segunda-feira, 18 de abril de 2011

Direito natural - Dicionário Oxford de Filosofia



Perspectiva acerca do estatuto do direito e da moral particularmente associada a Tomás de Aquino e a tradição escolática posterior. De modo mais abrangente, qualquer tentativa de unir a ordem moral e jurídica com a natureza do cosmo ou com a natureza dos seres humanos. Nesse sentido, encontra-se também em alguns autores protestantes, derivando, presuvilmente, de uma perspectiva platônica da ética, que já estava implícita no estoicismo antigo. O direito está acima das atividades dos legisladores humanos e é independente destes; constitui um conjunto objetivo de princípios, cuja verdade pode ser atestada através da luz natural ou da razão exprimindo como a vontade de Deus. As versões não religiosas dessa teoria introduzem as condições objetivas do progresso humano como fonte das limitações impostas às ações e às convenções sociais julgadas permissíveis. Dentro da tradição do direito natural, têm sido defendidas diferentes perspectivas sobre a relação entre o primado da lei e a vontade de Deus. Grotius por exemplo partilha a perspectiva de que o direito natural é independente de qualquer vontade, incluindo a de Deus, enquanto que Pudendorf adota o ponto de vista oposto, deparando assim com os problemas de uma das alternativas do dilema de Eutifron. Nos autores modernos, a tradição do direito natural tanto pode assumir uma forma mais forte, na qual se defende que os valores derivam de vários fatos, como uma forma mais fraca, que se limita a defender que a razão consegue discernir por si mesma os requisitos morais. Tal como na ética de Kant, esses requisitos constituem, de forma hipotética, uma obrigação para todos os seres humanos, indepentemente de seus desejos.
Hegel (1770-1831)
Contra a concepção liberal de Estado

O filósofo alemão Hegel criticou a concepção liberal do Estado, porque essa concepção parte da idéia do indivíduo isolado que, posteriormente, teria se organizado em sociedade. Para Hegel, isso é um equívoco. Não existe o homem em estado de natureza. O indivíduo humano é um ser social, que só encontra o seu sentido no Estado. O indivíduo isolado é uma abstração.
O Estado, por sua vez, não é a simples soma de muitos indivíduos, não é formado a partir da vontade dos indivíduos, nem é fruto de um contrato, como haviam pensado Hobbes, Locke e Rousseau.
De acordo com a reflexão política de Hegel, o indivíduo é parte orgânica de um todo, o Estado. O indivíduo é alguém que fala uma língua e é criado dentro de uma tradição. Essas características são anteriores a cada um dos indivíduos isolados, e são elas que o definem como ser. É por isso que Hegel considera que o Estado precede o indivíduo.
O Estado é concebido, portanto, como fundador da sociedade civil, ao contrário de Rousseau, por exemplo, para quem é a sociedade, os homens em seu conjunto, que cria o Estado. O Estado seria, então, a manifestação do Espírito objetivo em seu desenvolvimento, uma esfera que concilia a universalidade humana com os interesses particulares dos indivíduos da sociedade civil. Sendo uma manifestação da Razão, o Estado possui uma universalidade que está acima da soma dos interesses individuais.
Thomas Kuhn

Já o norte-americano Thomas Kuhn (1922-1996), físico, historiador e filósofo da ciência, desenvolveu sua teoria acerca da história da ciência entendendo-a não como um processo linear e evolutivo, mas como uma sucessão de paradigmas (modelos) que se confrontam entre si.
Em seu livro A estrutura das revoluções científicas (1962), ele sustenta a tese de que a ciência se desenvolve durante certo tempo a partir da aceitação, por parte da comunidade científica, de um conjunto de teses, pressupostos e categorias que formam um paradigma, ou seja, um conjunto de normas e tradições dentro do qual a ciência se move e pelo qual ela pauta a sua atividade.
Em determinados momentos, porém, essa visão ou paradigma se altera, provocando uma revolução, que abre caminho para um novo tipo de desenvolvimento científico. Foi o que se deu, por exemplo, na passagem da física clássica à física quântica. De acordo com Kuhn, é como se ocorresse uma nova reorientação da visão global, na qual os mesmos dados são inseridos em novas relações.
Thomas Kuhn também distingue entre a ciência normal, que se desenvolve dentro de um certo paradigma, acumulando dados e instrumentos em seu interior, e a ciência extraordinária, que surge nos momentos de crise do paradigma. Essa nova ciência questiona os fundamentos e pressupostos da ciência anterior e propõe um novo paradigma.
A Tradição socialista


