domingo, 6 de março de 2011

Desemprego nos Estados Unidos cai abaixo de 9% após dois anos

de Nova York (Folha de São Paulo)

Pela primeira vez em quase dois anos, a taxa de desemprego nos EUA ficou abaixo de 9%.
Com uma queda pelo terceiro mês consecutivo, o índice ficou em 8,9% em fevereiro.

Apesar do novo recuo, o dado ainda é recebido com reticência. Isso porque muitas pessoas continuam fora do mercado de trabalho e desestimuladas para buscar emprego, reduzindo a participação da população economicamente ativa.

Quando essas pessoas se sentirem mais confiantes para buscar emprego (o que é algo positivo), a tendência é que a taxa volte a subir.

O próprio Fed (o banco central dos Estados Unidos) estima que a taxa deste ano deve ficar em torno de 9%.

Vários economistas, porém, ainda afirmam que vai levar ainda vários anos para que os Estados Unidos retomem o pleno emprego, que é, no caso americano, quando a taxa está em cerca de 5%.

No mês passado, a maior economia mundial criou 192 mil vagas, pouco mais que o necessário para atender apenas quem ingressa pela primeira vez no mercado de trabalho, mas o melhor resultado desde maio do ano passado.

Foi o quinto mês seguido de criação de postos, algo que não ocorria desde o fim de 2007 e o início de 2008, quando os Estados Unidos entraram em recessão.

Um dos dados positivos é que o setor de construção – onde a crise teve origem e que perdeu milhões de vagas – criou 33 mil empregos em fevereiro. O número, ainda que baixo, é positivo, pois vinha de meses com demissões aos milhares.

Como a construção emprega muita gente, é essencial para a absorção dos que estão fora do mercado.
Informações sobre a carreira diplomatica, II: oficiosas
De um colega de carreira:

O que é ser diplomata
Por Secretário César Bonamigo

O Curso Rio Branco, que freqüentei em sua primeira edição, em 1998, pediu-me para escrever sobre o que é ser diplomata. Tarefa difícil, pois a mesma pergunta feita a diferentes diplomatas resultaria, seguramente, em respostas diferentes, umas mais glamourosas, outras menos, umas ressaltando as vantagens, outras as desvantagens, e não seria diferente se a pergunta tratasse de outra carreira qualquer. Em vez de falar de minhas impressões pessoais, portanto, tentarei, na medida do possível, reunir observações tidas como “senso comum” entre diplomatas da minha geração.
Considero muito importante que o candidato ao Instituto Rio Branco se informe sobre a realidade da carreira diplomática, suas vantagens e desvantagens, e que dose suas expectativas de acordo. Uma expectativa bem dosada não gera desencanto nem frustração. A carreira oferece um pacote de coisas boas (como a oportunidade de conhecer o mundo, de atuar na área política e econômica, de conhecer gente interessante etc.) e outras não tão boas (uma certa dose de burocracia, de hierarquia e dificuldades no equacionamento da vida familiar). Cabe ao candidato inferir se esse pacote poderá ou não fazê-lo feliz.

O PAPEL DO DIPLOMATA
Para se compreender o papel do diplomata, vale recordar, inicialmente, que as grandes diretrizes da política externa são dadas pelo Presidente da República, eleito diretamente pelo voto popular, e pelo Ministro das Relações Exteriores, por ele designado. Os diplomatas são agentes políticos do Governo, encarregados da implementação dessa política externa. São também servidores públicos, cuja função, como diz o nome, é servir, tendo em conta sua especialização nos temas e funções diplomáticos.
Como se sabe, é função da diplomacia representar o Brasil perante a comunidade internacional. Por um lado, nenhum diplomata foi eleito pelo povo para falar em nome do Brasil. É importante ter em mente, portanto, que a legitimidade de sua ação deriva da legitimidade do Presidente da República, cujas orientações ele deve seguir. Por outro lado, os governos se passam e o corpo diplomático permanece, constituindo elemento importante de continuidade da política externa brasileira.
É tarefa essencial do diplomata buscar identificar o “interesse nacional”. Em negociações internacionais, a diplomacia freqüentemente precisa arbitrar entre interesses de diferentes setores da sociedade, não raro divergentes, e ponderar entre objetivos econômicos, políticos e estratégicos, com vistas a identificar os interesses maiores do Estado brasileiro.
Se, no plano externo, o Ministério das Relações Exteriores é a face do Brasil perante a comunidade de Estados e Organizações Internacionais, no plano interno, ele se relaciona com a Presidência da República, os demais Ministérios e órgãos da administração federal, o Congresso, o Poder Judiciário, os Estados e Municípios da Federação e, naturalmente, com a sociedade civil, por meio de Organizações Não-Governamentais (ONGs), da Academia e de associações patronais e trabalhistas, sempre tendo em vista a identificação do interesse nacional.

O TRABALHO DO DIPLOMATA
Tradicionalmente, as funções da diplomacia são representar (o Estado brasileiro perante a comunidade internacional), negociar (defender os interesses brasileiros junto a essa comunidade) e informar (a Secretaria de Estado, em Brasília, sobre os temas de interesse brasileiro no mundo). São também funções da diplomacia brasileira a defesa dos interesses dos cidadãos brasileiros no exterior, o que é feito por meio da rede consular, e a promoção de interesses do País no exterior, tais como interesses econômico-comerciais, culturais, científicos e tecnológicos, entre outros.
No exercício dessas diferentes funções, o trabalho do diplomata poderá ser, igualmente, muito variado. Para começar, cerca de metade dos mil diplomatas que integram o Serviço Exterior atua no Brasil, e a outra metade nos Postos no exterior (Embaixadas, Missões, Consulados e Vice-Consulados).
Em Brasília, o diplomata desempenha funções nas áreas política, econômica e administrativa, podendo cuidar de temas tão diversos quanto comércio internacional, integração regional (Mercosul), política bilateral (relacionamento do Brasil com outros países e blocos), direitos humanos, meio ambiente ou administração física e financeira do Ministério. Poderá atuar, ainda, no Cerimonial (organização dos encontros entre autoridades brasileiras e estrangeiras, no Brasil e no exterior) ou no relacionamento do Ministério com a sociedade (imprensa, Congresso, Estados e municípios, Academia, etc.).
No exterior, também, o trabalho dependerá do Posto em questão. As Embaixadas são representações do Estado brasileiro junto aos outros Estados, situadas sempre nas capitais, e desempenham as funções tradicionais da diplomacia (representar, negociar, informar), além de promoverem o Brasil junto a esses Estados. Os Consulados, Vice-Consulados e setores consulares de Embaixadas podem situar-se na capital do país ou em outra cidade onde haja uma comunidade brasileira expressiva. O trabalho nesses Postos é orientado à defesa dos interesses dos cidadãos brasileiros no exterior. Nos Postos multilaterais (ONU, OMC, FAO, UNESCO, UNICEF, OEA etc.), que podem ter natureza política, econômica ou estratégica, o trabalho envolve, normalmente, a representação e a negociação dos interesses nacionais.

O INGRESSO NA CARREIRA
A carreira diplomática se inicia, necessariamente, com a aprovação no concurso do Instituto Rio Branco (Informações sobre o concurso podem ser obtidas no site http://www2.mre.gov.br/irbr/index.htm). Para isso, só conta a competência – e, talvez, a sorte – do candidato. Indicações políticas não ajudam.

AS REMOÇÕES
Após os dois anos de formação no IRBr , o diplomata trabalhará em Brasília por pelo menos um ano . Depois, iniciam-se ciclos de mudança para o exterior e retornos a Brasília. Normalmente, o diplomata vai para o exterior, onde fica três anos em um Posto, mais três anos em outro Posto, e retorna a Brasília, onde fica alguns anos, até o início de novo ciclo. Mas há espaço para flexibilidades. O diplomata poderá sair para fazer um Posto apenas, ou fazer três Postos seguidos antes de retornar a Brasília. Isso dependerá da conveniência pessoal de cada um. Ao final da carreira, o diplomata terá passado vários anos no exterior e vários no Brasil, e essa proporção dependerá essencialmente das escolhas feitas pelo próprio diplomata.
Para evitar que alguns diplomatas fiquem sempre nos “melhores Postos” – um critério, aliás, muito relativo – e outros em Postos menos privilegiados, os Postos no exterior estão divididos em três categorias, A, B e C, obedecendo a critérios não apenas de qualidade de vida, mas também geográficos, e é seguido um sistema de rodízio: após fazer um Posto C, por exemplo, o diplomata terá direito a fazer um Posto A, e após fazer um Posto A, terá que fazer um Posto B ou C.

