quarta-feira, 16 de março de 2011

Contra invasão ocidental, Gaddafi ameaça se aliar com Al Qaeda


DA EFE, EM ROMA
COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O ditador líbio, Muammar Gaddafi, advertiu aos governos ocidentais que, se houver uma intervenção militar estrangeira em seu país, a Líbia vai se aliar à rede terrorista Al Qaeda. A declaração foi dada em uma entrevista ao jornal italiano "Il Giornale".
"A Líbia sairá da aliança internacional contra o terrorismo, nos aliaremos com a Al Qaeda e declararemos a Guerra Santa", ameaçou Gaddafi, caso os governos ocidentais se comportem "conosco" como o fizeram no Iraque.
O ditador disse se sentir "traído" por seu até agora amigo, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi.
Gaddafi afirmou ainda que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, tem uma espécie de "desordem mental" porque "disse coisas que só um louco poderia dizê-las".
"Estou realmente surpreso com a atitude de meus amigos europeus. Dessa forma, eles puseram em perigo e danificaram uma série de grandes acordos sobre segurança e cooperação econômica que tínhamos", ressaltou o ditador líbio.
Na mesma entrevista em que ameaça se aliar à Al Qaeda, Gaddafi criticou os rebeldes líbios que buscam derrubá-lo do poder e os considera aliados de Osama bin Laden, líder da rede terrorista islâmica.
"Negociar com os terroristas de Osama bin Laden não é possível. Eles mesmos não acreditam no diálogo. Sua ideia da situação em Benghazi é equivocada", ressaltou Kadafi, referindo-se à segunda maior cidade da Líbia, atualmente em poder dos rebeldes do país.
Segundo o ditador, o Conselho Nacional de Transição Interino (CNTI), autoridade formada pelos rebeldes líbios em Benghazi, "é como se fosse a Al Qaeda".
Gaddafi afirmou que a oposição dos rebeldes é uma "causa perdida": "Há duas possibilidades: render-se ou escapar".
"Esses terroristas utilizam os civis como escudos humanos, inclusive as mulheres", declarou o ditador. Ele acrescentou que suas tropas avançam rapidamente em direção a Benghazi "para combater o terrorismo".
"As ordens às nossas tropas são cercá-los. Se eles se renderem, não vamos matá-los", disse.

AMEAÇAS
Na semana passada, Gaddafi, declarou que haveria uma revolta armada contra os países ocidentais caso estes criassem uma zona de exclusão imposta pelo ocidente e pela ONU. Em entrevista à TV turca TRT, Gaddafi disse que esses países têm o objetivo de "tomar o petróleo líbio".
"Se eles tomarem esta decisão, será útil para a Líbia, porque o povo líbio verá a verdade, que o que eles querem é assumir o controle da Líbia e roubar seu petróleo", disse Gaddafi na quarta-feira da semana passada. "Então o povo líbio pegará em armas contra eles", afirmou.
Países ocidentais discutiram a possibilidade de impor uma zona de restrição a voos sobre a Líbia, para impedir ataques aéreos de forças leais ao governo contra rebeldes. Mas na reunião do G8, nesta quarta-feira, a proposta da França fracassou.
Em discurso transmitido pela TV estatal líbia horas antes da entrevista à TV turca, Gaddafi acusou "forças externas" de estarem fomentando as insurreições que estão ocorrendo no país. Ele disse que governos europeus e a rede Al Qaeda estão incitando a juventude da Líbia a aderir à revolta contra seu governo.
O ditador líbio Muammar Gaddafi acusou os países ocidentais de levarem a cabo um 'complô colonialista' contra seu país e descartou negociar com o Conselho Nacional que os rebeldes constituíram em Benghazi, ao qual negou legitimidade e relacionou com a organização terrorista Al Qaeda.
Em outro discurso, também na semana passada, o ditador disse que os países ocidentais 'querem colonizar a Líbia novamente', citando em particular Estados Unidos, Reino Unido e França.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de negociar com o Conselho Nacional, dos rebeldes, Gaddafi gargalhou e respondeu que 'não há um Conselho Nacional'.
O líder líbio também assinalou que os ex-membros de seu governo que se somaram ao Conselho "foram retidos pela força" e "ameaçados de morte", de modo que sua única saída foi comprometer-se com os insurgentes.
'Não são livres, são prisioneiros', acrescentou Gaddafi antes de negar que combata seu próprio povo: 'é uma mentira dos países colonialistas. É um complô colonialista'.
Em outra entrevista, veiculada pela emissora estatal líbia, Gaddafi afirmou que o objetivo do complô é o controle do petróleo do país e acusou os rebeldes de 'traição', voltando a afirmar que eles são apoiados pela rede terrorista Al Qaeda.

