domingo, 3 de abril de 2011

Japão intensifica busca por mais de 15 mil desaparecidos

Japão intensifica busca por mais de 15 mil desaparecidos

DA EFE, EM TÓQUIO

Cerca de 25 mil membros das forças de ordem do Japão e dos Estados Unidos intensificaram neste domingo as buscas de desaparecidos pelo terremoto seguido de tsunami do dia 11 de março, enquanto as autoridades começaram a alojar parte dos 163 mil desabrigados que ainda vivem em refúgios temporários.

O terremoto de magnitude 9 na escala Richter e o posterior tsunami deixaram pelo menos 12.020 mortos, segundo o último boletim policial, enquanto outras 15.512 pessoas estão desaparecidas, apesar dos esforços das equipes de busca, que na sexta-feira lançaram uma grande operação de três dias para vasculhar as zonas devastadas.
Por volta de 18 mil soldados das Forças de Autodefesa do Japão --tropas equivalentes a Forças Armadas-- e 7 mil militares americanos, auxiliados por policiais, bombeiros e homens da Guarda Costeira, redobraram as buscas no último dia dessa mobilização, que, no entanto, produziu poucos resultados.
Desde o início da operação, foi possível resgatar os corpos de apenas 77 desaparecidos nas áreas destruídas pelo enorme volume de água do tsunami, que varreu localidades litorâneas das províncias de Iwate, Miyagi e Fukushima.
Na pequena cidade de Minamisanriku (Miyagi), que tinha aproximadamente 17 mil habitantes antes de ser assolada por ondas de até dez metros, as autoridades realizaram neste domingo o alojamento de 500 das 9,4 mil pessoas sem lar que vivem em 45 abrigos temporários, onde se sofre com escassez tanto de água quanto de energia elétrica.
Os transferidos, boa parte deles idosos, foram recebidos por outros municípios de Miyagi, e a eles se somarão em breve outros 600 em uma nova evacuação coletiva, informou a agência de notícias local "Kyodo".
As tarefas de reconstrução avançam muito lentamente diante das dimensões da catástrofe, com danos que o Governo japonês quantifica provisoriamente entre 16 trilhões e 25 trilhões de ienes (R$ 308 bilhões e R$ 482 bilhões).
"NÃO HÁ POR ONDE COMEÇAR"
"Nunca tinha visto algo assim. Está tudo destruído, não há por onde começar", dizia à emissora televisiva "NHK" um dos voluntários deslocados a Minamisanriku, que também foi testemunha dos terremotos da cidade japonesa de Kobe em 1995 e da província chinesa de Sichuan em 2008.
Segundo os dados policiais, há mais de 45 mil edifícios totalmente destruídos. Estima-se que aproximadamente 168 mil lares no nordeste continuem sem eletricidade e mais de 220 mil ainda careçam de água potável.
Só na cidade de Sendai (capital de Miyagi), que tinha 1 milhão de habitantes antes da tragédia, ainda há mais de 68 mil pessoas morando em 519 abrigos, enquanto muitos dos que voltaram para suas casas semidestruídas sofrem com escassez de água e gás.
Para melhorar as condições de vida, as autoridades instalaram serviços provisórios, como duchas portáteis com bujões de gás autônomos para se ter água quente, indicou a rede "NHK".
VAZAMENTO DE ÁGUA RADIOATIVA
Os trabalhos de busca e resgate não incluem o perímetro de segurança decretado pelo Governo em um raio de 20 quilômetros ao redor do complexo nuclear de Fukushima, onde neste domingo os técnicos tentavam conter um vazamento de água radioativa ao mar, detectada no sábado.
A água contaminada escapa de uma fossa inundada próxima ao reator 2 através de uma rachadura, que neste sábado os funcionários tentavam tapar usando concreto, mas sem sucesso. Neste domingo, técnicos da Tokyo Electric Power Company (Tepco) - empresa que administra a usina - injetaram polímero absorvente em pó para tentar conter o vazamento.
O Governo advertiu que, apesar dos esforços, o escape de material radioativo da central poderia se prolongar por "vários meses" e, por isso, essa batalha seria inevitavelmente longa.
Em meio à preocupação sobre o alcance da radiação, o porta-voz do Governo, Yukio Edano, afirmou que as análises realizadas com 900 crianças que vivem entre 20 e 30 quilômetros da usina nuclear indicam que elas não receberam níveis excessivos de radioatividade.
Calcula-se que, nesse raio de 20 a 30 quilômetros, até 136 mil pessoas viviam antes de 11 de março, mas o Governo recomendou-lhes que se afastassem para outras regiões ou permanecessem em suas casas com portas e janelas fechadas para evitar o contato com radiação. Não se sabe quantas pessoas o fizeram.

