sábado, 19 de fevereiro de 2011

Rousseau

Jean Jacques Rousseau (1712-1778) – Foi o pensamento mais radical de sua época, com suas críticas à sociedade burguesa, em defesa das camadas mais populares e de uma sociedade baseada na justiça, na igualdade e na soberania do povo. As principais idéias de Rousseau estão nas obras : Discurso sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens e Contrato Social.
Na primeira, Rousseau acusava a propriedade privada de destruir a liberdade social, promovendo o despostismo, a fraqueza e a corrupção da sociedade. Para ele, « a propriedade introduzia a desigualdade entre os homens, a diferenciação entre o rico e o pobre, o poderoso e o fraco, o senhor e o escravo, até a predominância da lei do mais forte. O homem era corrompido pelo poder e esmagado pela violência.
Já no Contrato Social, afirmava que, para combater a desigualdade introduzida com o aparecimento da propriedade privada, os homens deveriam consentir em fazer um contrato social, pelo qual cada indivíduo concordava em se submeter interiamente à vontade geral, ou seja, à vontade do soberano , que era o próprio povo. Portanto, o que prevalecia era a vontade da comunidade e não a vontade individual de cada membro dessa comunidade. Como cada indivíduo se unia a todos e ninguém se unia em particular, o homem continuaria livre, uma vez que todos tinham direitos iguais na comunidade. Para Rousseau o governo era apenas « o ministro do soberano , o agente encarregado de executar a lei. Seu poder poderia ser modificado, limitado ou retomado sempre que o povo desejasse. Rousseau destacou-se dos demais filósofos iluministas por valorizar não somente a razão, mas também os sentimentos e emoções, pregando a volta à natureza e à simplicidade da vida. Sua teoria da vontade geral inspirou os líderes da Revolução Francesa e do movimento socialista do século XIX.

Durkheim e os fatos sociais

Durkheim e os fatos sociais

1) Para o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), a sociedade prevalece sobre o indivíduo. A sociedade é, para esse autor, um conjunto de normas de ação, pensamento e sentimento que não existem apenas na consciência dos indivíduos, mas que são construídas exteriormente, isto é, fora das consciências individuais. Em outras palavras, na vida em sociedade o homem defronta com regras de conduta que não foram diretamente criadas por ele, mas que existem e são aceitas na vida em sociedade, devendo ser seguidas por todos. Sem essas regras, a sociedade não existiria, e é por isso que os indivíduos devem obedecer a elas.
2) Durkheim afirma que os fatos sociais, ou seja, o objeto de estudo da Sociologia, são justamente essas regras e normas coletivas que orientam a vida dos indivíduos em sociedade. Tais fatos sociais são diferentes dos fatos estudados por outras ciências por terem origem na sociedade, e não na natureza (como nas ciências naturais) ou no indivíduo (como na psicologia).
3) Esses fatos sociais têm duas características básicas que permitirão sua identificação na realidade: são exteriores e coercitivos.
4) Exteriores: porque consistem em idéias, normas ou regras de conduta que não são criadas isoladamente pelos indivíduos, mas foram criadas pela coletividade e já existem fora dos indivíduos quando eles nascem.
5) Coercitivos: porque essas idéias, normas e regras devem ser seguidas pelos membros da sociedade. Se isso não acontece, se alguém desobedece a elas, é punido, de alguma maneira, pelo resto do grupo.
6) É justamente a educação um dos exemplos preferidos por Durkheim para mostrar o que é um fato social. O indivíduo, segundo ele, não nasce sabendo previamente as normas de conduta necessárias para a vida em sociedade. Por isso, toda sociedade tem de educar seus membros, fazendo com que aprendam as regras necessárias à organização da vida social. As gerações adultas transmitem às crianças e adolescentes aquilo que aprenderam ao longo de sua vida em sociedade. Com isso, o grupo social é perpetuado, apesar da morte dos indivíduos.
7) Outro conceito importante para Durkheim é o de instituição. Para ele, uma instituição é um conjunto de normas e regras de vida que se consolidam fora dos indivíduos e que as gerações transmitem umas às outras. Há ainda muitos outros exemplos de instituições: a Igreja, o Exército, a família, etc.
8) Durkheim irá propor um certo método para a Sociologia. Para ele, o pesquisador deve analisar os fatos sociais como se eles fossem coisas, isto é, como se fossem objetos que existem independentemente de nossas idéias e vontades. Com isso, Durkheim enfatiza a posição de neutralidade e objetividade que o pesquisador deve ter em relação à sociedade: ele descrever a realidade social, sem deixar que suas idéias e opiniões interfiram na observação dos fatos sociais.