Brasil Torna-se Quinto Maior Credor dos EUA |

O Tesouro norte-americano divulgou dados de dezembro de 2010 tornando o Brasil o quinto maior financiador da dívida do Governo dos Estados Unidos. Até o final do ano, o Brasil detinha US$ 186,1 bilhões em títulos da nação mais rica do mundo, atrás apenas da China (US$ 1,16 trilhão), do Japão (US$ 882,3 bilhões), do Reino Unido (US$ 272,1 bilhões) e dos países exportadores de petróleo, como a Arábia Saudita e a Venezuela, esses com investimentos de US$ 211,9 bilhões.
O Brasil aumentou os investimentos na dívida dos EUA em US$ 16,9 bilhões no ano de 2010. O Banco Central (BC), responsável pela administração dos recursos provenientes das reservas internacionais, afirmou que a compra dos títulos do governo norte-americano é muito segura e, além disso, é necessário manter uma reserva elevada de dólares, já que o endividamento brasileiro no exterior está também na mesma moeda, operação conhecida como hedge. De acordo com dados do Banco Central, dos US$ 300 bilhões das reservas internacionais que o Brasil possui, mais da metade dos recursos está atualmente financiando o Governo dos EUA.
Apesar de uma corrente de economistas criticaram o exagerado custo das reservas, o Diretor de Administração do BC, Anthero Meirelles, fez questão de enfatizar que esta operação é um importante seguro contra crises. Ele lembrou que o Brasil já enfrentou crises internacionais anteriormente, levando o país a puxar a taxa de juros para mais de 40% ao ano porque não tinha “reservas suficientes para se defender”. O Diretor Anthero ainda garantiu que, mesmo com as críticas, não haverá modificação na política de acumulação de reservas. Desde janeiro deste ano, o BC já comprou quase US$ 15 bilhões para reforçar o seguro contra crises.


Fonte: Brasil Torna-se Quinto Maior Credor dos EUA | Política Externa Brasileira
Política Externa Brasileira

Participação do Ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, na Cúpula da Comunidade do Caribe – Granada

Participação do Ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, na Cúpula da Comunidade do Caribe – Granada

Published 2 de março de 2011 | By Política Externa.com
Tradução por Daniel Cardoso Tavares


Gostaria de começar expressando minha gratidão ao Governo Brasileiro pela possibilidade de falar com vocês hoje. Eu trago para vocês fervorosas saudações da Presidenta Dilma Rousseff e, como seu novo Chanceler, estou feliz de estar em Granada e participar deste encontro como um parceiro e amigo da CARICOM.
O Brasil e o Caribe compartilham importantes traços históricos, geográficos, demográficos e culturais.
Nossas heranças comuns refletem-se hoje em crescente grau de convergência política. Nossas sociedades são guiadas pelo mesmo agregado de valores comuns. Estamos firmemente comprometidos com a democracia, com a promoção e proteção dos direitos humanos e do desenvolvimento com justiça social.
Baseados nesta afinidade, o Brasil tem trabalhado em direção ao estreitamento das relações com as maiores organizações de integração do caribe – CARICOM e a Organização dos Estados Caribenhos do Leste, para os quais acreditamos nossos embaixadores em Georgetown e Castries, como observadores.
É também neste espírito que o Brasil decidiu abrir novas missões diplomáticas permanentes no Caribe. Desde 2005, abrimos embaixadas em oito países da CARICOM e isso faz de nós uma dos poucos países do mundo a ter relações diplomáticas com todos os 14 membros desta Comunidade.
Um ponto importante no relacionamento com o Caribe foi a primeira Cúpula Brasil-CARICOM, ocorrida em Brasília, em 26 de abril de 2010. A declaração de Brasília, adotada na reunião, consagra nosso comprometimento com a integração da América Latina e o Caribe. Também reforça nosso objetivo comum de coordenar posições no foro internacional e avançar a cooperação em vários campos, como os de mudança climática, educação, cultura, energia, ajuda em casos de emergência, turismo e comércio. Também reiteramos nosso comprometimento com a reconstrução do Haiti.
É encorajador que, na Cúpula de Brasília, também conseguimos assinar 48 acordos de cooperação em muitas áreas com a CARICOM, OECS e países individuais aqui representados.
Também estamos completamente comprometidos com a implementação das decisões da Cúpula. Já estamos testemunhando os resultados em áreas como as da cooperação técnica, assistência humanitária e transporte. Eu gostaria particularmente de reforçar a nova rota aérea entre Barbados e o Brasil.
Também gostaria de destacar o resultado muito específico e concreto da Cúpula Brasil-CARICOM. Vocês – chefes de governo – estabeleceram em Brasília um claro mandato para encorajar os estudos sobre os impactos sobre a escravidão em nossas identidades nacionais. Em resposta a isso, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil organizou livro com artigos de autores de cada um de nossos países sobre nossas raízes africanas. Distribuímos cópias do livro, ontem, à margem desta reunião, e eu acredito que isso contribuirá para o avanço e mútuo conhecimento entre nossas sociedades.
O Brasil abrigará um seminário, ainda em 2011, com o objetivo de avançar no debate sobre nossa história comum. Todos os intelectuais dos países caribenhos que contribuíram com o livro estão convidados.
Além do exercício Brasil-CARICOM, nossa parceria também tem sido fortalecida pelas Cúpulas Latino Americana-Caribe – a primeira das quais teve lugar na Bahia, em dezembro de 2008. Tal iniciativa levou à criação, na Cúpula de Cancun no ano passado, da uma Comunidade dos Estados Latino Americanos e do Caribe – CELAC -, uma ampla formação que provê espaço para convergência de nossos vários mecanismos sub-regionais.