Líder do Iêmen quer negociar transferência pacífica do poder

Líder do Iêmen quer negociar transferência pacífica do poder

DA FRANCE PRESSE, EM SANAA
COM REUTERS

O presidente iemenita, Ali Abdullah Saleh, declarou neste domingo que está disposto a negociar uma "transferência política do poder" e pediu o fim dos protestos à oposição.
Esta foi a primeira declaração do chefe de Estado depois do pedido da oposição, sábado, para que Saleh deixe o poder e seja substituído pelo vice-presidente, com o qual negociariam um acordo de transição.
"Peço aos partidários do Fórum Comum o fim da crise a suspensão do protesto. Parem de bloquear as estradas e acabem com a rebelião em algumas unidades militares", declarou o presidente ao receber uma delegação de simpatizantes ao governo.
"Estamos dispostos a discutir de uma transferência pacífica do poder no marco constitucional", disse o presidente, que governa o país há 32 anos.
32 ANOS NO PODER
Semanas de protestos no país fizeram o governo de Saleh, que está há 32 anos no poder, ficar à beira do colapso, mas os Estados Unidos e a vizinha Arábia Saudita têm preocupações quanto a quem o substituirá em um país onde o número de militantes da Al Qaeda aumenta.
Na sexta-feira, dezenas de milhares de pessoas, favoráveis e contrárias a Saleh, foram às ruas de Sanaa, enquanto negociadores tentavam retomar as conversas para determinar o destino do governante.
O líder iemenita que perdeu o apoio de muitos aliados tribais, militares e políticos, encontrou-se na semana passada com representantes de várias tribos, disseram autoridades, enquanto trabalha contra os pedidos de renúncia.

Bombardeio aéreo israelense mata 3 palestinos em Gaza

Bombardeio aéreo israelense mata 3 palestinos em Gaza

DA EFE

Três milicianos palestinos morreram neste sábado --entre eles um comandante local-- em um ataque aéreo israelense na Faixa de Gaza, informaram fontes do movimento Hamas.
O grupo, que assegurou em comunicado que vingará a morte de seus três integrantes, disse que o ataque contra o carro no qual viajavam ocorreu na madrugada deste sábado no sul da Faixa de Gaza, perto da cidade de Khan Yunes.
Um dos mortos é Mohammed Ad-Dayah, de 33 anos e um dos comandantes do Hamas na zona, que já tinha sido alvo da força aérea israelense em 2009.
Naquela ocasião, aviões de guerra bombardearam sua casa, mas o miliciano não se encontrava nela.
"Israel arcará com as consequências", assegura na nota as Brigadas Izz al Din Al Qassam, o braço armado do movimento que governa a Faixa de Gaza desde 2007.
O Exército israelense confirmou o ataque e assinalou que os três homens eram membros de "uma célula terrorista que planejava sequestrar israelenses durante a festa do Pesah", que será realizada dentro de três semanas.
Durante os sete dias de festa, milhares de israelenses viajam à vizinha Península do Sinai, em território egípcio e à qual milicianos do Hamas têm acesso através dos túneis usados para contrabando que ligam a Faixa de Gaza com o Egito.