AS PROMOÇÕES
Ao tomar posse no Serviço Exterior, o candidato aprovado no concurso torna-se Terceiro Secretário. É o primeiro degrau de uma escalada de promoções que inclui, ainda, Segundo Secretário, Primeiro Secretário, Conselheiro, Ministro de Segunda Classe (costuma-se dizer apenas “Ministro”) e Ministro de Primeira Classe (costuma-se dizer apenas “Embaixador” ), nessa ordem. Exceto pela primeira promoção, de Terceiro para Segundo Secretário, que se dá por tempo (quinze Terceiros Secretários são promovidos a cada semestre), todas as demais dependem do mérito, bem como da articulação política do diplomata.
Nem todo diplomata chega a Embaixador. Cada vez mais, a competição na carreira é intensa e muitos ficam no meio do caminho. Mas, não se preocupem e também não se iludam: a felicidade não está no fim, mas ao longo do caminho!

DIRECIONAMENTO DA CARREIRA
Um questionamento freqüente diz respeito à possibilidade de direcionamento da carreira para áreas específicas. É possível, sim, direcionar uma carreira para um tema (digamos, comércio internacional, direitos humanos, meio ambiente etc.) ou mesmo para uma região do mundo (como a Ásia, as Américas ou a África, por exemplo), mas isso não é um direito garantido e poderá não ser sempre possível. É preciso ter em mente que a carreira diplomática envolve aspectos políticos, econômicos e administrativos, e que existem funções a serem desempenhadas em postos multilaterais e bilaterais em todo o mundo, e não só nos países mais “interessantes”. Diplomatas estão envolvidos em todas essas variantes e, ao longo de uma carreira, ainda que seja possível uma certa especialização, é provável que o diplomata, em algum momento, atue em áreas distintas daquela em que gostaria de se concentrar.

ASPECTOS PRÁTICOS E PESSOAIS
É claro que a vida é muito mais que promoções e remoções, e é inevitável que o candidato queira saber mais sobre a carreira que o papel do diplomata. Todos precisamos cuidar do nosso dinheiro, da saúde, da família, dos nossos interesses pessoais. Eu tentarei trazem um pouco de luz sobre esses aspectos.

DINHEIRO
Comecemos pelo dinheiro, que é assunto que interessa a todos. Em termos absolutos, os diplomatas ganham mais quando estão no exterior do que quando estão em Brasília. O salário no exterior, no entanto, é ajustado em função do custo de vida local, que é freqüentemente maior que no Brasil. Ou seja, ganha-se mais, mas gasta-se mais. Se o diplomata conseguirá ou não economizar dependerá i) do salário específico do Posto , ii) do custo de vida local, iii) do câmbio entre a moeda local e o dólar, iv) do fato de ele ter ou não um ou mais filhos na escola e, principalmente, v) de sua propensão ao consumo. Aqui, não há regra geral. No Brasil, os salários têm sofrido um constante desgaste, especialmente em comparação com outras carreiras do Governo Federal, freqüentemente obrigando o diplomata a economizar no exterior para gastar em Brasília, se quiser manter seu padrão de vida. Os diplomatas, enfim, levam uma vida de classe média alta, e a certeza de que não se ficará rico de verdade é compensada pela estabilidade do emprego (que não é de se desprezar, nos dias de hoje) e pela expectativa de que seus filhos (quando for o caso) terão uma boa educação, mesmo para padrões internacionais.

SAÚDE
Os diplomatas têm um seguro de saúde internacional que, como não poderia deixar de ser, tem vantagens e desvantagens. O lado bom é que ele cobre consultas com o médico de sua escolha, mesmo que seja um centro de excelência internacional. O lado ruim é que, na maioria das vezes, é preciso fazer o desembolso (até um teto determinado) para depois ser reembolsado, geralmente em 80% do valor, o que obriga o diplomata a manter uma reserva financeira de segurança.

FAMÍLIA: O CÔNJUGE
Eu mencionei, entre as coisas não tão boas da carreira, “dificuldades no equacionamento da vida familiar”. A primeira dificuldade é o que fará o seu cônjuge (quando for o caso) quando vocês se mudarem para Brasília e, principalmente, quando forem para o exterior. Num mundo em que as famílias dependem, cada vez mais, de dois salários, equacionar a carreira do cônjuge é um problema recorrente. Ao contrário de certos países desenvolvidos, o Itamaraty não adota a política de empregar ou pagar salários a cônjuges de diplomatas. Na prática, cada um se vira como pode. Em alguns países é possível trabalhar. Fazer um mestrado ou doutorado é uma opção. Ter filhos é outra... Mais uma vez, não há regra geral, e cada caso é um caso.
O equacionamento da carreira do cônjuge costuma afetar principalmente – mas não apenas – as mulheres, já que, por motivos culturais, é mais comum o a mulher desistir de sua carreira para seguir o marido que o contrário.

CASAMENTO ENTRE DIPLOMATAS
Os casamentos entre diplomatas não são raros. É uma situação que tem a vantagem de que ambos têm uma carreira e o casal tem dois salários. A desvantagem é a dificuldade adicional em conseguir que ambos sejam removidos para o mesmo Posto no exterior. A questão não é que o Ministério vá separar esses casais, mas que se pode levar mais tempo para conseguir duas vagas num mesmo Posto. Antigamente, eram freqüentes os casos em que as mulheres interrompiam temporariamente suas carreiras para acompanhar os maridos. Hoje em dia, essa situação é exceção, não a regra.

FILHOS
Não posso falar com conhecimento de causa sobre filhos, mas vejo o quanto meus colegas se desdobram para dar-lhes uma boa educação. Uma questão central é a escolha da escola dos filhos, no Brasil e no exterior. No Brasil, a escola será normalmente brasileira, com ensino de idiomas, mas poderá ser a americana ou a francesa, que mantém o mesmo currículo e os mesmos períodos escolares em quase todo o mundo. No exterior, as escolas americana e francesa são as opções mais freqüentes, podendo-se optar por outras escolas locais, dependendo do idioma. Outra questão, já mencionada, é o custo da escola. Atualmente, não existe auxílio-educação para filhos de diplomatas ou de outros Servidores do Serviço Exterior brasileiro, e o dinheiro da escola deve sair do próprio bolso do servidor.

CÉSAR AUGUSTO VERMIGLIO BONAMIGO - Diplomata. Engenheiro Eletrônico formado pela UNICAMP. Pós-graduado em Administração de Empresas pela FGV-SP. Programa de Formação e Aperfeiçoamento - I (PROFA - I) do Instituto Rio Branco, 2000/2002. No Ministério das Relações Exteriores atuou no DIC - Divisão de Informação Comercial (DIC), 2002; no DNI - Departamento de Negociações Internacionais, 2003 e atualmente trabalha no DUEX - Divisão de União Européia e Negociações Extra-Regionais.
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Brasileiro é condecorado pelo presidente do Haiti

Iara Lemos Do G1, em Brasília

Ex-representante da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti, o brasileiro Ricardo Seitenfus foi condecorado, na última terça-feira (2), com o título de Grande Cavalheiro da Ordem Nacional de Honra e Mérito do Haiti.
A homenagem foi entregue pessoalmente pelo presidente do país, René Preval e, segundo o governo do Haiti, se dá pelas atitudes do representante na “defesa e dignidade do povo do Haiti”.
Seitenfus foi o primeiro representante da OEA a receber uma condecoração no país, desde 1948, quando a organização passou a ter representantes no Haiti. A solenidade aconteceu em uma barraca, instalada ao lado do palácio presidencial, que foi destruído pelo terremoto que atingiu o país em janeiro de 2010. Desde o terremoto, a barraca serve de palácio ao governo.
“É uma felicidade imensa receber este reconhecimento da sociedade do Haiti. É uma homenagem inesperada, surpreendente e inesquecível”, afirmou Seitenfus ao G1, por telefone.
No Haiti desde o começo de 2009, Seitenfus deixou a representação da OEA devido a declarações em que criticava o trabalho de entidades internacionais no Haiti. O estopim teria sido uma entrevista ao jornal suíço Le Temps, na qual o brasileiro questionou não apenas o papel das tropas da ONU no Haiti, como também dos principais países doadores. Embora tenha deixado a missão no Haiti, a condecoração recebida por Seitenfus ganhou um espaço de destaque na página institucional da OEA.
“Eu falei com o Insulza [Jose Miguel Insulza, secretário-geral da OEA) comunicando a condecoração. Ele, inclusive, considerou que eu fiz um ótimo trabalho no país”, disse Seitenfus.
Durante os dois anos em que esteve no Haiti, Seitenfus auxiliou em trabalhos da área social e política. A representação da OEA foi responsável pela confecção de cerca de 5 milhões de cédulas de identidade, documento exigido para as eleições do país. Para o brasileiro, as divergências pelas suas posições em relação aos trabalhos desenvolvidos no Haiti já foram superadas. Tanto que Seitenfus foi sondado para continuar seus trabalhos junto a OEA, no comando de uma representação diplomática que deverá ser definida até o começo de abril.
“Houve uma sondagem para que eu permaneça na OEA, e que assuma uma representação. Estou avaliando com carinho”, afirmou o brasileiro.
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Discute a inserção internacional de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Debate as possibilidades inovadoras de cooperação internacional abertas pelo modelo que agora se desenvolve entre os países emergentes. Argumenta que, por ser o menos “ameaçador”dos BRICs, o Brasil deve avalancar a difusão do novo modelo
ANÁLISE