Nascida da luta dos trabalhadores em vários momentos, tem como ponto de expressão intelectual de maior peso o pensador alemão Karl Marx (1818-1883), que juntamente com Friedrich Engels (1820-1885), procurará estudar a sociedade capitalista a partir de seus princípios constitutivos e de seu desenvolvimento, tendo como objetivo dotar a classe trabalhadora de uma análise da sociedade de seu tempo.
O conhecimento científico da realidade só tem sentido se tiver como meta a transformação dessa mesma realidade.
A produção desses autores é muito vasta, mas destacamos algumas de suas obras:
De Marx, podem-se citar:
- Manuscritos econômico Filosófico, 1844;
- O 18 Brumário de Napoleão Bonaparte, 1852;
- Contribuição à crítica da economia política, 1857;
- O capital, 1867;

De Engels:
- A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, 1845.

Dos dois autores, juntos:
- O manifesto comunista, 1848;
- A ideologia alemã, 1852;

Como vimos, toda a obra de Karl Max e Friedrich Engels tem uma relação direta com os acontecimentos que envolvem os trabalhadores de seu tempo, e por isso a preocupação fundamental de ambos foi, através de seus livros, analisar mais profundamente a sociedade capitalista, procurando assim colocar nas mãos dos trabalhadores uma arma eficaz para as suas lutas contra o capital. A partir dessa produção, que tinha por princípio explicativo a contradição, muitos autores desenvolveram trabalhos em vários campos do conhecimento. Entre esses autores podemos citar Lênin (1870-1924), Trotski (1879-1940), Rosa Luxemburgo (1871-1919), George Lukács (1885-1971) e Antonio Gramsci (1891-1937).
Edmund Husserl

Nasceu a 8 de abril de 1859, na cidade de Preossnitz, situada na Moravia, região que pertencia ao Império Austro-Húngaro. Estudou Matemática e entrou para a Filosofia influenciado pelo filósofo Franz Brentano (1838-1917). Morreu em 1938, aos 79 anos de idade, proibido de Lecionar e perseguido pelos nazistas devido a sua origem judaica. Husserl formulou um método de investigação filosófica conhecida como fenomenologia.
A fenomenologia consiste basicamente na observação e descrição rigorosa do fenômeno, isto é, daquilo que se manifesta, aparece ou se oferece aos sentidos ou à consciência. Dessa maneira, busca-se analisar como se forma, para nós, o campo de nossa experiência.
Jean Bodin (1530-1596): A defesa do governo nas mãos de um só

Jurista e filósofo francês, Jean Bodin defendeu em sua obra A república o conceito de soberano perpétuo e absoluto, cuja autoridade representa “a imagem de Deus na Terra” (teoria do direito divino dos reis). Bodin utilizava o termo república em seu sentido etimológico de coisa pública (do latim res, “coisa”) e não como forma de governo oposta à monarquia. Mesmo porque, para ele, a forma preferida de governo era a monarquia, em que a soberania absoluta se concentrava num só príncipe.
Na mesma linha de pensamento de Santo Tomás de Aquino, Jean Bodin afirmava ser a monarquia o regime mais adequado à natureza das coisas. Argumentava que a família tem um só chefe, o pai; o céu tem apenas um sol; o Universo; só um Deus criador. Assim, para ele, a soberania (força de coesão social) do Estado só podia ser realizar plenamente na monarquia, que, entretanto, não devia ser confundida com o governo tirânico, em que o

Monarca, desprezando as leis da natureza, abusa das pessoas livres como de escravos, e dos bens dos súditos como dos seus (...) quanto às leis divinas e naturais, todos os princípios da terra estão sujeitos, e não está em seu poder transgredi-las (...).
Bodin, Jean. A república. In: Chevalier, Jean-Jacques.
As grandes obras políticas, p.59-60.