Otan confirma mortes em ataque na Líbia; TV aponta 30 mortos

Otan confirma mortes em ataque na Líbia; TV aponta 30 mortos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
Tanto representantes da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) quanto integrantes dos grupos rebeldes confirmaram neste sábado a morte de civis num ataque aéreo das forças ocidentais no oeste da Líbia, como havia adiantado a rede de televisão Al Jazeera.
Pelo menos dez rebeldes teriam morrido durante bombardeios na cidade líbia de Ajdabiya --a Al Jazeera mencionou inicialmente 13 mas elevou para 30 algumas horas depois. Autoridades municipais da região relataram, por enquanto, que nove rebeldes e quatro civis morreram nesses ataques, conforme a agência France Presse. Uma testemunha ouvida pela agência Reuters fala em 14 mortos, pelo menos.
A emissora acrescenta que outros sete membros das forças revolucionárias ficaram feridos ao serem atingidos enquanto viajavam a bordo de quatro veículos 4x4, no que parece ser um erro da aviação da Otan.
"Estamos examinando essas informações. Sempre nos preocupam as informações sobre baixa de civis. A missão da Otan é proteger civis e zonas civis da ameaça de ataque", afirmou o porta-voz da Aliança, Oana Lungescu.
A Otan não possui efetivos no território. Ainda segundo a Aliança, já foram realizado um total de 363 saídas de aviões, 184 delas relacionadas à identificação de objetivos, desde que assumiu a liderança das operações na Líbia, no dia 31 de março.
Apesar das vítimas, as forças rebeldes evitaram criticar a Aliança. O porta-voz desses grupos em Benghazi, Mustafa Gheriani, afirmou a Reuters o apoio aéreo e os bombardeios são necessários.
"Você tem olhar numa perspectiva mais ampla. Erros acontecerão. Nós estamos tentando tirar Gaddafi e haverá baixas, embora, claro, isso não nos deixe felizes", disse ele.
Os aviões da Otan bombardearam também alvos na região de Brega, zona portuária e petrolífera ao oeste de Benghazi, acrescenta a emissora.
Esta informação foi confirmada por fontes governamentais líbias, que detalharam que os bombardeios alcançaram posições das forças fiéis ao líder líbio, Muammar Gaddafi.
A intervenção aliada, indica a Al Jazeera, permitiu que as tropas rebeldes retomassem o controle de grande parte dessa cidade situada entre Benghazi, o reduto dos revolucionários, e Sirte, cidade natal de Gaddafi.
Na semana passada, durante sua ofensiva rumo a Sirte, os rebeldes retomaram o controle de Brega, assim como de Ajdabiya e Ras Lanuf, antes de perder suas conquistas pelo contra-ataque das forças de Gaddafi
CESSAR-FOGO
Na sexta-feira, o governo de Gaddafi rejeitou as condições impostas pelos rebeldes para um cessar-fogo, alegando que as tropas líbias não deixarão as cidades ocupadas, como exigido pela oposição.
"Eles estão nos pedindo para sair das nossas próprias cidades... Se isso não é loucura, não sei o que é. Não vamos deixar as nossas cidades", disse o porta-voz do governo, Mussa Ibrahim.
Os rebeldes na Líbia anunciaram também nesta sexta-feira que estavam prontos para respeitar uma trégua desde que as forças pró-Gaddafi suspendessem a ofensiva contra as cidades tomadas e se retirassem das que estão cercando.
"Não deixaremos nossas cidades. Somos nós o governo, não eles", insistiu Ibrahim, afirmando, no entanto, que o regime estava sempre pronto para a paz e o diálogo.
Segundo ele, as forças leais a Muammar Gaddafi respeitam a resolução imposta pela ONU.
TENTATIVA DE TRÉGUA
O regime do ditador líbio tentava abrir um diálogo com as potências ocidentais para encerrar a batalha no país, em um sinal de que Trípoli não vê uma saída militar à guerra contra os rebeldes oposicionistas.
"Nós estamos tentando conversar com os britânicos, franceses e americanos para encerrar o assassinato do povo. Nós estamos tentando achar uma solução mútua", disse o ex-primeiro-ministro Abdul Ati al-Obeidi, ao Channel 4, citado pelo jornal britânico 'Guardian'.
A declaração seria a confirmação dos relatos na imprensa de que Gaddafi tenta negociar com os britânicos.

