sábado, 30 de julho de 2011

A Universidade Federal de Santa Maria foi criada em 1960, através da Lei n° 3.834-C, de 14 de dezembro de 1960, com a denominação de Universidade de Santa Maria, instalada solenemente em 18 de março de 1961. A Universidade Federal de Santa Maria é uma Instituição Federal de Ensino Superior constituída como Autarquia Especial vinculada ao Ministério da Educação. Considerado o ano de 1960 como o de sua fundação, em 2010 comemorou-se o seu cinqüentenário. Ao longo deste tempo, uma dinâmica de Relações Internacionais caracterizou os seus reitorados. Do reitor fundador, professor Doutor José Mariano da Rocha Filho, ao atual, professor Doutor Felipe Müller, tanto recepcionando reitores de outras partes do mundo, quanto visitando Universidades de outros países, criando e promovendo crescentemente uma complexa teia de acordos, convênios e protocolos, a qual, ao longo destes cinqüenta anos foi tecida. Através da pesquisa documental cronológica dos tratados celebrados pela Universidade Federal de Santa Maria, em cada um de seus reitorados, utilizando como fonte o Arquivo Geral desta, podemos inferir sobre a internacionalização da mesma, como resultado da diplomacia universitária. Este alcance internacional, o qual alçou a instituição à uma nível superior de atuação educacional, proporcionou um incremento de laços inter-institucionais, exteriorizado em trocas, cooperação técnica e científica, e, principalmente, intercâmbio de idéias, gerando uma relação de desenvolvimento mútuo a qual fez com que a universidade crescesse ao longo dos seus cinqüenta anos de história. Com certeza, quando se chega ao cinqüentenário com tantas realizações, há que se fazer um balanço do legado da universidade, do passado e do presente, de modo a que nem se perca o desfiar e a lógica dos fatos, nem se desperdice as possibilidades em vigência para o futuro.Inventariar o conjunto dos procedimentos protocolares firmados pelas autoridades universitárias e acadêmicas da Universidade Federal de Santa Maria, desde sua fundação, assim como recuperar a memória das principais tratativas. Desta forma, o projeto de pesquisa 50 Anos de Diplomacia Universitária visa a busca e a catalogação dos convênios realizados entre a presente universidade e instituições de educação, órgãos governamentais de ensino, pesquisa, extensão e tecnologia, além de embaixadas e consulados, do mundo inteiro. Os arquivos que guardam a história da Universidade Federal de Santa Maria serão analisados, fotografados, divididos em períodos referentes à cada reitorado e, ainda, subdivididos de acordo com suas respectivas temáticas. 2.2.1 Inventariar os procedimentos protocolares no período 1960-2009. 2.2.2 Sistematizar e periodizar o conjunto dos documentos [sala dos convênios]. 2.2.3 Microfilmar o conjunto de documentos (cartas, memorandos, atas, fotografias, livros, reportagens jornalísticas, entre outros) de modo a preservar a integridade de seus conteúdos. 2.2.4 Disponibilizar em banco de dados, específico, as informações no meio web. 2.2.5 Produzir uma coleção de livros, alusivos e comemorativos, que constará os resultados da pesquisa, separando o material de acordo com o período de cada um dos reitorados, cada qual com um livro. 2.2.6 Oportunizar aos acadêmicos envolvidos a vivência de uma situação real de produção de conhecimento. 2.2.7 Contribuir com a comunidade universitária através da referida coleta e difusão dessas informações, ainda não sistematizadas.O projeto contempla o cinqüentenário da Universidade Federal de Santa Maria e objetiva dar visibilidade às ações de comemoração e resgatar o rico histórico de tratativas diplomáticas internacionais desta instituição. A construção do objeto deste Projeto dar-se-á mediante duas ferramentas principais. 1] Em consonância com as autoridades universitárias, a localização, a identificação, a catalogação, a microfilmagem, a digitalização e a disponibilização, no meio web, da íntegra dos documentos. 2] E a identificação e a entrevista de autoridades/ pessoas que possam contribuir na composição da memória institucional, aqui referida. O procedimento 1 implicará o acesso, manuseio e a classificação de cada documento. O procedimento 2 será constituído de pesquisa documental junto à Assessoria de Comunicação [releases, filmes], a arquivos pessoais [franqueados], e a memória [entrevistas], os quais deverão receber tratamento editorial adequado de modo a permitir uma narrativa cronológica do contexto.O levantamento completo das atividades de diplomacia universitária perpetrados pelos diversos reitores, ao longo dos cinqüenta anos de atividade institucional, deve convergir para a publicação de uma coletânea de livros, a ser editada pela Editora UFSM, os quais formarão a Coleção dos 50 Anos de Diplomacia Universitária, e a elaboração de um banco de dados, que disponibilize os documento utilizados durante a pesquisa, no meio web.As atividades de pesquisa realizadas até o presente envolveram a análise dos documentos e separação do material desejado para a pesquisa. Este material inclui cartas, memorandos, artigos, livros, fotografias, reportagens jornalísticas, entre outros. Os documentos foram selecionados, organizados, digitalizados, e, por fim, compilados em textos, os quais tornar-se-ão o primeiro livro. Este material inclui a história diplomática da Universidade Federal de Santa Maria desde a sua pré-fundação até o término do primeiro reitorado, o mais longo e próspero de todos, do professor Doutor José Mariano da Rocha Filho. São diversos acordos de cooperação, firmados a partir de várias viagens ao exterior, principalmente à Europa, realizadas pelo reitor. Tanto viagens quanto cartas enviadas a todos os países, fizeram com que a Universidade Federal de Santa Maria tivesse respaldo de governos, embaixadores, intelectuais, e crescesse espelhando-se em exemplos de sucesso mundiais. Prevê-se, para a consecução do Projeto, além de alunos do curso de Relações Internacionais, a colaboração com professores e acadêmicos dos cursos de Arquivologia e de Ciência da Computação. Institucionalmente, convênios com a Comissão da Comemoração do Cinqüentenário, Gabinete do Reitor, Secretaria de Assuntos Internacionais, Editora, direção do Centro de Ciências Sociais e Humanas, chefias de Departamento e coordenações dos Cursos envolvidos. 1° mês - Definir datas e dividir em equipes para a organização da pesquisa; compra de notebooks, impressora, livros, envelopes, papéis para impressão e demais materiais de escritório: grampeador, clipes e etc. 2° mês – A localização, a identificação, a microfilmagem, a digitalização e a disponibilização, no meio web, da íntegra dos documentos. 3° mês – A localização, a identificação, a microfilmagem, a digitalização e a disponibilização, no meio web, da íntegra dos documentos. 4° mês – E a identificação e a entrevista de autoridades/ pessoas que possam contribuir na composição da memória institucional, aqui referida. 5° mês – E a identificação e a entrevista de autoridades/ pessoas que possam contribuir na composição da memória institucional, aqui referida. 6° mês - Acesso, manuseio e a classificação de cada documento. 7° mês - Acesso, manuseio e a classificação de cada documento. 8° mês - Constituído de pesquisa documental junto à Assessoria de Comunicação [releases, filmes], a arquivos pessoais [franqueados], e a memória [entrevistas], os quais deverão receber tratamento editorial adequado de modo a permitir uma narrativa cronológica do contexto. 9° mês – Constituído de pesquisa documental junto à Assessoria de Comunicação [releases, filmes], a arquivos pessoais [franqueados], e a memória [entrevistas], os quais deverão receber tratamento editorial adequado de modo a permitir uma narrativa cronológica do contexto. 10° mês – Constituído de pesquisa documental junto à Assessoria de Comunicação [releases, filmes], a arquivos pessoais [franqueados], e a memória [entrevistas], os quais deverão receber tratamento editorial adequado de modo a permitir uma narrativa cronológica do contexto. 11° mês – Finalização da pesquisa e produção de artigo sobre a mesma. 12° mês – Publicação de livro sobre um dos reitorados que, em conjunto com os demais, formarão a Coleção dos 50 anos da Diplomacia Universitária.
CÂMARA REJEITA ACORDO DEMOCRATA PARA DÍVIDA DOS EUA

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Por 246 votos contra e 173 a favor, a Câmara dos Representantes (deputados) rejeitou um projeto de lei democrata cujo objetivo era a ampliação do limite da dívida dos Estados Unidos. A proposta precisava de, no mínimo, dois terços para ser aprovada.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, vai encontrar o líder democrata no Senado, Harry Reid, e o líder da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, ainda hoje. O intuito do encontro é o de que o presidente receba atualizações acerca do debate.
Se o Congresso falhar em aumentar o teto da dívida até 2 de agosto, os americanos podem enfrentar elevação da taxa de juros e a queda do dólar.
Com o aumento do custo das taxas de empréstimo, hipotecas e empréstimos estudantis ficarão mais caros e o efeito será sentido por grande parcela da população.
IMPASSE
Há meses a Casa Branca e o Congresso estão envolvidos em negociações para chegar a um acordo que permita elevar o teto da dívida pública dos EUA e, assim, evitar o risco de calote.
Nas últimas semanas, o presidente Barack Obama e líderes dos dois partidos --Democrata e Republicano-- se reúnem quase diariamente, mas ainda não conseguiram solucionar o impasse.
Analistas afirmam que o calote da dívida americana poderia provocar um salto da taxa de juros nos Estados Unidos e potencialmente ameaçar a recuperação econômica mundial.
A oposição republicana exige que um acordo para elevar o teto da dívida seja vinculado a cortes no orçamento americano, para reduzir o deficit recorde, calculado em cerca de US$ 1,5 trilhão (R$ 2,3 trilhões) para o ano fiscal que termina em setembro.
Apesar de representantes de ambos os partidos concordarem com a necessidade de reduzir gastos, há muitas divergências sobre o que cortar e que programas atingir.
Os republicanos se recusam a aceitar qualquer proposta que inclua aumento de impostos. Obama, no entanto, insiste na necessidade de acabar com cortes de impostos que beneficiam a camada mais rica da população, criados ainda no governo de George W. Bush.
Os democratas, por outro lado, relutam em tocar em programas sociais que os republicanos querem enxugar.
Obama perde 36 mil seguidores no Twitter em meio à crise da dívida
DA EFE, EM WASHINGTON
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, perdeu mais de 36 mil seguidores no Twitter em um dia, depois que sua equipe de campanha utilizou seu perfil na rede social para pedir mais pressão aos republicanos por conta da crise da dívida.
Obama, o terceiro perfil mais seguido no Twitter do mundo --atrás de Lady Gaga e Justin Bieber--, teve sua lista de seguidores reduzida de 9.402.898 na manhã da sexta-feira para 9.366.634 neste sábado, informou a rede de televisão CNN.
A redução aconteceu depois que a equipe que trabalha para a reeleição de Obama em 2012, e que cuida de sua conta oficial, começou a enviar diversas mensagens pedindo aos seguidores que escrevessem aos legisladores republicanos solicitando um acordo para ampliar o teto da dívida antes de 2 de agosto.
Rapidamente, o perfil se tornou uma lista de nomes de cada um dos congressistas e senadores republicanos, estado por estado, precedidos de mensagens como "assegure que seu representante sabe que você apoia um acordo".
A campanha teve o efeito desejado, pois muitos dos congressistas e senadores republicanos viram de fato aumentar os tuítes dirigidos a eles.
Por outro lado, irritou fiéis seguidores como @Arevill, de Connecticut, que considerou "realmente estranho" o comportamento dos responsáveis pela conta do presidente, após anunciar que tinha deixado de segui-lo, segundo indicou o jornal "New York Daily News".
Horas depois, a equipe de Obama optou por publicar todos os perfis dos republicanos em uma única lista e prometeu moderar suas mensagens a partir de então.
O Congresso dos Estados Unidos estará reunido durante todo o fim de semana para tentar alcançar um acordo de última hora que encerre a crise para elevar o teto da dívida, sem o qual o país entraria parcialmente em moratória na próxima terça-feira.
Após semanas de negociações e concessões de ambas as partes, a Câmara de Representantes aprovou na sexta-feira uma proposta apoiada pelo republicano John Boehner, presidente da Casa, que foi rapidamente bloqueada no Senado, cuja maioria democrata é comandada por Harry Reid.
A Câmara Baixa planeja neste sábado fazer o mesmo com o plano democrata impulsionado por Reid, em uma sessão após a qual o Senado prevê efetuar um voto de procedimento à 1h da madrugada do domingo.
Em relatório, Europol alerta que extrema-direita pode ganhar força

