso, inquieto, inconformado, uma mente inquisitiva e criativa, idealista por natureza, apto ao aprendizado de idiomas, um humanista nato, com gosto pelas artes, e um espírito multicultural em que a aceitação do outro, do diferente, do estranho, do estrangeiro é uma tendência natural. Aberto e receptivo a novas ideias, o mundo é a sua aldeia.

A descoberta do internacional

A descoberta do internacional e suas dimensões no país e a maneira como isto nos afeta, diretamente e indiretamente, demanda uma compreensão e ação direcionada e imediata.
“O estudo das relações internacionais é mais do que nunca uma prioridade”, conforme alerta Rouquié.

É premente a necessidade de que os brasileiros tenham algum conhecimento de Relações Internacionais. Na Administração Pública, essa demanda é mais evidente. No Poder Legislativo, é fundamental que aqueles que assessoram os legisladores conheçam as principais linhas da política internacional tão bem quanto conhecem a política interna brasileira. Afinal, política interna e política externa estão estreitamente relacionadas: as ações daquela afetarão e serão afetadas por esta e vice-versa.

É o grande desafio e o futuro do Brasil como global player depende disso!

O Brasil, a nação que tende a desempenhar um saliente papel nesta “estranha máquina que se chama mundo”, como disse Camões.
MIYAMOTO, Shiguenoli. O ensino das Relações Internacionais no Brasil: problemas e perspectivas.

I. A DEMANDA PELAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

1) “O que nós vamos ser quando crescer” (sic) perguntava, certa vez, aluno de graduação em Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC-MG), em artigo publicado pelo jornal o Estado de Minas.

2) A preocupação com o futuro profissional e a obtenção de emprego não são prerrogativas ou motivo de apreensão exclusivos dos estudante, ou dos recém formados em Relações Internacionais, mas de todas as carreiras.


3) Novas profissões, por outro lado, têm surgido em número cada vez maior, em função das necessidades e lacunas existentes, com carência de profissionais habilitados em quantidade suficiente para atender as demandas do mercado.

4) A procura por esses cursos tem sido grande. Vale a pena lembrar que o bacharelado em Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), criado em 1995, tem-se mantido, desde o início, entre os três mais concorridos nos vestibulares realizados por aquela instituição, muitas vezes ficando em segundo lugar na preferência dos alunos, com mais de dez candidatos (tendo chegado a 18) por vaga.

5) Nos cursos de RI da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), campus de Franca, a procura por uma das vagas é ainda maior.

6) Surgimento de dezenas no curso de Relações Internacionais em todo país.

7) Não existe, ainda no país, quantidade de profissionais suficientemente habilitados para atender um mercado com tais necessidades.

8) A criação do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e a missão de criar “um espaço de estudos e debates que propiciará insumos para o processo decisório governamental e para a atuação do governo em processos de negociação internacional.

9) Não podemos esquecer os departamentos criados para tratar de assuntos internacionais nas inúmeras federações e confederações de comércio e indústria, nas secretarias municipais e estaduais, nas empresas estatais e nos demais órgãos da Administração Federal direta e indireta, nas Universidades, nos sindicatos e nas associações de classes, nos partidos políticos e em outras organizações não-governamentais.

10) No plano federal vale lembrar a Assessoria de Relações Federativas (ARF) instituída em 09 de junho de 1997 pelo decreto n° 2246/97 (Brasil, 2003). O principal objetivo da ARF, subordinada diretamente ao Gabinete do MRE, é o de intermediar as relações entre o Itamaraty e os governos de Estados e municípios brasileiros, bem como as Assembleias estaduais e municipais, assessorando-os em suas iniciativas externas, tratativas com governos estrangeiros, organismos internacionais e organizações não-governamentais.

11) O próprio município de São Paulo criou a Secretaria Municipal de Relações Internacionais, enquanto no Rio Grande do Sul, na década de 80, uma secretaria especial de RI.

12) O surgimento dos cursos de Relações Internacionais insere no quadro do desenvolvimento do comércio internacional, dos intercâmbios políticos, culturais e sociais, a entrada de grandes conglomerados estrangeiros em praticamente todos os setores – seja adquirindo empresas nacionais, seja associando-se as mesmas passaram a assumir importância crescente, causando impacto tanto junto à sociedade quanto no Estado brasileiro.