Soneto de Shakespeare

Que o teu desejo me indique o momento.
Cada hora minha é um longo esperar,
Até que eu possa te servir a contento
Em tuas demoras, com paciência,
- És soberana dos anseios meus –
Encontro doçura na amarga ausência,
Mesmo que digas, para sempre, adeus.
Não ouso te perguntar, enciumado.
Nem por onde andas, nem o que fazes.
Mas, triste escravo, aguardo-te calado,
Enquanto outros contentas e te aprazes.
Meu amor obedece a teu desejo
E cego busca o mal que nele vejo.
O Deus mesmo que a ti me escravizou
Não quis que eu regulasse teu prazer,
A ti de prestar contas liberou,
Atou-me servilmente a teu querer.
Quero sofrer a teu dispor,
Encarcerado em tua liberdade;
Suporto gratamente teu rigor,
Sem queixar-me de tua crueldade.
A teu poder não quero dar limites
Concedendo-te posição tão alta
Que nem me importa que tu mesma dites
Sentença absolvendo-te da falta.
E neste inferno aceito sem rancor,
Que teu prazer provoque minha dor.

Thomas Hobbes

Thomas Hobbes (1588-1679): O Estado para domar o lobo do próprio homem

Para o filósofo inglês Thomas Hobbes, o homem, embora vivendo em sociedade, não possui o instinto natural de sociabilidade. Cada homem sempre encara seu semelhante como um concorrente que precisa ser dominado. Onde não houve o domínio de um homem sobre outro existirá sempre uma competição intensa até que esse domínio seja alcançado.
A conseqüência óbvia dessa disputa infindável dos homens entre si teria gerado um permanente estado de guerra e de matança nas comunidades primitivas. Nas palavras de Hobbes: “o homem é o lobo do próprio homem (homo homini lupus)”.
Só havia uma solução para dar fim à brutalidade social primitiva: a criação artificial da sociedade política, administrada pelo Estado. Para isso, o homens tiveram que firmar um contrato entre si, pelo qual cada um transferia seu poder de governar a si próprio a um terceiro – o Estado – para que esse Estado governasse a todos, impondo ordem, segurança e direção à conturbada vida social.
Hobbes apresentou essas idéias no seu livro Leviatã, no qual o Estado é comparado a uma criação monstruosa do homem, destinada a pôr fim à anarquia e ao caos da comunidade primitiva. O nome Leviatã refere-se ao monstro bíblico citado no Livro de Jô (Bíblia), descrito da seguinte maneira: “o seu corpo é como escudos de bronze fundido (...) Em volta de seus dentes está o terror (...) O seu coração é duro como a pedra, e apertado como a bigorna do ferreiro. No seu pescoço está a força, e diante dele vai a fome (...) Não há poder sobre a terra que se lhe compare, pois foi feito para não ter medo de nada (Jô, 40, 41).
Na obra Sobre o Cidadão que Hobbes expõe primeiramente suas concepções sobre a origem do poder político, que contrariam a tese de Aristóteles, que, como vimos, apresentava o homem como naturalmente sociável. Para Hobbes, os homens só passam a viver em sociedade diante de uma ameaça à preservação da vida. Ou seja, entre os homens a cooperação não é natural, como se dá com as abelhas e formigas, por exemplo. O pacto social, através do qual se estabelece uma ordem moral e política, vem da necessidade de acabar com o estado de guerra, de conservar a vida, sendo por isso artificial.

Weber e a ação social

Weber e a ação social

Enquanto para Émile Durkheim a ênfase da análise recai na sociedade, para o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) a análise deve centrar-se nos atores e em suas ações.
Para Weber, a sociedade não é algo exterior e superior aos indivíduos, como para Durkheim. Para ele, a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais reciprocamente referidas. Por isso ele define como objeto de Sociologia a ação social. O que é uma ação social? Para ele é qualquer ação que o indivíduo pratica orientando-se pela ação de outros.
Assim, Weber dirá que toda vez que se estabelecer uma relação significativa, isto é, algum tipo de sentido entre várias ações sociais, teremos relações sociais. Só existe ação social quando o indivíduo tenta estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações, com os demais.
A partir dessa definição, Weber afirma que podemos pensar em diferentes tipos de ação social, agrupando-os de acordo com o modo pelo qual os indivíduos orientam suas ações. Assim, ele estabelece quatro tipos de ação social:
• Tradicional: aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado;
• Afetiva: aquela determinada por afetos ou estados emocionais;
• Racional com relação a valores: determinada pela crença consciente num valor considerado importante, independentemente do êxito desse valor na realidade;
• Racional com relação a fins: determinada pelo cálculo racional que estabelece fins e organiza os meios necessários.