Tropas francesas tomam aeroporto de Abidjan

Tropas francesas tomam aeroporto de Abidjan

DA BBC BRASIL

Tropas francesas tomaram o aeroporto da maior cidade da Costa do Marfim, Abidjan, neste domingo, de acordo com autoridades militares da França.
Os franceses enviaram um reforço de 300 homens para a cidade, que é palco de violentos combates desde quinta-feira à noite.
Soldados leais ao presidente-eleito reconhecido pela ONU, Alassane Ouattara, tentam derrotar simpatizantes do presidente Laurent Gbagbo, que se recusa a entregar o poder.
Pelo menos 1,2 mil estrangeiros estão sob proteção das forças francesas em um acampamento militar próximo ao aeroporto.
No sábado, quatro soldados das Nações Unidas ficaram gravemente feridos em um ataque dos homens de Gbagbo. A batalha pelo controle de Abidjan, maior cidade da Costa do Marfim, se acirrou no sábado.
Soldados de ambos os lados disputam o controle do palácio presidencial e da TV estatal, entre outros prédios públicos.
Segundo testemunhas, houve intensa troca de tiros quando os partidários de Alassane Ouattara, reconhecido internacionalmente como o vencedor da eleição presidencial de novembro passado, cercaram forças leais a Laurent Gbagbo.
Testemunhas afirmam ter ouvido tiroteios pesados e bombardeios no centro da cidade, onde os grupos rivais disputam também a base militar de Agban.
CONVOCAÇÃO DE TROPAS
Na sexta-feira, os Estados Unidos fizeram um apelo para que o presidente Laurent Gbagbo deixe imediatamente o poder, de modo a evitar o agravamento da situação no país.
"Nos preocupamos com a violência atual e pedimos para que Gbagbo deixe o poder imediatamente", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano Mark Toner.
Toner também fez um apelo para que os militares estrangeiros já presentes na Costa do Marfim ajudem a manter a ordem.
"Pedimos para que a Unoci (missão da ONU na Costa do Marfim), as tropas da ONU e as francesas adotem todas as medidas para a proteção de civis e impeçam qualquer saque", disse ele.
Forças francesas dizem que levaram 500 estrangeiros, inclusive 150 franceses, para um campo militar após terem sido ameaçados por saqueadores em Abidjan.
Apoio
Tropas da ONU e francesas controlam o aeroporto da cidade.
Acredita-se que as forças de Outtara dominem 80% do país. Muitos militares trocaram de lado e passaram a apoiar o presidente reconhecido.
Gbagbo, porém, ainda teria o apoio da Guarda Republicana, das forças especiais e de milícias armadas.
Vários organismos internacionais já pediram que Gbagbo deixe poder, incluindo a ONU, a Ecowas (bloco das nações do oeste da África) e a França.
Desde que a crise começou na Costa do Marfim, a violência forçou o deslocamento de 1 milhão de pessoas e levou à morte de ao menos 473 marfinenses, segundo a ONU.