Dentre essas leis naturais, Bodin destacava o respeito que o Estado deve ter em relação ao direito à liberdade dos súditos e às suas propriedades materiais.
Thomas Hobbes (1588-1679): O Estado para domar o lobo do próprio homem

Para o filósofo inglês Thomas Hobbes, o homem, embora vivendo em sociedade, não possui o instinto natural de sociabilidade. Cada homem sempre encara seu semelhante como um concorrente que precisa ser dominado. Onde não houve o domínio de um homem sobre outro existirá sempre uma competição intensa até que esse domínio seja alcançado.
A conseqüência óbvia dessa disputa infindável dos homens entre si teria gerado um permanente estado de guerra e de matança nas comunidades primitivas. Nas palavras de Hobbes: “o homem é o lobo do próprio homem (homo homini lupus)”.
Só havia uma solução para dar fim à brutalidade social primitiva: a criação artificial da sociedade política, administrada pelo Estado. Para isso, o homens tiveram que firmar um contrato entre si, pelo qual cada um transferia seu poder de governar a si próprio a um terceiro – o Estado – para que esse Estado governasse a todos, impondo ordem, segurança e direção à conturbada vida social.
Hobbes apresentou essas idéias no seu livro Leviatã, no qual o Estado é comparado a uma criação monstruosa do homem, destinada a pôr fim à anarquia e ao caos da comunidade primitiva. O nome Leviatã refere-se ao monstro bíblico citado no Livro de Jô (Bíblia), descrito da seguinte maneira: “o seu corpo é como escudos de bronze fundido (...) Em volta de seus dentes está o terror (...) O seu coração é duro como a pedra, e apertado como a bigorna do ferreiro. No seu pescoço está a força, e diante dele vai a fome (...) Não há poder sobre a terra que se lhe compare, pois foi feito para não ter medo de nada (Jô, 40, 41).
Na obra Sobre o Cidadão que Hobbes expõe primeiramente suas concepções sobre a origem do poder político, que contrariam a tese de Aristóteles, que, como vimos, apresentava o homem como naturalmente sociável. Para Hobbes, os homens só passam a viver em sociedade diante de uma ameaça à preservação da vida. Ou seja, entre os homens a cooperação não é natural, como se dá com as abelhas e formigas, por exemplo. O pacto social, através do qual se estabelece uma ordem moral e política, vem da necessidade de acabar com o estado de guerra, de conservar a vida, sendo por isso artificial.
Timothy William Burton

Esse é um dos principais e dos diretores que mais gosto nos Estados Unidos. Uma breve biografia:

Cineasta estadunidense, nasceu em Burbank, Califórnia, no dia 25 de agosto de 1958. Trabalha usualmente com temáticas sobre Halloween e/ou Natal, chamando para o elenco na maior parte das vezes Johnny Depp e Christopher Walken. Amante dos grandes nomes dos filmes de terror, já realizou filmes sobre Ed Wood e, além dos atores já citados, já chamou para estrelar seus filmes os notórios atores de filmes de terror: Vincent Price e Christopher Lee. É casado com a atriz Helena Bonham Carter.
Filmes que participou como produtor:

a) Beetlejuice: 1988.
b) Batman: 1989
c) Edward – Mãos de tesoura: 1990
d) Batman – O retorno: 1992
e) O estranho mundo de Jack: 1993
f) Ed Wood: 1994
g) Cabin Boy: 1994
h) James e o Pêssego gigante: 1996
i) A lenda do cavaleiro sem cabeça: 1999
j) Planeta dos Macacos: 2001
k) Peixe grande: 2003
l) A fantástica fábrica de chocolate: 2005
m) A noiva do cadáver: 2005
n) Sweeney Todd: 2006
o) Believe it or not: 2008
Édith Piaf - Je Ne Regrette Rien

Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait, ni le mal
Tout ça m'est bien égal
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié
Je me fous du passé
Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu
Mes chagrins, mes plaisirs
Je n'ai plus besoin d'eux
Balayés mes amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait, ni le mal
Tout ça m'est bien égal
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Car ma vie
Car mes joies
Aujourd'hui
Ça commence avec toi...
Édith Piaf - Je Ne Regrette Rien

Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait, ni le mal
Tout ça m'est bien égal
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié
Je me fous du passé
Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu
Mes chagrins, mes plaisirs
Je n'ai plus besoin d'eux
Balayés mes amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait, ni le mal
Tout ça m'est bien égal
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Car ma vie
Car mes joies
Aujourd'hui
Ça commence avec toi...
O CAPRICHO DO CRIADOR