CAROLINA VILA-NOVA
EM BERLIM
A Europol (agência policial europeia) alertou em relatório divulgado neste ano que a extrema-direita na região poderia ganhar novo impulso se os conflitos no Norte da África levassem a um aumento da imigração para a região.
"Caso a instabilidade no mundo árabe, especialmente no Norte da África, leve a um maior fluxo de imigrantes para a Europa, o extremismo de direita e o terrorismo podem ganhar um novo impulso ao jogar com a apreensão generalizada do público sobre a imigração de muçulmanos para a Europa", afirmou o relatório sobre terrorismo e tendências de segurança referente a 2010.
O documento avalia que, embora a ocorrência de atos extremistas da direita tivesse sido relativamente baixa naquele ano, o aumento da profissionalização dos grupos aponta para a intenção desses grupos de expandir sua ideologia, "o que representa uma ameaça para os países-membros".
"[Esses atos] aumentam preocupações sobre a ordem pública, mas não colocaram em risco as estruturas políticas, constitucionais, econômicas ou sociais de nenhum dos países. Mas podem, porém, criar desafios consideráveis ao policiamento e severamente ameaçar a coesão da comunidade", diz o texto.
Após os ataques em Oslo, a Europol criou uma força-tarefa para investigar ameaças da extrema-direita na Escandinávia e possíveis ligações entre grupos extremistas ao redor da Europa. (CVN)
Duas turistas francesas são assassinadas no norte da Argentina

DA FRANCE PRESSE, EM BUENOS AIRES
Duas turistas francesas foram encontradas mortas por tiros em uma região turística da província argentina de Salta (norte), informou uma fonte judicial neste sábado.
"São duas garotas francesas, uma com tiro de bala nas costas e outra na cabeça e com sinais de terem sido abusadas sexualmente", informou o encarregado do caso, juiz Martín Pérez, em declarações ao canal TN.
Os corpos das mulheres, ambas de 30 anos, foram encontrados por turistas argentinos que realizavam uma caminhada pelo cerro San Lorenzo, 12 km a oeste da capital de Salta, 1.600 km ao norte de Buenos Aires.
"Vamos colocar à disposição do juiz toda a logística do governo, Salta precisa urgentemente do esclarecimento desse fato", disse o governador da província, Juan Manuel Uturbey, em coletiva de imprensa.
Uturbey explicou que a identidade das vítimas já é conhecida, apesar de não tê-las tornado públicas, e adiantou que o governo "colocará todo o necessário à disposição dos familiares" para que possam viajar a Salta.
O governador afirmou que a região onde os corpos foram encontrados é um local explorado por "uma empresa habilitada pelo Ministério do Turismo e pelo município de San Lorenzo".
O magistrado admitiu que os escassos habitantes do local "habitualmente estão armados, mas com espingardas, que utilizam para caças, mas a bala encontrada em uma das jovens é de calibre 22", uma arma de pequeno porte.
A descoberta ocorreu na noite de sexta-feira, quando turistas argentinos que realizavam uma caminhada pelo local viram um dos corpos e avisaram a polícia, que ao percorrer a região encontrou a outra vítima em um barranco próximo.
Cuba extingue proibição de venda de eletrodomésticos de alto consumo


DA EFE
O governo cubano acabou com a proibição que vigorava desde 2003 para as vendas de equipamentos eletrodomésticos de alto consumo, como aparelhos de ar condicionado, fornos e duchas, em resposta às necessidades da população e do setor de trabalho privado.
Uma agência de notícias oficial informou hoje a medida do Ministério de Comércio Interior, explicando que as medidas são direcionadas a atender a demanda da população e dos trabalhadores.
A lista de produtos inclui uma equipamentos elétricos usados em serviços de alimentação, como fogões, fornos, fritadeiras, cafeteiras, panelas e fogões. Também passam a ser vendidos condicionadores de ar, chuveiros elétricos e aquecedores elétricos.
Em 2008, o governo do presidente Raúl Castro suspendeu a proibição para cubanos para comprar eletrodomésticos, como computadores, aparelhos de vídeo de todos os tipos, panelas de pressão e arroz, bicicletas e alarmes de carro como parte de sua política para acabar com o excesso de proibições.
A nova resolução faz parte da expansão do trabalho privado em Cuba, uma das principais reformas econômicas promovidas pelo governo para "atualizar" o modelo socialista e superar a crise que se arrastou desde o colapso do bloco socialista europeu.
Líderes turcos negam crise após renúncia coletiva de generais

DA REUTERS, EM ISTAMBUL
Para os líderes políticos turcos o sábado foi um dia como os outros, negando qualquer crise ou simplesmente não mencionando a renúncia dos quatro principais comandantes militares do país.
O general Isik Kosaner, chefe do comando geral, se demitiu na sexta-feira seguido pelos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, em protesto contra a detenção de 250 oficiais, sob acusação de conspirar contra o governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan.
Mais de 40 generais na ativa, quase um décimo dos comandantes seniores da Turquia, estão detidos no momento, acusados de vários complôs para derrubar o partido governista AK de Erdogan.
As relações entre os militares resolutamente secularistas e o socialmente conservador Partido Justiça e Desenvolvimento (AK) do premiê são tensas desde que ele assumiu o poder em 2002 devido à desconfiança das raízes islâmicas da agremiação de Erdogan.
A saída dos generais causou tumulto entre os militares e consternação no mercado financeiro, mas pode se mostrar uma oportunidade para Erdogan ampliar sua autoridade sobre as outrora dominantes forças armadas turcas, as segundas maiores da Otan.
O presidente Abdullah Gul, ele mesmo um ex-membro do AK, fez pouco caso do significado das renúncias.
"Ninguém deveria ver isto como algum tipo de crise ou problema persistente na Turquia", disse Gul aos repórteres neste sábado.
"Indubitavelmente, os eventos de ontem foram uma situação extraordinária em si mesmo, mas tudo segue seu rumo."
Erdogan disse em um discurso pré-gravado transmitido no sábado que sua prioridade é levar adiante os planos de uma nova constituição, que segundo ele irá impulsionar a democracia, e não mencionou as demissões das altas patentes.
"Acredito que nossa maior tarefa é preparar uma nova constituição, democrática e liberal, sem limitações e ao encontro das necessidades de hoje", afirmou o premiê no discurso à nação. Não ficou claro quando a gravação foi feita.
Em uma mensagem de despedida aos irmãos de armas, Kosaner declarou ser impossível continuar em seu posto sem poder proteger os direitos de seus homens, que foram detidos em consequência do que chamou de um processo judicial falho.
"É impossível aceitar sua detenção como se estivesse alinhada com os princípios da lei universal, da justiça e dos valores morais", disse Kosaner.
Chefe da unidade da CIA no Paquistão deixa o país
DA FRANCE PRESSE, EM WASHINGTON
O chefe da CIA no Paquistão, que supervisionou a operação que descobriu o esconderijo de Bin Laden, deixou o país asiático por razões médicas, disse um oficial americano.
A CIA não quis comentar o tema.
"O chefe da unidade [da CIA] é um alto e respeitado funcionário que tinha toda a fé e a confiança das pessoas de Washington", disse à AFP o oficial, que pediu para não ser identificado.
"A maioria das pessoas concordam sobre o papel do funcionário em uma das maiores vitórias da inteligência de todos os tempos e significa que essa pessoa é muito efetiva, não importa o que os paquistaneses pensam."
Citando fontes paquistanesas e americanas, a emissora de televisão ABC News disse que não se espera o retorno do funcionário, que estava à frente de um dos postos mais delicados da CIA no mundo.
Esta é a segunda saída do posto em sete meses, depois que seu antecessor foi obrigado a deixar o cargo quando um funcionário paquistanês admitiu que seu nome tinha sido vazado.
Funcionários americanos e paquistaneses disseram à ABC que esperam uma melhora nas relações entre a CIA e a agência paquistanesa ISI, que qualificaram como "extremamente tensas" com o já ex-chefe da central americana de inteligência nesse país asiático.
Republicanos admitem acordo com governo Obama sobre dívida dos EUA

DE SÃO PAULO


Líderes republicanos no Congresso dos Estados Unidos indicaram neste sábado que estão próximos de um acordo com o presidente Barack Obama a fim de aumentar o teto da dívida americana e evitar um possível calote, segundo informou a rede de televisão norte-americana CNN.

Ainda de acordo com a emissora, duas horas depois, o líder democrata no Senado, Harry Reid, disse que as afirmações dos republicanos "não eram verdade".

Se o Congresso falhar em aumentar o teto da dívida até 2 de agosto, os americanos podem enfrentar elevação da taxa de juros e a queda do dólar.

Com o aumento do custo das taxas de empréstimo, hipotecas e empréstimos estudantis ficarão mais caros e o efeito será sentido por grande parcela da população.

O líder da minoria no Senado, Mitch McConnel, declarou a jornalistas que falou com Obama e com o vice-presidente, Joe Biden, "na última hora" e que ficou "confiante e otimista" de que haverá "um acordo nisso em um futuro próximo".

Ele afirmou ainda que um calote nacional "não deverá acontecer".

O líder republicano da Câmara dos Representantes (deputados), John Boehner, também expressou otimismo quanto a um acordo --hoje, a Casa rejeitou, por 246 votos contra e 173 a favor, um projeto de lei democrata cujo objetivo era a ampliação do limite da dívida. A proposta precisava de, no mínimo, dois terços para ser aprovada.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, também vai encontrar o líder democrata no Senado, Harry Reid, e o líder da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, ainda hoje. O intuito do encontro é o de que o presidente receba atualizações acerca do debate.

IMPASSE

Há meses a Casa Branca e o Congresso estão envolvidos em negociações para chegar a um acordo que permita elevar o teto da dívida pública dos EUA e, assim, evitar o risco de calote.

Nas últimas semanas, o presidente Barack Obama e líderes dos dois partidos --Democrata e Republicano-- se reúnem quase diariamente, mas ainda não conseguiram solucionar o impasse.

Analistas afirmam que o calote da dívida americana poderia provocar um salto da taxa de juros nos Estados Unidos e potencialmente ameaçar a recuperação econômica mundial.

A oposição republicana exige que um acordo para elevar o teto da dívida seja vinculado a cortes no orçamento americano, para reduzir o deficit recorde, calculado em cerca de US$ 1,5 trilhão (R$ 2,3 trilhões) para o ano fiscal que termina em setembro.

Apesar de representantes de ambos os partidos concordarem com a necessidade de reduzir gastos, há muitas divergências sobre o que cortar e que programas atingir.

Os republicanos se recusam a aceitar qualquer proposta que inclua aumento de impostos. Obama, no entanto, insiste na necessidade de acabar com cortes de impostos que beneficiam a camada mais rica da população, criados ainda no governo de George W. Bush.

Os democratas, por outro lado, relutam em tocar em programas sociais que os republicanos querem enxugar.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Juro sobe na Grécia, Itália e Espanha com cenário de incerteza


DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Os juros dos títulos da dívida da Grécia, Itália e Espanha atingiram novos recordes nesta segunda-feira desde a criação da zona do euro.

Diante das dúvidas sobre uma solução para a crise da dívida na região, os títulos com vencimento de 10 anos -- considerados uma referência -- chegaram a 17,72% no caso grego, 6,25% os espanhóis e 5,90% os italianos.

Os juros recordes sinalizam desconfiança dos investidores e aumento da percepção de risco de calote.

Nesta quinta-feira, os líderes da União Europeia se reunirão para tentar fechar um plano de ajuda à Grécia, indispensável para evitar o contágio para economias maiores.

As diferenças de opinião entre a Alemanha e o BCE (Banco Central Europeu) sobre como ajudar a Grécia é apontado como a principal dificuldade para se bater um martelo para um acordo.

Diante do impasse, o nervosismo do mercado não foi dissipado pelo resultado do teste de estresse aplicado nos bancos europeus na sexta-feira passada (15), em que apenas 8 de 90 bancos foram reprovados.

O teste mostrou solidez de bancos italianos e espanhóis, que poderia aliviar as tensões no mercado. Mas o teste foi considerado fácil, por isso a maioria dos bancos foi aprovada.

A avaliação não levou em consideração, por exemplo, um possível calote grego.
Standard & Poor's ameaça baixar nota do grupo News Corp.


DA FRANCE PRESSE

A agência de classificação de risco Standard & Poor's informou nesta segunda-feira que considera baixar a nota do grupo de mídia News Corp., atualmente em BBB+, devido ao escândalo de escutas ilegais protagonizado pela empresa no Reino Unido.

A decisão da Standard & Poor's "reflete o aumento dos riscos associados às atividades e à reputação" do grupo, "em um momento em que o processo judicial amplia-se", disse a agência em comunicado.