Distintos Chefes de Governo,
Existe significativo desenvolvimento no front econômico que deve ser destacado. O comércio Brasil-CARICOM cresceu fortemente nos últimos poucos anos e ,estou particularmente satisfeito em constatar isso, depois da crise econômica global o comércio de duas mãos recuperou-se de forma robusta em 2010, quando excedeu 4 bilhões.
Gostaríamos de tornar nossas relações comerciais mais simétricas. O governo brasileiro em breve divulgará um estudo chamado Oportunidades para as Exportações da CARICOM no Mercado Brasileiro, que esperamos que ajuda a aumentar as importações de bens e serviços das nações do Caribe ao Brasil.
O Congresso Brasileiro recentemente aprovou a acessão ao Banco de Desenvolvimento do Caribe. A junção do Brasil ao Banco abrirá um novo hall de oportunidades para cooperação mais próxima nos projetos de desenvolvimento regional.
Os prospectos são igualmente promissores no domínio da cooperação técnica. Como resultado da primeira Cúpula Brasil-CARICOM, e sob pedido dos membros da CARICOM, a ABC levou à frente 14 missões no último ano, em áreas como as de saúde, agricultura e aplicação da lei. Em 2010 a cooperação chegou a cerca de USD 7.5 milhões com os países caribenhos – 10% da cooperação total do Brasil, e 200% de aumento em relação a 2009.
Continuamos a cooperar em agricultura, especialmente por meio da EMBRAPA. Temos compartilhado nosso know-how em áreas como as de produção de alimentos e comércio. Eu tenho aqui comigo o coordenador do escritório da EMBRAPA no Panamá, que teve conversas com muitas delegações sobre possíveis novos projetos.
Estou feliz em anunciar que o Brasil esta preparado para ampla cooperação a ser executada nos países do Caribe em 2011. isso inclui dez projetos de capacitação em desenvolvimento agrícola e segurança alimentar, que serão organizados por três grandes instituições agrícolas brasileiras: EMBRAPA, O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural e o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Mais detalhes sobre os projetos estão em documento que minha delegação está distribuindo.
Também avançamos nossa cooperação com os países do Caribe sobre questões de assistência humanitária. Nossos esforços principais tem sido relacionados ao Haiti, depois de janeiro de 2010 com o terremoto e mais recentemente com o surto de cólera.
Estamos preocupados em como a região pode ser vulnerável a desastres naturais. Em 2010, o Brasil fez contribuição voluntária para a FAO de USD 500.000,00 para o fundo humanitário que apoia projetos desenvolvidos pela Caribbean Disaster Emergency Management Agency.
Parte dos fundos foi alocada para programas de ajuda como os relacionados ao furação Thomas. Foi também na sequência do Thomas que o Brasil enviou helicóptero para operações humanitárias em Santa Lúcia.

