segunda-feira, 17 de março de 2014

Pirâmide da existência

Vivemos, amamos, trabalhamos. Porquê? Goethe diria: "No desejo de erguer tão alto quanto possível nos ares a pirâmide da minha existência, cuja base me foi dada completamente construída". Imagine se todos pensassem em construir a vida como uma obra prima? Muitas vezes, nunca traçamos um plano. Fazemos projetos a curto prazo: escrever tal livro, ensinar em tal universidade, pesquisar sobre um determinado tema, viajar e conhecer novos lugares. Muitas vezes, o acaso toma a dianteira. O reino do imponderável enterra nossos sonhos ou nos fornece gratas e maravilhosas surpresas. Acontecimentos imprevistos tem sido uma tônica de minha existência. E hoje percebi que a Deusa Fortuna tem sido muito generosa nas dádivas que sempre me presentou. Receio que agora na idade madura, ela me abandone como adverte sabiamente o filósofo florentino Nicolau Maquiavel. Mas já defini uma estratégia bastante eficaz para que os meus projetos de vida permaneçam erguendo a minha pirâmide mesmo que de modo imperfeito, arestas um pouco torcidas, degraus desiguais: "escolho bem um ponto de aplicação do meu esforço e serei constante, ardente e penetrante". E nisso, a deusa Fortuna cederá aos meus desígnios e caprichos.
Escrever: feitiçaria evocatória 

Escrever é uma vocação imperiosa e nem todo mundo tem vocação. Li, certa vez, que o grande escritor francês Victor Hugo queria ser Chateaubriand ou nada. Um escritor nato escreve porque tem alguma coisa para dizer e só pode dizê-lo escrevendo. 
Creio que a vontade, o sentimento, a alegria ou a tristeza faz a brancura da página desaparecer. Escrever apesar dos fracassos e das críticas hostis é algo que me atrai. Na realidade, ainda carrego a ilusão e o sentimento de libertação e de trunfo, por uma frase perfeita, caracterizar um objeto, um sentimento, narrar com brilhantismo os feitos heroicos de personagens históricos.
Escrever é uma religião. Une as pessoas de uma maneira que não pode ser alcançada por outros meios. Escrever exige cuidados e trabalhos incríveis. Quantos arrependimentos! Quantas correções em espiral que mutilam o texto na versão inicial.
Mas é um verdadeiro êxtase em que, numa noite, escrevemos trinta, vinte, dez páginas. Esse momento de criação feliz é cheio de esperança. Sonhamos com um texto bem acabado, bem apresentado, profundo e vibrante. Como diz Baudelaire, “manejar sabiamente uma linguagem é praticar uma espécie de feitiçaria evocatória”.
Por fim, suponho que escrever exige estilo. O estilo é a mão do temperamento sobre a natureza das coisas e dos homens. Sem temperamento, não há estilo. Sem paixão, não há estilo. Sem inspiração, não há estilo.

Tenha fé

Tenha fé 

Há momentos na vida, em que nos sentimos aflitos, a sensação de nó na garganta e caímos no mais profundo desânimo. Parece que as forças se esgotam e não há meios de confrontar com a realidade posta.
Relembro, então, das belas estórias advindas da tradição oriental, em especial, a japonesa, que alude a flor de ameixeira que surge, perfumada, rompendo a neve no rigor do inverno. Até as sementes de trigo que não perdem a capacidade de se reproduzir, por mais que sejam pisoteadas.
Mas como manter um espírito de paz se o coração agitado ou irado sufoca a centelha da persistência e da fé? A fé, sem dúvida, acresce uma dimensão significativa à vida moral da humanidade. Como cristão apostólico romano, eu percebo a fé como uma força poderosa na experiência humana. Principalmente, as orações que nos iluminam e nos fazem entrar em contato com o Desconhecido.
Muitas vezes, quando estou deitado e absorto pela tristeza, as orações servem como estímulo para mim na busca do amor, da alegria, da paz interior, da paciência, da bondade, da generosidade, da confiança, da gentileza e principalmente do autocontrole.
E quando identifico a razão do meu desespero, sinto que é assim que são as coisas com os trabalhos divinos. Nós mortais “enxergamos” apenas o início ou nem isso do plano de Deus. Não somos capazes de compreender todo o propósito e objetivo final de sua Criação. Precisamos ter fé em sua Sabedoria.