Tanto na conceituação da ação social como na definição de seus diferentes tipos, podemos perceber que Weber não analisa as regras e normas sociais como exteriores aos indivíduos. Pelo contrário, as normas e regras sociais são o resultado do conjunto de ações individuais, e os agentes escolhem, o tempo todo, diferentes formas de conduta. As idéias coletivas, como o Estado, o mercado econômico, as religiões, só existem porque muitos indivíduos orientam reciprocamente suas ações num determinado sentido. Estabelecem, dessa forma, relações sociais que têm de ser mantidas continuamente pelas ações individuais.
A concepção de método em Weber também será diferente da concepção de método em Durkheim. Max Weber enfatiza o papel ativo do pesquisador em face da sociedade. Os tipos de ação social propostos por ele, por exemplo, são construções teóricas que servem para tornar compreensíveis certas ações sociais dos agentes sociais. Outros pesquisadores podem apresentar construções teóricas diferentes para explicar formas de ações sociais que não possam ser explicadas pelos modelos propostos por Weber. As construções teóricas de cada cientista dependem, assim, de escolhas pessoais que devem ser feitas visando aos aspectos da realidade que se quer explicar. Desse ponto de vista, portanto, não é possível uma neutralidade total do cientista em relação à sociedade.

Abra os olhos e veja a matrix

Abra os olhos e veja MATRIX

“Você pode escolher entre a pílula vermelha e a azul. Se escolher a azul, você vai acordar de manhã em sua casa e sua vida vai permanecer a mesma. Mas se escolher a vermelha, vai descobrir o quanto é profunda a toca do coelho de Alice!”. Com estas palavras revela o mestre Morpheus a questão-chave que move toda a complicada história do filme Matrix (EUA,1999): a escolha entre viver no marasmo da normalidade, na doce ilusão do aparente, no monótono da superficialidade ou procurar entender a vida, seu sentido, confrontar-se com seus problemas e fazer a opção de viver a dor e o prazer de transformá-la.
A história de Matrix se desenvolve em um futuro não muito distante de nosso presente. Durante o dia, o especialista em computadores Thomas Anderson trabalha em uma firma de software, à noite ele transforma-se no Hacker Neo e viaja pelas dimensões vrituais do cyberspace. Em uma dessas noites on-line, Neo convence-se de que existe algo de errado e estranho no mundo em que vive. Sua intuição acaba confirmando-se no dia em que ele é contatado por um grupo que vive à margem da sociedade. O líder desse grupo, Morpheus, revela a Neo o que está por trás das aparências: o mundo é na verdade dominado por um sistema que vive da energia dos seres humanos. Para impedi-los de compreender a exploração em que vivem, o sistema os mantém em uma realidade totalmente virtual. Com esta história, os diretores Andy e Larry Wachowski conduzem o público a um verdadeiro sincretismo cinematográfico, a um cosmos no qual filosofia, mitologia, science fiction e artes marciais fundem-se, formando um material simplesmente rico e complexo.
Quando surgimos na existência, iniciamos um processo de aprendizagem que nos introduz na vida familiar, no grupo de amigos e no sistema econômico e social. Quase sem perceber, vamos absorvendo o significado do dinheiro, as regras de compra e venda, as formas de acumular o capital e como sobreviver neste sistema complicado que chamamos de mercado. Ao mesmo tempo, vamos nos acostumando com fatos desagradáveis do cotidiano como desemprego, miséria, corrupção um sistema educacional ruim e uma péssima distribuição de renda. Esse processo, porém, não é unilateral. Nós aprendemos como sobreviver no sistema, mas o sistema também encontra sempre uma forma de tomar posse de nosso ser, viver e pensar. Assim, o nosso comportamento acaba sendo influenciado pelo capital e as leis de mercado. A lei do lucro começa a tomar conta de nossas relações com os outros e com o mundo. As nossas amizades devem nos trazer vantagens, a nossa aparência deve corresponder à moda determinada pelo sistema e ficamos insatisfeitos se a nossa aquisição de bens é restrita. Para aqueles que querem ser alternativos (a exemplo dos hyppies, punks, etc.), o sistema é capaz de absorver todo tipo de movimento “contracultura”, com a finalidade de domesticá-lo e vendê-lo como mercadoria. Enfim, até mesmo as nossas relações com Deus não ficam salvo da influência de mercado. Muitas vezes, mantemos com Deus uma verdadeira relação de troca. Assim, para conseguir algo dos céus, procuramos cumprir nossas “promessas” para Deus ou para os santos, fazer corretamente o “trabalho” para os espíritos e orixás, contribuir financeiramente com a Igreja. Procuramos agir corretamente nesta vida, não exatamente por pensar no bem-estar de todos, mas para que na vida depois da morte tenhamos uma recompensa que seja rentável.
Mesmo estando integrados no sistema, muitas vezes suas contradições nos atingem profundamente. Para que isso não aconteça co freqüência, o sistema encarrega-se de oferecer “pílulas azuis”, as quais nos mantém na inércia da superficialidade. A pílula que mais ingerimos chama-se “normalidade”. Critérios como justiça, honestidade, dignidade vão sendo relativizados pelo “normal”. O que vemos com freqüência vai se tornando norma. Desde pequeno ouvimos a justificativa: “Não faça isso, porque não é normal!”. Assim , o que é normal não nos choca mais: crianças de rua, salário de fome, criminalidade, falta de respeito ou o fato de o Brasil estar entre as dez primeiras economias do mundo e ser a segunda pior em distribuição de renda. “A mosca que pousa no mel o seu vôo impede; a alma que quer estar apegada ao espírito impede a sua liberdade e contemplação”, afirma São João da Cruz. O ser humano só consegue entender a si próprio e sua vida a partir do momento em que deixa a tentadora fuga da normalidade e procura libertar-se de qualquer forma de alienação, buscando compreender sua realidade e confrontar-se com os problemas da vida. Na verdade, o ser humano possui duas alternativas: tomar a pílula azul e ficar como a mosca no mel, ou ter coragem de engolir a pílula vermelha e questionar o habitual. A escolha é sua.

