quarta-feira, 9 de novembro de 2011

X SEMANA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA

“O campo de atuação do Cientista Social nos dias de Hoje”
28 a 1 de dezembro de 2011

SUBMISSÃO DE RESUMOS
Está aberta a chamada para submissão de resumos para apresentações
de trabalho por pesquisadores, docentes e alunos da graduação e da pósgraduação,
que acontecerão de 29 a 01 de dezembro de 2011, noCampus da
Faculdade de Ciências e Letras – UNESP Araraquara, das 8:30 às 12:00
horas. Exclusivamente com os temas dos Grupos de Trabalho que focam as
linhas de pesquisa do programa:

Grupos Temáticos:
1. Cultura e Pensamento Social;
2. Estado, instituições e políticas públicas;
3. Gênero, etnia e saúde;
4. Sociedade civil, trabalho e movimentos sociais.
A Programação completa com as conferências e os mini-cursos será
divulgada em breve.

PRAZOS
ENVIO DE RESUMOS 10/11/2011
DIVULGAÇÃO DOS APROVADOS (por e-mail) 15/11/2011
ENVIO DOS ARTIGOS Até 02/2012
RESUMOS:
Os resumos deverão conter:
a) 1200 a 1500 caracteres com espaço;
b) espaçamento simples entre linhas;
c) fonte tipo Times New Roman e tamanho 12;
d) até 3 palavras-chave;
e) cabeçalho com: nome completo, instituição de origem e
curso de graduação ou programa de pós-graduação, orientador,
título do trabalho, grupo temático escolhido, e-mail e telefones.
Regras para envio de trabalhos:
Os trabalhos aprovados serão publicados em meio digital com inscrição
ISSN1982-2286 e devem ser submetidos até fevereiro de 2012, no seguinte
formato:
- resumo/abstract, com no máximo de 1.500 caracteres, conter 3 palavraschave,
- os artigos devem ser apresentados (arquivo.doc, Word for WINDOWS)
em fonte Times New Roman, corpo 12, espaço entre linhas 1,5 (exceto
para citações diretas com mais de três linhas), parágrafo 1,5, margem
superior 3, inferior 2, esquerda 3 e direita 2. Máximo 14 páginas.
- O trabalho deve trazer o título; nome completo do(s) autor(es); filiação
científica indicada em nota de rodapé (departamento - faculdade - universidade
- sigla - CEP - cidade - estado - país - e-mail.
- Seguindo as normas da ABNT
Os resumos devem ser enviados para o e-mail até
10/11: semanadeposfcl2011@gmail.com
Valor das inscrições com apresentação de trabalhos
Nível de escolaridade Valor c/ Apresentação de Trabalho
(R$)
Graduação 15,00
Mestrado/doutorando/especialização 20,00
Valores para inscrições sem apresentação de trabalho
Para todas as categorias R$ 10,00
No dia do evento será acrescido R$ 5,00 reais
RESUMO

Por meio de pesquisa bibliográfica e histórica, este artigo volta-se para o entendimento acerca do impactante e devastador significado de política como tragédia. Constata que quanto mais as ações humanas se voltam para o poder ou são atraídas por ele, mais perdem o controle de suas ações. É assim o espaço da política que contém desafios e tensões constantes para todos os homens em qualquer época, superando antigas concepções que imprimiam estabilidade ou coerência à política. Buscamos analisar o tempo histórico do governo da rainha inglesa Elisabeth (1558-1603). Foram selecionados – como recortes para análise – três situações limites em que os conflitos, paradoxos e a possível perda do poder é evidente: na ascensão ao trono inglês, escolha dos ministros, ao não se casar com os pretendentes. Essa é dimensão trágica da política, do qual a vida e morte, ascensão e decadência, glória e fracasso são etapas inevitáveis e constitutivas da eterna disputa pelo poder político, dos quais os homens são apenas sombras no palco enquanto o poder permanece sempre em cena.

Palavras-chave: Política. Tragédia. Poder. Elisabeth. Mary Stuart. Invencível Armada. Conde de Essex.