II. Os Cursos de RI e o padrão de qualidade

13) Os cursos de RI são poucos conhecidos no país
a) UNB
b) PUC-RJ
c) UFRGS

14) Pela Portaria n. 641, de 13 de maio de 1997, a IES interessadas em criar graduação em R.I devem preencher padrões mínimos de qualidade, que se podem, resumidamente, arrolar nos seguintes intens:
a) Exigência de coordenador com formação específica na área de R.I. Critério idêntico aplica-se ao corpo docente.
b) Corpo docente: 1/3 de professores com a titulação de doutor. Os demais devem possuir os títulos de mestre ou de especialistas. Recomenda-se que professores sem titulação formal não excedam a 1/3 do total. Na aferição da qualidade do corpo docente ponderam-se, também, outras atividades como a produção acadêmica, a participação em pesquisa com apoio institucional e cargos e funções de administração acadêmica.
c) A estrutura curricular, disciplinas científicas de Relações Internacionais, disciplinas auxiliares e correlatas, além de outras optativas.
d) Biblioteca bem aparelhada que inclua as obras básicas para o bom andamento do curso, periódicos nacionais e estrangeiros, acesso a rede mundial de computadores, documentos e materiais de pesquisa.

III. As dificuldades encontradas

15) Na maioria das instiuições, as deficiências mais agudas dizem respeito ao material bibliográfico e ao corpo docente.

IV. Perspectivas do mercado de trabalho

16) As dúvidas levantadas abarcam desde a própria designação do egresso do curso – sem denominação como os profissionais de outras áreas, apenas identificando como internacionalistas, suscitando algumas discordâncias – até propostas de criação de uma reserva de mercado.

17) Deputado Antônio Carlos Konder Reis, projeto de lei, de 1999, dispunha sobre o exercício da profissão de bacharel em Relações Internacionais e autorizaria a criação dos respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais dos profissionais de R.I.

18) Os próprios alunos, como interessados maiores, poderiam agir no sentido de divulgar cada vez mais o que é e o que faz o profissional de Relações Internacionais.

19) Atividades paralelas às salas de aula, como laboratórios, jornais e empresas júnior podem, certamente, dar contribuição significativa, ajudando a impulsionar ainda mais o desenvolvimento da área de Relações Internacionais.

20) Na Universidade de Brasília, por exemplo, existia uma empresa júnior denominada “Rel Júnior – Consultoria Internacional” e que foi inclusive uma das organizadoras do I Congresso Brasileiro de Relações Internacionais realizado na capital federal em março de 1998.

21) Na PUC de São Paulo foi criado, também em 1999, o Observatório das Relações Internacionais, responsável pela publicação do boletim Observatório Internacional, de periodicidade trimestral e elaborado pelos integrantes do Projeto de Integração Graduação-Pós-Graduação em Relações Internacionais (PROIN).

22) Em outra esfera, o papel desempenhado pelo Relnet (sítio brasileiro de referência em Relações Internacionais) dispondo dados os mais variados possíveis, sob a Chancela do departamento de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, em colaboração com a Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), pelo MERCOBOL da PUC-MG e pelo FENERI, entre outros, tem sido de suma importância. Nesses sítios pode-se obter não só informações sobre seminários, cursos de extensão, de pós-graduação no país e no exterior, pesquisas realizadas e em andamento, teses, etc., mas participar também de foros de debates com diversos professores , e ler publicações tanto do MRE quanto da própria UNB.



Observações finais

23) O campo de trabalho para os “internacionalistas” – à falta de uma designação melhor – nos próximos anos deverá ser promissor, já que a falta de pessoas com formação sólida na área é patente, e o momento pelo qual passamos exige crescentemente profissionais com perfil mais amplo. Tudo parece favorecer a participação cada vez maior, em todos os níveis, dos egressos dos bacharelados de R.I.

24) Acervo bibliográfico, corpo docente especializado, abertura de muitos cursos em uma única cidade.

25) O domínio da teoria, crucial para entender e interpretar as grandes mudanças que se processam no cenário nacional regional e mundial, e, também, o conhecimento prático que tanto interessam às empresas do setor comercial e industrial, nacionais e estrangeiras, às agências de fomento, às instâncias governamentais e às organizações não-governamentais.

26) O aluno tem que procurar obter o máximo de informações possível, manter-se atualizado, realizar estágios, dedicar parte apreciável de seu tempo às leituras necessárias, participar de eventos e, na medida do possível, estar atento às possibilidades de viagens, tanto no país quanto para o exterior, visando ampliar a cada vez mais seu leque de opções. Mas não é isso que ocorre, também, com grande parte das demais profissões?