Distintos Chefes de Governo,
Antes de concluir, gostaria de lembrar a questão da segurança alimentar e do desenvolvimento rural – que continuam a representar importante prioridade para o Governo Brasileiro.
O Brasil tem tido algum sucesso no combate direto à fome e à pobreza enquanto cria condições sustentáveis para a superação desses males no longo prazo. De fato, tais estratégias são complementares e mutuamente reforçadoras.
A estratégia do Fome Zero, formulada pelo Dr. Graziano da Silva, que apresentou-se aqui hoje, teve papel central nesse história de sucesso. Um de seus principais elementos é o Bolsa Família, que hoje beneficia cerca de 50 milhões de pessoas, tendo contribuído para retirar 24 milhões de pessoas da pobreza.
A crise de 2008 demonstrou que a estratégia do Brasil foi bem sucedida. Enquanto boa parte do mundo sofria a recessão, nossas políticas sociais contribuíam para consolidar um virtual escudo anticíclico.
Como o Brasil, e com apoio do escritório regional da FAO, dez países da América Latina e do caribe transformaram em lei seu comprometimento com a segurança alimentar. Ao mesmo tempo, na África, onde 200 milhões ainda sofrem de fome, 18 nações beneficiam-se dos avanços da EMBRAPA em pesquisa e produção.
O Brasil busca aumentar as parcerias a fim de resolver a desconcertante matemática de nosso tempo: estamos quase com 7 bilhões de pessoas em nosso planeta e temos recursos suficientes para alimentar 12 bilhões; ainda assim, 925 milhões de nós continuamos com fome todos os dias. De acordo com a FAO, apenas USD 40 bilhões seriam suficientes para resolver a situação. Agora, compare isso com os USD 10 trilhões utilizados para recuperar os mercados financeiros.
Como o geógrafo brasileiro Josué de Castro nos ensinou, "a fome e a guerra são genuínas criações humanas". Não são resultados inevitáveis do destino ou da escassez, mas os frutos amargos da história. A fome pode e deve ser eliminada pela mobilização adequada de recursos ou de boa vontade.
É sob esta firme crença que o Brasil aspira ao cargo de Diretor geral da FAO. A candidatura do Dr. Graziano da Silva reflete o comprometimento brasileiro com o desenvolvimento e a inclusão social.
É nesse contexto que desejo expressar nossa gratidão com o valoroso apoio dos países da CARICOM a esse respeito e demonstrar o desejo brasileiro de receber o apoio formal da CARICOM para a candidatura do Dr. Graziano.

Distintos Chefes de Governo,
Eu lhes falo hoje com o firme comprometimento de abrir novos e ambiciosos fronts de cooperação entre o Brasil e a CARICOM.
Eu lhes agradeço mais uma vez por abrirem a oportunidade para que eu participasse deste Cúpula. Estou verdadeiramente honrado.
Muito obrigado.
Socorristas japoneses podem sofrer com radiação letal

DA REUTERS, EM WASHINGTON

A principal agência reguladora nuclear dos Estados Unidos afirmou ao Congresso na quarta-feira que os níveis de radiação ao redor da usina nuclear do Japão podem ameaçar de forma letal os agentes de emergência.
"Acreditamos que nos arredores do reator há altos níveis de radiação", afirmou o diretor da Comissão Reguladora Nuclear, Gregory Jaczko, durante audiência do Subcomitê de Comércio e Energia da Câmara dos Deputados.
"Seria muito difícil para os agentes de emergência chegar perto dos reatores. As doses a que eles poderiam ser submetidos seriam potencialmente letais num curto período de tempo."
Jaczko disse que a agência reguladora tinha informações muito limitadas sobre o que estava acontecendo na usina de Fukushima, no Japão, e que não queria especular muito sobre o assunto.
Ele afirmou ainda que os Estados Unidos não serão afetados pela radiação nociva da usina japonesa e que a área de isolamento ao redor da instalação nuclear era menor do que a sugerida pela agência.
Jaczko disse que a piscina que armazena o combustível nuclear usado no reator número 4 não continha água.
"Não há água na piscina de combustível usado e acreditamos que os níveis de radiação estão extremamente elevados, o que poderia possivelmente causar impacto na capacidade de tomar medidas corretivas."

entrevista de Antonio patriota

CartaCapital: Dilma Rousseff terá mais dificuldade de se projetar internacionalmente do que Lula?
António Patriota: O estilo é diferente, e ela recebe um país em condições diferentes. Tem outras oportunidades de interlocução e uma demanda pelo Brasil talvez maior. Tenho certeza de que dará muita importância à interlocução internacional e que o fará com grande talento, habilidade e até prazer. Noto que ela gosta desse papel, possui uma curiosidade que diria inesgotável pelo que se passa no mundo. Também vejo nela um sentido de justiça profundo que se associa bem ao que é a agenda do Brasil no plano multilateral, de assegurar que os mecanismos de cooperação e os foros de debate reflitam a geopolítica contemporânea e não sejam clubes que polarizam ou excluem certos países.

CC: Ela será chamada de monoglota como foi Lula?
AP: O presidente Lula comunicava-se com habilidade, porque tinha muito a dizer. Mais importante do que falar várias línguas é ter uma mensagem. A presidenta Dilma também tem essa característica, é uma mulher com uma experiência de vida rica e é muito estudiosa. Mais especificamente, tem
conhecimento de inglês, francês e espanhol, e é capaz de entender um interlocutor sem a necessidade de tradução. Usa mais na hora de se expressar.