ABSTRACT

Through the bibliographic and historic research, this article aims for the comprehension concerning about the great and devastaded significance of politics as a tragedy. This academic work notes that the much more human actions are either turning to the power or are attracted to it, the more they lose the control on its own actions. This is the politic space wich contains challenges and constant tensions for all of the men, whatever the age, overcoming ancient conceptions that used to offer stability or coherence to the general politics. We claim to analyse the historic time of the English Queen Elizabeth's government (1558-1603). Three limit situations were selected – as a cutting analysis – where the conflicts, paradoxes and the possible lost of the power is evident: in the rising to the English throne, the choice of ministers and the absence of marriage, despite of the several candidates. This is the tragic dimension of politics, of wich the life and the death, the rising and the decline, the glory and the failure are, all of them, inevitable and contitutive stages of the eternal dispute for the politic power, of wich men are mere shadows in the stage, while the power mantains itself in the highlight.

KEY-WORDS: Politics. Tragedy. Power. Elizabeth. Invencible Navy.
1. Como avalia a atual política externa brasileira?

Avalio que ela melhorou muito neste ano. Ela ficou menos ideológica e mais focada na busca de resultados concretos. É isto que interessa ao país. Neste sentido, é importante lembrar que a política externa deve ser, como ato de Estado, racional e pragmática (mas, claro, balizada pelos princípios constitucionais fixados no Art. 4º da Constituição Federal).

2. É possível apontar diferenças entre a gestão do ex-ministro Celso Amorim e do atual ministro do MRE, Antonio Patriota?

Sim, é possível. A gestão atual do ministro Antonio Patriota é mais técnica e mais focada em resultados. Isto faz toda a diferença na atualidade.

3. Qual o papel e as perspectivas do Brasil diante de uma nova agenda mundial?

O papel será importante, em especial como potência regional. Neste sentido, é importante lembrar que o Brasil já possui uma grande liderança na América Latina. Esta influência deve se ampliar nos próximos anos e, para isto, contará muito a tradição pacifista do Brasil (hoje o país não possui conflito de qualquer significado com nenhum país da região). Assim, as perspectivas são boas. Claro que o Brasil terá que ser hábil, evitando o desperdício de energia em temas que ele não tem capacidade de equacionar.

4. Atualmente, os especialistas apontam que os Estados Unidos passam pelo chamado “declínio do poder relativo”? O senhor concorda com essa expressão?

Sim, mas apenas em uma pequena parte. É que os Estados Unidos, mesmo que tenha algumas dificuldades nas próximas décadas, continuarão a ser, pelo menos durante o século 21, uma das grandes potências (para não dizer a maior). A sua economia deve, por exemplo, permanecer acima dos treze trilhões de dólares (tendo apenas uma população de trezentos milhões de pessoas). Isto é algo extraordinário. A China, por exemplo, país mais promissor na atualidade, possui uma economia de seis trilhões de dólares (mas uma população que deve alcançar nos próximos anos a marca de um bilhão e quinhentos milhões de pessoas). Esta é uma diferença substancial.

5. De fato, qual o impacto da morte de Osama Bin Laden para os EUA e o mundo?

O impacto é muito pequeno, em termos geoestratégicos. O terrorismo continuará a ser uma ameaça, pois não depende da liderança de uma ou outra pessoa (é uma ação difusa). A maior implicação da morte de Osama Bin Laden talvez seja em termos psicológico para população norte-americana (que se sentirá talvez um pouco mais segura). Isto tende a ter alguma influência na próxima eleição para a presidência nos Estados Unidos.

6. A perspectiva de mercado de trabalho para os profissionais de relações internacionais é positiva?

Sem dúvida, muito positiva. O mundo continuará a ‘reduzir’ as distâncias e a aproximar os países e as civilizações nas próximas décadas. Nestes cenários, os profissionais das relações internacionais terão um papel diferenciado e um espaço de trabalhado cada vez mais amplo. O desafio é dar a estes profissionais uma formação qualificada.

7. O que significa a Primavera Árabe para os estudos das relações internacionais?

Significa que os estudos das relações internacionais terão que alterar alguns conceitos (e talvez alguns pré-conceitos também). Com a Primavera Árabe, o mundo vai se tornando politicamente mais homogêneo. Isto é bom, mas o profissional das relações internacionais deve ter a capacidade de entender as particularidades de cada região e de capa país.