Pedir demais ao BC é um risco, diz Arminio Fraga

Pedir demais ao BC é um risco, diz Arminio Fraga

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

Medidas prudenciais devem ser usadas para reduzir o risco de crises financeiras. Já a taxa de juros é o instrumento de combate a pressões inflacionárias.
Para Arminio Fraga, ex-presidente do BC e sócio da Gávea Investimentos, deve haver clareza na distinção.
Arminio foi o único representante brasileiro nos paineis da conferência sobre o futuro das políticas econômicas feita pelo FMI em março.
Ao falar do Brasil, por e-mail, ele disse que "a taxa de juros tem de ser a necessária para trazer a inflação para a meta no ano que vem".
Mas ressaltou que não se pode "pedir demais ao BC", pois há metas inalcançáveis no curto prazo.
Leia a seguir entrevista de Fraga à Folha.
Folha - Está emergindo um novo pensamento econômico pós-crise financeira?
Arminio Fraga - Acho cedo para dizer que temos um novo paradigma, provavelmente não. A economia vive se reinventando, se redescobrindo. A importância do crédito por si só não constitui aventura intelectual ou novidade. Vale salientar apenas que o uso de medidas nesta área deve ser claro no seu propósito e justificativa (genuinamente prudencial, ou seja, voltada para reduzir risco sistêmico).
O mesmo vale para regulamentações da conta de capital. Por exemplo, medidas prudenciais temporárias podem ser úteis para limitar a acumulação capitais de curto prazo, enquanto não são postas em prática políticas mais fundamentais que levem a queda relevante dos juros.
Olivier Blanchard diz que há muitos instrumentos de política econômica, mas que não se tem muita certeza sobre como utilizá-los. Isso não cria muita incerteza?
Não creio que tenhamos tantos instrumentos assim, é preciso um certo cuidado. Os instrumentos prudenciais no fundo são apenas um e devem preferencialmente cuidar de questões de risco, enquanto a taxa de juros deve cuidar da inflação.
O ponto do Blanchard é que em certos momentos as combinações desses instrumentos podem variar, podem ser otimizadas. Quando os objetivos prudenciais e macro estão alinhados, não há grandes problemas, e a calibragem pode ser feita.
Na prática os governos em geral erram e se iludem quando trocam uma solução aparentemente mais cômoda no curto prazo pela introdução de distorções cujos custos não são óbvios, mas existem. Má alocação do crédito, por exemplo.
No Brasil há um ceticismo do mercado em relação à política econômica vigente. Quais os riscos desse cenário?
O mercado tem medo de que se utilizem medidas prudenciais para não ter que aumentar os juros. É um bom debate. Ou de que se entorte o crédito sem ser por razões prudenciais. Outro bom debate. Minha visão, que não é de hoje, sugere que o governo tem de reverter a expansão fiscal do ano passado e tomar cuidado com o crédito, especialmente com os bancos públicos. Portanto sou a favor do esforço fiscal e de medidas prudenciais.
Além disso, claro, a taxa de juros tem de ser a necessária para trazer a inflação de volta para a meta ano que vem. De qualquer forma, não vejo grandes mundos novos aqui, inclusive nada disso é necessariamente heterodoxo, no mau sentido. Os riscos são tentar atingir metas que são impossíveis no curto prazo, e tem a ver com pedir demais do Banco Central.