O criador estabeleceu as regras da natureza para a criação do universo. Num momento de divina inspiração, na criação da terra e de seus habitantes. Inovou numa equação, onde incluiu as variáveis: o dedo mágico do pintor, os olhos de lince do fotógrafo, mas com uma visão tão abrangente como a do sol; a sensibilidade da psicóloga, a sutil mão do escultor, a extravagante criatividade do arquiteto, o refinado capricho da decoradora, a inefável beleza do próprio paraíso e a candura e a graça dos filhotes. O resultado foi excepcional e a maior dádiva recaiu para homem com a pucela mulher. A divindade suprema surpreendeu-se com a leniência da encantadora criatura, uma verdadeira obra prima, queria fazer uma pulcritude, mas exagerou nos cálculos e saiu a maior maravilha do universo. A evolução, as novas técnicas para tratamento de beleza, os modernos recursos médicos; como: a drenagem linfática, as cirurgias plásticas, o botox, e as dietas e regimes incumbiram de aprimorar o que já era extraordinário, até chegar a tânagra morena brasileira. Portanto, nem desfolhando mil páginas do dicionário, em cem noites, concentrado, absorto na criatividade, arrebatado, rabiscando cuidadosamente dezenas de blocos de anotações, ou passando horas e horas no computador, diligente e persistente, a ponto de provocar uma L.E.R. nos dedos. Nem observando o primor da natureza, que, soberanamente, dita as normas que envolvem a terra com todas as suas perfeições, requintes e encantos naturais. Eu ainda não seria capaz de compor as donairosas frases que você, tanada, morena jambeada, merece!

José Benedito Ferraz da Silveira
SE A VIDA


Reclamamos da curta vida
E já não a vivemos intensamente,
Imagine se ela fosse longa,
Não caberia em nossa mente.

Iguais às águas dos rios,
Que têm remansos e corredeiras,
Vivemos duradouras alegrias,
Inseridas por tristezas passageiras.

A separação é como andorinhas
Que sempre retornam no verão,
Se acaso sofrermos na partida,
Na volta teremos a compensação.

Só na primavera florescem
As mais belas flores perfumadas,
Mas a vida também tem frutos,
Galhos secos e ramas desfolhadas.

Se o simples fato de nascermos,
Já foi algo tão magnífico,
Então vivamos com dignidade
Independente de sermos pobre ou rico.

Nascer foi uma dádiva e,
Apesar de conhecer tantas injustiças sociais,
Viver foi um privilégio,
Portanto agradeço aos meus pais.

Se nos momentos de insucessos,
Torcemos para que o vento
Carregue tempo
E que o nosso malogro também leve,
Porém, essa paliativa medida
Só torna a nossa vida.
Ainda mais breve.


Se tudo se sucedeu para que
A vida fosse um sucesso,
Não seremos nós, pobres mortais,
Que, por egoísmo e ambição,
Ao invés de usar bem nossa aptidão,
Procuraremos interferir no processo.