8. A seu ver, quais os desafios estratégicos, do ponto de vista industrial-militar, que o Brasil precisa responder nesse século 21, a pouco iniciado?

É possível dizer que são muitos estes desafios. O mais importante é, contudo, o país conseguir desenvolver tecnologia de ponta nesta área.


9. Quais, num futuro próximo, as potências a assumirem as hegemonias mundiais na política? no poder militar? na produção científica? e na economia? e por que?

As potências hegemônicas nas áreas referidas devem, nas próximas décadas, continuar a ser mais ou menos as mesmas. Neste sentido, entendo que haverá mais um processo de consolidação do que de grandes alterações. Os Estados Unidos manterão uma clara dianteira; a China se consolidará como segunda grande potência mundial; a União Européia a manter sua atual posição; o Brasil continuará a ocupar um espaço intermediário, junto com a Índia e a Rússia. Por isso, não vejo grandes alterações.

10. Em sua percepção, a política de relações exteriores do Brasil tem sido tratada como política de Estado, ou como política de governo?

A política externa brasileira, nos últimos anos, tem oscilado entre as duas possibilidades. Neste momento, é possível constatar certa recuperação de uma política de Estado (e, portanto, menos ideológica). Isto é fundamental para o Brasil se consolidar como uma potência média (uma potência que deve ser ouvida em muitas questões mundiais).

11. Num mundo pós-WikiLeaks a burocracia pode se manter em estado de sigilo, ou os mínimos detalhes de todas as tratativas devem vir a público?

Os sigilos próprios da diplomacia estão, diante das novas tecnologias, seriamente ameaçados. Neste sentido, a diplomacia terá que se reinventar e adotar novas estratégias de funcionamento. Isto é possível? Entendo que sim, inclusive com o auxílio das novas tecnologias. Isto é importante? Também entendo que sim. O que quero dizer? Que o sigilo faz parte da forma de atuação da diplomacia e é um de seus elementos constitutivos. Mas, é claro que o sigilo das informações deve ser temporário.
APRESENTAÇÃO