Pedir demais ao BC é um risco, diz Arminio Fraga

Pedir demais ao BC é um risco, diz Arminio Fraga

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

Medidas prudenciais devem ser usadas para reduzir o risco de crises financeiras. Já a taxa de juros é o instrumento de combate a pressões inflacionárias.
Para Arminio Fraga, ex-presidente do BC e sócio da Gávea Investimentos, deve haver clareza na distinção.
Arminio foi o único representante brasileiro nos paineis da conferência sobre o futuro das políticas econômicas feita pelo FMI em março.
Ao falar do Brasil, por e-mail, ele disse que "a taxa de juros tem de ser a necessária para trazer a inflação para a meta no ano que vem".
Mas ressaltou que não se pode "pedir demais ao BC", pois há metas inalcançáveis no curto prazo.
Leia a seguir entrevista de Fraga à Folha.
Folha - Está emergindo um novo pensamento econômico pós-crise financeira?
Arminio Fraga - Acho cedo para dizer que temos um novo paradigma, provavelmente não. A economia vive se reinventando, se redescobrindo. A importância do crédito por si só não constitui aventura intelectual ou novidade. Vale salientar apenas que o uso de medidas nesta área deve ser claro no seu propósito e justificativa (genuinamente prudencial, ou seja, voltada para reduzir risco sistêmico).
O mesmo vale para regulamentações da conta de capital. Por exemplo, medidas prudenciais temporárias podem ser úteis para limitar a acumulação capitais de curto prazo, enquanto não são postas em prática políticas mais fundamentais que levem a queda relevante dos juros.
Olivier Blanchard diz que há muitos instrumentos de política econômica, mas que não se tem muita certeza sobre como utilizá-los. Isso não cria muita incerteza?
Não creio que tenhamos tantos instrumentos assim, é preciso um certo cuidado. Os instrumentos prudenciais no fundo são apenas um e devem preferencialmente cuidar de questões de risco, enquanto a taxa de juros deve cuidar da inflação.
O ponto do Blanchard é que em certos momentos as combinações desses instrumentos podem variar, podem ser otimizadas. Quando os objetivos prudenciais e macro estão alinhados, não há grandes problemas, e a calibragem pode ser feita.
Na prática os governos em geral erram e se iludem quando trocam uma solução aparentemente mais cômoda no curto prazo pela introdução de distorções cujos custos não são óbvios, mas existem. Má alocação do crédito, por exemplo.
No Brasil há um ceticismo do mercado em relação à política econômica vigente. Quais os riscos desse cenário?
O mercado tem medo de que se utilizem medidas prudenciais para não ter que aumentar os juros. É um bom debate. Ou de que se entorte o crédito sem ser por razões prudenciais. Outro bom debate. Minha visão, que não é de hoje, sugere que o governo tem de reverter a expansão fiscal do ano passado e tomar cuidado com o crédito, especialmente com os bancos públicos. Portanto sou a favor do esforço fiscal e de medidas prudenciais.
Além disso, claro, a taxa de juros tem de ser a necessária para trazer a inflação de volta para a meta ano que vem. De qualquer forma, não vejo grandes mundos novos aqui, inclusive nada disso é necessariamente heterodoxo, no mau sentido. Os riscos são tentar atingir metas que são impossíveis no curto prazo, e tem a ver com pedir demais do Banco Central.