FBI abre investigação sobre News Corp. nos EUA
Entenda as denúncias contra o tabloide "News of the World"
Escândalo fecha jornal britânico após 168 anos; saiba mais
Veja cronologia do escândalo dos grampos

"O processo judicial no Reino Unido ampliou-se e as pressões provenientes de legisladores americanos em favor de uma investigação do FBI ficaram mais intensas", completa a S&P.

O escândalo das escutas já provocou uma dezenas de prisões no Reino Unido, sobretudo a da ex-diretora-geral do braço britânico da News Corp., Rebekah Brooks.

A Polícia Federal americana anunciou paralelamente em 14 de julho que tinha aberto uma investigação sobre escutas telefônicas feitas pela News Corp. nos Estados Unidos.

Esses fatos, assim como "outros espisódios recentes, aumentam os riscos vinculados à reputação, à gestão e aos procedimentos judiciais que enfrenta atualmente a News Corp. e suas filiais", estima Michael Altberg, analista na S&P, citado no comunicado.

ESCÂNDALO

Há anos existem denúncias e relatos de que repórteres do tabloide "News of the World" acessaram ilegalmente mensagens de telefones de políticos, celebridades e membros da família real para obter informações exclusivas.

Nas últimas semanas, o escândalo ganhou novas proporções com denúncias de que vítimas de crimes e até familiares de soldados mortos nas guerras do Afeganistão e Iraque foram grampeados. Há ainda relatos de que o tabloide teria pago propina a policiais por informações.

Nesta semana, a comandante da Operação Weeting, que investiga os grampos, Sue Akers admitiu ao Parlamento que apenas 170 pessoas foram contatadas até agora de uma lista de 3.870 nomes, 5.000 telefones fixos e 4.000 celulares.

O "News of The World" pertencia ao grupo News Corporation (News Corp.), um dos maiores conglomerados mundiais de mídia, pertencente a Murdoch.

O tabloide era o jornal mais vendido aos domingos no Reino Unido, com uma circulação média de quase 2,8 milhões de exemplares. Sua última edição, com o título "Obrigado e Adeus", circulou no domingo, dia 10 de julho, após decisão de Murdoch de fechar a publicação de 168 anos.

O escândalo também teve repercussão nos negócios de Murdoch. Ele se viu obrigado a retirar a oferta de adquirir a totalidade das ações do canal pago BSkyB, da qual já possui 39%.

Com agências de notícias
Argentina - Uma recuperação de alto risco
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JUDE WEBBER
DO "FINANCIAL TIMES"

Aprender com a experiência pode ser uma máxima útil. Mas como fica isso se a lição for um calote e a experiência for a da Argentina?

Enquanto a Grécia se aproxima cada vez mais da beira do abismo, a dívida irlandesa e portuguesa é rebaixada para o status de "junk", ou instável, e a palavra "calote" surge ameaçadora no horizonte dos Estados Unidos, autoridades argentinas apontam com alguma arrogância para o crescimento alto e sustentado de seu país. Isso, elas afirmam, comprova não apenas que existe vida após a maior moratória soberana do mundo, como também que essa vida pós-calote pode ser uma festa.

"A visão convencional foi desmentida", disse Mercedes Marcó del Pont, chefe do banco central argentino, em entrevista recente à televisão, aludindo às receitas de dívida-mais-austeridade propostas à Grécia. "Vamos prender a bola e olhar para o que aconteceu com a economia em escala global. Vamos aprender com o que aconteceu em muitos países em desenvolvimento, como a Argentina, que fizeram coisas que desafiaram a visão convencional por completo e que tiveram resultados muito bons para nós."

Recentemente o economista laureado com o Nobel Paul Krugman apresentou o mesmo argumento. Fazer a coisa supostamente certa deu muito errado para a Argentina no final dos anos 1990; e, embora a moratória tenha desencadeado uma recessão selvagem, em pouco tempo ela deu lugar a uma recuperação veloz e prolongada. "Com certeza o exemplo argentino sugere que o calote é uma ótima ideia", ele argumentou em um post em um blog do "New York Times".

Antes da moratória argentina sobre uma dívida soberana de US$100 bilhões, em 2001, a ideia parecia ser praticamente impensável. Na época, o país era o exemplo da região em matéria de políticas econômicas liberais. Mas, à medida que um pacote de resgate internacional foi se seguindo a outro, a dívida só fez crescer. Ao mesmo tempo, os protestos sociais se multiplicavam, na medida em que o sistema argentino de taxa de câmbio fixa impunha a deflação a uma economia cada vez menos competitiva (isso pode parecer muito familiar, pelo menos à primeira vista, para qualquer pessoa que esteja acompanhando os acontecimentos na Grécia).

Hoje a Argentina é a prova de que um país pode, sim, dar as costas ao consenso internacional, declarando moratória e quebrando um câmbio fixo "inquebrável", e ainda viver para contar a história. No entanto, o resultado final não é tão atraente nem tão simples e direto quanto sugerem alguns de seus proponentes.

A recuperação vem sendo impressionante -- a economia cresceu 65% entre 2002 e o início da crise financeira mundial em 2008; a previsão de crescimento para 2011 acaba de ser elevada para 8,2%. Mas o governo ainda não conseguiu limpar a mácula do calote que manchou a reputação argentina, nem convencer o mundo de que seu populismo heterodoxo constitui uma receita sustentável para se administrar um país.

"O modelo", como a presidente Cristina Fernández descreve o misto de políticas empregado no país, vem funcionando muito melhor e por muito mais tempo do que muitos julgavam ser possível. Pelo fato de a Argentina continuar isolada dos mercados internacionais de capitais, ela tem superávits comerciais e fiscais gêmeos. Conservar competitiva a taxa de câmbio é fundamental para essa abordagem, já que isso ajuda a gerar um superávit na balança de pagamentos, ao mesmo tempo proporcionando incentivos aos exportadores. Essa opção não estará aberta aos estrategistas gregos enquanto sua moeda continuar a fazer parte da zona do euro.

Outra característica crucial foi o compromisso rígido com a disciplina fiscal assumido por Néstor Kirchner, o microadministrador marido de Fernández, que, como presidente entre 2003 e 2007, fiscalizou as receitas tributárias com olho de lince. Desde 2007, contudo, essa disciplina vem sendo menos rígida, e inflação vem subindo à medida em que o governo passou a recorrer à impressão de dinheiro para fazer frente a algumas de suas necessidades financeiras. Estimativas privadas sugerem que a Argentina esteja rumando para uma inflação de 25% ou mais este ano, o quinto ano seguido de inflação de dois algarismos. O governo, por sua parte, afirma que a inflação está em 9,7%.

Há outros sinais de alerta piscando. Os gastos públicos vêm subindo mais que a receita tributária. Os polpudos subsídios energéticos e aos transportes parecem cada vez mais insustentáveis. As eleições presidenciais de outubro, nas quais Cristina Fernández tem boas chances de conquistar um segundo mandato, significam que essa política de mão aberta não deve terminar tão cedo.

Tudo isso vem solapar a imagem da Argentina no próprio momento em que o governo crê que o país, orgulhoso por ter ingressado no grupo das 20 economias líderes, tem valiosas lições maiores a oferecer.

Para Fernández, que vem comandando o país sozinha desde a morte repentina de seu marido em outubro passado, a injustiça disso é palpável. Na visão dela, o Fundo Monetário Internacional, que moldou a política econômica nos anos anteriores à moratória, errou em seu diagnóstico da Argentina, prescrevendo políticas neoliberais nefastas. Mais recentemente, ela acredita, as agências de classificação erraram no diagnóstico da crise financeira. No entanto, o mundo ainda reluta em reconhecer a recuperação argentina ou levá-la a sério.

Uma razão disso é que, mais além dos números estelares do crescimento, o quadro geral é desigual. Para começar, o boom deve muito a fatores globais. A Argentina é uma das maiores produtoras mundiais de commodities, e a agricultura compõe 35% de suas vendas ao exterior. Ademais, não apenas a China está sedenta dos recursos naturais argentinos, como a classe média do vizinho Brasil, seu principal parceiro comercial, está avidamente comprando carros, o maior produto de exportação manufaturado da Argentina.

"O comércio vive um momento de alta histórica. Este é o melhor mundo possível para a Argentina", diz Lucio Castro, do Cippec, um instituto de estudos sediado em Buenos Aires. "Mas, tirando os setores intensivos em recursos naturais, a produtividade no resto da economia é baixa, e a informalidade é altíssima."

O desemprego, que ficou em 7,4% no primeiro trimestre, é baixo, mas o índice de investimento é medíocre: 19,4% do PIB. Enquanto isso, diz Castro, a produtividade "não é ruim -- é lamentável".

Enquanto isso, após anos de carência de recursos, o sistema de ensino do país, antes admirado, foi reduzido a uma sombra do que era. Críticos afirmam que o mesmo pode ser dito do escritório governamental de estatísticas, que passou a ser submetido à influência maior do governo, levando muitos a cogitar que as cifras relativas à inflação, pobreza e crescimento venham sendo apresentadas sob ótica demasiado positiva.

A razão entre dívida externa e PIB da Argentina é de invejáveis 35%, mas Claudio Loser, o mais alto funcionário do FMI para a América Latina na época da moratória, calcula que o país ainda deve até US$16 bilhões, incluídos os juros, a donos de obrigações que foram alvos do calote. Isso, apesar de duas trocas de obrigações que reestruturam 92,4% da dívida sobre a qual foi declarada a moratória. A Argentina também deve US$ 7 bilhões a governos ocidentais, e, embora seja largamente vista como estando disposta a pagar, a impressão geral é que não se dispõe a fazer isso sob quaisquer termos senão os que ela própria definir.

Embora não haja nenhum calote despontando no horizonte, é possível que haja turbulência pela frente. Mark Weisbrot, do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington, que enxerga mais mérito do que muitos analistas econômicos nas estratégias do governo argentino, reconhece: "Nenhum modelo econômico funciona para sempre. O maior problema que a Argentina enfrenta é que sua inflação está mais alta que as de seus parceiros comerciais, de modo que a moeda começa a se valorizar em termos reais. Mas a Argentina não se encontra à beira de um precipício."

Entretanto, a prova de que o país não pode apostar tudo em uma economia em crescimento é o fato de que -- tirando os chineses, que fecharam três acordos energéticos multibilionários no ano passado -- os investidores não estão correndo para a Argentina.

A inflação, a agitação trabalhista, uma crise energética e a política econômica imprevisível de um governo intervencionista que em 2008 nacionalizou os fundos de pensão privados, tudo isso pode dificultar os negócios com o país, para dizer o mínimo. Enquanto isso, a fuga de capitais chegou a estimados US$60 bilhões ou mais nos últimos quatro anos e vem se acelerando, superando de longe os US$ 26 bilhões que a Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe calcula que entraram no país como investimentos externos diretos desde 2007.

Ademais, o governo caiu em contradição em relação a um princípio fundamental: o combate à pobreza. Um esquema de benefícios a crianças mostrou ser altamente popular, mas a inflação erodiu estimados 30% de seu valor real. Um estudo recente também constatou que 50% da população é pobre ou corre o risco de ficar pobre, apesar de dados oficiais indicarem um índice de pobreza de pouco menos de 10%. Roberto Lavagna, que, como ministro da Economia de 2002 a 2005, ajudou a arquitetar a recuperação da Argentina, descreve isso como "uma contradição insuperável para um governo que tem um discurso progressista e populista".

Enquanto isso, instituições vêm sendo erodidas, e a interferência do Estado vem crescendo. Bancas de jornais foram fechadas temporariamente por venderem o "Clarín", o jornal diário de maior circulação no país e crítico acirrado do governo. O governo multou consultorias privadas por divulgarem dados sobre a inflação vistos como enganosos, chegando a abrir uma ação criminal contra uma delas. É ignorado o fato de analistas dizerem que o índice de inflação oficial possibilitou ao governo fazer economias enormes com os pagamentos de suas obrigações reajustadas segundo a inflação.

Então em que pé a Argentina se encontra agora? Apesar de ter se recuperado excepcionalmente bem da moratória, Loser diz que seu país de origem "está se tornando irrelevante". Um dos países mais ricos do mundo um século atrás, a Argentina ainda tem a maior renda per capita da região, com base na paridade do poder de compra. Mas sua importância relativa "caiu vertiginosamente", sua economia tem apenas um sexto das dimensões da economia brasileira e um terço da mexicana. "O país que vai superar a Argentina em pouco tempo, se a Argentina não se cuidar, é a Colômbia, que está crescendo bem e de modo muito mais racional", diz Loser.