CC: Dilma falou no Congresso que é "natural" que se democratizem as relações entre os países, o que pressupõe mudanças no Conselho de Segurança da ONU. Por que ainda não ocorreram?
AP: Não é um pleito individual, refere-se à própria estrutura de funcionamento do órgão. Tem de desencadear um processo comparável a uma reforma constitucional e isso não é simples de fazer. Já houve uma reforma em 1964, quando o Conselho passou de 11 para 15 membros e teve de ser ratificada por uma maioria de dois terços de membros da ONU, inclusive os cinco permanentes, que têm poder de veto. O debate sobre a reforma do Conselho vem se arrastando desde 1992, é um processo complicado e demorado.

CC: Qual o empecilho?
AP: Existe um amplo consenso de que a atual estrutura, com esses cinco membros permanentes – Rússia, EUA, China, França e Inglaterra -, retrata mais o pós-Guerra do que o mundo contemporâneo. Há países que defendem uma ampliação, passar de 10 para 15. O Brasil e nossos parceiros nesse debate, Alemanha, Japão, índia – e a África também tem de estar representada -, defendemos que o desequilíbrio se encontra na categoria de membros permanentes.

CC: O que temem os membros permanentes em relação a uma ampliação?
AP: Cada um tem sua preocupação. Reino Unido e França são os mais favoráveis a uma reforma tal como nós defendemos. Visto de maneira benévola, acordaram para as mudanças geopolíticas e querem uma reforma que reflita isso. Mais apegados à realpolitik, temem que uma demora muito grande na reforma passe a levantar dúvidas sobre seus status como membros permanentes e que ganhe força a ideia de uma cadeira para a União Europeia, em vez de cadeiras individuais. Quanto aos demais, todos se dizem favoráveis de maneira distinta. A China põe ênfase em mais espaço para o mundo em desenvolvimento, mas sem explicitar como se daria. Os Estados Unidos põem ênfase no tamanho do conselho reformado, que se for além de 21 membros se transformaria num órgão inadministrável.

CC: Este mês o Brasil ocupa a presidência rotativa do Conselho. Qual o significado disso? Apenas simbólico?
AP: E mais do que simbólico. Juntamente com o Japão, o Brasil é o país que mais vezes participou do Conselho como membro não permanente. Você vai acumulando experiência. É a décima primeira vez que participamos como membros não permanentes. O Conselho foi criado em 1945, são 66 anos. Ou seja, em um terço de sua existência o Brasil participou dos trabalhos, é o máximo que um não permanente conseguiu.

CC: Como apontar abusos nos direitos humanos de países aliados do Brasil, como Cuba e Ira?
AP: A palavra aliado não se aplica ao Brasil, que é um país sem inimigos. Além disso, Cuba, por exemplo, tem alguns dos melhore índices das Américas nos direitos econômicos e sociais. Nos civis e políticos aí talvez possa ser questionado. Mas é importante manter a discussão num padrão que se reconheça que todos os países têm progressos a fazer. Que não se transforme o debate, como dizem os americanos, num exercício definger pointing, acusatório de alguns em detrimento de outros. Esse é o grande desafio: encontrar o caminho justo, o equilíbrio.

CC: Se fosse hoje o caso dos boxeadores cubanos que desertaram durante os Jogos Pan-Americanos e foram deportados, o Brasil agiria diferente?
AP: Não respondo perguntas hipotéticas. É uma coisa que aprendi nos Estados Unidos, eles dizem muito para a imprensa: não raciocino sobre hipóteses.

CC: Apesar desse empenho pelos direitos humanos, houve críticas de que faltou uma nota mais dura do governo brasileiro em relação aos problemas no Egito.
AP: Também vi manifestações de apreço pela posição adotada. A situação do Egito é interna, uma convulsão nacional. Nossa preocupação é que as aspirações da população egípcia possam ser equacionadas sem violência, dentro de um ambiente de concórdia, de negociação.

CC: Então o princípio da não interferência em assuntos internos prevalece sobre a defesa dos direitos humanos?
AP: O que a crítica vai contribuir, nesse caso? Crítica a quem? A gente precisa entender também que forças estão em jogo. Dentre as forças que estão se manifestando, todas elas são favoráveis a um Egito mais democrático? Nossa aposta é que o Egito evolua em um sentido progressista. E a não interferência não é um princípio sacrossanto. O Brasil já se manifestou sobre questões internas, como quando combatemos o apartheid na África do Sul.