Pracinhas brasileiros foram à Segunda Guerra sem preparo

Pracinhas brasileiros foram à Segunda Guerra sem preparo

RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO

"Não precisa! Os meus meninos tomam aquela merda no grito!"
A frase é atribuída ao general Zenóbio da Costa, um dos comandantes da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra, sobre a necessidade de mais treinamento e planejamento para ir lutar contra os alemães.
A posição ajuda a explicar a falta de preparo dos brasileiros que foram lutar na Itália, conforme novas pesquisas estão revelando.
Elas mostram que os pracinhas mal sabiam usar as armas que recebiam do exército americano. Deixam claro, ainda, que os aliados chegaram a ficar preocupados com a pouca experiência dos colegas que chegavam para lutar na guerra.
"No Brasil, achava-se que uma semana no mato equivalia a treinamento de combate. Muitos acreditavam que a fanfarronice encenada em campanhas nas coxilhas ou nos tiroteios contra estudantes paulistas destreinados bastasse para enfrentar o Exército alemão", diz o historiador Cesar Campiani Maximiano, da PUC-SP.
Ele está lançando o livro "Barbudos, Sujos e Fatigados", pela Editoria Grua. Maximiano entrevistou 98 veteranos num período de 20 anos e levantou documentos históricos em arquivos civis e militares no Brasil e nos Estados Unidos.
Um desses documentos mostra que, em 1945, os americanos reclamavam que as deficiências de treinamento dos brasileiros causavam baixas desnecessárias às forças aliadas.
A motivação da bronca tinha sido um erro pueril cometido em 12 de dezembro de 1944 por um grupo de combate da FEB. Os brasileiros invadiram uma casa cheia de alemães, matando todos os inimigos.
Partiram, no entanto, sem inspecionar o porão. Um único soldado alemão ficara escondido por lá. Após a "lamentável negligência", ele, sozinho, metralhou 17 brasileiros pelas costas, matando todos eles.
FALTA DE MOTIVAÇÃO
Outros relatos dão conta de combatentes brasileiros brincando com minas antitanque em pleno acampamento militar, tentando descobrir o que era aquilo --por sorte, ninguém se feriu.
Apesar desses casos, a tutela americana funcionou: os brasileiros acabaram tendo sucesso na maioria das 445 missões na Itália que executaram entre 1944 e 1945, fazendo mais de 20 mil prisioneiros inimigos.
Mas, talvez tanto quanto o seu treinamento militar, as motivações de muitos dos brasileiros para ir à guerra não eram muito fortes.
O veterano paulista Américo Vicentini, por exemplo, relatou ter ido para a guerra porque via nela uma chance de ir embora de Mato Grosso, sede do quartel para onde tinha sido transferido.
"Era um calor tremendo, de noite ficava mais quente do que de dia. Além disso, tinha tanta mosca que não tinha jeito de dormir. Aí pediram voluntários para ir para a Itália. Eu me apresentei. Aliás, todos os paulistas lá do quartel se apresentaram."
Um médico do Exército estimou que metade dos soldados não sabia dizer por que o Brasil estava em guerra.
A falta de motivação, no entanto, tinha outros motivos. Os pracinhas encontraram vários problemas ao chegar na Itália, como o frio, a comida ruim e, principalmente, as péssimas condições de higiene, em especial no front.

Ban Ki-moon quer punições após massacre na Costa do Marfim

Ban Ki-moon quer punições após massacre na Costa do Marfim

DA FRANCE PRESSE, EM NOVA YORK

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, conversou com o presidente da Costa do Marfim reconhecido internacionalmente, Alassane Ouattara, e pediu a adoção de medidas contra os envolvidos no massacre de 800 pessoas nos últimos dias.
Ouattara negou durante a conversa telefônica, que aconteceu na noite de sábado, que seus simpatizantes tenham participado nos atos de violência na cidade de Duekoue, oeste do país, segundo o porta-voz de Ban, Martin Nesirky. Mas o presidente afirmou que ordenou uma investigação.
"O secretário-geral expressou a particular preocupação e alarme sobre informações de que forças leais a Ouattara teriam matado muitos civis na cidade de Duekoue".
"O secretário-geral disse que os responsáveis devem ser julgados", completou Nesirky.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha e a ONU informaram que 800 pessoas morreram em uma ação das forças pró-Ouattara nesta cidade na terça-feira que tinha como objetivo expulsar os partidários do presidente Laurent Gbagbo.
Duekoue, importante localidade do oeste marfinense, está sob poder dos combatentes de Ouattara, o presidente da Costa do Marfim reconhecido pela comunidade internacional, depois de confrontos violentos com os soldados e milicianos leais a Gbagbo.
A batalha pelo poder prosseguia neste domingo em Abidjan, onde o governo de Ouattara prolongou o toque de recolher até segunda-feira. Organismos internacionais acusam as forças de Ouattara e as de Gbagbo de terem cometido massacres no oeste do país.
Ouattara foi reconhecido como o vencedor da eleição presidencial de novembro, mas Gbagbo se nega a abandonar a presidência.