Padre Beto – Sem medo de voar.

Maquiavel

Maquiavel – o criador da Ciência Política moderna?

Nicolau Maquiavel, pensador florentino, escreveu um livro, O príncipe, dedicado a Lourenço de Médici (1449-1492), governador de Florença, protetor das artes e das letras, ele mesmo um ditador. Nesse livro, Maquiavel se propõe a explorar as condições pelas quais um monarca absoluto é capaz de fazer conquistas, reinar e manter seu poder.
Como Thomas Morus, Maquiavel acredita que o poder depende das características pessoais do príncipe – suas virtudes -, das circunstâncias históricas e de fatos que ocorrem independentemente de sua vontade – as oportunidades. Acredita também que do bom exercício da vida política depende a felicidade do homem e da sociedade. Mas, sendo mais realista do que seus companheiros utopistas, Maquiavel faz de O príncipe um manual de ação política, cujo ideal é a conquista e a manutenção do poder. Disserta a respeito das relações que o monarca deve manter com a nobreza, o clero, o povo e seu ministério. Mostra como deve agir o soberano para alcançar e preservar o poder, como manipular a vontade popular e usufruir seus poderes e aliados. Faz uma análise clara das bases em que se assenta o poder político: como conseguir exércitos fiéis e corajosos, como castigar os inimigos, como recompensar os aliados, como destruir, na memória do povo, a imagem dos antigos líderes.

A visão laica da sociedade e do poder

Em relação ao desenvolvimento do pensamento sociológico, Maquiavel teve mais êxito do que Thomas Morus, na medida em que seu objetivo foi conhecer a realidade tal como se lhe apresentava, em vez de imaginar como ela deveria ser.
De qualquer maneira, nas obras de Thomas Morus e de Maquiavel percebemos como as relações sociais passam a constituir objeto de estudo dotado de atributos próprios e deixam de ser, como no passado, conseqüência do acaso ou das qualidades pessoais dos sujeitos. A vida dos homens já aparece, nessas obras, como resultado das condições econômicas e políticas e não de sua fé ou de sua consciência individual.
Além disso, esses filósofos expressam os novos valores burgueses ao colocar os destinos da sociedade e de sua boa organização nas mãos de um indivíduo que se distingue por características pessoais. A monarquia proposta no Renascimento não se assenta na legitimidade do sangue ou da linhagem, na herança ou tradição, mas na capacidade pessoal do governante e sua sabedoria. A história, tanto como ciência quanto como conhecimento dos fatos, passa a ter um papel relevante nesse contexto. Desconhecer a história é desconhecer a evolução e as leis que regem a sociedade onde se vive. Nessa idéia de monarquia se baseia a aliança que a burguesia estabelece com os reis para o surgimento dos estados nacionais, onde a ordem social será tanto mais atingível quanto mais o soberano agir como estadista, pondo em marcha as forças econômicas do capitalismo em formação.

Como eu fiz

30 de julho de 2009 |
VESTIBULAR
Como eu fiz

“Decidi fazer Relações Internacionais quando não passei na Academia Militar. Eu tinha um amigo que fazia Relações Internacionais em São Paulo e, quando conversei com ele, gostei da área. Nunca havia morado fora, mas decidi partir para essa área porque via que estava em expansão.Com a abertura mundial dos mercados, achei que fosse uma grande possibilidade. No início, não tinha apoio da família. Meu pai é militar e eles não acreditavam. Na época em que decidi fazer o curso, em 2002, o pessoal não sabia direito o que era Relações Internacionais, o que o profissional fazia, não via um futuro no mercado brasileiro.