CC: Os rumos da política externa serão mantidos no governo Dilma, o chamado Sul-Sul. O que o Brasil ganha com essa abordagem?
AP: Não é assim que caracterizo. Durante o governo Lula, a linha de atuação Sul-Sul ficou em evidência porque era o aspecto mais inovador da política externa. Mas já naquela época, como embaixador em Washington, eu defendia que isso não se dava em detrimento da atenção a parceiros tradicionais do mundo desenvolvido. Esse é o espírito com que nós continuaremos a trabalhar. Em primeiro lugar, atenção prioritária aos parceiros sul-americanos – basta dizer que ocupo essa cadeira há um mês e meio e já estive com cinco presidentes da América do Sul. Ao mesmo tempo, estive em Davos e irei a Washington para acertar com a secretária de Estado, Hillary Clinton, a visita do presidente Barack Obama ao Brasil, em março. Uma coisa não exclui a outra.

CC: Sobre o caso Cesare Battisti: se o Brasil não confia na Justiça italiana, por que mantém acordo de extradição com a Itália?
[O ministro diz ter a respeito uma “resposta-padrão” e, de certa forma, cai em contradição. Fala, obviamente, da amizade que une Brasil e Itália e afirma que o caso Battisti é individual e “está encapsulado dentro de um contexto meramente judicial”. O Estado italiano, que se considera ofendido pela recusa à extradição, vê traído o acordo firmado com o Brasil, ou seja, a própria lei. A ideia de que o caso tem de ser encarado de um ângulo “meramente judicial” confirma que o Brasil não confia na Justiça italiana. O menos por enquanto.]

CC: Como o senhor acompanhou os ataques que sofreu Celso Amorim de que fazia uma política externa megalonanica?
AP: Jamais corroboraria uma descrição como essa, primeiro porque estive muito engajado na administração anterior. Identifico-me muito com as iniciativas específicas e o espírito em que se desenvolveu a atuação externa do governo Lula. É consenso internacional, não sou eu quem diz, que elevou o Brasil, trouxe respeitabilidade, e nos permite formular políticas e programar iniciativas hoje, no novo governo, a partir de um patamar.

CC: Por outro lado, analistas mais à esquerda dizem já sentir saudade de Amorim, que o senhor seria mais conservador. É verdade?
AP: Admiro muito Celso Amorim, é com quem eu trabalho desde meados dos anos 90. Seria pretensioso da minha parte começar com iniciativas que representassem um exercício inteiramente diferente ao dele. Assim como não seria razoável esperar de qualquer novo chanceler que desempenhasse em um mês e meio como ele em oito anos. Estou aqui num trabalho de consolidação e estou recebendo o bastão a partir de uma base muito boa.

CC: Politicamente, Amorim pode ser considerado mais à esquerda do que o senhor?
AP: Olha, não passei pelas experiências de vida pelas quais ele passou. Nunca paguei preço por opiniões que defendesse, como ele pagou ao ser destituído da Embrafilme. Sou um diplomata cujo mérito, se é que tenho algum, foi ser reconhecido ao longo de minha carreira, onde pude desenvolver um trabalho de acordo com minhas ideias, com aquilo que acreditava, sem ter sido por isso preterido, jogado para escanteio. Ele ficou um bom período depois da Embrafilme aguardando posição. Isso é uma coisa que marca um indivíduo, é uma diferença importante.

CC: Foi noticiado até que o senhor tem se aconselhado com o embaixador aposentado Luiz Felipe Lampreia, que foi chanceler de FHC.
AP: A mídia tem o direito de interpretar como quiser. O fato é que sou ecumênico, converso com quem me procurar. Sou um diplomata de carreira e os diplomatas de carreira se acostumam a ouvir muitos pontos de vista. O Brasil singulariza-se no cenário internacional como um país que não ouve só aqueles que compartilham as mesmas ideias. Como indivíduo, também me defino um pouco assim. Mas meus conselheiros são os assessores aqui do Itamaraty, o secretário-geral, e os embaixadores da ativa, em primeiro lugar.

CC: Após as revelações do WikiLeaks, os diplomatas ficaram mais comedidos nas comunicações internas?
AP: O WikiLeaks não deixa de ter um impacto grande, foi um chamado à reflexão. O que me impressionou foi que um país tão cioso da segurança como os EUA tenha tido suas comunicações tornadas públicas como foram. Isso provavelmente reforçará uma característica do trabalho diplomático, de procurar tratar matéria sigilosa com muito cuidado.

Filho de Gaddafi diz que líder líbio financiou campanha eleitoral de Sarkozy

Filho de Gaddafi diz que líder líbio financiou campanha eleitoral de Sarkozy

DA EFE, EM PARIS
Saif al Islam, filho do líder líbio Muammar Kadafi, afirmou nesta quarta-feira que seu pai financiou a campanha eleitoral do presidente francês, Nicolas Sarkozy, e pediu ao governante europeu que devolva esse dinheiro porque ele "decepcionou" a população líbia.
"A primeira coisa que peço a esse palhaço é que devolva o dinheiro aos líbios. Demos essa ajuda para que agisse em favor do povo líbio, mas ele nos decepcionou", declarou Saif al Islam em entrevista exclusiva concedida à rede televisiva Euronews.
No trecho do vídeo antecipado pela emissora, que será transmitida nesta noite, Islam, que já foi considerado o sucessor da "Presidência hereditária" líbia instaurada por Gaddafi, ressaltou que pode provar o financiamento à campanha de Sarkozy, pois possui "todas as contas bancárias, documentos e movimentações [financeiras]".
"Fomos nós que financiamos sua campanha. Temos todos os detalhes e estamos prontos para revelá-los", declarou o filho de Gaddafi.