José Benedito Ferraz da Silveira
Escolhas erradas


A República de Weimar proclamada em 9 de novembro de 1918 inaugura a primeira tentativa de um Estado-nacional com caráter social-democrata. A Constituição promulgada a partir da Assembléia Constituinte convocada em janeiro de 1919 criou uma República federalista, liberal, democrática, parlamentarista, com dezessete Estados. Os eleitores alemães, por voto direto escolheriam um presidente a cada sete anos. Ele indicaria um chanceler para exercer o governo. O Legislativo era dividido em duas câmaras: Reichstag (Assembléia) seria composto por deputados eleitos por voto universal e o Reichsrat (Assembléia do Reino), por representantes dos 17 Estados.
Os sociais-democratas alemães derrubaram a monarquia do Segundo Reich ao fim da 1° Guerra Mundial. O tratado de Versalhes imposto principalmente pela França – com espírito de desforra - arrasou a economia alemã gerando desemprego e inflação galopante; reduziu o território alemão (perdia um sétimo de seu território); impôs desarmamento (o exército reduzido a 100.000 homens, sem marinha de guerra, artilharia pesada, tanques nem aviões); e pesadas indenizações (132 bilhões de marcos-ouro).
O Governo da República de Weimar “aceitou” tais condições do Tratado de Versalhes. As dificuldades econômicas se acentuavam, o marco alemão se desvalorizou: um dólar comprava 186 no início de 1922; em janeiro de 1923, o dólar já comprava 7260 marcos. Porém, segundo os Historiadores a República alemã de 1924 a 1929 passou por uma fase estável graças a fatores como a entrada de créditos americanos e ingleses.
Friedrich Ebert (1871-1925), político alemão, teve um papel destacado na República de Weimar ao exercer os cargos de presidente (Reichspräsident) – 1919-1925 – e chanceler (Reichskanzler) – 1918-1919. Ao morrer em 1925, ascende ao poder o monarquista Paul Von Benkendorff Hindemburg (1847-1934). Esse homem seria decisivo para o futuro da República de Weimar.
No entanto em 1929 a crise da Bolsa de Nova York atinge profundamente a Alemanha. O desemprego se acentua: 1 milhão de pessoas em 1929; 3 milhões em 1930; mais de 6 milhões em 1931. Diante da crise econômica cresceu uma forte e agitada oposição política radicalizada em dois movimentos ideológicos de insatisfação popular: os comunistas alemães e o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.
O anti-semitismo toma corpo à medida que a crise econômica é vista como fruto do capitalismo internacional. Os judeus eram identificados como detentores do dinheiro e da prática da usura.
Aparece cada vez mais em cena no palco da tragédia da política alemã um personagem que nos é bastante conhecido: Aldof Hitler. Fundador do Partido Nationalsozialist (Nazi), dotado de uma oratória grandiloquente, convencia e fascinava multidões com seus discursos nacionalista, anti-semita e anti-marxista. Após vários reveses, Hitler foi nomeado chanceler em 30 de janeiro de 1933. Em apenas 23 meses, em atos de ilegalidade, golpes de força e assassinatos, Hitler acumulou as funções de Chanceler e Presidente (Führer). A partir daí a “paz armada” iniciada em 1919 após a I Grande Guerra marchará para a deflagração de um conflito verdadeiramente mundial. Em 1° de setembro de 1939 inicia-se a II Guerra Mundial quando da invasão das tropas nazistas na Polônia.
Leitor, ou melhor, eleitor, a urgente necessidade de relatar tais acontecimentos ligados diretamente a História da Alemanha servem para refletirmos acerca do impactante peso da política.
Os autores da Ciência Política afirmam que a coexistência de fatores como um Executivo Fraco, a presença de grupos de oposição - esquerda quanto de direita – apoiados por uma alienada população descontente e distante dos representantes parlamentares acarretam na radicalização da prática política.
Radicalizar na política significa o desejo e o ímpeto de romper com a ordem. Como afirma o professor e pesquisador Miguel Chaia da Pontifícia Universidade Católica (PUC): “a quebra da ordem, seja pelo golpe ou pela guerra, desestabiliza a política, retirando-a de seu curso normal, abrindo espaços para os mais diferentes tipos de violência”.
Em tempos de crise na política sempre existirão homens oportunistas e com segundas intenções. Discursos vazios, emotivos, ânimos exaltados, gestos rítmicos e teatrais contendo os seguintes jogos de palavras são indicativos para esse político “aproveitador”: mudança, revolução, rompimento com a ordem vigente, instalação de uma “nova e justa ordem”. Nem sempre o novo, o diferente, o excêntrico, o engraçado, o patético e o imbecil trarão a solução ou resolverão de forma satisfatória os problemas enfrentados pela política. Cuidado com aquele que você escolhe. A sua escolha determina o futuro do país e de várias gerações existentes e a nascer.