O resultado é que a Argentina se apresenta isolada, coadjuvante de peso menor no G20, superada em seu ritmo de crescimento pelos países queridinhos do mercado emergente. Seu engajamento internacional parece limitar-se à busca de apoio para suas negociações com o Reino Unido em torno das disputadas Ilhas Malvinas.

Embora falar de um esfriamento da economia seja tabu, analistas dizem que o governo precisa começar a controlar a inflação e a estabilizar a taxa de câmbio real, que torna provável alguma desvalorização após a eleição. Nos últimos 18 meses o peso caiu quase 8% em relação ao dólar.

"O governo tem uma política monetária e fiscal pró-inflacionária que é incoerente com a política de câmbio", fala Martín Redrado, demitido da presidência do banco central no ano passado em função de uma batalha sobre o uso das reservas para pagar parte da dívida. "Mais cedo ou mais tarde as duas coisas vão entrar em choque."

Isso não significa que uma quebra ao estilo antigo seja obrigatória. "A Argentina não vai explodir como fez antes", acrescenta Redrado. "Mas está se encaminhando para uma tempestade."

O governo se orgulha do fato de que os profetas da catástrofe já mostraram estar enganados antes _e, por enquanto, a soja é a salvadora da pátria. Enquanto a fuga de capitais vem se acelerando, quase US$100 bilhões em receitas agrícolas entraram no país nos últimos quatro anos, e, a não ser que os preços das commodities ou as condições meteorológicas mudem muito, a Argentina pode estar muito bem posicionada.

Mesmo assim, ela corre o risco de continuar sendo um modelo do que não deve ser feito, em lugar de ser um exemplo promissor do que fazer.

"Daqui a 20 anos a história vai nos perguntar: 'O que vocês fizeram com a bonança (das commodities)?' Houve um aumento no consumo, nas empresas públicas e nos salários, ou foram feitos investimentos em infraestrutura, saúde e economias para uma fase de dificuldade?", diz Castro. "Não estamos fazendo nossa lição de casa e nos convertendo em um país desenvolvido."

PETRÓLEO E GÁS

"A economia energética foi totalmente alterada por más intervenções do Estado"

Se existe um calcanhar de Aquiles evidente no chamado "modelo" do governo argentino -- um misto de políticas econômicas baseado em superávits comerciais e fiscais e uma moeda competitiva --, é a política energética.

Ao mesmo tempo em que Buenos Aires se gaba de sua economia em franco crescimento, a cada inverno as fábricas são obrigadas a passar por apertos para conseguir o gás de que precisam para continuar a produzir. No setor agrícola, crucial para a economia, não é incomum o diesel faltar no auge da colheita.

De fato, a indústria é mantida com suprimentos energéticos escassos para evitar a perspectiva politicamente intragável de restringir o suprimento para os consumidores residenciais. Nos dez anos passados desde a moratória, estes se acostumaram a pagar preços fortemente subsidiados, não tendo, portanto, incentivos para restringir seu consumo. "A economia energética da Argentina foi totalmente alterada por más intervenções do Estado", disse o analista de energia Francisco Mezzadri.

Apesar do fato de possuir grandes reservas de petróleo e gás, incluindo reservas vistas como estando entre as maiores do mundo de gás de xisto, de extração difícil, a Argentina se tornou importadora líquida de energia. Enquanto o Brasil vem fazendo investimentos pesados para desenvolver suas reservas marítimas maciças descobertas recentemente, no mês passado a Argentina assinou um contrato de 20 anos para compras gás natural liquefeito do Qatar por um preço não revelado -- um acordo que é pouco provável que seja o último de seu tipo.

O mercado energético argentino, fortemente regulamentado, tampouco conseguiu atrair os investimentos necessários para aumentar a capacidade de refino tanto quanto seria necessário para acompanhar a demanda doméstica.

Embora o governo negue que exista um problema energético, este mês ele teve dificuldade em encontrar US$1,5 bilhão adicional para financiar seus subsídios ao setor, tendo esgotado na metade do ano o dinheiro que havia reservado para esse fim. Se o crescimento alto continuar, o que significa que a indústria precisará de mais combustível, a energia continuará a onerar as finanças de um país em que os gastos públicos cresceram 34,5% entre maio de 2011 e maio deste ano.

Enquanto isso, os campos de petróleo e gás em final de viabilidade, com produtividade mais baixa e falta de investimento na exploração, somados aos subsídios crescentes aos preços e tarifas do setor (os subsídios chegaram a US$6,3 bilhões no ano passado), vêm levando a uma queda vertiginosa na produção e nas reservas. O setor energético também está no vermelho.

"A Argentina, que em 2006 tinha um superávit comercial energético de US$ 5,6 bilhões, vai chegar ao fim de 2011 com um déficit estimado em US$ 3 bilhões", disseram oito ex-secretários da Energia este mês em documentado redigido para funcionar como alerta sobre a fragilidade energética, antes da eleição presidencial de outubro.

Não será fácil elevar as tarifas de energia em um tempo de inflação alta. A alternativa será continuar a subsidiar o consumo energético com recursos do Estado que poderiam ser empregados para fazer mudanças estruturais para reduzir a pobreza.

Se Cristina Fernández for reeleita, como se prevê, ela terá que efetuar mudanças, diz Mezzadri -- "sob pena de esta política acabar convertendo a Argentina em um país que troca a soja (seu produto de exportação mais rentável) por energia."

Tradução de Clara Allain
Venezuela tem a maior reserva de petróleo no mundo, diz Opep


DE SÃO PAULO

A Venezuela ultrapassou a Arábia Saudita em tamanho de reservas confirmadas de petróleo cru em 2010, conforme informou relatório anual da Opep (Organização do Países Exportadores de Petróleo).

Segundo o documento, as reservas venezuelanas chegaram a 296,5 bilhões de barris no ano passado, crescendo 40,4% em comparação a 2009. O nível das reservas da Arábia Saudita ficou em 264,5 bilhões de barris.

O governo venezuelano já havia afirmado em janeiro deste ano que havia ampliado as reservas petrolíferas no país a aproximadamente 297 bilhões de barris, mas o número ainda aguardava a confirmação da Opep, uma vez que a quantia era baseada em informações da estatal venezuelana PDVSA e das empresas transnacionais no país.

Levando em conta o mesmo critério, o Brasil era o 14º no ranking de maiores reservas comprovadas de petróleo em 2010, com um total de 12,9 bilhões de barris. O valor corresponde a um crescimento de 0,4% em relação a 2009.
Boa noite!

TERCEIRO MÓDULO: RENASCIMENTO INGLÊS – CIÊNCIA, MÚSICA E LITERATURA. Tivemos no I módulo: a discussão sobre a Guerra das Duas rosas e a Guerra dos cem anos. No II Módulo, a era elisabetana e os conflitos pelo poder. Ainda teremos nesse fim de semestre de 2010, o quarto módulo e a oportunidade de conhecermos um dos nove dramas históricos shakesperianos.

Hoje III módulo: Renascimento inglês: ciência, música e literatura. Falarei sobre o movimento em geral, destacando os principais elementos e alguns personagens. Na próxima semana, teremos A OPORTUNIDADE DE DEBATER SOBRE BACON, MORUS E OS LIBERAIS INGLESES. NO NOSSO ÚLTIMO ENCONTRO, SOBRE OS GÊNIOS UNIVERSITÁRIOS.

RENASCIMENTO INGLÊS: CIÊNCIA, MÚSICA E LITERATURA. POIS BEM, desde o fim da década de 80, no século XVI, a rainha Elisabeth governava a Inglaterra como uma déspota esclarecida mas amada pelo povo. Nos seus mais de 1000 vestidos ornados com ouro e prata, era comparada a Deusa Diana ou Astréia, sua figura sacrossanta era cantada em prosa e verso. Spenser em seu Faire Queene dava esse tom mágico e fantástico a imagem da rainha Virgem.

Para a maioria dos estudiosos o renascimento inglês teve seu apogeu durante o período elizabetano. Ao que chama dos anos dourados. Ou seja de 1558 a 1603. Embora o movimento renascentisa inglês dure até 1660. Apesar também da historiadora britânica afirmar que o movimento inglês não chegou ao fim e nem teve decadência como na Itália e na França.

O Renascimento inglês em seu poder e em suas limitações é apontada por Sichel como a versão mais estranha do movimento. Não houve decadência como já disse anteriormente. Mas não houve pintura e escultura. Houve tentativa e esforços para criar escolas inglesas mas teve pouco sucesso. Pintura e escultura inglesa foram medíocres.

Porém, por outro lado, os ingleses podiam vangloriar-se de uma poesia, de um drama, de uma prosa não rivalizados por nação alguma. De um fertilidade súbita que só pode ser comparada a eclosão de arte na Itália durante o período do Cinqueccento.

No setor da música, também, grandes coisas foram feitas. Nunca, antes ou depois, a Inglaterra deu ao mundo tantos compositores. De fato, os destinos da música estavam atrelados ao da poesia. Dowland, morley, Orlando Gibbons, Weelks, Wilbye criaram o madrigal, assim como os poetas evocavam o soneto.

Byrd, Tallis, e John Bull emprestaram seu brilho à música sacra. 20 compositores colaboraram na realização de Triumphs of Oriana, uma coleção de canções.

Na Ciência, Bacon diante de seu Lema saber é poder visou a expansão da dignidade e grandiosidades humanas. Bacon pertence ao grupo dos principais empiristas clássicos britânicos: Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704), George Berkeley (1685-1753) e David Hume (1711-1776). O empirismo desenvolveu-se, inicialmente, sobretudo na Inglaterra, como afirma o professor Danilo Marcondes: “podendo ser considerado como representativo da burguesia inglesa que, a partir do século XVII, passou a deter não só o poder econômico, mas também o político, através da monarquia parlamentar, fato que marca o nascimento do liberalismo”. O interesse pelo mundo da experiência concreta e uma filosofia política baseada na teoria do contrato social e na submissão à lei da maioria são características dessa visão.

Na literatura, poetas, dramaturgos, prosadistas, teólogos transcendem qualquer época, pertencem a todos os tempos. O Nome de Shakespeare transcende Também o lugar e pertence ao mundo inteiro.

Mas uma colheita de estrelas de segunda e terceira grandeza fazem parte da herança inglesa desse grande movimento. Esses homens trouxeram para a literatura da Inglaterra o soneto inglês, a canção inglesa, o drama inglês. A canção e o drama já existiam mas foram eles que deram nova forma e inauguraram o reinado da lírica – vegetação infinitamente multicolorida, multifragrante, fresca, luxuriante. Sir Thomas Wyat e o Conde de Surrey importaram o soneto petraquiarno. Soneto esse modificado, transformado, manipulado, de leis menos mecânicas e mais elásticas do que as escolas de Petrarca com a proeminência de duas linhas finais que são o clímax e a síntese do conjunto.

Mas o verdadeiro crescimento do renascimento inglês é a capacidade emocional. A vida é maior que a arte e arte só pode viver enquanto interprete a vida. É característico da Inglaterra que ela soubesse conciliar a arte e a fé, a beleza e a religião. A poesia da Inglaterra elisabetana é profundamente religiosa. Possui um tom metafísico, primitivo e humano. Como no grito do coração de Walter Raleigh: “mas desta terra, deste túmulo, deste pó que confio em que meu Deus me erguerá”.
Mas a maior parte da poesia elisabetana é marcada por ser a poesia amorosa mais rica da Europa moderna. É cheia de uma força espiritual que lhe dá peso; de sentimento que é a religião do coração. Sentimento, energia dramática, força lírica.

O Drama inglês nasceu sob uma boa estrela. Banharam-se na luz esplendida da aventura. Hawkins explorava, Drake fazia suas homéricas viagens a Índia. Raleigh descobria Virginia, HAKLUT ESCREVERIA SUAS Viagens e descobertas da Nação inglesa.

As guerras da ESPANHA, A Conquista da Irlanda, as intrigas da Corte, faria os heróis. Essex, Leicester, Sir Richard Grenfell, a própria rainha. Esse drama representado no mundo exterior influenciou o drama inglês no palco.

Do ponto de vista literário, antes da chegada de Shakespeare a Londres, havia rapazes menos talentoso na busca da fama. O jovem de mais destaque era Christopher Marlowe. Marlowe criador do dr Faustus, de Tamburlaine e Edward II, um gênio lírico, um mestre de sublimes elogios.