Hillary admite urgência em atuar na Líbia devido à violência

Hillary admite urgência em atuar na Líbia devido à violência

DA EFE, EM WASHINGTON

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, admitiu nesta quarta-feira a "urgência" em atuar para frear o regime do ditador Muammar Gaddafi na Líbia, e disse espera que o Conselho de Segurança da ONU alcance nesta quinta-feira um acordo a respeito.
"Acho que há um sentido de urgência. Isso está sendo demonstrado em tempo real", disse Hillary aos jornalistas que a acompanham em sua viagem ao Cairo, segundo o Departamento de Estado.
A secretária de Estado disse ainda que o Conselho de Segurança, que se reuniu nesta quarta-feira em Nova York, está se movimentando "o mais rápido possível" para decidir quais medidas diplomáticas ou militares devem ser tomadas contra o regime de Gaddafi, que bombardeou hoje a cidade de Benghazi, principal reduto dos rebeldes.
"Não saberemos o que podemos fazer até que ocorra uma votação. Esperamos que isso não demore mais que amanhã, e então veremos o que isso significa para Kadafi e seu regime", indicou.
A possibilidade de impor uma zona de exclusão aérea sobre o país, que centra o debate no Conselho de Segurança, é "apenas uma" das opções que devem ser consideradas, e não a única, insistiu a secretária.
No entanto, também qualificou de "ponto de inflexão" a resolução atingida pela Liga Árabe, cujos ministros de Relações Exteriores expressaram no sábado no Cairo seu apoio à criação de uma zona de exclusão aérea.
"Foi uma resolução extraordinária, na qual a Liga Árabe pediu ao Conselho de Segurança que atuasse contra um de seus próprios membros", disse.
"Não quero prejulgar o resultado, mas acho que muitos países que mostravam reservas começaram a reconsiderar depois do comunicado da Liga Árabe. Existe uma atitude muito mais aberta que há uma semana", acrescentou.
Em uma entrevista à rede NBC, Hillary disse que a resolução alcançada pelo Conselho de Segurança deve nascer da "liderança de países árabes".
Quanto à possibilidade de que a ação chegue tarde demais, a secretária destacou que seu governo "conhece perfeitamente as ações" de Gaddafi, e lamenta "seu tremendo desprezo pela vida humana" e sua "determinação em assassinar seu próprio povo".
"Mas achamos que podemos fazer muitas coisas contra isso, se alcançarmos um acordo internacional", afirmou Hillary.
"Não há nenhuma maneira de os Estados Unidos tomarem ações unilaterais em nenhum destes assuntos. Não vamos atuar sozinhos. Se fizéssemos isso, haveria consequências imprevisíveis que acho que seriam prejudiciais", disse em outra entrevista à rede CBS.