Este livro é uma ousadia intelectual e um instigante produto acadêmico. José Renato faz parte de um grupo de intelectuais que percebeu na contemporaneidade a complexa relação entre as áreas de saber e busca borrar as fronteiras que compartimentam a inteligibilidade do mundo. Neste sentido, o autor supõe que também a arte – como a filosofia e a ciência – é um exercício de pensamento e criação capaz de gerar diferentes formas de conhecimento. Especialmente, no caso deste livro, o autor seleciona peças de William Shakespeare para realizar a uma investigação das relações de poder, problematizando questões clássicas que envolvem a sociabilidade humana.
José Renato analisa o texto “Ricardo III”, de Shakespeare, munindo-se de efetivos recursos metodológicos, para perscrutar a área da política e oferecer ao leitor as potentes pulsações dos indivíduos que exercem atividades de governo e, também, as surdas movimentações das conjunturas relacionadas ao poder.
Este livro que o leitor tem nas mãos é marcado por uma série de encontros cognitivos. O primeiro deles é o encontro entre arte e política, à medida que José Renato realiza um esforço para retirar da obra de Shakespeare um pensamento universal que elucida questões das lutas pelo poder e delimita perspectivas para interpretar a política no seu significado polissêmico. A literatura, por exemplo, pode fornecer consistentes elementos para auxiliar na compreensão da realidade.
Pode-se dizer que o cientista social fica melhor antenado com o auxílio da arte e, nesta situação, José Renato foi atraído pela consciência da humanidade e pela descoberta do sujeito – idéias chaves presentes na obra de Shakespeare. Não bastasse o significado estético de “Ricardo III”, José Renato foi tocado pela densa dimensão humana e política marcadamente presentes na obra do dramaturgo inglês. Assim, estamos diante do segundo encontro propiciado pelo livro, qual seja, a reunião orgânica entre individuo e poder. O poder está disponível para ser exercido por alguém – pode ser Ricardo III ou outro indivíduo e, o livro nos mostra isto: determinada forma de ocupar o poder poderá levar uma sociedade ao desastre, sacrificando governantes e governados. Este segundo encontro desdobra-se numa questão polêmica da política que diz respeito à relação entre ética e governança. O presente livro mostra como a trajetória de Ricardo III esbarra sempre nesta candente relação.
Tanto quanto as dificuldades de existir (genialmente sintetizadas em “Hamlet”) são também difíceis as experiências de sociabilidade, particularmente, as políticas. Nesta direção, José Renato toma como um eixo de análise a Guerra das Duas Rosas – abordadas nas circunstâncias históricas da Inglaterra e nas encenações dramáticas dos personagens da peça. José Renato trabalha com um tema permanente e crucial em Shakespeare – a guerra, fenômeno que auxilia a compreensão da política enquanto embate constante entre grupos / facções de uma sociedade ou enquanto confronto entre reinos /nações delimitados em territórios. Ricardo III, nos mostra José Renato, perambula entre a selvageria pessoal e a brutalidade das batalhas. Indivíduos e sociedades: ambos estão em permanentes lutas. E, assim, José Renato estabelece um terceiro encontro, ao vincular indivíduo, sociedade e guerra: qualquer um destes três elementos desta equação supõe a persistência dos outros dois componentes, gerando a orgânica reciprocidade entre política e guerra.
O autor deste livro considera o fato de Shakespeare ter escrito numa época de descobrimentos de novas terras, na qual a Inglaterra se expande por vários cantos mundo, pontuando os mares com sua potência naval. Considerando-se esse momento da história inglesa e aquele terceiro encontro, o livro de José Renato abre a perspectiva para realçar uma abordagem das relações internacionais, centrada tanto na determinação da guerra quanto na emergência de conexões entre diferentes territórios no interior do mundo moderno. Afinal, as batalhas na Inglaterra, de alguma forma impactam nos países além das suas fronteiras, por exemplo, com a França, no caso de Ricardo III. José Renato percebe em Shakespeare a presença constante deste ‘ respirar do mundo’. Pode-se ressaltar que a consideração dos vínculos entre as partes do mundo para a reflexão política, está muito bem sintetizada na peça de Shakespeare, “Antonio e Cleópatra”, de 1606, na qual o dramaturgo inglês não só aproxima amantes de lugares díspares, mas também coloca em cena o mundo, por meio das relações do Império Romano com o Egito e com outras regiões do mundo de então.