Presidente tenta vencer abismo entre seu estilo e brasileiro habituado a showman

Lula é um fenômeno mundial. Terminou seu mandato com mais de 80% dos eleitores achando seu governo “ótimo” ou “bom”. Era o presidente-ídolo, o mandatário showman.
Ele é tão incrível a ponto de cobrar (e receber) R$ 200 mil para ministrar uma palestra para falar bem dele mesmo. Coisa de gênio.
Lula também fez um governo que melhorou a vida das pessoas. Mais crescimento, mais crédito, mais consumo. Foi o governo Valisère: o primeiro carro e a primeira viagem de avião a gente nunca esquece.
Dilma foi eleita na esteira do sucesso de Lula e está longe de ter o charme comunicacional do ex-presidente.
Tem, isso sim, um perfil técnico e fama de boa gestora. Lula gostava de câmeras, de aglomeração. Dilma gosta de Power Point, de reunião.
Parece cultivar a Presidência dos resultados, da racionalidade, da “casa em ordem”. E já conquistou parte da opinião pública mais escolarizada por sua discrição, pelo anúncio de corte de despesas e por declarações sobre o Irã que todo brasileiro democrata adorou ouvir.
O problema, para Dilma, é que existe um abismo cognitivo entre os eleitores mais escolarizados e a massa da população.
Bem ou mal, em oito anos de governo Lula, o brasileiro típico se acostumou a ver um presidente superexposto, espontâneo, que pensa do jeito que o povo pensa e fala do jeito que o povo fala.
No Brasil, o (ou a) presidente carrega uma aura real. Precisa aparecer, mostrar-se ativo, dar declarações, entrevistas. E, de uns tempos para cá, precisa também se aproximar da população, como uma rainha que acorda à noite para cuidar do seu filho incomodado com alguma dorzinha. É a “humanização” do cargo.
Essa necessidade explica, por exemplo, a aparição da presidente Dilma no Programa “Mais você”, de Ana Maria Braga, na última terça-feira, na qual a convidada preparou um omelete com bicarbonato ao mesmo tempo em que discursava sobre a conveniência da volta da CPMF.
Mas é bom ir devagar com o andor: nem tudo que soava natural e bonito em Lula terá o mesmo efeito com Dilma. Afinal, fenômenos não surgem todos os dias.

Rubens Figueiredo, cientista político pela USP, é diretor da CEPAC – Pesquisa e Comunicação e autor, entre outros, de “Marketing Político e Persuasão Eleitoral”.
O dilema de Sofia na Líbia

Clóvis Rossi

Muammar Gaddafi, ao contrário de Hosni Mubarak e Ben Ali, resolveu ficar e lutar, deixando a comunidade internacional sem alternativas realmente atraentes para reagir.
As opções disponíveis só não são zero porque sempre é possível torcer para que o regime se desmanche sem que o resto do mundo precise fazer algo mais do que condená-lo verbalmente ou impor sanções cujo efeito, se houver, será a médio ou longo prazo.
Enquanto isso não acontece, enquanto o sangue continua correndo e enquanto se arma nas fronteiras uma tragédia humanitária, o dilema de Sofia ara o mundo é assim descrito a revista eletrônica “Jadaliyya” (Polêmica), editada pelo Instituto de Estudos Árabes de Washington: “De um lado, a inação internacional em face das atrocidades na Líbia parece inaceitável. Do outro lado, o deplorável registro de anteriores intervenções internacionais inspira pouco entusiasmo”, escrevem Asli Bali, professor de direito na Universidade da Califórnia em Los Angeles, e Ziad Abu-Rish, candidato ao doutorado no Departamento de História da Universidade.
O envio direto de tropas está fora do cardápio, a julgar pelo que disse, na semana passada, o secretário norte americano de Defesa, Robert Gates: “Na minha opinião, qualquer futuro secretário da Defesa que aconselhe o presidente a mandar de novo grande número de tropas americanas à Ásia, Oriente Médio ou África deveria ter sua mente submetida a exame”.
Que tal então implementar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, para evitar que Gaddafi bombardeie os rebeldes e seus territórios ou para impedir que traga mais mercenários para dar continuidade ao banho de sangue?
Respondam Bali e Abu-Rish: “Não protegeria a população civil do aparelho coercitivo do regime (que não é principalmente aéreo)”, além de levantar dúvidas sobre a aplicabilidade (“as forças internacionais derrubariam um avião líbio?”). Mais: proibir vôos poderia bloquear uma via de resgate de civis líbios e fecharia uma avenida para defecções por membros da Força Aérea.
Mandar armas para os rebeldes? Primeiro, eles precisariam ser treinadas para usá-las e não instrutores disponíveis no terreno. Segundo, “poderiam cair nas mãos erradas e serem usadas contra nós”, escreve James Lindsay, do Council on Foreign Relations.
Lindsay lembra que o pós-Gaddafi pode não ser um regime estável e, sim, “algo que se pareça mais à Somália” (um dos grandes fracassos das tropas norte-americanas).
Por fim, um grave risco político apontado na análise da Economist Inteligence Unit, braço de pesquisa da mitológica revista britânica: “Qualquer ação militar pelos governos ocidentais correria o risco de deslegitimar as rebeliões que já ocorreram e minar possíveis revoltas populares em outras partes”.
Há virtual consenso, entre autoridades e acadêmicos, de que a propriedade da democracia que se busca tem que ficar com os locais. Os exemplos de Afeganistão e Iraque mostram que mudanças de regime a bordo de tropas estrangeiras não são um modelo a ser seguido.
A menos que a situação no terreno se resolva logo, a comunidade internacional terá que escolher o menor entre tantos riscos.
Pouco a comemorar

Editorial da Folha de São Paulo


A alta de 7,5% no PIB de 2010 parece portentosa, ao colocar o Brasil na condição de sétima economia do planeta. Antes de mais nada, é preciso considerar que esse desempenho decorre d recuperação após a crise de 2008 e do recuo da economia em 0,6% em 2009. A média dos dois últimos anos, assim, foi inferior a 3,5%.
Há mais dados para temperar qualquer entusiasmo exagerado com o indicador. No último trimestre, o crescimento foi de meros 3% - em termos anualizados – diante do trimestre anterior.
É digno de nota que um desempenho assim mediano seja suficiente para causar intensas pressões inflacionárias, obrigando o Banco Central a elevar a taxa básica de juros em 0,5% percentual em cada uma das duas últimas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária do BC). A medida contracionista provavelmente terá de ser repetida ao longo do ano, diante do comportamento da inflação.
A resposta da autoridade monetária decorre do sério risco de que o IPCA se aproxime do teto da meta da inflação (6,5%) em 2011. Nesse contexto, é evidente que a propalada expansão do PIB em 5% ao ano, como quer o governo, enfrenta obstáculos estruturais.
Um deles é a insuficiência de poupança interna e capacidade de investir. Mesmo depois da forte recuperação do ano passado, a taxa de investimento em relação ao PIB terminou o ano em apenas 18,4%, abaixo do ponto máximo de 19%na série histórica, atingindo em 2008. É um valor muito inferior à média de 25% dos países em desenvolvimento que crescem mais rápido que o Brasil.
Outro obstáculo é a cultura da indexação, que contamina itens importantes – como aluguéis, pedágios, água e luz – com a elevação dos preços de matérias-primas no mercado internacional, por exemplo. O resultado é uma inflação que dificilmente cai abaixo de 4,5%, centro da meta, se o PIB não sofrer forte desaceleração.
Para 2011 se espera uma combinação entre inflação e crescimento menos favorável que nos anos recentes. É provável que o PIB cresça menos, perto de 4%, conforme a alta dos juros e as medidas de contenção de crédito forem exercendo seu efeito resfriador.
A inflação deve demorar a cair. O próprio Ministério da Fazenda já trabalha com a inflação acumulada em 12 meses chegando a 6,5% no terceiro trimestre.
Em resumo, o país ainda prossegue longe de consolidar a capacidade de crescer entre 4,5% e 5% ao ano sem pressionar a inflação. O governo precisará de avanços em várias frentes – orçamento público, regulação setorial, políticas de crédito e desoneração tributária, entre outros – para conter a deterioração de expectativas.
Quente ou frio?