Lutando para aparecer – como Robert Greene, Thomas Nashe, George Peele, Thomas Lodge, John Lily; eram diplomados por Oxford e Cambridge e abriam caminho juntos, com peças de boa bilheteria, que produziam com a mesma rapidez com que as trupes conseguiam encená-la, e competiam para ver quem menosprezava mais, zombando de outros colegas. Orgulhavam-se de sua poesia rebuscada e erudita e dos panfletos polêmicos, dedicando-se a escrever peças apenas como uma forma nova e fácil de ganhar dinheiro.

Greene, rival de Shakespeare, cansado e desgastado, pobre e bêbado chegando ao final das forças e da vida, escreveu Um Tostão de sabedoria comprado com um milhão de arrependimento, dirigindo esse panfleto a Shakespeare, o “shake scene (sacode cena, brincadeira usando o verbo to shake). Assim, Greene legou à posteridade a primeira menção da presença de Shakespeare em Londres como dramaturgo refutando a ideia conspiratória de alguns autores dizerem que Francis Bacon utilizava-se do pseudônimo William Shakespeare.

Outras estrelas: Webster com sua Duquesa de Malfi e Vitoria COROMBONA é o mais profundo de percepção. Beaumont e Fletcher são os finos MESTRES DE OFÍCIO, SUAVES E EQUILIBRADOS. Ford de O coração partido rivaliza com Webster na intensidade trágica. Messinger em seu modo de Pagar velhas dívidas e seu duque de Milão se destaca na percepção aguda.

Dekker, Kyd, Midlleton, Marsnton são uma legião de autores que brilham e são ofuscados pela sua maior estrela: William Shakespeare.

Emoção, fé, sentimentos, criatividade, religião, amor....expressões que marcam o Renascimento inglês.

Obrigado!
A sede de poder

A peça Ricardo III escrita por William Shakespeare entre 1592 e 1593, integra a tetralogia da Guerra das Duas Rosas, drama histórico que goza de enorme popularidade e prestígio pelo vigor poético e temática envolvente. Trata-se de um dos textos mais encenados de Shakespeare e, desde o dia 18 de maio a capital paulista abriga duas montagens simultâneas de profunda sensibilidade nos quesitos interpretação e adaptação. No teatro Ágora, a montagem de Ricardo III é dirigida por Roberto Lage com adaptação do texto por Celso Frateschi que, também, encabeça o elenco de quatorze atores. No teatro da Faap com tradução e adaptação do escritor, humorista e apresentador Jô Soares que dirige elenco de quinze atores, entre outros, Marco Ricca, Glória Menezes e Denise Fraga.
Tanto o teatro como a política são espaços nos quais somos levados a participar. Ambos exigem engajamento, envolvimento, unidade entre representantes e representados, cumplicidade entre ator (político) e público (cidadãos). William Shakespeare nos revela, através da presente obra, o diálogo entre a política e arte e, consegue manter, evidentemente, a atualidade da peça para os nossos dias.
Vivemos uma época em que as práticas e o discurso político são associados à mentira, a farsa, ao engodo de maneira descarada. A ética do indivíduo concebida e desenvolvida no Renascimento se hipertrofiou na contemporaneidade. Notam-se as conseqüências desse ultra-individualismo nas inúmeras doenças culturais que se manifestam na sociedade brasileira: cultura da esperteza, da transferência de responsabilidade, do imediatismo e do superficialismo, do negativismo e da baixa auto-estima, da vergonha da cidadania e patriotismo, do rir da própria desgraça, do desperdício, do consumismo, do tecnicismo, do corporativismo, da politicagem, do fisiologismo e do nepotismo e, por último, a cultura do conformismo. Tais comportamentos viciosos proliferam-se na esfera dos três poderes do Estado - Executivo, Legislativo e Judiciário – como se observa nos sucessivos escândalos que marcam os noticiários políticos dos últimos anos.
Sabe-se que o poder político permeia as relações humanas e sociais de forma intensa e, por vezes, devastadora. Na visão de Jean-Marie Domenach, todos somos, ao mesmo tempo, vítimas e culpados, ao estarmos imersos no mundo da política; não há saídas, nem lugares para fugir, as forças políticas opostas se confrontam e se justificam num estado de contradição impactando na sociedade.
Inúmeros pensadores, tais como: Maquiavel, Locke, Foucault, Bertrand Russel ocuparam-se em discutir as práticas coletivas dos meandros do poder e das ações sociais. Shakespeare vai além. Em Ricardo III, o poder político se apresenta sem disfarces. O bardo inglês realiza a teatralização da política expressando as tensões e paradoxos que atravessam a esfera do poder: o potencial com que a Política pode contribuir ou impedir a melhoria da condição humana. Nesse sentido, a política para Shakespeare é uma atividade tipicamente humana caracterizada pelo binômio: motivação pelo poder e a inevitabilidade do conflito. Surge daí, uma das novidades da nova perspectiva de compreensão da política, ou seja, o reconhecimento da permanência do conflito. Caracterizar, portanto, a política moderna ou contemporânea é entendê-la como jogo de forças opostas resultantes dos inconciliáveis desejos humanos. Tal "choque de interesses" evidencia o caráter trágico do jogo político: conquista, manutenção e perda do poder.
A tragédia do rei Ricardo III trata da permanente disputa do poder a qualquer preço e a falta de escrúpulos para a conquista e manutenção dele. Nela, o protagonista é um sujeito manco e corcunda, cuja aparência disforme, segundo o próprio, o impede de usufruir dos prazeres da conquista amorosa, mas não alçar vôos mais altos. No solilóquio inicial ele planeja como chegar ao poder mesmo sendo o sétimo na linha sucessória. Para alcançar seu objetivo, se utiliza de expedientes vis: conspira, manipula, explora, agrega apoios, promove alianças por conveniências momentâneas, articula adesões e coalizões, persegue e condena à morte os opositores. Movido pela sede de poder Ricardo III articula-se nas sombras, ao longo dos atos e cenas, até alcançar o triunfo almejado: o trono inglês. Para se livrar de quaisquer suspeitas de seu envolvimento nas tramas e urdiduras palacianas ele faz uso de subterfúgios conhecidíssimos: esconde-se sob o manto da religiosidade, sobriedade, humildade e outros artifícios de valores éticos e morais.
Assim o escritor inglês nos ensina, entretém e diverte. Através da arte teatral fornece elementos constitutivos do homem contemporâneo e suas relações. Essas movidas, muitas vezes, por uma ética individual refletida no uso indiscriminado de inúmeras máscaras como no jogo teatral; múltiplos disfarces agindo conforme interesses ou determinadas circunstâncias. Temos, então, o religioso, o ateu, o humilde, o simples, o culto, o ignorante, o moralista, o liberal, o caipira, o urbano, o ético, o ideológico, o pragmático, o vilão, o herói, o solidário, o benemérito, o sensível, o delicado, o paz e amor, etc. Todos, devidamente, direcionados ao público alvo a ser atingido.
Na tragédia política Ricardo III captamos essa ética sendo forjada e desenvolvida. Shakespeare nos revela essa “ética” como um instrumento de poder e nos proporciona ironicamente mergulhar em nossas consciências individuais e notar em nosso interior a presença da sede de poder: o complexo Ricardo III. O teatro moderno representado nas peças de Shakespeare, bem como o exercício da política na contemporaneidade concebe os homens como sujeitos da história impulsionados à participação - uma das exigências da democracia - não se admite o desinteresse, a passividade e fundamentalmente a despolitização. No palco da política sejamos atores e não espectadores, público da tragédia política.
CONHECENDO E RELENDO OS DRAMAS HISTÓRICOS SHAKESPERIANOS

As atividades do Curso de extensão Conhecendo e relendo os Dramas Históricos shakesperianos prosseguirão no segundo semestre de 2011.
Em 2010, o Curso de extensão organizado pelo Núcleo Prisma – Pesquisas em Relações Internacionais de Santa Maria - e coordenado pelo professor Dr. José Renato Ferraz da Silveira – estudioso há doze anos dos Dramas históricos shakesperianos e da História Medieval e Moderna inglesa - teve quatro módulos: 1° módulo, tratou da Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e da Guerra das Duas Rosas (1455-1485); 2° módulo, discutiu as batalhas pelo poder durante a ascensão e o governo de Elisabeth I (1558-1603); 3° módulo, debateu sobre a Renascença inglesa - os gênios universitários e a filosofia inglesa (Francis Bacon, David Hume, Thomas Hobbes); 4° módulo, enfatizou de modo geral os Dramas históricos e a peça Ricardo III.
Em 2011, o Curso de Extensão discutirá a tetralogia da Guerra das Duas Rosas – trilogia Henrique VI e a peça Ricardo III.

Shakespeare e o teatro moderno

Apesar de Shakespeare não ser um historiador, é rigoroso e preocupado de desenvolver a sua dramaturgia, a sua imaginação, a partir de fatos reais, ou pelo menos, mundanos. A história e a geografia acabam sendo fontes da ação dramática para Shakespeare.
Antes dele, a ação dramática tinha como tema central o relacionamento dos homens com o divino e, num segundo plano, com a sociedade e com o Estado. Shakespeare não precisou de plano mítico para discutir os problemas de seu tempo, porque busca na história e nos homens, a ligação para discutir problemas, tais como: aspirações nacionais, triunfos e fracassos de personagens reais, filosofia humanista, política exterior, direito divino dos reis, questões religiosas, direito dos indivíduos, etc.
Shakespeare inaugura o Teatro Moderno Ocidental, revolucionando as bases do teatro, mudando seu sentindo de forma irreversível. Ao narrar uma história emocionante e reflexiva sobre a vida e morte, a obra de Shakespeare fascina todo tipo de platéia: desde que a procura o teatro como mera diversão até a que busca formas de pensamento mais profundas.
Ele criou uma variedade de personagens complexas e coerentes entre si, o que por si só, já bastaria para a sua dramaturgia estar viva até os dias de hoje. Suas personagens são quase todas formadas por ativas personalidades, desde heróis que conquistam coroas ou a glória, até andarilhos ou vagabundos que roubam bolsas e dormem em celeiros, desde rainhas apaixonadas até marafonas promíscuas e donzelas núbeis que se vestem com roupas de rapazes para seguir os homens de seu desejo. Modificou o conteúdo do teatro, o objeto do teatro, definiu a emancipação definitiva do teatro de todas as amarras, temáticas e formais, anteriores, deu profundidade e individualidade às personagens, atingindo um nível antes nunca aproximado na sondagem do homem e seu relacionamento com o processo histórico, construindo uma dramaturgia inesgotável. Os conflitos nas peças Shakespearianas são produzidas invariavelmente pelo exercício da vontade humana. O homem luta contra o homem e não contra Deus, a hereditariedade ou os distúrbios glandulares. O drama shakesperiano é o drama da vontade individual. Os personagens de Shakespeare são apresentados com perspectiva e multidimensão. Trabalhou o claro-escuro, como depois dele o fez nas telas o mestre Barroco Caravaggio, tendo, porém a pena como pincel. Não só usou os recursos fortemente contrastantes dentro da mesma peça, alternando, de um ato para outro, de uma cena para outra, momentos de escuridão com outros de luz, como também nos gêneros, saltando da tragédia para uma hilariante comédia.
Podemos dizer então que, ele ao ousar criar um novo conteúdo, foi o poeta mais renascentista, humanista e moderno de seu tempo, acabando por se tornar o cânone do teatro ocidental moderno. Shakespeare, o guia de diversas idades, de moços e velhos, e o verdadeiro realizador, o gênio do teatro como nunca mais houve outro, mágico encantador das almas, para quem o mundo era como o palco onde podia exibir seus sonhos de artista. Primeiro foram as comédias e as histórias, depois as tragédias sobre temas antigos e modernos; fábulas, histórias, sagas, lendas, novelas tudo enfim que estava ao alcance dum inglês desse tempo. Shakespeare tornou-se o primeiro autor universal, substituindo a Bíblia no consciente secular.
Shakespeare situa seus textos dramáticos num tempo e espaço específicos, não mais num tempo, espaço ou história mítica. Suas peças se passam em Verona, em Roma, em Atenas, na Dinamarca, etc. Isso acaba por mudar o conteúdo do próprio Teatro.

