quarta-feira, 2 de março de 2011

O Brasil e as Relações Internacionais

Como quinto país em dimensão territorial e um dos maiores em população, e estando entre as principais economias do planeta, com condições e pretensões de se tornar uma Grande Potência, o Brasil não pode se furtar a ter um papel de destaque nas relações internacionais. As transformações e acontecimentos no mundo globalizado farão cada vez mais parte do nosso dia a dia em uma tendencia praticamente irreversível.

Pouco significativa diante de suas potencialidades é a atuação brasileira no cenário internacional. Apenas nas últimas décadas do século XX é que o Brasil começou a se fazer mais presente. Isso coincide com o surgimento e o desenvolvimento dos primeiros cursos de Relações Internacionais no País e com o aumento do interesse nas questões internacionais por parte de diversos setores da nossa sociedade.

É premente a necessidade de que os brasileiros tenham algum conhecimento de Relações Internacionais. Na Administração Pública, essa demanda é mais evidente. No Poder Legislativo, é fundamental que aqueles que assessoram os legisladores conheçam as principais linhas da política internacional tão bem quanto conhecem a política interna brasileira. Afinal, política interna e política externa estão estreitamente relacionadas: as ações daquela afetarão e serão afetadas por esta e vice-versa.

Joanisval Brito Gonçalves
Tiago Ivo Odon
Dario Alberto de Andrade Filho
O curso de Relações Internacionais no Brasil a partir da década de 1990

Até meados da década de 1990, havia apenas dois cursos de Relações Internacionais no Brasil - na Universidade de Brasília e na Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro)
Hoje, são dezenas de insituições que oferecem a graduação em Relações Internacionais por todo o país. Trata-se, portanto, de carreira de grata expansão. Mesmo assim, a contribuição brasileira para as relações internacionais ainda é muito incipiente, sobretudo para um país que tem potencial para se tornar uma grande potência entre seus pares.
A disciplina de relações internacionais no mundo

Os cursos de Relações Internacionais surgiram na primeira metade do século XX, nas principais universidades europeias e norte-americanas. Foram constituídos com o objetivo de produzir conhecimento que explicasse como se desenvolviam as relações entre os Estados. Naquele contexto, as perguntas que impulsionariam o estudo estavam intimamente relacionadas ao grande trauma da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), conflito sem precedentes até então, que envolvera diversas nações do globo e causara perdas, sobretudo no território europeu. Assim, os temas centrais eram:

- O que havia conduzido o mundo a uma situação de conflito tão drástica?

- O que leva os Estados a guerra?

- É possível se evitar o conflito entre os povos?

- Como agem os atores internacionais e quais as forças que interferem na conduta destes entes?

Claro que, com o decorrer do século XX, o estudo das Relações Internacionais diversificava-se à medida que os laços entre os povos tornavam-se mais complexos e novos temas, como cooperação, desenvolvimento, integração, paz, direitos humanos e globalização, vinham à baila. Atualmente, a disciplina é ampla e alcança as mais diferentes áreas de estudo, e evolui à medida que evolui a complexidade da sociedade internacional. De fato, atualmente há cursos de Relações Internacionais nas principais universidades do mundo e profissionais da área atuando nos mais variados segmentos dos setores público e privado.

Joanisval Brito Gonçalves
Tiago Ivo Odon
Dario Alberto de Andrade Filho
Crise na Líbia dá lucro para empresas gregas

DE LONDRES

O velho clichê de que a desgraça de alguns pode dar lucro para outros se repete agora com a crise na Líbia. Com muitos estrangeiros desesperados para sair do país, empresas de navegação da Grécia estão aumentando os ganhos.

Nesta época do ano, inverno no hemisfério norte, a maioria dos navios de passageiros da Grécia fica ociosa, uma vez que quase não há turismo para as ilhas. Mas está havendo grande procura de governos e empresas dispostas e tiras seus cidadãos/empregados da Líbia.

A empresa brasileira Queiroz Galvão foi uma que usou os serviços das empresas gregas. Contratou um navio para tirar 148 brasileiros de Benghazi na semana passada. A operação, que demorou quatro dias, custou cerca de 1,2 milhão de euros (R$ 2,7 milhões).