Valdo Cruz

Foi só o Banco Central subir os juros pela segunda vez neste ano e já tinha gente, dentro do governo, apostando que o debate em abril será como manter o país crescendo acima de 4%.
Há quem diga que as medidas adotadas pela equipe econômica podem ter provocado um tranco além da conta na economia.
O mês de abril é citado porque terá passado o primeiro trimestre do ano e será possívl avaliar com maior segurança como está o ritmo da economia em 2011.
Guido Mantega mantém seu discurso de que a economia deve crescer 5% neste ano. Faz parte de seu estilo. Ele costuma dizer que tem de ser otimista.
O Banco Central é mais conservador e fala em 4,5% de crescimento no primeiro ano de governo Dilma. Avalia que esse percentual é mais compatível com a busca de uma inflação mais baixa.
Essas são estimativas oficiais. Reservadamente, há previsões mais pessimistas dos dois lados. Por enquanto, Dilma prefere falar em crescimento saudável da economia entre 4,5% e 5%.
A presidente, porém, já disse à sua equipe que gostaria de evitar uma taxa abaixo de 4%. É por isso que tem gente, na sua equipe, acreditando que a pisada no freio pode ter sido exagerada e o país estaria caminhando para um ritmo econômico indesejável.
Ou seja, em breve as divergências dentro do governo, hoje manifestadas de forma sutil, podem ficar mais claras e evidentes, tornando mais acalorado o debate sobre a temperatura econômica do país. Como no período lulista.
Do lado de Dilma, resumindo, ela não quer exagerar na contração da economia. Já viu esse filme e não deseja repeti-lo. Definiu, porém, como meta principal não perder o controle sobre a inflação no primeiro ano de governo.
Em último caso, garantem assessores, ela será mais conservadora, seguindo o exemplo de Lula, para desgosto de muitos petistas.
In Libya, Both Sides Gird for Long War as Civilian Toll Mounts

TRIPOLI, Libya — Both sides of the conflict in Libya were girding for more confrontations on Sunday, a day after militia forces loyal to Col. Muammar el-Qaddafi launched a new round of attacks on the rebel-held city of Zawiyah, just 30 miles west of the capital, and a ragtag rebel army moving from the east won its first ground battle to take the oil port of Ras Lanuf, about midway down the Mediterranean coast.
Rebels in nearby towns said that mobile phone service to Zawiyah had been cut off completely and landline service was intermittent, making it difficult to gather new information about the state of the siege. Second-hand reports through rebel networks on Sunday indicated Libyan army tanks had once again moved into the center of the town.
An hour before dawn on Sunday, Tripoli also erupted in gunfire, the sounds of machine guns and heavier artillery echoing through the capital. The spark was unclear — there were rumors of a conflict within the armed Qaddafi forces — but soon Qaddafi supporters were riding through the streets waving green flags and firing guns into the air. Crowds converged on the city’s central Green Square for a rally, with many people still shooting skyward. The shots rang out for more than three hours, with occasional ambulance sirens squealing in the background.
Government spokesmen called it a celebration of victories over the rebels, but the rebels denied any losses, pointing out that 6 a.m. Sunday is an unusual time for a victory rally and that rally was notably well-armed. Protesters in the capital suggested it was a show of force intended to deter unrest or possibly cover up some earlier conflict.A rebel spokesman, reached over the phone, said his leadership was relying on international media reports to try to make sense of the early morning gunfire in Tripoli.
“It is very hard to reach Trip, ” he said, alluding to the pervasive surveillance and recent spate of arrests. “When we talk to someone in Tripoli you put their life in jeopardy.”
By early afternoon Sunday, Libyan state television and government officials in Tripoli were making increasingly strong and apparently false statements about progress against the rebels. Officials said that Qaddafi forces had captured the city of Misrata as well as the leaders of the rebels governing counsel and would soon retake the country. State television reported that Qaddafi forces were marching on the rebel headquarters of Benghazi. But multiple reports from the ground on the front lines and in rebel territory indicated that all those reports were false and in fact rebels were fighting near the port of Surt, the town where Colonel Qaddafi was born and which blocks the rebels’ progress toward Tripoli.
Rebels in control of Misrata said they had successfully rebuffed a Libyan army incursion into their town. One witness said their forces had surrounded a contingent of Libyan army trucks and personnel carriers after it entered the town in a battle that killed as many as nine Libyan soldiers and four rebels.
Nineteen days after it began with spirited demonstrations in the eastern city of Benghazi, the Libyan uprising has veered sharply from the pattern of relatively quick and nonviolent upheavals that ousted the leaders of Tunisia and Egypt. Instead, the rebellion here has become mired in a drawn-out ground campaign between two relatively unprofessional and loosely organized forces — the Libyan Army and the rebels — that is exacting high civilian casualties and appears likely to drag on for some time.
That bloody standoff was evident on Saturday in Zawiyah, the northwestern city seized by rebels a week ago, where the government’s attacks raised puzzling questions about its strategy. For the second day in a row its forces punched into the city, then pulled back to maintain a siege from the perimeter. Hours later, they advanced and retreated again.
By the end of the day, both sides claimed control of the city.
Foreign journalists were unable to cross military checkpoints to evaluate reports of what Zawiyah residents called “a massacre.”
The $110 Billion Question

By THOMAS L. FRIEDMAN

When one looks across the Arab world today at the stunning spontaneous democracy uprisings, it is impossible to not ask: What are we doing spending $110 billion this year supporting corrupt and unpopular regimes in Afghanistan and Pakistan that are almost identical to the governments we’re applauding the Arab people for overthrowing?
Ever since 9/11, the West has hoped for a war of ideas within the Muslim world that would feature an internal challenge to the violent radical Islamic ideology of Osama bin Laden and Al Qaeda. That contest, though, never really materialized because the regimes we counted on to promote it found violent Muslim extremism a convenient foil, so they allowed it to persist. Moreover, these corrupt, crony capitalist Arab regimes were hardly the ideal carriers for an alternative to bin Ladenism. To the contrary, it was their abusive behavior and vicious suffocation of any kind of independent moderate centrist parties that fueled the extremism even more.
Now the people themselves have taken down those regimes in Egypt and Tunisia, and they’re rattling the ones in Libya, Yemen, Bahrain, Oman and Iran. They are not doing it for us, or to answer bin Laden. They are doing it by themselves for themselves — because they want their freedom and to control their own destinies. But in doing so they have created a hugely powerful, modernizing challenge to bin Ladenism, which is why Al Qaeda today is tongue-tied. It’s a beautiful thing to watch.
Al Qaeda’s answer to modern-day autocracy was its version of the seventh-century Caliphate. But the people — from Tunisia to Yemen — have come up with their own answer to violent extremism and the abusive regimes we’ve been propping up. It’s called democracy. They have a long way to go to lock it in. It may yet be hijacked by religious forces. But, for now, it is clear that the majority wants to build a future in the 21st century, not the seventh.
In other words, the Arab peoples have done for free, on their own and for their own reasons, everything that we were paying their regimes to do in the “war on terrorism” but they never did.
And that brings me back to Afghanistan and Pakistan. Last October, Transparency International rated the regime of President Hamid Karzai in Afghanistan as the second most corrupt in the world after Somalia’s. That is the Afghan regime we will spend more than $110 billion in 2011 to support.
And tell me that Pakistan’s intelligence service, ISI, which dominates Pakistani politics, isn’t the twin of Hosni Mubarak’s security service. Pakistan’s military leaders play the same game Mubarak played with us for years. First, they whisper in our ears: “Psst, without us, the radical Islamists will rule. So we may not be perfect, but we’re the only thing standing in the way of the devil.” In reality, though, they are nurturing the devil. The ISI is long alleged to have been fostering anti-Indian radical Muslim groups and masterminding the Afghan Taliban.
Apart from radical Islam, the other pretext the Pakistani military uses for its inordinate grip on power is the external enemy. Just as Arab regimes used the conflict with Israel for years to keep their people distracted and to justify huge military budgets, Pakistan’s ISI tells itself, the Pakistani people and us that it can’t stop sponsoring proxies in Afghanistan because of the “threat” from India.
Here’s a secret: India is not going to invade Pakistan. It is an utterly bogus argument. India wants to focus on its own development, not owning Pakistan’s problems. India has the second-largest Muslim population on the planet, more even than Pakistan. And while Indian Muslims are not without their economic and political grievances, they are, on the whole, integrated into India’s democracy because it is a democracy. There are no Indian Muslims in Guantánamo Bay.
Finally, you did not need to dig very far in Egypt or Jordan to hear that one reason for the rebellion in Egypt and protests in Jordan was the in-your-face corruption and crony capitalism that everyone in the public knew about.
That same kind of pillaging of assets — natural resources, development aid, the meager savings of a million Kabul Bank depositors and crony contracts — has fueled a similar anger against the regime in Afghanistan and undermined our nation-building efforts there.
The truth is we can’t do much to consolidate the democracy movements in Egypt and Tunisia. They’ll have to make it work themselves. But we could do what we can, which is divert some of the $110 billion we’re lavishing on the Afghan regime and the Pakistani Army and use it for debt relief, schools and scholarships to U.S. universities for young Egyptians and Tunisians who had the courage to take down the very kind of regimes we’re still holding up in Kabul and Islamabad.
I know we can’t just walk out of Afghanistan and Pakistan; there are good people, too, in both places. But our involvement in these two countries — 150,000 troops to confront Al Qaeda — is totally out of proportion today with our interests and out of all sync with our values.
Rebeldes confirmam que britânicos foram detidos na Líbia