Os Dramas Históricos

Ao todo são nove Dramas Históricos: a trilogia Henrique VI, Ricardo III (tetralogia da Guerra das Duas Rosas), as duas partes de Henrique IV, Henrique V, Ricardo II, Henrique VIII.
A trilogia Henrique VI retrata um “bom” governante, mas incapaz de governar. Como descreve Churchill, “Henrique VI era piedoso, calmo, gentil por natureza, débil de corpo e pusilânime de mentalidade. Era incapaz de resolver uma situação que breve derivaria para uma guerra civil. No realismo político, às vezes o governante “bom” e “virtuoso” traz prejuízo aos interesses coletivos, da mesma forma que a violência não pode ser condenada de antemão, de acordo com a visão realista de Nicolau Maquiavel.

A trilogia Henrique VI

Henrique VI Parte 1 (1590)

Nessa peça, encontramos Shakespeare ainda um jovial aprendiz de seu ofício. A construção é mais livre e um ingrediente indispensável na trama é o tema da vingança, tão apreciado pelo público elizabetano.
A parte 1 divide-se entre a crescente resistência dos franceses à ocupação inglesa e os acontecimentos políticos na corte inglesa.
A grande personagem da peça é Joana D´Arc. De fato, parece um grande tributo a ela e também a resistência francesa. Joana é uma líder, ativa e dotada de inúmeras e elevadas qualidades que a tornam uma das grandes heroínas das peças históricas de Shakespeare.
A perda da França leva a Inglaterra à guerra civil e esse é o tema da segunda parte de Henrique VI.

Henrique VI Parte 2 (c. 1590)

Na segunda parte de Henrique VI somente os mais cruéis sobrevivem. Nisso o rei Henrique VI é um bom homem mas que fracassa como governante. Fica nítido que Shakespeare insinua que apenas um governante duro, até mesmo cruel, possa ser eficiente. Henrique deseja livrar-se do trono para o qual nasceu e por sua vez, York, está ansiosamente desejoso de tomá-lo. Conforme o crítico literário Victor Kiernan “Shakespeare tinha algum tipo de fascínio por tais personagens e seu desejo nietzschiano de poder”.
De acordo com os críticos Victor Kiernan e Harold Bloom, as cenas mais empolgantes da Parte 2 são aquelas que tratam de Jack Cade e de sua rebelião. Há uma mistura do sério, cômico e grotesco. As falas de Cade são paradoxais, jocosas e envolvem sensatez e insensatez ao mesmo tempo. O seu fim trágico revela a brutalidade e a insensibilidade social da nobreza.



Henrique VI Parte 3 (c. 1591)

Na Parte 3, Victor Kiernan afirma que Shakespeare nessa peça apresenta um sem-número de versos sem inspiração e há uma busca de construir personagens mais sólidos.
O assassinato é parte constante e normal dessa trama. Como reitera Kiernan “sangue clama por mais sangue, e Shakespeare tem de exagerar na agonia, para manter o interesse”
Em determinados momentos, o bardo protesta contra a desumanidade do homem contra o próprio homem.
Henrique VI, fraco e dominado por sua esposa megera e seus comparsas é morto no final pelo Duque de Gloster, futuro Ricardo III. O irmão deste, Eduardo IV, torna-se rei. Libertino e egoísta demonstra como a monarquia está em decadência. Gloster, ao final da peça, trama maldades. E Shakespeare constrói , enfim, seu grande personagem. A cena dramatizada no Curso de Extensão terá vínculo com essa roupagem despida pelo Duque de Gloster.
1. A GUERRA DAS DUAS ROSAS (1455 – 1485)

Envolveu a Casa de York, que tinha como insígnia uma rosa branca e, a Casa de Lancaster, com uma rosa vermelha de símbolo. Ocorreu durante os reinados de Henrique VI (deflagração da guerra), Eduardo IV e Ricardo III.
Em maio de 1455, tivemos o início da guerra em St Albans. A casa de York impôs a demissão de um membro do conselho do rei Henrique VI, pertencente à casa de Lancaster. Ao final da batalha o rei fora aprisionado pelos de York e Ricardo de York assumiu o poder.
A segunda batalha ocorreu em setembro de 1459, com a vitória dos de York, em Northampton. Um ano depois, em Wakefield, Margarida de Anjou, esposa de Henrique VI, derrotou os de York com ajuda de um exército do País de Gales. Ricardo, o duque de York, faleceu em batalha. Logo no ano seguinte, Eduardo, o novo duque de York derrotou os de Lancaster e foi consagrado rei com o nome de Eduardo IV. A rainha Margarida e o rei Henrique VI refugiaram-se na Escócia, apoiados por Luiz XI da França.
Em 1470 Eduardo IV fugiu ao sofrer perseguição. Henrique VI retorna ao trono. No ano posterior Eduardo IV volta, com o auxílio do Duque de Borgonha e, derrota os de Lancaster em Barnet. Foi aprisionado Henrique VI (que falecera na seqüência), a rainha Margarida e seu filho.
Os últimos combates da guerra foram travados entre Ricardo III, da Casa de York, e Henrique Tudor, da Casa de Lancaster, que saiu vitorioso em 1485. Ocorreu a união das duas Rosas em uma única dinastia, assegurada posteriormente pelo casamento de Henrique Tudor com Elizabeth de York, filha de Eduardo IV. A guerra significou o enfraquecimento da nobreza e, em contra partida a afirmação do poder absoluto do rei.


2.1. As batalhas da Guerra das Duas Rosas.

A partir da recuperação mental do rei Henrique VI, Ricardo, o duque de York, deixa de ser seu protetor e a Rainha Margarida assume seu posto. Fora entregue ao duque de Somerset o governo de Calais, antes pertencente ao seu rival, Ricardo, que também não foi mais convidado para reuniões do Conselho do Rei. Um grande Conselho de Pares foi convocado e, temendo ser julgado, Ricardo, duque de York retira-se para Yorkshire, fortemente armado e, denuncia Somerset.
A casa de York foi a luta com três mil homens contra menos que isto por parte da Rainha, do Rei, da Corte e do partido Lancastrino. Houve luta e os Yorkistas saíram vitoriosos; os duques de Somerset e Clifford morreram.
Os exércitos eram pequenos e, nenhuma cidade grande foi cercada, pois, o apoio destas fazia-se necessário. O combate, sendo entre nobres, prevalecia o senso de honra e o respeito às localidades neutras. Houve um declínio da Cavalaria com o início da utilização dos canhões.
Na primeira luta, em St. Albans (1455), os da Casa de York ganharam, porém, eram os Lancastrinos que tinham a maioria dos nobres e o rei ao seu lado. Ocorriam contínuas provas de força, não só em campanhas, mas em reuniões no Parlamento. Entre 1456 a 1459 ocorreu um período tenso de trégua.
A guerra reiniciou em 1460, em Northampton. Sob o comando do duque de Warwick, lordes Yorkistas ocuparam base na Calais e na Gales e enfrentaram os Lancastrinos e a Corte, que fugiu em pânico. Com a queda da rosa vermelha, Ricardo, duque de York, dirigiria o governo e sucederia Henrique VI depois de sua morte. Entretanto, havia a Rainha Margarida e seu filho, o Príncipe de Gales, mesmo deserdado do pai, estavam em liberdade. Os Lancastrianos apanharam de surpresa os Yorkistas em dezembro de 1460, em Wakefield. Ricardo de York foi morto. “Até este momento, a disputa fora entre os magnatas amadurecidos e “tranqüilos”, profundamente envolvidos em negócios do Estado e procurando arduamente manter certos limites. Agora, uma nova geração assumia o comando”.
O novo duque de York, Eduardo, investiu contra o conde de Wilshire e os Lancastrianos galenses. Em dois de fevereiro de 1461, na Batalha de Mortimer's Cross, derrotou-os. Quinze dias após, a rainha Margarida derrotou o duque de Warwick, na Segunda Batalha de St Albans. A Rainha, juntamente com o seu marido, o Rei Henrique VI, tinha plena soberania na Coroa. Mas, quando Eduardo de York entrou em Londres, todos os cidadãos que haviam se submetido à Margarida e ao Rei, o aplaudiram. Em quatro de março de 1461, o então duque de York torna-se Eduardo IV.
A Rainha, que sustentou a causa Lancastrina, enfrentou-o nas proximidades de York, e foi derrotada. Em 28 de junho, Eduardo foi coroado Rei em Westminster. Margarida, como Rainha da Inglaterra e princesa francesa, tinha o apoio da Escócia e França.
Em 1462, Margarida desembarcou com uma força poderosa no Norte. O Rei Eduardo IV reuniu suas forças Yorkistas e iniciou o cerco a Newcastle e, seus pesados canhões devastaram os castelos, ganhando a batalha. O rei perdoou os nobres de Lancaster, desde que jurassem lealdade. Mais tarde foi traído por estes. Em 1463, trouxe auxílios de seus aliados. Os de York se puseram em campo e, com seus canhões, derrotaram seus oponentes. Margarida foge para a França com o seu filho e, separa-se de seu marido, para sempre.
No Natal de 1463, Somerset trai o rei e tenta apoderar-se de Newcastle. Não obstante, foi surpreendido pelos Yorkistas e, obrigado a fugir. Em 25 de abril de 1464, houve uma revolta dos de Lancaster em Hedgely Moor, que foi destruída. “Entrementes, a diplomacia da Coroa inglesa efetuara uma trégua de quinze anos com o Rei da Escócia e era poderosa tanto na Corte da França como na da Borgonha”.