José Renato Ferraz da Silveira.
Lições de Foucault

A evolução histórica da legislação penal e os respectivos métodos e meios coercitivos e punitivos adotados pelo poder público, ou seja, as táticas punitivas adotadas pelos Estados, ao longo da História da Humanidade, na repressão da delinqüência repousam em complexas normas disciplinadoras que estabelecem regras de convívio entre os indivíduos que a compõem.
O pensador e epistemólogo francês contemporâneo, Michel Foucault, conhecido por seus estudos críticos de várias instituições sociais, na obra Vigiar e Punir, aborda um grave problema que a sociedade humana e as autoridades públicas sempre tiveram de enfrentar: a criminalidade.
Desde tempos remotos organizou-se um sistema judiciário e coercitivo, julgado necessário e adequado para a defesa dos direitos privados e públicos, punindo de várias maneiras os que eram considerados agressores. Cada época criou suas próprias leis penais, instituindo e usando os mais variados processos punitivos, tais como: exilar, rechaçar, banir, expulsar para fora das fronteiras (sociedade grega); organizar uma compensação, impor um resgaste, converter o dano provocado em dívida a ser paga (sociedade germânica); expor, marcar, ferir, amputar, fazer uma cicatriz, deixar um sinal no rosto ou no ombro (sociedades ocidentais do final da Idade Média); enclausurar (nossas sociedades atuais).
A penalidade de enclausuramento tornou-se a forma geral de punição por delito na maioria das sociedades humanas contemporâneas. O Direito Penal, na atualidade, busca obedecer aos princípios do respeito à pessoa e liberdades humanas e tem como pressuposto básico a readaptação desses delinqüentes.
Contudo, a origem da organização da penalidade de enclausuramento, no exato momento em que era planejada e executada, constituía objeto de violentas críticas no que tange aos disfuncionamentos que a prisão podia induzir no sistema penal e na sociedade em geral: primeiro, a prisão impede o poder judiciário de controlar e verificar de modo eficiente a aplicação das penas; segundo, mistura os condenados, ao mesmo tempo, diferentes e isolados entre si, constitui uma comunidade homogênea de criminosos que se tornam solidários no enclausuramento e que permanecerão provavelmente após o cumprimento da pena. A prisão fabrica um verdadeiro exército de inimigos interiores; terceiro, os hábitos e a infâmia que marcam as pessoas que saem da prisão fazem com que sejam definitivamente fadadas à criminalidade. Logo, a prisão fabrica aqueles que essa mesma justiça mandará encarcerar, uma ou mais vezes.
Diante desse quadro de críticas, no início e que persiste até hoje mas com novas facetas, a instituição carcerária se consolidou, mesmo se mostrando frágil, em muitos países como, por exemplo, o Brasil.
O colapso do sistema carcerário brasileiro se evidencia a cada ano. Duas razões estruturais: superlotação nos presídios (cadeias públicas e penitenciárias) e os mecanismos legais do Judiciário aliado aos aparelhos repressivos do Estado que se mostram “rigorosos” na interpretação das leis penais em casos de menor gravidade que poderiam ser aplicadas penas alternativas.
O número de detentos aumenta a cada mês, cerca de 9 mil pessoas entram e 5,5 mil saem das prisões. Para suprir o déficit mensal de 3,5 mil vagas, o Brasil precisaria construir sete penitenciárias de 500 vagas a cada mês ao custo de R$ 15 milhões cada uma. Existem razões sérias para o investimento, no entanto, não há vontade e interesse político (os detentos não são eleitores, não possuem direitos políticos). Contudo, estima-se que no final do governo Lula, teremos 476 mil presos, e a conta (para sociedade civil) eliminar o déficit de vagas estará em R$ 3,3 bilhões.
Os presídios (penitenciárias e cadeias públicas) do Estado de São Paulo possuem aproximadamente 130 mil, a segunda maior população carcerária da América Latina, perdendo apenas para a cidade do México (177 mil). O quadro crítico do sistema carcerário de São Paulo se revelou com as rebeliões ocorridas nos dias 13, 14 e 15 de maio. Comandadas principalmente pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) e dispondo de meios eficientes para interligar a comunicação entre os presídios e os criminosos de fora e corrompendo os agentes públicos incumbidos da fiscalização e controle, o celular foi a ferramenta tecnológica utilizada para dar início as rebeliões.
Nesse cenário apontado, notamos que o sistema carcerário brasileiro está em grave colapso.
O tema é delicado, exige prudência, cautela, frieza e racionalidade, pois a presente temática envolve a sociedade num caleidoscópio de fortes sentimentos, emoções, interesses, valores de como deve ser a punição dada pelo Estado aos criminosos. Mas deve haver por parte do Poder Público, e principalmente da sociedade civil, consciência da violação dos direitos fundamentais da pessoa humana.
A evolução histórica do Direito Penal mostra o quanto às sociedades buscaram adotar medidas correcionais contra os criminosos repousadas em princípios humanitários, métodos de punição mais “humanos”, mas a questão está longe de uma solução e o debate merece profunda atenção.