DA FRANCE PRESSE, EM BENGHAZI
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Um porta-voz da oposição líbia confirmou neste domingo que soldados britânicos e um diplomata de Londres foram detidos depois de entrar em um território controlado pelos rebeldes, mas afirmou que estão "bem e seguros". Mais cedo, o secretário da Defesa do Reino Unido, Liam Fox, havia afirmado que uma pequena equipe diplomática do país estava na cidade de Benghazi.
O jornal "The Sunday Times" havia informado que os soldados britânicos teriam sido capturados no sábado à noite por rebeldes líbios quando se encontravam em uma missão secreta para estabelecer contato com opositores que pedem o fim do regime do ditador Muammar Gaddafi, que já dura 42 anos.
Segundo o jornal, os oito soldados pertencentes ao principal grupo de operações especiais das Forças Armadas do Reino Unido foram capturados quando escoltavam um diplomata britânico que se encontrava em território líbio controlado pelos rebeldes a leste do país norte-africano.
O "Sunday Times" disse que o diplomata tentava fazer contatos com rebeldes, antes da chegada de um colega mais veterano ao país norte-africano, que comandaria a tentativa de estabelecer relações diplomáticas com o movimento opositor.
A intervenção das forças especiais britânicas poderia ter irritado figuras opositoras ao regime de Gaddafi que, segundo fontes líbias citadas pelo jornal, consideram que ninguém convidou os britânicos ao conflito.
Um porta-voz dos rebeldes afirmou à agência de notícias France Presse que os opositores ficaram sabendo da entrada dos britânicos em território líbio. "Isto criou alguma confusão no início porque não sabíamos se eles estavam ao nosso lado ou contra nós. Eles estão bem."
O porta-voz --que não quis ter o nome revelado-- não soube dizer quando chegaram ao país, quando foram detidos, para onde seguiam ou se já foram liberados.
"Eles foram detidos porque nós não sabíamos a natureza da missão. Eles estão bem e seguros", completou.
Um porta-voz do Foreign Office, a Chancelaria britânica, declarou que não podia confirmar nem desmentir a informação.
Mas o grupo de direitos humanos Human Rights Solidarity, baseado em Genebra e que emprega alguns exilados líbios, afirmou à agência de notícias Reuters que o Reino Unido estaria negociando para garantir a libertação dos soldados.
Neste domingo, a entidade afirmou que eles estavam sendo mantidos em uma localidade a 10 quilômetros do aeroporto de Benina, que serve Benghazi.
Um dos ativistas do grupo, Jiumma Elomami, disse que "eles estão detidos, mas temos informações de que autoridades britânicas estão negociando com o novo conselho de oposição" a libertação deles.
Piñera reconhece Brasil como potência e critica Venezuela

DA FRANCE PRESSE, EM MADRI

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, reconheceu que o Brasil é a potência que deve representar a América Latina, ao mesmo tempo que afirmou que o modelo da Venezuela "não está no caminho correto".
"Nós reconhecemos isto [a liderança brasileira] como um fato", afirmou Piñera em entrevista publicada neste domingo pelo jornal espanhol "El País".
"Esperamos que o Brasil possa representar cada vez com mais força não apenas sua própria voz, mas também a voz da América Latina neste mundo novo que está emergindo", disse, antes de comentar a situação da Venezuela.
"Eu penso que a difícil situação que a Venezuela está vivendo dentro dela diminuiu consideravelmente a intenção que em algum momento surgiu de exportar este modelo e intervir em outros países", disse Piñera.
"Não quero qualificar meus colegas presidentes, apenas dizer que o modelo que estamos seguindo no Chile é o melhor para o Chile, e que o modelo que a Venezuela está seguindo não vai pelo caminho correto", concluiu.
Business Side of Egypt’s Army Blurs Lines of Aid From U.S.

By ARAM ROSTON and DAVID ROHDE

In the late 1990s, the Pentagon announced that it would contribute tens of millions of dollars to a 650-bed International Medical Center that the Egyptian military was building in the desert outside Cairo. The money, for medical equipment, training and logistical support, would help improve health care for Egyptian soldiers.
Within a few years, though, an American training team realized that the Egyptian military was benefiting in a different way. The medical center was, as one Pentagon official called it, “a commercial enterprise,” and many of its patients were civilians, not Egyptian soldiers. The hospital was even venturing into medical tourism; its Web site promotes “a lavishly furnished Royal Suite” for international patients.
An American doctor who has worked there, Wayne F. Yakes, recalls what his hosts told him about the hospital: “It was built with U.S. tax dollars under President Bill Clinton.” Put simply, he said, “We bought it for them.”
Eventually, the United States moved to cut off financing and even recoup some of the money, said several former American military officials. The Pentagon, after all, is supposed to pay only for projects with a military purpose.
Yet with Washington giving Cairo $1.3 billion a year in military aid, the hospital episode shows that Egypt’s for-profit military has sometimes found ways to use that aid to further its economic interests. A review of the aid program raises questions about a variety of ventures — from the acquisition of a fleet of luxury Gulfstream jets to a company making Jeeps for commercial sale as well as for the army.
Now, as the generals steer Egypt toward a new civilian government after the fall of President Hosni Mubarak, those questions about the aid program echo a broader uneasiness, especially in the pro-democracy movement: will a military so deeply invested in a system that conferred great economic and political power be willing to let go?
“It will be a very sore point in the near future, I’m sure, that the generals, the Supreme military council, is a de facto, separate government with an economy in its own right,” said Christopher Davidson, an expert on Egypt and a professor at Durham University in England.
Some experts and former American military officials say the aid from Washington — roughly $40 billion since the program’s inception as part of the 1979 Camp David peace accord signed by Israel and Egypt — has served to shore up a military bureaucracy prone to insider dealing and corruption.
Robert Springborg, a professor at the Naval Postgraduate School who studies Egypt’s military, said that by paying for expensive weapons systems, the aid program “has enabled the Egyptian military then to use resources it has for other purposes.”
In part because of concerns about diversion of funds, only a sliver of the money from the American aid program actually goes to the Egyptian military. Instead, the Pentagon directly pays American companies that it has chosen to manufacture and ship the tanks, planes, guns and ammunition to Egypt.
Egyptian opposition groups have said that Mr. Mubarak and senior generals were nonetheless able to divert money. But American officials insist that the design of the program — known as Foreign Military Sales — ensures that money cannot be stolen.
Edward W. Ross, a former official at the Defense Security Cooperation Agency, which oversees the sales, said he was irked by allegations that Egyptians could have pocketed money. “That money goes to the Federal Reserve,” he said, “and then it is only released to a U.S. contractor.”
Keeping Aid Flowing
Even so, the United States has considerably less control over how goods are used once they arrive in Egypt. In interviews, several former American military officials said that keeping the aid flowing often seemed to trump questions of how effective it was. Some of them asked to remain anonymous because they did not want to alienate the Egyptian military. The yearly $1.3 billion, one retired colonel explained, is viewed as “an entitlement.”
At times, American officials have argued with Egyptian generals over whether certain equipment was actually for military use. That was the case with the Gulfstream jets.
The retired colonel, who worked at the American Embassy’s Office of Military Cooperation in Cairo, said that the Egyptians assured him the planes would be used for “mapping,” but that he was skeptical. “It was obvious to us that these were going to be used at least in part for V.I.P. travel,” the colonel said.
Officers tried to block the deal, he recalled, but “our contacts at the Ministry of Defense were applying pressure” to make sure the sale went through.
Revoltas árabes ecoam Revolução Francesa, diz historiador

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Historiador da Revolução Francesa, Robert Darnton anda emocionado com as imagens e informações que chegam do Oriente Médio. "É o tipo de coisa que faz o seu peito apertar, traz lágrimas aos olhos e faz você pensar que a humanidade pode se regenerar."

O professor de Harvard vê neste 2011 ecos de 1789 e outros períodos revolucionários --na rebelião contra a tirania e na reafirmação do que chama de "possibilismo", espécie de explosão utópica que faz populações acreditarem que são capazes de mudar regimes que antes pareciam inamovíveis.

Testemunha da queda do Muro de Berlim, em 1989, Darnton adverte porém que é cedo para chamar os eventos atuais de revoluções. "Vamos demorar a saber se haverá uma mudança fundamental."

Abaixo, a íntegra da entrevista.