2.2. As aventuras de Eduardo IV: o rei da “carinha bonita”

Eduardo IV confirmou sua coroa em combate mas, após a luta, mostrou-se desinteressado pela soberania. Era jovem e preferia seus divertimentos; deixava a política para seus lordes: o conde de Warwick e o duque de Northumberland.
Certo dia conheceu Elisabeth Woodville, ou Wydvil, a qual era viúva de um cavaleiro Lancastriano. Eduardo IV cedeu aos encantos da bela Elisabeth e, em 1464 casou-se em segredo com ela. “Um casamento real naqueles tempos podia ser uma união de paz entre Estados vizinhos ou o meio para uma guerra bem sucedida.” (p.12) O melhor seria que desposasse Isabella da casa de Espanha ou uma princesa francesa, visando o favorecimento dos interesses ingleses.
Quando descoberto o casamento selado, a relação entre sir Warwick, o fazedor de rei que orquestrava um casamento arranjado, e o Rei Eduardo IV foi estremecida. O conde de Warwick estava em seu apogeu, pois detinha popularidade e poder efetivo; porém tinha conhecimento do grande guerreiro em Eduardo IV. O Rei, percebendo essa ascensão do conde de Warwick, começou a se interessar mais pelos negócios. A Rainha Elisabeth tinha cinco irmãos, sete irmãos e seus dois filhos com sir John Grey, por decreto real, elevados à alta categoria ou casados nas maiores famílias. Esta nova nobreza que se formou, a qual não fizera nada de significante na guerra, rondava o rei e representava perigo e uma ofensa para Sir Warwick e seus companheiros.
Visando um balanço de poder (Balance of Power), Eduardo IV casa sua irmã Margarida com Carlos, o Atrevido, que em 1467 sucedera a seu pai como duque de Borgonha. Desta maneira a Inglaterra poderia contrabalancear o poderio francês da época com um importante aliado, que era Borgonha, segundo Estado mais forte da Europa Ocidental.
Warwick traça um plano contra Eduardo IV e consegue trazer para o seu lado o irmão do rei, duque de Clarence, tratando um acordo que se a família da Rainha, os Woodvilles, ele tomaria o poder. Ofereceu em troca a mão de sua filha, Isabella. Começou o ataque com um levante no Norte. Milhares de homens no Yorkshire tomaram armas para queixar-se dos impostos e do Rei. Enquanto isto, a Câmara dos Comuns peticionava contra a administração real, que era negligente e perdulária. Eduardo IV viu-se obrigado a marchar ao Norte.
Como não havia guarda real, Eduardo IV convocou seus nobres para levarem seus próprios homens. Isso evidencia a dependência do Rei para com seus nobres. O que revela a decadência da Autoridade Real. Ao ser atraído ao Norte, Warwick e Clarence retornam de seu refúgio em Calais para Londres. Interceptaram e executaram as tropas que apoiariam o Rei e, tornaram-no prisioneiro. Eduardo IV via como único amigo seu irmão, Ricardo de Gloucester, conhecido como “Corcunda”. Warwick e Clarence explicaram-no que seu reinado seria de acordo com seus conselhos.
Na realidade, Warwick, o fazedor de rei, tinha os dois reis rivais, Henrique VI e Eduardo IV, como seus prisioneiros. Quando a situação tornou-se conhecida, os lordes Yorkistas viram com espanto de forma negativa a detenção de seu soberano, Eduardo VI. Já os Lancastrinos queriam aproveitar a briga interna dos de York ao seu favor. Warwick, Clarence e a Corte selaram um acordo, restabelecendo a força do Rei para derrotar os rebeldes de Lancaster. Em troca proclamou sua lealdade em favor do Rei, o que era apenas aparências.
Em março de 1470 o rei chama suas forças às armas sob o pretexto de reprimir uma rebelião Lancastriana em Lincolnshire. Na ocasião obteve uma confissão de Sir Roberto Willes, o qual acusou Warwick e Clarence de traição. Então o Rei, saindo vitorioso, resolve marchar repentinamente contra seus traidores, que fogem.
O fazedor de rei, privado de todos os seus recursos, foi à França suplicar ajuda a Luiz XI. Dois anos antes o soberano francês fora ameaçado de guerra por Eduardo IV, aliado a Borgonha e, agora estava ele com dois exilados da Guerra das Duas Rosas, Margarida (Lancaster) e Warwick (York). Tendo esta sorte, Luíz XI propôs a Margarida e a seu filho de dezessete anos, Warwick e provavelmente Clarence a unirem-se para derrubar Eduardo IV. O pacto foi selado pelo noivado do filho de Margaret, o príncipe de Gales, com a filha mais nova de Warwick, Anne.
Não obstante, Clarence recebeu o perdão de seu irmão, Eduardo IV, que o queria como aliado; ele dissimulou o acordo com os franceses e aceitou a oferta, não imediatamente. Quando Warwick incitou, ao seu mando, uma insurreição em York, Eduardo marchou até lá para controlá-la. Enquanto isso, Warwick e Clarence desembarcaram em Dartmouth, em setembro de 1470.
O fazedor de rei foi a Londres, libertou Henrique IV e colocou-o no trono. A maior parte do reino se revoltou contra o Rei, que se refugiou na Corte da Borgonha. Foi protegido pelo seu cunhado, Carlos, o Atrevido, que temia o eminente ataque de França e Inglaterra.
Carlos não só apoiou Eduardo IV como lhe forneceu cerca de mil e duzentos leais soldados. Eduardo IV desembarcou no porto de Humber, distrito Lancastrino não resguardado. Ao iniciar sua marcha sobre Londres, conseguiu evitar Montagu, irmão do fazedor de reis, com efetivos quatro vezes superiores aos seus, que deveria interceptá-lo. Juntou-se ao seu exército e, junto com seu aliado Duque de Clarence, entrou em Londres e aprisionou novamente Henrique VI.
Na decisiva batalha de Barnet, em 14 de abril de 1471, o conde de Warwick foi derrotado. Neste dia, Margarida de Anjou desembarcou na Inglaterra com um bando de mercenários franceses e seu filho, o Príncipe de Gales, que estava disposto a lutar pela Coroa ou morrer. A luta volta a ser entre os de York e os de Lancaster. Eduardo IV, em 4 de maio, forçou à batalha de Tewkesbury. Os dois lados defrontavam-se na formação de três setores: direita, centro e esquerda, sendo que a posição defensiva de Lancaster estava mais forte. Eduardo tinha uma excepcional mobilidade em suas tropas. “Somerset comandava a esquerda de Margarida, Lorde Wenlock e o príncipe de Gales no centro e Devon à direita. O rei Eduardo exercia um comando mais geral.” (p.19)
Somerset atacou o centro de seu adversário sem avisar seus companheiros e, Eduardo IV contra atacou em linha, atrasando o último exército da casa de Lancaster. Somerset foi decapitado, Margarida foi capturada e o Príncipe de Gales morreu bravamente em batalha.
Reinando supremo, Eduardo IV amadureceu e se desiludiu. Em 1475, invadiu a França, mas avançou até Picquigny, perto de Amiens. Lá fez um acordo com Luís XI, com a finalidade de torná-los fortes e seguros na paz. Luís XI ofereceu a Eduardo IV em troca a importância de 75 mil coroas pagas de uma só vez e mais um tributo anual de 50 mil. O Tratado de Picquigny foi fechado, contudo, Carlos, o Atrevido, seu aliado na Borgonha, ofendeu-se.
Eduardo IV trabalhou para conter o orgulho nacional, deixou uma fortuna e permitiu que a nação se tornasse forte de novo. Ele nunca mais confiou em Clarence, que zombava dele e desafiava os tribunais reais. Em janeiro de 1478, o Rei convoca o Parlamento a fim de condenar Clarence. Este pode escolher como seria a sua morte. Shakespeare conta que, o Duque foi afogado num tonel de vinho Malmsey.
Ricardo, o Duque de Gloucester, irmão do Rei, casou-se com Anne, filha do fazedor de rei. A Rainha Elisabeth tivera dois filhos e cinco filhas. Em 1483 Eduardo IV falece repentinamente, deixando seu trono ao seu filho de doze anos Eduardo, o imaturo.


2.3. O astuto Ricardo III

Com a morte inesperada de Eduardo IV, a autoridade real foi desmanchada. O país ficou sobre o Protetorado de Ricardo de Gloucester. O primogênito do Rei vivia sob os cuidados de seu tio, Lorde Rivers.
A maioria da antiga nobreza se reuniu em torno de Eduardo, que lamentavam a sua minoridade. Na cavalgada que Eduardo fez ao encontro de sua coroação em Londres, encabeçada por Lorde Rivers e seu sobrinho Grey, caíram em uma cilada de Ricardo de Gloucester. Ricardo aprisionou Rivers e Grey e, tendo Eduardo em sua posse, mentiu-lhe sobre um plano de seu tio de tomar-lhe o poder e oprimir a velha nobreza. A coroação foi por várias vezes adiada, até o dia em que Ricardo resolveu aprisionar Eduardo na Torre.
Entretanto, a Rainha Elisabeth e seu filho restante ainda encontravam refugiados em Westminster. Ricardo apoderou-se do pequeno príncipe e levou-o junto ao seu irmão, de onde jamais sairiam.
O casamento de Eduardo IV com Elisabeth Woodville foi impugnado, em decorrência do suposto pré-contrato de casamento de Eduardo com Eleanor Butler, o que tornaria os jovens herdeiros ilegítimos. Ricardo usou este segredo para justificar sua usurpação e assumir a Coroa, por ser irmão do Rei morto, como sucessor legítimo.
Com a coroação, o Rei torna-se Ricardo III, o qual possui título reconhecido e confirmado pelo Parlamento. Durante os seus primeiros três meses, Buckingham, de seu principal adepto, tornou-se seu inimigo mortal. Este descendia de Eduardo III, tanto através dos Beauforts como de Thomas de Woodstock, logo, era um pretendente em potencial à Coroa.
Ricardo III esforçava-se para causar uma boa impressão, mas, depois do desaparecimento das crianças da Torre em que foram aprisionadas, em julho de 1483, o crime atroz nunca mais foi esquecido ou perdoado.
Buckingham preparou um levante geral para 18 de outubro e Henrique, conde de Richmond, com o auxílio do duque da Bretanha, desembarcaria na Gales trazendo reforços. O povo irado com o assassinato dos jovens antecipou à revolta. O Rei Ricardo venceu e restabeleceu a ordem no país, revivendo o Parlamento e fazendo uma série de medidas populares que não tiveram o efeito preterido.
Em abril de 1484, seu único filho, o príncipe de Gales, morreu e sua esposa, Anne, não podia mais ter filhos. Henrique Tudor, conde de Richmond, tornou-se então evidentemente o pretendente e sucessor rival ao trono. Richmond viveu, por sua sorte, exilado e em privação. Havia voltado à Bretanha, onde recebeu abrigo mas, ao saber que estava prestes a ser pego por seu rival, foge para a França, que tinha a política geral de manter vivas as disputas inglesas.
Chegou-se ao ponto em que tanto Yorkistas como Lancastrianos afastaram-se de Ricardo e encaminharam-se para Richmond. Seu casamento que se projetava com a filha mais velha de Eduardo IV, Elizabeth, oferecia a perspectiva de encerrar definitivamente a luta dinástica.
Em março de 1484, Ricardo III tentou reconciliar-se com a Rainha viúva Elizabeth, prometendo sustentá-la e casar suas filhas com cavalheiros. Resolveu aceitar e esquecer o possível casamento de sua filha mais velha com Richmond.
Em 1° de agosto, Richmond embarcou em Harfleur com ingleses, tanto Yorkistas como Lancastrianos, e tropas francesas. Ele proclamou Ricardo como usurpador e rebelde contra ele mesmo e foram à luta. Os Stanleys estavam incumbidos pelo Rei Ricardo III a interceptar Richmond, porém eles se juntaram a Richmond, cometendo traição. Ricardo lançou-se a luta para derrotar seu inimigo, mas acabou perdendo a guerra e morrendo em luta. O Conde de Richmond, Henrique Tudor torna-se rei da Inglaterra, sendo a partir de então Henrique VII.
A Guerra das Duas Rosas chega ao fim sem nenhum vencedor das Duas Casas. O casamento de Henrique VII com a princesa Elizabeth inicia a linhagem dos Tudors, com a participação dos de York e dos de Lancaster. Em 1485 a Idade Média também chega ao seu fim. A Inglaterra entra em uma nova era sob a Dinastia Tudor, que terá suas agitações com a Renascença e a Reforma. Seu início teve Henrique VII como monarca.
Ato I Cena I Londres: Uma rua.

Duque de Gloster

E agora o inverno de nosso desgosto
Fez-se verão glorioso ao sol de York
E as nuvens que cobriam nossa casa
Agora estão todas enterradas no oceano
Nossas frontes ostentam em coroas
Da Glória, os braços erguem-se em estátuas
O alarma foi mudado em bons encontros,
As marchas em compasso de alegria
E a guerra – com o semblante transformado
Em vez de galopar corcéis hirsutos
Para aterrar as almas do inimigo
Vai saltitar no quarto de uma dama
Ao lascivo tanger de um alaúde
Mas eu, sem jeito para o jogo erótico,
Nem para cortejar o próprio espelho
A que sou rude, e a quem falta a majestade,
Do amor para mostrar-me ante uma ninfa;
Eu, que não tenho belas proporções,
Errado de feições pela malícia
Da vida, inacabado, vindo ao mundo
Antes do tempo, quase pelo meio,
E tão fora de moda, meio coxo,
Que os cães ladram, se deles me aproximo...
Eu que nesses fraquíssimos momentos
De paz não tenho doce passatempo
Senão ver minha própria sombra ao sol
E cantar minha própria enfermidade:
Já que não sirvo como doce amante,
Para entreter esses felizes dias,
Determinei tornar-me um malfeitor
E odiar os prazeres destes tempos,
Armei conspirações, graves perigos,
Profecias de bêbados, libelos,
Para pôr meu irmão Clarence e o rei
Dentro de ódio mortal, um contra o outro,
E se o rei Eduardo for tão firme
Quanto eu sou falso, fino e traiçoeiro,
Inda este dia Clarence será preso,
Pois uma profecia diz que G
Será o algoz dos filhos de Eduardo.
Fugi meus pensamentos, Aí vem Clarence.
A Guerra das Duas Rosas

1. O conflito

- Série de batalhas travadas nos governos dos reis Henrique VI, Eduardo IV e Ricardo III entre os nobres (rosa branca) e os de Lancaster (rosa vermelha) de 1455 a 1485.

2. Sobre o conflito

- Brutal, marcado por uma violência política desmedida caracterizada pela vilania de seus personagens principais, intrigas, conspirações, dissimulação. Melhoria na tecnologia militar com arcabuzes, canhões e bestas mais sofisticadas.
a) Bem vindo Traidor.
b) Lorde Wenlock
c) Clarence
d) Os filhos de Eduardo IV
e) Owen Tudor
f) Cabeças espetadas nos portões da cidade

3. Para entender o conflito

- O estopim da guerra é o conflito político entre o Duque de York e Somerset, favorito e ministro do Rei Henrique VI.

4. Os personagens

- Henrique VI
- Eduardo IV
- Ricardo III
- Margareth
- Elizabeth Woodville
- Duque de York
- Somerset
- Clarence
- Warwick
- Os principes
- Buckingham
- Lorde Stanley
- Henrique Tudor
5. Principais batalhas

- St Albans (1455): primeira batalha
- Wakefield (1460): morte de Ricardo e reviravolta dos LANCASTER
- Townton: Vitória dos Yorks sob comando de Eduardo
- Barnet: derrota de Warwick
- Tewkesbury: morte do filho de Henrique VI e do próprio Henrique
- Bosworth Field: batalha final


6 As consequências da Guerra

- É retomado o processo de afirmação do poder régio na Inglaterra.
- Início da Idade Moderna e fim da Idade Média, Guerra das Duas Rosas, descentralização política
- Início da dinastia Tudor (absolutismo inglês com suas peculiaridades)
- União das Duas Rosas em uma única dinastia – Henrique com Elisabeth de York, filha de Eduardo IV
- Até Jhonny rotten, vocalista do Sex Pistols imita os trejeitos de Ricardo III
- Reportagens acusando políticos de imitarem Ricardo III
-
ATO III

Cena II
Londres. Um quarto no palácio.
Entram o Rei Eduardo, Gloster, Clarence e Lady Grey.