Na época, fiquei com dúvida de fazer Relações Internacionais ou Administração com habilitação em Comércio Exterior. Eu decidi fazer Relações Internacionais justamente pelo enfoque do curso. Na Administração, eu teria todas as cadeiras do curso e apenas um ano voltado para o comércio exterior. Já no curso de Relações Internacionais, desde o primeiro semestre a gente vê introdução a relações internacionais, economia internacional, política.

Em 2004, na universidade, eu participei da fundação de uma empresa júnior. Fizemos projetos para a própria faculdade e tivemos algumas negociações com a Secretaria de Articulação Internacional do Estado de Santa Catarina. Houve conversas e reuniões com o intuito de desenvolver projetos. Em 2005, comecei a estagiar na Portobello. Comecei no departamento de exportações, auxiliando nos embarques dos produtos. Eu fazia documentação e trâmite burocrático. Depois passei a estagiar na área comercial. Fazia acompanhamento de pedido, contato com os clientes externos. Eram clientes da Europa – Grécia, Bélgica, França, Inglaterra – e da Oceania. Os contatos eram sempre em inglês, alguns em espanhol.

Eu falo inglês, espanhol e comecei francês, mas parei. Tenho que terminar. Nunca morei fora, mas digo que sem inglês e espanhol você não tem espaço no mercado. É uma ferramenta de trabalho. Do mesmo jeito que as pessoas precisam entender um pouco de computador, você precisa, na área de relações internacionais, falar inglês e espanhol. Porque você tem obras nessas línguas para ler, você tem aulas em inglês, palestras. Hoje, o pessoal comenta que outros idiomas são importantes, como o mandarim, o árabe, o russo. Mas o essencial seria o inglês, o espanhol e o francês. Na Organização Mundial do Comércio (OMC), por exemplo, é adotado o inglês ou o francês. São as línguas que regem os acordos internacionais. Fiquei um ano na Portobello. Após isso, fui contratado na Fit Food, antes de me formar. Primeiro trabalhei como estagiário, fazendo o controle da produção de exportação. Verificava qualidade, se a produção estava de acordo com o planejado e com o pedido pelos importadores. Em 2007, fui promovido a trader. Trader é um cargo comercial dentro da empresa, seria como um gestor de vendas para o mercado. No caso, eu atuo com o mercado do Oriente Médio e trabalho com carne congelada de frango.

No dia a dia, eu vivo negociando com os importadores do Oriente Médio – Iraque, Kuwait, Catar, Omã, Arábia Saudita, Irã – e da Turquia. Eu negocio preço, quantidade, tudo que envolve a negociação referente ao produto. A gente negocia via telefone e via e-mail. Uma das coisas que é importante é a questão do conhecimento da cultura do local. Por exemplo, no Oriente Médio eles não têm o hábito de estar sempre lendo e-mails. Apesar de isso estar mudando com o tempo. Grande parte das negociações ocorre por telefone ou visita ao local do cliente. A gente está constantemente viajando e visitando os mercados.

É um trabalho de muita pesquisa para conhecer os aspectos políticos do mercado, os aspectos econômicos, os conflitos, as barreiras que existem. Às vezes, os países fecham as barreiras e o produto não entra ou fica parado no porto. Outras vezes, um produto está chegando a um país, mas teve algum problema interno político, e o país quer proteger o mercado local. Então você fica com seu produto à mercê da vontade deles, parado, esperando. Então você tem que conhecer bastante o mercado, não só a questão de cultura dos clientes, mas também os movimentos migratórios. Isso tudo facilita a negociação do dia a dia. A empresa também ajuda nisso, fornecendo base de dados.

Hoje, tenho amigos que montaram negócios próprios, foram para área política, que prestam concurso para a área de diplomacia e órgãos como Receita Federal e ministérios. Porque, hoje em dia, cada ministério ou órgão procura ter uma pessoa focada na área internacional e estar atento ao que ocorre lá fora.”

Helder Passos Pereira, 25 anos, formado em Relações Internacionais há três anos e trader da empresa Fit Foods
Saiba mais
O que faz
Planeja ações dos governos federal, estadual ou municipal nos setores político, econômico, comercial, social e cultural. Coleta dados e elabora relatórios sobre a conjuntura internacional para órgãos governamentais, empresas privadas e ONGs. Participa da elaboração de programas de cooperação com outras nações. Identifica oportunidades de comércio com outros países e intermedia a importação e a exportação.
Onde trabalhar
O bacharel em Ralações Internacionais pode trabalhar em agências governamentais, em empresas privadas ou públicas e em organizações internacionais.
Onde estudar
> Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis
> Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), Florianópolis, Tubarão e Palhoça
Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Balneário Camboriú e São José
> Faculdade de Ciências Socias de Florianópolis (FCSF)
> Instituto Blumenauense de Ensino Superior (Ibes), Blumenau
> Instituto de Ensino Superior Santo Antônio (Inesa), Joinville
Fonte: MEC, Guia do Estudante e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Helder Pereira negocia com importadores da Turquia e de países do Oriente Médio