FOLHA - Observando os acontecimentos no Oriente Médio, o sr. diria que o lema da Revolução Francesa liberdade, igualdade, fraternidade está vivo?
ROBERT DARNTON - Bem, não tenho tanta certeza sobre a fraternidade porque há mulheres envolvidas, e a palavra teria sentido diferente hoje do que tinha no século 18. Tivemos o movimento de liberação feminina, e está claro que esses protestos no Cairo e em outros lugares não foram feitos só por homens.
Mas certamente liberdade e igualdade estão presentes, em especial a liberdade. O interessante é que a maioria dos protestos no mundo árabe se dirige contra o que é visto como tirania ou despotismo. Claro que as pessoas querem empregos e melhores condições de vida, mas parecem protestar especialmente contra os abusos e a corrupção do poder.
Isso é fascinante porque acho que era o que ocorria também no século 18. Segundo a interpretação marxista, a Revolução Francesa foi uma luta de classes [da burguesia contra a aristocracia feudal]. Havia conflitos de classe, claro, mas não acho que isso explique aquela revolução. Do mesmo modo, não acredito que explique o que está acontecendo no mundo árabe, mesmo que a pobreza seja um fator crucial.
Muito da minha pesquisa sobre a Revolução Francesa é revisionista no sentido de que mostro que o despotismo era o fator fundamental nas primeiras fases e mesmo durante o período do Terror [de execução em massa dos considerados contrarrevolucionários]. Esse é um dos aspectos em que encontro ecos de 1789 em 2011.

Quando me refiro a fraternidade no caso, me refiro à humanidade, não só aos homens.
Acho que o seu entendimento é correto. A referência [no século 18] era às reivindicações universais de liberação. Nesse sentido, a fraternidade é ainda hoje relevante. Mas não acho que você encontrará pessoas usando essa palavra no mesmo sentido usado há 200 anos.

No livro "Ecos da Marselhesa", o historiador Eric Hobsbawm, que é marxista, diz que a Revolução Francesa plantou uma ideia mais ampla do que a luta de classes, a de que a ação dos povos pode mudar a história. O sr. concorda?
Completamente. Sou amigo de Hobsbawm e acho que ele está certo nisso. Mas a antiga fórmula marxista é que uma revolução é uma contradição entre as relações sociais de produção e as forças produtivas. E não vejo nada disso acontecendo hoje.
Temos em geral dois modelos que competem pela interpretação das revoluções: o marxista e o que vem de [o pensador francês Alexis de] Tocqueville, que tem muito apelo no Ocidente liberal. Sua ênfase é na centralização do poder em um só lugar, em geral a capital, na ideologia e na melhoria de condições econômicas como fator de aumento das expectativas, que então são frustradas.
Tenho procurado sinais desse modelo no Egito e em outros lugares. Não tenho a pretensão de ser um especialista na região, mas vejo lá três coisas que sobressaem.

E quais são elas?
A importância da comunicação e da opinião pública; o que chamo de possibilismo, que é do que fala Hobsbawm quando se refere à mobilização das massas; e por fim o poder dos símbolos.

O sr. comparou os "rumores públicos" da época da Revolução Francesa com as redes sociais virtuais de hoje...
Os analistas destacam o papel de Twitter, Facebook, câmeras digitais etc. Diria que é um pouco mais complicado. Além da existência crucial de novos meios, está o que chamo de força eletrizante de acontecimentos reais, que foram transmitidos e amplificados por eles, criando uma consciência, uma imaginação coletiva.
O movimento de 25 de Janeiro no Cairo foi isso. Não podemos simplesmente dizer que mídia moderna possibilitou a derrubada de regimes tirânicos. É o modo como a mídia é usada. O fato de esse rapaz, Wael Ghonim [diretor do Google], ter posto no Facebook a imagem dessa pobre vítima de violência policial [o jovem Khaled Said] é tão importante quanto a existência do Facebook. O que importa é a habilidade de encontrar símbolos que energizam a imaginação coletiva.

E o que o sr. quer dizer com possibilismo?
Me refiro à liberação de uma espécie de energia utópica com manifestações massivas. O poder da rua, do contato humano, a transmissão oral de mensagens _afinal quando a internet foi cortada a palavra foi transmitida boca a boca. É isso que os franceses queriam dizer quando falavam de "emoções populares" para se referir a tumultos, revoltas.
Há uma dimensão passional que torna as pessoas convencidas de que elas podem mudar coisas que antes pareciam inamovíveis, obter coisas que antes pareciam fora de suas possibilidades. Creio que esse sentido de energia utópica, ou possibilismo, foi liberado nas grandes manifestações no Oriente Médio e norte da África.

E o sr. identificaria os símbolos que potencializam esse sentimento?
É o meu terceiro ponto, o poder simbólico, que é um poder real, capaz de derrubar regimes. Ele envolve ações coletivas como tomar uma praça central, como a Tahrir, e outras praças na região. É como tomar a Bastilha, que se tornou um símbolo do despotismo, apesar de só haver sete pessoas lá no 14 de Julho de 1789.
Passei meses lendo os arquivos da Bastilha e vi que não era um centro de tortura. Mas era um símbolo do abuso de poder. O que acontece é que os manifestantes se unem em torno de um símbolo e particularmente de um inimigo comum, que foi o que [o ex-ditador egípcio Hosni] Mubarak se tornou. Você via esses retratos de Mubarak que as pessoas levavam para os protestos, com orelhas de burro, chifres. Elas estavam dessacrando um símbolo, e acho que isso tem um poder imenso para energizar pessoas que estavam apavoradas com o poder arbitrário que ele representava.

O sr. fez uma comparação entre o papel do revolucionário francês Camille Desmoulins [que chamou à tomada da Bastilha] e o de Ghonim, que deu novo impulso aos manifestantes egípcios ao chorar na TV após sua libertação da prisão.
O interessante é que a maneira como essa entrevista eletrizou os egípcios tem a ver com o ceticismo das pessoas em relação à TV, até então controlada pelo governo. De repente elas estão assistindo e ele [Ghonim] desaba ao saber que manifestantes haviam sido mortos e deixa o estúdio. Havia tanta autenticidade em sua reação que ela rompeu a artificialidade das transmissões habituais.
Na Polônia [comunista], quando a TV anunciou que o sindicato livre Solidariedade havia sido reconhecido pelo regime, ninguém acreditou. É uma situação parecida. A mídia é tão manipulada nesses regimes autocráticos que as pessoas param de acreditar, e algo como esse incidente com Ghonim desafio esse ceticismo. Há esse elemento de autenticidade que pode ser a pólvora que desencadeia as emoções populares.

O sr. diz que a libertação da tirania é a reivindicação mestra nas rebeliões atuais. Um dado interessante é que mesmo os governantes que não eram herdeiros de dinastias monárquicas, como Mubarak ou o líbio Muammar Gaddafi, pretendiam transferir o poder aos filhos. Há um elemento de republicanismo também comum a 1789, não?
Certamente. Dinastias estavam sendo criadas por pessoas que no passado se disseram revolucionárias, mas ficaram no poder por tempo demais. Nesse sentido podemos dizer que as revoltas têm caráter republicano, palavra que tem conotações importantes. Fala-se em republicanismo cívico para evocar o ideal de comunidade e participação cidadã na vida coletiva de uma entidade política. Algo assim está acontecendo e aconteceu na Revolução Francesa, uma emoção republicana, um surto de consciência coletiva dirigido contra o alvo visto como tirânico.

Podemos identificar uma revolução no momento em que ela acontece ou temos que esperar? No Oriente Médio, não está claro que tipos de regime surgirão.
A palavra revolução é usada para tudo e perde sua força. Fala-se em revolução nas técnicas do futebol, na moda. Mas se por revolução nos referimos à transformação de um sistema político pela violência, por rebeliões populares, temos que esperar. Vamos demorar a saber se haverá uma mudança fundamental ou não. Nos sentimos muito tocados pela bravura do povo egípcio, por exemplo, por sua audácia, e queremos chamar o que está acontecendo de revolução. Mas temos que esperar a poeira assentar e examinar todos os elementos que entraram na crise, na explosão e na reconstrução antes de poder determinar a profundidade desses eventos.

No caso da Revolução Francesa, as pessoas que a estavam vivendo a chamavam já desse modo, não?
Sim. Passei algum tempo pesquisando o significado da palavra em francês, e ela está ligada ao verbo girar, um movimento de volta a um ponto inicial. Mas quando as pessoas falavam que estavam fazendo uma revolução estavam dando um novo significado à palavra. Mas ouso dizer que em alguns casos há pessoas que se denominam revolucionárias que na verdade promovem apenas um tumulto que se esgota e não muda nada.

O sr. fala de revoluções de expectativas crescentes, segundo a tese de Tocqueville, e nos casos de Tunísia e Egito isso fez parte do diagnóstico: uma população jovem, com maior nível de educação que seus pais e avós, mas que não via meios de progresso num sistema autoritário.
Acho que esse foi o caso. E envolveu também intelectuais alijados. Está claro que muitos manifestantes nesses dois países eram jovens universitários que se uniram também a trabalhadores. Eram desempregados qualificados que sentiam que sua vida estava sendo desperdiçada, que não havia lugar para eles no velho regime. O fato de essas pessoas serem tão jovens e tão educadas é para mim crucial e isso se encaixa no modelo geral de Tocqueville para revoluções.