José Renato, ao trazer para a Ciência Política o conhecimento produzido pela arte, amplia as fronteiras do conhecimento e agrega novas potencialidades para a área do saber. Nesta direção, o autor sistematiza uma metodologia que se fundamenta na análise interna da obra de Shakespeare, respeitando suas qualificações estéticas, e no estudo histórico, resguardando a força dos acontecimentos concretos que circundaram a figura de Ricardo III. Assim, num duplo movimento, fundamentado na análise interna e na análise externa, Jose Renato realiza aproximações e separações entre os conhecimentos produzidos pela arte e aqueles propiciados pela história. Deve-se observar que José Renato se colocou tão sèriamente esta tarefa, que em outra pesquisa, continuidade dos estudos que geraram este livro, ele analisou a obra “Ricardo II”, buscando novas pistas deixadas por Shakespeare para abrir outras inusitadas discussões sobre as disputas que envolvem o poder político.
Cabe ainda destacar neste livro, a criatividade e o rigor que embasam o esquema teórico que fundamenta a pesquisa, articulado em torno do conceito de “política como tragédia”, ou “tragédia da política”. Esta idéia que elucida a trajetória de Ricardo III aponta tanto para as possibilidades da política quanto para as suas dificuldades. Ela supõe que a política é um reino portador de carga de negatividade para o indivíduo e para o coletivo, ao mesmo tempo em que é uma esfera de viabilidade para a vida em sociedade. Assim, mesmo que a política, como invenção, venha atender às necessidades do indivíduo e da sociedades, a sua realização também pode ser danosa para estas entidades. Tais paradoxos estão sempre presentes nas peças de Shakespeare e José Renato tira bom proveito desta tensa dimensão da vida social.
Neste livro de José Renato, temos a oportunidade de ver passar em cena a realidade pessoal e social de um governante, no sentido de se dar ordem explicativa ao caos, a partir do conceito de “política como tragédia”. No caso de Shakespeare, ao se considerar sua visão cíclica de história, na civilização sucedem-se governos legítimos e governos usurpadores, legitimidade e abuso do poder, enfim, bom governo e mau governo. De forma geral, interessa a Shakespeare discutir as quebras de legitimidade e as trajetórias previsíveis e maléficas dos usurpadores. Este circuito de sucessões próprias da política expressa muito bem a tragédia da política, ainda mais ao se considerar que Shakespeare aponta para o fato da política conter em si mesma o potencial permanente de gerar a usurpação, a violência e a guerra. Toda política contem em si o embrião que pode gerar o “... horror, horror, horror”, conforme anunciado em “Macbeth”. Os momentos de paz gerados pela estabilidade política ocorrem nos frágeis governos legítimos, que estão sempre correndo o perigo de ruptura.
Assim, o conceito de “política como tragédia” – central neste livro de José Renato – aponta para a persistência das tensões tanto no cotidiano quanto na política, pois na vida e na sociedade os conflitos são agônicos. Além do mais, numa tradição que vai de Maquiavel a Nietzsche, passando por Hobbes e Marx, a política como tragédia aponta para a insuficiência das práticas políticas e clarifica que o governante (ou o indivíduo) não tem controle absoluto das suas ações. A imprevisibilidade e o descontrole fazem parte das conjunturas políticas e, também, da existência. Por isso, Ricardo III declama: “E agora o inverno de nosso desgosto...”.
Este livro de José Renato nos mostra a trágica vida política, pois qualquer sujeito que age em busca do poder político é introduzido num embate, tendo de um lado o desejo e a determinação humana e, de outro, um processo baseado na Razão de Estado, portador de uma lógica própria e imperiosa. O livro trata deste desgastante embate, no qual até hoje –queiramos ou não – estão envolvidos governantes e governados.