A mesma empresa precisou de outro navio para tirar cerca de mil funcionários vietnamitas da Líbia.

Com a crise econômica grega, o turismo também sofreu, o que afetou as empresas de ferry boats e navios, que tiveram prejuízo no ano passado.

A crise humanitária da Líbia, ironicamente, está dando um refresco neste ano.


Escrito por Vaguinaldo Marinheiro
Agora, Ocidente rejeita ser dono da democracia

Do enviado a Genebra

Depois de ter apoiado por tanto tempo ditadores que já caíram (Tunísia e Egito) e de ter reabilitado o sitiado Muammar Gaddafi, o Ocidente foge assustado da ideia de patrocinar a democracia na Líbia.
É o paradoxo que ficou evidente ontem em todas as intervenções na sessão do Conselho de Segurança de Direitos Humanos da ONU e nas entrevistas concedidas pelos chanceleres das principais potências ocidentais.
“O Ocidente não tem todas as respostas”, assumiu Hillary Clinton. É óbvio, mas não é o que os EUA diziam ao menos no governo de George W. Bush (2001-2009), que anunciou a exportação da democracia para o mundo árabe com a invasão do Iraque.
Reforça o ministro italiano Franco Frattini, até anteontem o maior aliado da Líbia de Gaddafi: “Não pretendemos ditar a mudança na Líbia. Queremos, ao contrário, que a democracia seja de propriedade do povo líbio”.
Frattini chega a falar em diferentes modelos de democracia, como se o Ocidente admitisse que pode haver mais de um, e não apenas o que a esquerda antigamente chamava de “democracia burguesa”.
Não é difícil explicar esse receio de aparecer como donos da “nova Líbia”, como a denominou Frattini.
O Ocidente adotou, embora sem explicitá-la, a teoria de que só havia dois caminhos possíveis no Oriente Médio: ditaduras amigas, como a de Mubarak no Egito, ou inimigas, como a do Hamas em Gaza, com a ascensão dos fundamentalistas.
As revoltas derrubaram a teoria. Agora, diz Hillary, houve “houve convergência entre valores e interesses (do Ocidente).”.
Democracia tem dono?

DE GENEBRA

É engraçado (ou triste, dependendo do gosto do freguês): os Estados Unidos e os países europeus ocidentais passaram a vida, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, dando sermões sobre a democracia, seus méritos e sua imperiosa necessidade, para o resto do planeta.
Bom, aí veio a onda de redemocratização na América Latina, nos anos 80. Em seguida, nos 90, na Europa Oriental e até na Rússia, ainda que o teor de democracia na Rússia seja no mínimo discutível.
Ficavam faltando, basicamente, países da Ásia, a África e o Oriente Médio praticamente inteiro, com a exceção de Israel, ainda que também aqui haja polêmica, mas não é o assunto de hoje.
Agora, por fim, países árabes começam a sentir os efeitos de uma gigantesca onda democrática, que já varreu duas ditaduras (Tunísia e Egito), sitiou outra (Líbia) e sopra também em vários países mais.
Logo, você aí, com raciocínio lógico, haverá de pensar que o Ocidente (EUA e Europa Ocidental para ser específico) estão felizes da vida, festejando e assumindo a paternidade da democracia, certo?
Sua lógica é lógica, mas é errada: o Ocidente foge com todo o vigor do patrocínio da democracia.
É o paradoxo, pelo menos em relação à Líbia, que ficou evidente em todas as intervenções na sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU e nas entrevistas coletivas concedidas pelos chanceleres das principais potências ocidentais.
"O Ocidente não tem todas as respostas", disparou, por exemplo, Hillary Clinton. É óbvio mas não é o que os Estados Unidos diziam ainda recentemente, no governo George Walker Bush, por exemplo. Chegaram até a anunciar a invasão do Iraque como exportação da democracia para o mundo árabe.
Reforça o ministro italiano Franco Frattini, até anteontem o maior aliado da Líbia de Gaddafi: "Não pretendemos ditar a mudança [na Líbia]. Queremos, ao contrário, que a democracia seja de total propriedade do povo líbio".
Frattini chega a falar em modelos de democracia, como se o Ocidente admitisse que pode haver mais de um e não apenas o que a esquerda de antigamente chamava de "democracia burguesa".
Não é difícil explicar esse receio de aparecer como donos da "nova Líbia", como a denominou Frattini ou de um eventual "novo Oriente Médio", como se especula que possa emergir da sequência de rebeliões em curso ou já semi-vitoriosas (semi, porque duas ditaduras caíram mas ainda não se estabeleceu a democracia).
Primeiro, há o fato de que o Ocidente adotou a teoria de que só havia duas hipóteses possíveis no Oriente Médio: ou as ditaduras amigas, como a do Egito, ou as ditaduras inimigas, caracterizadas por regimes fundamentalistas islâmicos, tipo Irã. É óbvio que a escolha sempre foi pelas ditaduras amigas.
As revoltas fizeram ruir essa teoria. Agora, diz Hillary, houve uma convergência entre valores e interesses [dos países ocidentais]. Ficou demonstrado, sempre segundo ela, que "a democracia é mais estável, mais pacífica e, no fim das contas, mais próspera".
Segunda razão: ao atribuir a "propriedade" da mudança aos próprios árabes, o Ocidente coincide com o espírito de recuperação do orgulho árabe que marca as rebeliões. Não têm sido anti-ocidentais mas tampouco seguiram pautas ditadas pelo mundo rico. Não é um terreno fértil para novos sermões.