Relações Internacionais e Fred Halliday

Relações Internacionais


Devido à grande abertura proporcionada pela formação do internacionalista, são várias as áreas em que ele pode atuar. Segundo Fred Halliday, pesquisador da London School of Economics, considerado hoje um dos maiores especialistas na área:
“Os três elementos constitutivos das Relações Internacionais, o interestatal, o transnacional e o sistêmico, permitem muitas especializações e várias abordagens teóricas. Hoje, as RI abrangem como subcampos somados à teoria internacional (isto é, a teorização destes três elementos), os estudos estratégicos, os estudos de conflito e paz, a análise de política externa, a economia política internacional, a organização internacional e um grupo de questões normativas pertinentes à guerra: obrigação, soberania e direitos. A estes subcampos, analiticamente distintos, pode ser somado o das especializações regionais nos quais as abordagens teóricas são aplicadas aos estudos de Estados individuais e de grupos de Estados.
Tais subcampos podem não envolver diferentes perspectivas teóricas, mas variam consideravelmente na ênfase relativa atribuída às questões, por exemplo, de ideologia e direito, de economia ou de poder militar. Só nos anos 1980, várias novas questões internacionais foram incorporadas ao âmbito analítico da disciplina e ensinadas em cursos separados: o uso do mar e política de oceanos, mulheres e a arena internacional, as relações internacionais no Terceiro Mundo, as questões ecológicas, as dimensões internacionais da comunicação, dentre outras”.

O campo de trabalho do internacionalista

O campo de trabalho do internacionalista



No Brasil, a profissionalização no campo de Relações Internacionais avançou significativamente desde a década de 90. Ao contrário da perspectiva voltada apenas à formação do diplomata, hoje há um leque enorme de atividades nas quais o internacionalista vem atuando. Neste sentido, poderíamos destacar como áreas de atuação do internacionalista:

a) A tradicional diplomacia, que no Brasil envolve o exame de ingresso no Itamaraty;

b) A crescente necessidade de os governos, nos vários âmbitos administrativos, terem assessoria especializada na área de Relações Internacionais, por conta dos processos de integração regional e do aumento da mobilidade do capital;

c) Câmaras de Comércio, Consulados e Embaixadas estrangeiras, prestando assessoria a respeito da atuação política e comercial do Brasil no contexto internacional;

d) Os sindicatos patronais e de trabalhadores, que buscam se adequar às mudanças no plano internacional, elaborando estudos, estratégias e projetos de cooperação;

e) Atuação em Organizações Não-Governamentais, que cada vez mais são internacionais ou têm de “internacionalizar” sua ação, o mesmo ocorrendo com uma quantidade crescente de movimentos sociais;

f) Assessoria técnica em Organismos Internacionais, tais como a OEA, a ONU, a FAO, a UNESCO, o FMI, o Banco Mundial, o BID, a OMC, ou então nas burocracias que terão de ser constituídas para o funcionamento dos blocos econômicos regionais, como já acontece na União Européia, mas ainda não ocorre no Mercosul;

g) Órgãos de comunicação e entretenimento, com destaque para a Internet e os cadernos internacionais dos jornais e revistas;

h) Atuação em diversos departamentos das empresas, em especial no vinculado diretamente à questão internacional, mas também nas áreas de Planejamento de Marketing, Recursos Humanos e Planejamento Estratégico. Ademais, a internacionalização financeira está obrigando os bancos e investidores institucionais a terem profissionais com formação em RI;

i) Por fim, a própria área acadêmica tem demandado e, provavelmente, precisará crescentemente de profissionais com habilitação em Relações Internacionais.