Obama pode anunciar campanha para reeleição na próxima semana

Obama pode anunciar campanha para reeleição na próxima semana

DA REUTERS, EM WASHINGTON

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, possivelmente anunciará na próxima semana seus planos para a reeleição e poderá apresentar a documentação de campanha à Comissão Eleitoral Federal na segunda-feira, disseram no sábado autoridades democratas.
A apresentação à comissão permitirá a Obama, um democrata, iniciar a arrecadação de fundos para a campanha de 2012 que, segundo previsões, quebrará o recorde em gastos políticos.
Duas autoridades democratas disseram que não havia uma decisão definitiva sobre o momento do anúncio ou da apresentação.
Obama está em meio a uma luta sobre o orçamento com os republicanos no Congresso e concentrou suas mensagens das últimas semanas em reduzir a dependência dos EUA do petróleo estrangeiro e investir na inovação e educação -- temas que possivelmente destacará em sua campanha.
A mesmo tempo, Obama tem defendido a participação dos EUA nas operações militares na Líbia.
O terreno republicano de aspirantes à Presidência segue aberto e ninguém anunciou formalmente uma campanha até agora.
Pesquisas de opinião mostram que os eleitores estão divididos em relação a Obama. Uma média da Real Clear Politics de várias pesquisas mostrou que 47,4% dos norte-americanos aprovam o desempenho de Obama no cargo e 46,6% desaprovam.
A média das pesquisas também mostra que Obama derrotaria possíveis candidatos republicanos, como o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, a ex-governadora do Alasca Sarah Palin e o ex-presidente da Câmara dos Representantes Newt Gingrich

Karzai pede ao Congresso dos EUA que condene queima do Corão

Karzai pede ao Congresso dos EUA que condene queima do Corão

DA REUTERS, EM CABUL

O presidente afegão, Hamid Karzai, pediu neste domingo ao Congresso dos Estados Unidos que os parlamentares condenem a queima do Corão por um pastor radical norte-americano e evitem que isso aconteça novamente, afirmou seu gabinete em comunicado.
Karzai fez o pedido durante um encontro com o embaixador norte-americano, Karl Eikenberry, e o general David Petraeus, comandante das forças dos EUA e da Otan no Afeganistão, informou o comunicado.
Eikenberry leu para Karzai a condenação feita anteriormente pelo presidente dos EUA, Barack Obama, à queima do Alcorão, segundo o comunicado, que não incluiu nenhuma reação do líder afegão.
O pastor cristão Terry Jones, que no ano passado havia cancelado planos de queimar o Corão, após condenação internacional, supervisionou na semana passada a queima do livro sagrado dos muçulmanos diante de um grupo de 50 pessoas, numa igreja do Estado da Flórida, nos EUA, segundo seu website.
PROTESTOS
Dois policiais morreram e 20 pessoas ficaram feridas no domingo na cidade afegã de Candahar no terceiro dia seguido de manifestações violentas contra a queima de um Corão nos Estados Unidos, informou a agência France Presse citando fontes locais.
E no sábado, nove pessoas morreram, 73 ficaram feridas e outras 17 foram detidas, em protestos começaram no centro de Candahar e se ampliaram a outros pontos. A polícia enfrentou os manifestantes, que seguiam para os escritórios da ONU e para os edifícios do governo provincial.
Os manifestantes atacaram edifícios públicos e privados, e incendiaram veículos.
Anteontem, sete funcionários estrangeiros da ONU, quatro guardas nepaleses e três europeus, morreram em um protesto similar na cidade de Mazar-i-Sharif, norte do país.
Os talebãs assumiram a reponsabilidade do ataque, no qual parte do complexo da ONU foi incendiado.
Os protestos foram motivados pela queima de um exemplar do Corão no Dove World Outreach Center, uma igreja evangélica de Gainesville, Flórida, no dia 20 de março.
O pastor Terry Jones, líder da igreja, afirmou: "Não nos sentimos responsáveis pelo ataque, porque os elementos radicais do islã estão usando [a queima] como desculpar para promover suas atividades violentas".