Uma outra comparação possível é com as revoluções de 1989 no Leste Europeu. Lá, como no Oriente Médio, não havia uma vanguarda política clara como os jacobinos na França ou os bolcheviques na Rússia. Após o fim do comunismo, ex-comunistas assumiram o poder em muitos países. Isso pode acontecer também no Oriente Médio?
Acho que é um ponto válido, e não sei a resposta. No caso dos clubes dos jacobinos, ele não existiam antes de 1789, se desenvolveram naquele ano e nos seguintes. Alguns historiadores argumentam que eles tinham precursores nas chamadas "sociedades de pensamento", grupos de intelectuais, mas não acho que isso seja verdade. No caso da Revolução Russa, havia um partido leninista altamente organizado. Não vejo nada parecido no Egito, Tunísia ou Iêmen.
As pessoas mencionariam os grupos islamistas, como a Irmandade Muçulmana no Egito. Pode ser que ela se torne o ingrediente jacobino, mas não sei. Minha impressão é que há uma noção muito variada e desorganizada do "povo" indo às ruas, como havia na França em 1789. Mas não vejo nenhum tipo de estrutura preexistente em torno da qual o poder pode se concentrar para empurrar a revolução para o próximo estágio. Pode ser que esteja lá e não a descobrimos ainda.

Por que as revoluções são tão raras e tão difíceis de prever?
Não sei. Ninguém previu esta explosão agora. E eu estava em Berlim em 1989 quando o Muro caiu, no Instituto de Estudos Avançados, com especialistas de todo tipo, e ninguém tinha a mínima noção de que estava para acontecer o momento que poria fim à Guerra Fria.
Na verdade não entendemos as forças profundas da história. Eles entram em erupção subitamente e nos fazem repensar nossas categorias de entendimento. Por isso falo em "possibilismo". Nós historiadores que apenas medimos o preço dos grãos fracassamos em levar isso em consideração.

Por que a influência global da Revolução Francesa é maior do que a da Americana [1776], se houve influência mútua entre ambas e esta aconteceu antes?
É difícil medir influência. No entanto é irrefutável que a Revolução Francesa teve tremenda influência nos séculos 19 e 20. A apropriada pelos marxistas, se tornou um ingrediente da Guerra Fria. Foi vista como a mãe de todas as revoluções, e tenho que admitir que essa é a minha visão. Mesmo Leon Trotsky [1879-1940] na Rússia estava tão convencido do modelo francês que começou a ver sintomas de uma reação termidoriana [referência à condenação à morte de Maximilien Robespierre e ao fim do comando jacobino da revolução, em 1794].
A Revolução Americana jamais foi tratada dessa forma. Mas foi um evento revolucionário e importante de outras maneiras, em particular na noção de uma colônia derrubar o país-mãe e criar uma nova sociedade com seu próprio sistema constitucional. Me parece que esse exemplo também teve ressonância. Há diferentes tipos de revolução, mas acho que a dimensão, o drama e a violência da Francesa foram muitos maiores do que os da Americana.

Há algo mais que o sr. gostaria de acrescentar?
Só que eu acho que [os acontecimentos no Oriente Médio] são comoventes demais, e inspiradores. É o tipo de coisa que faz o seu coração apertar, traz lágrimas aos olhos e faz você pensar que a humanidade pode se regenerar. Há essa enorme população de pessoas vivendo na pobreza, submetidas à tirania e à tortura, e elas tiveram a coragem de ir às ruas e derrubar regimes que monopolizavam o poder. É de tirar o fôlego. Eu só espero que isso não degenere em guerra civil e no restabelecimento de sistemas de interesses escusos e corrupção.
Revoltas árabes ecoam Revolução Francesa, diz historiador
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CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Historiador da Revolução Francesa, Robert Darnton anda emocionado com as imagens e informações que chegam do Oriente Médio. "É o tipo de coisa que faz o seu peito apertar, traz lágrimas aos olhos e faz você pensar que a humanidade pode se regenerar."

O professor de Harvard vê neste 2011 ecos de 1789 e outros períodos revolucionários --na rebelião contra a tirania e na reafirmação do que chama de "possibilismo", espécie de explosão utópica que faz populações acreditarem que são capazes de mudar regimes que antes pareciam inamovíveis.

Testemunha da queda do Muro de Berlim, em 1989, Darnton adverte porém que é cedo para chamar os eventos atuais de revoluções. "Vamos demorar a saber se haverá uma mudança fundamental."

Abaixo, a íntegra da entrevista.

FOLHA - Observando os acontecimentos no Oriente Médio, o sr. diria que o lema da Revolução Francesa liberdade, igualdade, fraternidade está vivo?
ROBERT DARNTON - Bem, não tenho tanta certeza sobre a fraternidade porque há mulheres envolvidas, e a palavra teria sentido diferente hoje do que tinha no século 18. Tivemos o movimento de liberação feminina, e está claro que esses protestos no Cairo e em outros lugares não foram feitos só por homens.
Mas certamente liberdade e igualdade estão presentes, em especial a liberdade. O interessante é que a maioria dos protestos no mundo árabe se dirige contra o que é visto como tirania ou despotismo. Claro que as pessoas querem empregos e melhores condições de vida, mas parecem protestar especialmente contra os abusos e a corrupção do poder.
Isso é fascinante porque acho que era o que ocorria também no século 18. Segundo a interpretação marxista, a Revolução Francesa foi uma luta de classes [da burguesia contra a aristocracia feudal]. Havia conflitos de classe, claro, mas não acho que isso explique aquela revolução. Do mesmo modo, não acredito que explique o que está acontecendo no mundo árabe, mesmo que a pobreza seja um fator crucial.
Muito da minha pesquisa sobre a Revolução Francesa é revisionista no sentido de que mostro que o despotismo era o fator fundamental nas primeiras fases e mesmo durante o período do Terror [de execução em massa dos considerados contrarrevolucionários]. Esse é um dos aspectos em que encontro ecos de 1789 em 2011.

Quando me refiro a fraternidade no caso, me refiro à humanidade, não só aos homens.
Acho que o seu entendimento é correto. A referência [no século 18] era às reivindicações universais de liberação. Nesse sentido, a fraternidade é ainda hoje relevante. Mas não acho que você encontrará pessoas usando essa palavra no mesmo sentido usado há 200 anos.

No livro "Ecos da Marselhesa", o historiador Eric Hobsbawm, que é marxista, diz que a Revolução Francesa plantou uma ideia mais ampla do que a luta de classes, a de que a ação dos povos pode mudar a história. O sr. concorda?
Completamente. Sou amigo de Hobsbawm e acho que ele está certo nisso. Mas a antiga fórmula marxista é que uma revolução é uma contradição entre as relações sociais de produção e as forças produtivas. E não vejo nada disso acontecendo hoje.
Temos em geral dois modelos que competem pela interpretação das revoluções: o marxista e o que vem de [o pensador francês Alexis de] Tocqueville, que tem muito apelo no Ocidente liberal. Sua ênfase é na centralização do poder em um só lugar, em geral a capital, na ideologia e na melhoria de condições econômicas como fator de aumento das expectativas, que então são frustradas.
Tenho procurado sinais desse modelo no Egito e em outros lugares. Não tenho a pretensão de ser um especialista na região, mas vejo lá três coisas que sobressaem.

E quais são elas?
A importância da comunicação e da opinião pública; o que chamo de possibilismo, que é do que fala Hobsbawm quando se refere à mobilização das massas; e por fim o poder dos símbolos.

O sr. comparou os "rumores públicos" da época da Revolução Francesa com as redes sociais virtuais de hoje...
Os analistas destacam o papel de Twitter, Facebook, câmeras digitais etc. Diria que é um pouco mais complicado. Além da existência crucial de novos meios, está o que chamo de força eletrizante de acontecimentos reais, que foram transmitidos e amplificados por eles, criando uma consciência, uma imaginação coletiva.
O movimento de 25 de Janeiro no Cairo foi isso. Não podemos simplesmente dizer que mídia moderna possibilitou a derrubada de regimes tirânicos. É o modo como a mídia é usada. O fato de esse rapaz, Wael Ghonim [diretor do Google], ter posto no Facebook a imagem dessa pobre vítima de violência policial [o jovem Khaled Said] é tão importante quanto a existência do Facebook. O que importa é a habilidade de encontrar símbolos que energizam a imaginação coletiva.