Miguel Chaia
São Paulo, julho de 2011
Universidade dribla entraves para ficar mais internacional

Dificuldades para documentação e visto são obstáculo à vinda de estudantes, professores e pesquisadores ao país

Com crise nos EUA e na Europa e redução de empregos, Brasil vira cenário atraente para contingente qualificado

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

A crise financeira global está proporcionando uma oportunidade de crescimento ao ensino superior brasileiro de ponta. Com o orçamento das universidades americanas e europeias encolhido e a redução dos postos de trabalho, um contingente qualificado de professores, pesquisadores e alunos do mundo todo começa a mirar instituições fora do eixo tradicional.
Atualmente há 3 milhões de alunos que estudam em países estrangeiros. A previsão é que serão 7 milhões em 2025. É uma demanda global superior à oferta dos cursos oferecidos, de acordo com especialistas.
Na teoria, o cenário brasileiro é dos mais atraentes, tanto para o corpo docente quanto para pesquisadores e estudantes: moeda forte, economia em expansão e ausência de mão de obra habilitada em vários setores do mercado. Mas, na prática, há muitos desafios pela frente.
A burocracia envolvendo a concessão de vistos de permanência e trabalho, a abertura de conta em banco e a locação de imóveis; a barreira do idioma -pouquíssimos são os cursos em que se fala o inglês nas universidades, e os concursos públicos são em português.
Além disso, há a dificuldade em validar currículos estrangeiros, o calendário acadêmico brasileiro, que não se comunica com as universidades do hemisfério Norte; a ausência de uma política salarial mais flexível nas universidades públicas e outras questões de governança atreladas à legislação.
"Como é que eu vou trazer um ganhador do Prêmio Nobel para lecionar na Unicamp se o salário dele tem que ser obrigatoriamente igual ao dos outros professores?", questiona Marcelo Knobel, professor de física e pró-reitor de graduação da Unicamp. "O sistema educacional brasileiro é engessado, não oferece muitos mecanismos. Dentro dessas limitações, até que temos conseguido bons resultados", diz.
Knobel é autor de estudo recente sobre a internacionalização das universidades brasileiras, publicado no periódico do Center for Higher Education da Universidade Berkeley, na Califórnia.
O argumento é que a internacionalização oxigena a produção de conhecimento, com o intercâmbio de informação e parcerias professor- pesquisador, e a diversidade cultural no campus.
Em seu estudo, Knobel identificou uma tendência global de redução dos gastos públicos com universidades, que acabam transferindo a conta para os estudantes. Por isso, as bolsas adquiriram maior importância. Nesse ponto, o Brasil vai bem.
"Além do interesse dos pesquisadores, ajuda o fato de termos uma boa oferta de bolsas de estudo com valores bastante competitivos internacionalmente", diz. Ele cita a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) como exemplo. O grau de internacionalização das universidades brasileiras ainda é tímido. Na Unicamp, por exemplo, é de 3% dos alunos na graduação e 5% na pós. Pouco se comparado com os 20%, 30% ou 40% de algumas universidades do hemisfério Norte.
Na USP, são 2.000 estrangeiros em um universo de 80 mil (2,5%). E cerca de 200 professores visitantes, entre os mais de 6.000 totais. Adnei Melges de Andrade, vice-reitor de relações internacionais da USP, fala em investimentos em infraestrutura para acolher maiores demandas.
"Já compramos dois prédios no centro de São Paulo para acomodar os estrangeiros, oferecemos cursos de português e vamos criar um centro para estudantes e professores", diz.
Uma análise dos vários rankings indica a presença crescente de universidades de países que até pouco tempo atrás não frequentavam essas listas.
A China é um exemplo notório, tendo repatriado muitos dos seus acadêmicos. Cingapura, Malásia, Coreia do Sul e os países ricos do golfo Pérsico também seguem essa trilha, com pesados investimentos e um plano estratégico de expansão.

REFERÊNCIA
No último ranking global da Times Higher Education, a USP aparece como a única latino-americana entre as 200 melhores, ocupando a posição 178 -no ano passado, estava em 253. E o ranking da QS a coloca como a melhor da América Latina. A Unicamp, em terceiro. Em artigo recente, a revista "Economist" enalteceu o resultado e lembrou que a USP está se tornando referência mundial em medicina tropical e biocombustíveis.
Mas levanta a questão do financiamento exclusivamente estatal das universidades públicas, onde "os estudantes não pagam nada, os funcionários não podem ser demitidos e o currículo é antiquado e politizado".
Apenas 1,1% do PIB brasileiro é gasto com ciência e tecnologia, média inferior à maioria dos países desenvolvidos e de muitos em desenvolvimento. O Brasil tem uma média de 1,4 pessoa com doutorado para mil, comparado com 15,4 na Alemanha, 8,4 nos EUA e 6,5 no Canadá.
Robert Cox

- Proeminente analista neomarxista de política mundial;
- Inicia sua abordagem a partir do conceito de estruturas históricas, definidas como “uma configuração particular de forças”.
- Essas estruturas históricas são constituídas de três categorias de forças que interagem: capacidades mateirais, ideias e instituições.
- Afasta-se da tradicional ênfase marxista no materialismo.
- Estruturas históricas são identificadas em três diferentes; são classificadas como “forças sociais”, “formas de Estado” e “ordem mundial”.
- Forças sociais são um atalho para o processo de produção capitalista. Uma análise desse aspecto nos mostrará o presente estado do desenvolvimento da economia capitalista em uma escala global.
- Formas de Estado apontam meios pelos quais os Estados mudam ao interagir com forças sociais do desenvolvimento capitalista.
- Ordem mundial se refere à atual organização das relações internacionais, incluindo as relações entre grandes Estados e grupos de Estados, o status de direito internacional e as instituições internacionais.
- Cox analisa uma complexa relação entre política e economia, especificada como a interação entre forças sociais, formas de Estado e ordem mundial. A tarefa do pesquisador é descobrir como essas relações se desenvolvem na fase vigente da história humana.
- Cox prevê que novos movimentos advindos da globalização ficarão cada vez mais fortes e isto iniciará uma nova fase de luta entre forças sociais pelo controle e regulamentação da globalização econômica.