domingo, 6 de março de 2011

ANÁLISE

Presidente tenta vencer abismo entre seu estilo e brasileiro habituado a showman

Lula é um fenômeno mundial. Terminou seu mandato com mais de 80% dos eleitores achando seu governo “ótimo” ou “bom”. Era o presidente-ídolo, o mandatário showman.
Ele é tão incrível a ponto de cobrar (e receber) R$ 200 mil para ministrar uma palestra para falar bem dele mesmo. Coisa de gênio.
Lula também fez um governo que melhorou a vida das pessoas. Mais crescimento, mais crédito, mais consumo. Foi o governo Valisère: o primeiro carro e a primeira viagem de avião a gente nunca esquece.
Dilma foi eleita na esteira do sucesso de Lula e está longe de ter o charme comunicacional do ex-presidente.
Tem, isso sim, um perfil técnico e fama de boa gestora. Lula gostava de câmeras, de aglomeração. Dilma gosta de Power Point, de reunião.
Parece cultivar a Presidência dos resultados, da racionalidade, da “casa em ordem”. E já conquistou parte da opinião pública mais escolarizada por sua discrição, pelo anúncio de corte de despesas e por declarações sobre o Irã que todo brasileiro democrata adorou ouvir.
O problema, para Dilma, é que existe um abismo cognitivo entre os eleitores mais escolarizados e a massa da população.
Bem ou mal, em oito anos de governo Lula, o brasileiro típico se acostumou a ver um presidente superexposto, espontâneo, que pensa do jeito que o povo pensa e fala do jeito que o povo fala.
No Brasil, o (ou a) presidente carrega uma aura real. Precisa aparecer, mostrar-se ativo, dar declarações, entrevistas. E, de uns tempos para cá, precisa também se aproximar da população, como uma rainha que acorda à noite para cuidar do seu filho incomodado com alguma dorzinha. É a “humanização” do cargo.
Essa necessidade explica, por exemplo, a aparição da presidente Dilma no Programa “Mais você”, de Ana Maria Braga, na última terça-feira, na qual a convidada preparou um omelete com bicarbonato ao mesmo tempo em que discursava sobre a conveniência da volta da CPMF.
Mas é bom ir devagar com o andor: nem tudo que soava natural e bonito em Lula terá o mesmo efeito com Dilma. Afinal, fenômenos não surgem todos os dias.

Rubens Figueiredo, cientista político pela USP, é diretor da CEPAC – Pesquisa e Comunicação e autor, entre outros, de “Marketing Político e Persuasão Eleitoral”.

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