domingo, 6 de março de 2011

Pouco a comemorar

Editorial da Folha de São Paulo


A alta de 7,5% no PIB de 2010 parece portentosa, ao colocar o Brasil na condição de sétima economia do planeta. Antes de mais nada, é preciso considerar que esse desempenho decorre d recuperação após a crise de 2008 e do recuo da economia em 0,6% em 2009. A média dos dois últimos anos, assim, foi inferior a 3,5%.
Há mais dados para temperar qualquer entusiasmo exagerado com o indicador. No último trimestre, o crescimento foi de meros 3% - em termos anualizados – diante do trimestre anterior.
É digno de nota que um desempenho assim mediano seja suficiente para causar intensas pressões inflacionárias, obrigando o Banco Central a elevar a taxa básica de juros em 0,5% percentual em cada uma das duas últimas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária do BC). A medida contracionista provavelmente terá de ser repetida ao longo do ano, diante do comportamento da inflação.
A resposta da autoridade monetária decorre do sério risco de que o IPCA se aproxime do teto da meta da inflação (6,5%) em 2011. Nesse contexto, é evidente que a propalada expansão do PIB em 5% ao ano, como quer o governo, enfrenta obstáculos estruturais.
Um deles é a insuficiência de poupança interna e capacidade de investir. Mesmo depois da forte recuperação do ano passado, a taxa de investimento em relação ao PIB terminou o ano em apenas 18,4%, abaixo do ponto máximo de 19%na série histórica, atingindo em 2008. É um valor muito inferior à média de 25% dos países em desenvolvimento que crescem mais rápido que o Brasil.
Outro obstáculo é a cultura da indexação, que contamina itens importantes – como aluguéis, pedágios, água e luz – com a elevação dos preços de matérias-primas no mercado internacional, por exemplo. O resultado é uma inflação que dificilmente cai abaixo de 4,5%, centro da meta, se o PIB não sofrer forte desaceleração.
Para 2011 se espera uma combinação entre inflação e crescimento menos favorável que nos anos recentes. É provável que o PIB cresça menos, perto de 4%, conforme a alta dos juros e as medidas de contenção de crédito forem exercendo seu efeito resfriador.
A inflação deve demorar a cair. O próprio Ministério da Fazenda já trabalha com a inflação acumulada em 12 meses chegando a 6,5% no terceiro trimestre.
Em resumo, o país ainda prossegue longe de consolidar a capacidade de crescer entre 4,5% e 5% ao ano sem pressionar a inflação. O governo precisará de avanços em várias frentes – orçamento público, regulação setorial, políticas de crédito e desoneração tributária, entre outros – para conter a deterioração de expectativas.

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