O profissional do futuro

O profissional do futuro

Em matéria publicada no jornal paulistano Gazeta Mercantil, de 03 a 05 de março de 2003, a jornalista Maria Helena Tachinardi, responsável pelo artigo O glamour de uma profissão, comentou sobre a empregabilidade do internacionalista no mercado profissional.
Afinal, o que é o internacionalista?
O internacionalista, ou seja, o bacharel em relações internacionais é o profissional do futuro. No Brasil, estima-se estar em torno de sessenta o número de cursos de Relações Internacionais autorizados pela Secretaria de Educação Superior (SESu), do Ministério da Educação (MEC). Como avalia o professor Shiguenoli Miyamoto: “com o aumento da interdependência econômica, intercâmbios em todos os planos, as influências culturais e sociais que se têm processado de forma acelerada, sempre mais rápida, passaram a fazer parte do quotidiano, exigindo que o domínio de informações, o mais variado possível, adquirisse relevada importância, mesmo crucial para todas as profissões”.
Nesse novo cenário, o que se constata é que não existe, ainda, no país, quantidade de profissionais suficientemente habilitados para atender um mercado com tais necessidades. Daí o surgimento dos cursos, não só em nível de graduação em Relações Internacionais, mas também como de dezenas em pós-graduação lato sensu e stricto sensu, em todo o país.
Abrangendo uma gama variada de temas, que vão desde crises e negociações internacionais, relacionar-se com o mercado de investimentos, análises da conjuntura interna e externa e mais elaboração de estudos, diretrizes estratégicas e projetos logísticos para garantia do desenvolvimento sustentável do Brasil, entre outros.
A tendência atual e futura é de crescimento. E a busca do profissional com capacitação e conhecimento pluridisciplinar, multicultural e plurilingüístico é um fato concreto.

Você é um líder?

Você é um líder?

1. Quando recebo um funcionário novo em minha equipe:
a) Costumo preparar-se e dedicar tempo para explicar a ele quais os objetivos de nossa área, as estratégias da empresa e o que espero dele.
b) Explico apenas quais as atividades que ele executará, os processos básicos da empresa e qual a sua primeira tarefa.
c) Infelizmente, não tenho tempo para explicar muito. Já tenho muitas tarefas no dia-a-dia e ele poderá aprender com os outros membros da equipe.

2. Ao delegar uma tarefa:
a) Analiso quem da equipe está capacitado para cumpri-la, explico a importância da atividade para a empresa e o que será feito com os resultados concluídos.
b) Preocupo-me em explicar detalhadamente como eu mesmo faria aquela tarefa, desta forma, tenho certeza de como serão os resultados.
c) Explico o que deve ser feito e pronto, afinal se o funcionário ocupa aquele cargo é porque tem de estar preparado.

3. Ao tomar uma decisão em seu departamento:
a) Penso nos objetivos estratégicos da empresa e analiso se minha decisão está alinhada com eles.
b) Penso nos resultados em curto prazo, afinal meu departamento é cobrado por isso.
c) Penso na melhor solução para atingir meu bônus anual.

4. Sua imagem profissional perante a equipe é:
a) De uma pessoa em que eles podem confiar e ter como referência. Minhas atitudes está sempre alinhadas ao discurso que passo para a equipe.
b) De um amigão, afinal saímos juntos para happy hours.
c) Não sei exatamente o que minha equipe pensa de mim.





5. Você costuma motivar sua equipe:
a) Sou transparente em minhas atitudes, proponho desafios compatíveis com as qualificações de cada um e ofereço reconhecimento pelos resultados.
b) Promovo reuniões de integração e motivação.
c) Meus funcionários são motivados pelo salário que recebem.

6. Quando um de seus funcionários comete um erro, sua atitude é:
a) Chamo-o para um lugar reservado, explico o erro cometido e oriento-o sobre qual teria sido a ação correta. Peço que refaça o trabalho e acompanho o andamento.
b) Não tenho paciência. Prefiro refazer eu mesmo.
c) Dou uma bronca na frente de todos, assim ninguém mais cometerá o mesmo erro.

7. O que você tem feito para atualizar-se nos últimos tempos?
a) Presto atenção em todos os feedbacks que recebo, tentando identificar pontos que posso melhorar. Busco informações sobre as perspectivas da empresa e do mercado para saber em quais aspectos devo melhorar.
b) Leio jornal, acesso a Internet, assino uma revista, além de cumprir os treinamentos que a empresa disponibiliza para mim.
c) Infelizmente, não tenho tido tempo para fazer cursos.

8. O quanto você se preocupa com o desenvolvimento de sua equipe?
a) Muito. Estou sempre procurando saber quais as motivações e o potencial de cada um. Converso com eles a respeito disso e estou sempre alerta às oportunidades que posso oferecer a eles.
b) Preocupo-me. Quando sobra uma verba, procuro enviar um funcionário para uma atualização técnica.
c) Assim como eu vou atrás dos meus objetivos, eles devem fazer o mesmo. Cada um por si.

Fusões e Aquisições: como se adaptar a esta realidade global?

Fusões e aquisições: como se adaptar a esta realidade global?
25 de fevereiro de 2008 às 00:06
Por Carlos Alberto Pescada - DFREIRE

A onda de fusões entre empresas, fruto do ambiente globalizado em que estamos inseridos, tem provocado um grande desconforto aos profissionais, principalmente àqueles que pertencem às empresas adquiridas ou incorporadas. Esse cenário refere-se à forma como as mudanças acontecerão.