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às quintas e domingos na página 2 da Folha e, aos sábados, no caderno Mundo. É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo e "O Que é Jornalismo".
Breve história do curso de Relações Internacionais no Brasil

No Brasil, em 1974, surgiu na Universidade de Brasília, com apenas 20 alunos – depois passou para 40 alunos – locus privilegiado, vestibulares semestrais no período diurno, os jovens pioneiros ingressaram rapidamente e se inseriram no mercado de trabalho, apresentando uma série de vantagens frente aos demais que agora começam a se formar.

Vantagens:

1) Proximidade com as instâncias governamentais e órgãos da Administração Federal

2) Corpo docente altamente qualificado

3) A biblioteca que contém o acervo bibliográfico de RI, o mais completo existente no país.
A grade do curso ideal de Relações Internacionais:


01) Disciplinas específicas de RI auxiliares e correlatas, além de outras optativas. As específicas: Introdução às R.I, Teoria das R.I, História e Análise da Política externa brasileira, História das R.I, além de disciplinas que focalizam sua análise nas Instituições Políticas e Econômicas internacionais. Este primeiro conjunto deve comportar pelo menos 8 disciplinas, com carga de trabalho em torno de 60 horas.

02) Num segundo bloco, disciplinas de apoio e diretamente relacionadas às RI devem obrigatoriamente incluir matérias introdutórias de Ciência Política, Economia, Direito, Sociologia (ou Filosofia), Teoria Política Moderna e Contemporânea, Metodologia aplicada à Ciência e Relações Internacionais, além de estatística e métodos quantitativos, relações econômicas, economia brasileira e direito internacional. Esse grupo deve conter em torno de 20 disciplinas com cerca de 60 horas cada.

03) Finalmente, em um terceiro conjunto, cadeiras optativas, que atendam as necessidades das próprias instituições, em torno de 3 disciplinas com carga horária individual aproximada de 60.

04) A inclusão de monografia de fim de curso também é recomendada, nos mesmos moldes de outras graduações.
Atividades paralelas às salas de aula:


1) Jornais, empresa júnior, seminários, cursos de extensão, pós-graduação no país e no exterior, ler publicações do Ministério das Relações Exteriores quanto da própria UNB, participação em foros de debate;

2) Domínio da teoria das Relações Internacionais, bem como das Teorias econômicas, crucial para entender e interpretar as grandes mudanças que se processam no cenário nacional, regional e mundial, e, também, o conhecimento prático que tanto interessam às empresas do setor comercial e industrial, nacionais e estrangeiras, às agências de fomento, às instâncias governamentais e às organizações não governamentais.