Governo federal autoriza a permanência de mais 199 haitianos no Brasil

Governo federal autoriza a permanência de mais 199 haitianos no Brasil

KÁTIA BRASIL
DE MANAUS
FÁBIO FREITAS
DE SÃO PAULO

O Cnig (Conselho Nacional de Imigração), do Ministério do Trabalho, aprovou por unanimidade, nesta terça-feira, a autorização de permanência em território nacional para 199 haitianos que solicitaram refúgio no Brasil depois do terremoto que devastou o Haiti, em 2010.
A decisão de conceder a autorização a esses haitianos, segundo o Cnig, foi tomada por se tratar de uma questão humanitária e considerando que eles já estão em território nacional.
O Cnig é o órgão federal que formula a política de imigração e levanta as necessidades de mão de obra estrangeira qualificada para admissão em caráter permanente ou temporário no Brasil.
Por meio do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, a Polícia Federal havia emitido 1.024 protocolos de refúgios a haitianos que ingressaram pela fronteira do Peru e da Bolívia com as cidades de Tabatinga (AM) e Brasiléia (AC).
No dia 15 de fevereiro, o Ministério da Justiça suspendeu a emissão dos protocolos alegando que detectou uma rota de tráfico humano na fronteira do Brasil. Desde então, ao menos 300 haitianos estão barrados.
O Conare entendeu que o caso dos haitianos não se enquadrava no status de refúgio por se tratar de uma questão humanitária. E repassou a discussão ao Cnig.
Hoje, em nota, o conselho informou que a autorização de permanência será aplicada aos haitianos que encaminharam as solicitações de refúgio ao Conare. "Novos processos que forem encaminhados pelo Conare passarão por outra análise", disse o conselho.
Quanto à chegada de mais migrantes às fronteiras, o Cnig disse considerar "insustentável a migração desmedida de haitianos para o Brasil".
MAIS MEDIDAS
O Itamaraty entrou em contato com o Peru e o Equador para trocar informações sobre a passagem de imigrantes, segundo o embaixador Eduardo Gradilone Neto.
"É para evitar que a liberalidade de trânsito nesses países e a liberalidade do Brasil em conceder refúgio alimente uma rota criminosa, que pode ter vários ilícitos, como tráfico de pessoas e casos de trabalhadores escravos."
Gradilone disse que os haitianos não têm direito a refúgio. "Só poderiam em caso de perseguição política, discriminação, perseguição religiosa, situações definidas na legislação."
Segundo Gradilone, o Brasil é favorável a uma política de liberdade de locomoção --mesmo porque o próprio país tem muitos imigrantes sem documentação no exterior.
Mas o Itamaraty se preocupa com a possível "fuga de cérebros" do Haiti, de pessoas importantes para reconstruir o país, que ainda sofre consequências de um terremoto e de uma epidemia de cólera.

Cabral cobra Obama por vaga do Brasil no Conselho de Segurança

Cabral cobra Obama por vaga do Brasil no Conselho de Segurança

RODRIGO RÖTZSCH
DO RIO

O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), disse hoje que, "se fosse presidente", esperaria que Barack Obama anunciasse, em sua viagem ao Brasil no próximo fim de semana, o apoio à pretensão brasileira de ocupar um assento permanente num Conselho de Segurança da ONU reformado.
"Eu cobraria o mesmo tratamento dado à Índia [em recente viagem a Nova Déli, Obama anunciou apoio a um assento permanente para a Índia no conselho]. Eu não sou presidente, mas tenho essa expectativa", afirmou.
Cabral disse também, que se fosse o goveno brasileiro, lembraria a ele que o etanol brasileiro não pode ser taxado como é taxado'. 'O governo americano nos deve a revogação desse absurdo. Se quer comprar petróleo brasileiro, que trate o etanol com dignidade', completou.
O governador confirmou que Obama e sua família dormirão dois dias no Rio, e que no domingo, o presidente, a mulher e as filhas irão conhecer o Cristo Redentor e a Cidade de Deus, onde funciona uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).
Cabral admitiu ter ficado contrariado com o fato de o governo americano ter escolhido essa favela, e não o Chapéu Mangueira, como ele havia sugerido. "Eu lamentei. Na autobiografia dele, ele dedica três páginas ao encontro da mãe dele com a cultura negra. Esse encontro aconteceu quando ela assistiu ao filme 'Orfeu Negro', que tem 80% de suas cenas no Chapéu Mangueira. Mas a Cidade de Deus está muito bem escolhida. Certamente para ele será uma grande emoção pisar numa comunidade pacificada, que ele pôde ver, em outro filme, como era violenta."
O governador negou que o governo vá promover estratégias para atrair público ao discurso que Obama fará na Cinelândia, no domingo, às 15h. "Obama é um astro, um ícone, vai atrair público espontâneo. Vão vir caravanas de outra cidade."
Questionado pela Folha se esperava um público na casa de 500 mil espectadores, no entanto, Cabral riu. "Rei aqui é o Roberto Carlos. Barack Obama é bem-vindo, vai ser um bom público, mas 500 mil só o Roberto Carlos."
Cabral confirmou ainda que Michelle Obama e suas filhas acompanharão Obama ao Cristo e à Cidade de Deus, mas que não irão ao discurso na Cinelândia e cumprirão uma agenda paralela, conhecendo o Jardim Botânico.
Para o governador, que falou sobre a visita de Obama numa entrevista coletiva após anunciar a instalação de uma nova fábrica da Nestlé no Rio de Janeiro, a visita de Obama se insere no grande momento vivido pelo Estado, que inclui a realização dos Jogos Olímpicos em 2016. "O Obama está vindo conhecer a cidade que ganhou da cidade dele [Chicago] o direito de sediar a Olimpíada."
"O fato de não só o presidente Obama, mas o que os americanos chamam a 'primeira família' [a mulher e as filhas do presidente] virem ao Rio é extraordinário. Eu acho que os democratas têm mais bom gosto que os republicanos. Porque o [ex-presidente George W.] Bush não veio ao Rio, mas o [ex-presidente Bill] Clinton e o Obama sim."