E o que o sr. quer dizer com possibilismo?
Me refiro à liberação de uma espécie de energia utópica com manifestações massivas. O poder da rua, do contato humano, a transmissão oral de mensagens _afinal quando a internet foi cortada a palavra foi transmitida boca a boca. É isso que os franceses queriam dizer quando falavam de "emoções populares" para se referir a tumultos, revoltas.
Há uma dimensão passional que torna as pessoas convencidas de que elas podem mudar coisas que antes pareciam inamovíveis, obter coisas que antes pareciam fora de suas possibilidades. Creio que esse sentido de energia utópica, ou possibilismo, foi liberado nas grandes manifestações no Oriente Médio e norte da África.

E o sr. identificaria os símbolos que potencializam esse sentimento?
É o meu terceiro ponto, o poder simbólico, que é um poder real, capaz de derrubar regimes. Ele envolve ações coletivas como tomar uma praça central, como a Tahrir, e outras praças na região. É como tomar a Bastilha, que se tornou um símbolo do despotismo, apesar de só haver sete pessoas lá no 14 de Julho de 1789.
Passei meses lendo os arquivos da Bastilha e vi que não era um centro de tortura. Mas era um símbolo do abuso de poder. O que acontece é que os manifestantes se unem em torno de um símbolo e particularmente de um inimigo comum, que foi o que [o ex-ditador egípcio Hosni] Mubarak se tornou. Você via esses retratos de Mubarak que as pessoas levavam para os protestos, com orelhas de burro, chifres. Elas estavam dessacrando um símbolo, e acho que isso tem um poder imenso para energizar pessoas que estavam apavoradas com o poder arbitrário que ele representava.

O sr. fez uma comparação entre o papel do revolucionário francês Camille Desmoulins [que chamou à tomada da Bastilha] e o de Ghonim, que deu novo impulso aos manifestantes egípcios ao chorar na TV após sua libertação da prisão.
O interessante é que a maneira como essa entrevista eletrizou os egípcios tem a ver com o ceticismo das pessoas em relação à TV, até então controlada pelo governo. De repente elas estão assistindo e ele [Ghonim] desaba ao saber que manifestantes haviam sido mortos e deixa o estúdio. Havia tanta autenticidade em sua reação que ela rompeu a artificialidade das transmissões habituais.
Na Polônia [comunista], quando a TV anunciou que o sindicato livre Solidariedade havia sido reconhecido pelo regime, ninguém acreditou. É uma situação parecida. A mídia é tão manipulada nesses regimes autocráticos que as pessoas param de acreditar, e algo como esse incidente com Ghonim desafio esse ceticismo. Há esse elemento de autenticidade que pode ser a pólvora que desencadeia as emoções populares.

O sr. diz que a libertação da tirania é a reivindicação mestra nas rebeliões atuais. Um dado interessante é que mesmo os governantes que não eram herdeiros de dinastias monárquicas, como Mubarak ou o líbio Muammar Gaddafi, pretendiam transferir o poder aos filhos. Há um elemento de republicanismo também comum a 1789, não?
Certamente. Dinastias estavam sendo criadas por pessoas que no passado se disseram revolucionárias, mas ficaram no poder por tempo demais. Nesse sentido podemos dizer que as revoltas têm caráter republicano, palavra que tem conotações importantes. Fala-se em republicanismo cívico para evocar o ideal de comunidade e participação cidadã na vida coletiva de uma entidade política. Algo assim está acontecendo e aconteceu na Revolução Francesa, uma emoção republicana, um surto de consciência coletiva dirigido contra o alvo visto como tirânico.

Podemos identificar uma revolução no momento em que ela acontece ou temos que esperar? No Oriente Médio, não está claro que tipos de regime surgirão.
A palavra revolução é usada para tudo e perde sua força. Fala-se em revolução nas técnicas do futebol, na moda. Mas se por revolução nos referimos à transformação de um sistema político pela violência, por rebeliões populares, temos que esperar. Vamos demorar a saber se haverá uma mudança fundamental ou não. Nos sentimos muito tocados pela bravura do povo egípcio, por exemplo, por sua audácia, e queremos chamar o que está acontecendo de revolução. Mas temos que esperar a poeira assentar e examinar todos os elementos que entraram na crise, na explosão e na reconstrução antes de poder determinar a profundidade desses eventos.

No caso da Revolução Francesa, as pessoas que a estavam vivendo a chamavam já desse modo, não?
Sim. Passei algum tempo pesquisando o significado da palavra em francês, e ela está ligada ao verbo girar, um movimento de volta a um ponto inicial. Mas quando as pessoas falavam que estavam fazendo uma revolução estavam dando um novo significado à palavra. Mas ouso dizer que em alguns casos há pessoas que se denominam revolucionárias que na verdade promovem apenas um tumulto que se esgota e não muda nada.

O sr. fala de revoluções de expectativas crescentes, segundo a tese de Tocqueville, e nos casos de Tunísia e Egito isso fez parte do diagnóstico: uma população jovem, com maior nível de educação que seus pais e avós, mas que não via meios de progresso num sistema autoritário.
Acho que esse foi o caso. E envolveu também intelectuais alijados. Está claro que muitos manifestantes nesses dois países eram jovens universitários que se uniram também a trabalhadores. Eram desempregados qualificados que sentiam que sua vida estava sendo desperdiçada, que não havia lugar para eles no velho regime. O fato de essas pessoas serem tão jovens e tão educadas é para mim crucial e isso se encaixa no modelo geral de Tocqueville para revoluções.

Uma outra comparação possível é com as revoluções de 1989 no Leste Europeu. Lá, como no Oriente Médio, não havia uma vanguarda política clara como os jacobinos na França ou os bolcheviques na Rússia. Após o fim do comunismo, ex-comunistas assumiram o poder em muitos países. Isso pode acontecer também no Oriente Médio?
Acho que é um ponto válido, e não sei a resposta. No caso dos clubes dos jacobinos, ele não existiam antes de 1789, se desenvolveram naquele ano e nos seguintes. Alguns historiadores argumentam que eles tinham precursores nas chamadas "sociedades de pensamento", grupos de intelectuais, mas não acho que isso seja verdade. No caso da Revolução Russa, havia um partido leninista altamente organizado. Não vejo nada parecido no Egito, Tunísia ou Iêmen.
As pessoas mencionariam os grupos islamistas, como a Irmandade Muçulmana no Egito. Pode ser que ela se torne o ingrediente jacobino, mas não sei. Minha impressão é que há uma noção muito variada e desorganizada do "povo" indo às ruas, como havia na França em 1789. Mas não vejo nenhum tipo de estrutura preexistente em torno da qual o poder pode se concentrar para empurrar a revolução para o próximo estágio. Pode ser que esteja lá e não a descobrimos ainda.

Por que as revoluções são tão raras e tão difíceis de prever?
Não sei. Ninguém previu esta explosão agora. E eu estava em Berlim em 1989 quando o Muro caiu, no Instituto de Estudos Avançados, com especialistas de todo tipo, e ninguém tinha a mínima noção de que estava para acontecer o momento que poria fim à Guerra Fria.
Na verdade não entendemos as forças profundas da história. Eles entram em erupção subitamente e nos fazem repensar nossas categorias de entendimento. Por isso falo em "possibilismo". Nós historiadores que apenas medimos o preço dos grãos fracassamos em levar isso em consideração.

Por que a influência global da Revolução Francesa é maior do que a da Americana [1776], se houve influência mútua entre ambas e esta aconteceu antes?
É difícil medir influência. No entanto é irrefutável que a Revolução Francesa teve tremenda influência nos séculos 19 e 20. A apropriada pelos marxistas, se tornou um ingrediente da Guerra Fria. Foi vista como a mãe de todas as revoluções, e tenho que admitir que essa é a minha visão. Mesmo Leon Trotsky [1879-1940] na Rússia estava tão convencido do modelo francês que começou a ver sintomas de uma reação termidoriana [referência à condenação à morte de Maximilien Robespierre e ao fim do comando jacobino da revolução, em 1794].
A Revolução Americana jamais foi tratada dessa forma. Mas foi um evento revolucionário e importante de outras maneiras, em particular na noção de uma colônia derrubar o país-mãe e criar uma nova sociedade com seu próprio sistema constitucional. Me parece que esse exemplo também teve ressonância. Há diferentes tipos de revolução, mas acho que a dimensão, o drama e a violência da Francesa foram muitos maiores do que os da Americana.

Há algo mais que o sr. gostaria de acrescentar?
Só que eu acho que [os acontecimentos no Oriente Médio] são comoventes demais, e inspiradores. É o tipo de coisa que faz o seu coração apertar, traz lágrimas aos olhos e faz você pensar que a humanidade pode se regenerar. Há essa enorme população de pessoas vivendo na pobreza, submetidas à tirania e à tortura, e elas tiveram a coragem de ir às ruas e derrubar regimes que monopolizavam o poder. É de tirar o fôlego. Eu só espero que isso não degenere em guerra civil e no restabelecimento de sistemas de interesses escusos e corrupção.