REI EDUARDO
Mano de Gloster, o marido desta senhora, Sir John Grey, em Santo Albano veio a perder a vida. Suas terras, o vencedor as teve. Ela deseja ser reintegrada, agora, nessas posses. Penso que fora injusto lhe negarmos o que nos pede, em vista de ter sido morto esse gentil homem tão conspícuo quando em defesa dos direitos de York.

GLOSTER
Vossa Alteza faz bem em conceder-lhas; fôra desonra agir de outra maneira.

REI EDUARDO
É o que eu penso, também, mas esperemos.

GLOSTER (à parte, para Clarence)
Como! É assim? Pelo que vejo, a dama deverá conceder algo, primeiro, para que o rei lhe satisfaça a súplica.

CLARENCE (à parte, a Gloster)
Ele conhece o jogo; vede como sabe sondar o vento.

GLOSTER (à parte, a Clarence)
Ficai quieto!

REI EDUARDO
Viúva, estudaremos com o devido cuidado vossa súplica. Voltai depois para saberdes a resposta.

LADY GREY
Gracioso soberano, é-me impossível suportar a dilação. Seja do agrado de Vossa Alteza responder-me logo. Vosso prazer me deixará contente.

GLOSTER (à parte, a Clarence)
Assim, viúva! Eu vos prometo todas as terras, se o prazer dele realmente, vos deixar satisfeita. Sede firme; do contrário, apanhais um golpe certo.

CLARENCE (à parte, a Gloster)
Não receio isso, a menos que ela caia.

GLOSTER (à parte, a Clarence)
Deus nos livre! Então o rei se aproveitara.

REI EDUARDO
Dizei-me viúva: quantos filhos tendes?


CLARENCE (à parte, a Gloster)
Creio que ele deseja um filho dela.

GLOSTER (à parte, a Clarence)
Deixar-me-ei chibatear, se for só isso; ele preferiria obter dois filhos.

LADY GREY
Três, ao todo, gracioso soberano.

GLOSTER (à parte, a Clarence)
Ficareis com mais um, se a ele cederdes.

REI EDUARDO
De lastimar seria, se eles viessem a perder o que o pai possuiu em terras.

LADY GREY
Sede, pois, generoso, mui temível monarca, e concedei o que vos peço.

REI EDUARDO
Senhores, um momento: é meu desejo sondar a inteligência desta viúva.

GLOSTER (à parte, a Clarence)
Um momento vos damos; ora tendes momentos à vontade; até que os anos num momento vos deixem de muletas.

(AFASTA-SE COM CLARENCE)

REI EDUARDO
Senhora, amais, realmente vossos filhos?

LADY GREY
Tanto quanto a mim mesma.

REI EDUARDO
E que faríeis para que eles pudessem ser felizes?

LADY GREY
Suportaria toda adversidade.

REI EDUARDO
Readquiri, pois, a bem de vossos filhos, as terras que já foram do pai deles.

LADY GREY
É com esse fim que venho a Vossa Alteza.

REI EDUARDO
Vou dizer-vos o modo de as obter.



LADY GREY
Isso me obrigará ao serviço vosso.

REI EDUARDO
E que serviço me fareis em paga?

LADY GREY
O que mandardes, se me for possível.

REI EDUARDO
Decerto direis “não” ao meu pedido.

LADY GREY
Salvo se eu não puder satisfazer-vo-lo.

REI EDUARDO
Ser-te-á fácil fazer o que eu pretendo.

LADY GREY
Nesse caso farei quanto ordenardes.

GLOSTER (à parte, a Clarence)
Ele insiste. Água mole em pedra dura...

CLARENCE (à parte, a Gloster)
Vermelho que nem fogo! A cera é mole.

LADY GREY
Porque parais, milorde? Que serviço me compete fazer?

REI EDUARDO
É muito fácil: amar a um rei.

LADY GREY
É fácil e está feito, porque eu sou vossa súdita.

REI EDUARDO
Devolvo-te, então, os bens que foram do finado.

LADY GREY
Contente, e com mil graças, me despeço.

GLOSTER (à parte, a Clarence)
Contrato pronto; a dama faz mesuras.

REI EDUARDO
São os frutos do amor que eu tenho em mente.

LADY GREY
Sim, os frutos do amor, meu soberano.
REI EDUARDO
Sim, mas noutro sentido, é o que eu receio.
Que amor calculas que eu estou a pedir-te?

LADY GREY
Meu amor até à morte, minhas preces, meus agradecimentos irrestritos; o amor que puder ser pela virtude ao mesmo tempo dado e recebido.

REI EDUARDO
DIFERENTE ERA O AMOR EM QUE EU PENSAVA.

LADY GREY
Então não compreendi vossas palavras.

REI EDUARDO
Creio que as entendeis, agora, em parte.

LADY GREY
Jamais consentirá meu sentimento no que Vossa Grandeza me sugere, se é certo o que imagino.

REI EDUARDO
Sem rebuços direi que almejo me deitar contigo.

LADY GREY
Sem rebuços direi que é preferível viver numa prisão.

REI EDUARDO
Pois, nesse caso, não reaverás os bens do teu marido.

LADY GREY
Pois, nesse caso, todos os meus bens consistirão na minha honestidade, com cuja perda eu nada possuiria.

REI EDUARDO
Assim, teus filhos ficaram lesados.

LADY GREY
Assim, por Vossa Alteza ficaremos lesados eles e eu. Mas, poderoso senhor, esses alegres devaneios não vão bem com a tristeza do pedido que vos apresentei. Mandai-me logo despachada, dizendo “sim” ou “não”.

REI EDUARDO
Sim, se disseres “sim” ao meu pedido; não, se disseres “não” à minha súplica.

LADY GREY
Então não, meu senhor; já me retiro.

GLOSTER (à parte, a Clarence)
A viúva está zangada; franze o cenho.
CLARENCE (à parte, a Gloster)
O mais desajeitado namorado de toda a cristandade.

REI EDUARDO (à parte)
Na maneira de olhar, lê-se modéstia; no discurso revela inteligência incomparável. Todas as suas perfeições exigem soberania. De qualquer maneira, foi feita para um rei. Será, portanto, minha amante, ou será minha rainha. Digamos que Eduardo te esposasse?

LADY GREY
Meu senhor, isso é fácil de ser dito, mas não fácil de ser posto em prática. Como súdita, eu sirvo para objeto de galhofa, mas me acho muito longe de servir para o posto de rainha.

REI EDUARDO
Meiga viúva, juro por meu trono que eu falei quanto almejo no mais íntimo da alma: possuir-te como o meu amor.

LADY GREY
É mais do que pudera prometer-vos. Sei que sou muito humilde para esposa de Vossa Alteza, mas bastante boa para tornar-me vossa concubina.

REI EDUARDO
Viúva, estais usando de malícia; o que eu pretendo é vos fazer rainha.

LADY GREY
Ofenderia Vossa Graça, acaso, ser chamado de pai pelos meus filhos.

REI EDUARDO
Não mais do que se minhas filhas viessem a te chamar de mãe. Tens alguns filhos, e – pela mãe de Deus – embora eu seja celibatário, alguns, também, possuo. Como é belo ser pai de muitos filhos! Não me retruques; vais ser minha esposa.

GLOSTER (à parte, a Clarence)
O padre já acabou a confissão.

CLARENCE (à parte, a Gloster)
Fez-se padre por pura malandragem.

REI EDUARDO
Mano, adivinhais o que falamos?

GLOSTER
A viúva não gostou; tem o ar tristonho.

REI EDUARDO
Julgaríeis estranho desposá-la?

CLARENCE
Com quem, senhor?


REI EDUARDO
Comigo mesmo, ora essa!

GLOSTER
Provocaria espanto de dez dias.

CLARENCE
Um dia mais do que perdura o espanto.

GLOSTER
Fôra infinito espanto assim tão grande.

REI EDUARDO
Podeis brincar, irmãos, quanto quiserdes; digo-vos que ela obteve bom despacho no que respeita às terras do marido.

(ENTRA UM NOBRE)

NOBRE
Vosso inimigo Henrique, meu gracioso soberano, foi feito prisioneiro e conduzido às portas do palácio.

REI EDUARDO
Levai-o para a Torre. Vamos, manos, saber quem o prendeu, a fim de obtermos informações seguras sobre o modo por que foi preso. Podeis ir, viúva. Meus senhores, tratai-a honrosamente.

(SAEM TODOS, MENOS GLOSTER).

GLOSTER
Eduardo trata honrosamente todas as mulheres.
Pudesse ele esgotado vir a ficar, medula, ossos e tudo, para que de seus rins ramo auspicioso não nascesse, capaz de separar-me da idade de ouro com que eu sempre sonho!
Mas, entre mim e o anseio de minha alma – enterrado que seja, finalmente, o direito do lúbrico Eduardo – está Clarence, Henrique, o moço Eduardo seu filho e todos quantos ainda se acham por nascer deles e que certamente se sentarão no trono antes que chegue minha esperada vez. Considerandos bem frios, estes, para os meus projetos!
Mas, afinal, tudo isto é simples sonho.
Assemelho-me a alguém que, divisando de um promontório a praia ambicionada, pretendesse igualar os pés aos olhos e amaldiçoasse o mar que o separasse da meta cobiçada, prometendo deixá-lo seco e, assim, abrir caminho.
Assim desejo o trono tão distante, e assim maldigo os meios que me impedem de chegar até ele, prometendo destruí-los, mas, com isso, mais não faço que me encantar com coisas impossíveis. Aguda tenho a vista, ambicioso demais o coração, para que possam igualá-los os braços e os recursos.
Bem; concordemos que não há coroa para Ricardo. Então, que outra ventura poderá conceder-lhe o mundo todo?
Transformarei em céu o belo colo de uma mulher, com ricos ornamentos o corpo cobrirei, e com palavras e olhares renderei damas galantes. Oh pensamentos miseráveis! Fora mais fácil conquistar vinte coroas.
O amor me repudiou ainda no ventre de minha mãe. De medo que eu ficasse sob o seu regimento delicado, peitou a natureza criminosa para que me deixasse o braço seco com galho sem seiva, e uma montanha invejosa no dorso me pusesse, de onde a deformidade zomba à grande do meu corpo, estas pernas me deixasse desiguais, afastando-me toda proporção, como ainda informe filho de urso, que à mão em nada se parece.
Sou tipo, acaso, para ser amado? Oh monstruosa ilusão, pensar desta arte!
Ora, se a terra só me proporciona a alegria do mando, do domínio, de subjugar pessoas bem formadas, seja o meu céu sonhar com a coroa.
Enquanto eu tiver vida, puro inferno vai ser o mundo, a menos que a cabeça firmada, assim, neste disforme corpo, me circunde coroa gloriosa.
Contudo, ainda não sei como alcançá-la, que muitas vidas entre mim e a pátria se interpõem, e eu me vejo qual pessoa que num bosque de espinhos se encontrasse, quebrando, a um tempo, espinhos, e por eles sendo quebrado, a procurar caminho, : mas dele cada vez mais se afastando, sem saber como possa obter ar puro, sempre enleado a lutar em desespero: desta arte eu me atormento, só com o fito de apanhar a coroa da Inglaterra.
Hei de livrar-me, ao fim, deste martírio, muito embora precise abrir caminho com um manchado sangrento. Sim, que eu posso vir a matar, matar, enquanto eu rio, gritar: Viva! Ao que o peito me compunge, banhar o rosto com fingidas lágrimas e adotar aparência condizente com qualquer situação. Mais marinheiros afogarei no mar do que a sereia; sem vida vou deixar muito mais gente que me olhar, do que o próprio basilisco; mostrarei a eloqüência de Nestor; como Ulisses, serei astuto e fino; qual Sinão, ganharei mais uma Tróia. Ao camaleão eu posso emprestar cores, muito mais que Proteu mudar de formas, ao próprio Maquiavel servir de mestre. Posso tudo isso e não consigo o trono? Ora, hão de ver que dele eu vou ser dono.

(SAI)