Muitos questionamentos surgem nesse momento: Quais as atitudes e comportamentos requeridos para esse novo cenário? Como reagirei ao novo momento profissional? O que o novo chefe quer de mim? Quais as estratégias para essa situação? Quais os novos valores? Quais as habilidades e competências requeridas nas novas atividades? Estou preparado para essa mudança? Haverá cortes?

Na verdade, toda mudança requer dos profissionais uma grande indagação: “Por que não mudamos?” Muitas vezes por insegurança, ameaça ao status quo, medo do novo, etc. Dessa forma, o sentimento de perda instala-se rapidamente e o receio de mudar ou adaptar-se a nova maneira de atuar, cria uma barreira e nos faz resistir a quaisquer benefícios relacionados ao processo. Embora eu acredite que não há o medo de mudar e sim de resistir à transição decorrente dessa mudança.

Refiro-me aqui ao pensamento de William Bridges, no livro Jobshift, no qual afirma que as pessoas não resistem às mudanças – resistem, sim, à transição. A mudança tem duas etapas: uma “maneira antiga” e uma “maneira nova”, enquanto que a transição possui três: um término, quando um indivíduo se desvincula da identidade antiga, mesmo com receio do novo; uma zona neutra, quando uma pessoa se encontra entre duas maneiras de fazer e ser, tendo perdido a antiga, mas ainda não encontrou um modo de conviver com a nova realidade. Por fim, um reinício – quando a pessoa sente-se mais uma vez vontade com a nova identidade baseada em novas condições.

Diante disso, faz-se necessário uma análise do nosso perfil em relação às mudanças que vêm ocorrendo no mundo, quer seja de cunho econômico, social, cultural e organizacional. Será que estamos preparados para a transição a essas mudanças, principalmente no que tange ao processo de fusão ou aquisição da nossa empresa?

As resistências provocadas pelo processo de aquisição e/ou fusão, em termos gerais, acarreta profundos sentimentos de ambigüidade e insegurança nos profissionais. Por isso, reagem com hostilidade aos que lhes dão origem, como por exemplo, não aceitando que se está produzindo uma mudança, mesmo que seja positiva ou negativa. Ignoram, ainda, a mudança e demoram na adaptação de novos comportamentos e atitudes requeridas. Além disso, geralmente as oposições à mudança estão baseadas em falsas lógicas, como o apego aos procedimentos antigos e não ao espírito das diretrizes relativas aos novos, e até mesmo à eliminação ou diminuição dos conhecimentos que já não são necessários para o posto redefinido. Outra causa que também deve ser considerada diz respeito à falta de habilidades necessárias para enfrentar a nova situação.

Para auxiliar os profissionais nesse processo de transição, seguem algumas dicas para que se posicionem diante de uma de fusão e/ou aquisição e como devem se comportar diante da nova organização ou da nova função.

Quanto à nova organização, é aconselhável que o profissional:


Ø Procure saber sobre as novas estratégias da empresa, relacionamentos com clientes e fornecedores;

Ø Conheça as oportunidades e ameaças da sua atuação;

Ø Investigue os objetivos a médio e longo prazos, quem são os novos chefes e quais os perfis;

Ø Procure publicações sobre a nova empresa, mercado em que atua, seus clientes e relacionamentos;

Ø Busque detalhes sobre a sustentabilidade e responsabilidade social.


Para facilitar a transição, os profissionais devem fazer uma análise do seu desempenho e ainda alguns questionamentos e reflexões:


Ø Qual a importância da sua função em relação às novas estratégias;

Ø Quais as suas expectativas, ou seja, o que você realmente quer a essa altura de sua vida?

Ø Quais as suas aspirações – analise e questione cada uma delas; onde você quer viver? O que você quer fazer e como vai querer estar vivendo daqui a cinco anos?

Ø Qual é a sua missão nesta vida?

Ø Reflita sobre o seu perfil questionando sobre o seu estilo natural; como você trabalha melhor? Que tipo de pessoa você é? Onde se sente melhor – trabalho global, detalhado, com pessoas ou sozinho?

Ø Analise seus ativos perguntando-se sobre quais vantagens incidentais você tem? Quais são seus pontos fortes que você pode usar a seu favor? Em quais pontos devo melhorar? O que faz, hoje, que não deve mais fazer e o que não faz que pode ser incorporado aos seus ativos? Inclua aí novos conhecimentos, cursos de atualização, leitura técnica;

Ø Prepare e apresente as suas responsabilidades e funções, seja pró-ativo e não reativo;

Ø Pesquise sites e revistas relacionados às suas competências e funções;

Ø E, principalmente, mantenha atualizada a sua rede de relacionamentos. Quem sabe a busca de uma nova oportunidade é a sua grande decisão?


Carlos Alberto Pescada é consultor do IDORT, especialista em Transformação e Desenvolvimento Organizacional.