José Renato Ferraz da Silveira.
Fábrica de Moscas

A obra literária Senhor das Moscas escrita por William Gerald Golding (1911-1993), romancista e poeta inglês recebeu em 1983 o prêmio Nobel de Literatura por esse fascinante livro. “Essa obra retrata a regressão à selvageria de um grupo de crianças inglesas de um colégio interno, presos em uma ilha deserta sem a supervisão de adultos, após a queda do avião que as transportava para longe da guerra. No início, os meninos apreciam a vida sem a supervisão de adultos e ocupam a maior parte de seu tempo brincando na água e jogando”. À medida que decorre a história, Ralph e Jack, protagonistas, confrontam-se pelo poder. Várias crianças são vitimadas por essa disputa política.
Muitos estudiosos apontam que o Senhor das Moscas é um trabalho de filosofia moral. Isso fica evidente, com o cenário parasídiaco da ilha, com toda a água e comida necessários. Golding nos revela nessa obra o cárater anárquico, catódico e sinestésico de uma comunidade de crianças ausentes de autoridade parental.
Autoridade, segundo o Dicionário Houaiss da língua portuguesa, de origem etimológica latina auctor, possui múltiplos significados, dentre os mais importantes, o direito ou poder de ordenar, de decidir, de atuar, de se fazer obedecer.
A necessidade de autoridade é fundamental? O que significa o enfraquecimento ou a destruição da autoridade em nossos dias? Por que clássicos de Homero, Shakespeare, Dostoievski, Kafka, George Orwell, ou mesmo, William Gerald Golding versam sobre o enfraquecimento da autoridade? De fato, essas questões norteiam um tema bastante recorrente nas Ciências Sociais, em específico, da Ciência Política: o excesso, a limitação ou a ausência da autoridade.
Autoridade é fundamental, isso é inegável. Seja do Estado em relação à sociedade; seja dos pais em relação aos filhos. Assim como é da natureza do homem viver em sociedade, e esta exige o poder, é da natureza do homem desejar e obedecer ao poder. Mas se todos quisessem o poder e não obedecer, ou se todos se resignassem a obedecer e ninguém se dispusesse a mandar, a sociedade se dissolveria.

Na família, autoridade é essencial na educação dos filhos. Os pais devem criar regras de conduta estimulando as crianças e os adolescentes a reproduzirem tais “mandamentos” em outras instâncias sociais, seja na escola ou no clube.
O sociólogo Richard Sennet (1943-) afirma as crianças, os adolescentes precisam de autoridades que as orientem e tranqüilizem. Os adultos realizam uma parcela essencial de si ao serem autoridades: é um modo de expressarem interesse por outrem. Há um medo persistente de sermos privados dessa experiência.
Mas o que se constata na atual limitação da autoridade parental é a ausência de regras, ou seja, de disciplina. A psicóloga Viviane Namur Campagna afirma “a atitude dos pais em geral, na vida, é mais importante do que aquilo que eles de fato se propõe a dizer ou fazer com os filhos”. Os pais muitas vezes querem que os filhos aprendam conceitos que eles na prática não exercem, por exemplo, querem que os filhos aprendam a respeitar os outros quando, na pressa de deixar os mesmos na escola, param em fila dupla ao invés de aguardar sua vez na fila, deixando os filhos em situação de perigo e passando na frente dos outros. Ensinamos assim na prática o ditado maquiavélico: “os fins justificam os meios”.
“Aprender a ter disciplina é aprender conceitos morais indispensáveis para ter um bom-caráter. Ter bom-caráter significa respeitar a si mesmo e aos outros”. Para educar é preciso de fato crer no que se educa e ter para si os mesmos valores e parâmetros. É um trabalho de auto-observação constante, onde a coerência tem que ser sempre procurada. Além de que essa responsabilidade não é delegada a parentes, professores, inspetores, diretores de escola ou outros. Essa responsabilidade são pertecentes ao pais. Esses devem ser firmes em seus propósitos de disciplina, apesar do cansaço e das contestações dos filhos. Exercer autoridade é assim, conquistar admiração e ensinar o respeito ao próximo. Moscas ou homens? Pais, vocês escolhem.

O autor, José Renato Ferraz da Silveira.
Sonetos escravizantes

WILLIAM SHAKESPEARE

Sendo-te escravo, só posso aguardar
Que o teu desejo me indique o momento.
Cada hora minha é um longo esperar,
Até que eu possa te servir a contento
Em tuas demoras, com paciência,
- És soberana dos anseios meus –
Encontro doçura na amarga ausência,
Mesmo que digas, para sempre, adeus.
Não ouso te perguntar, enciumado.
Nem por onde andas, nem o que fazes.
Mas, triste escravo, aguardo-te calado,
Enquanto outros contentas e te aprazes.
Meu amor obedece a teu desejo
E cego busca o mal que nele vejo.
O Deus mesmo que a ti me escravizou
Não quis que eu regulasse teu prazer,
A ti de prestar contas liberou,
Atou-me servilmente a teu querer.
Quero sofrer a teu dispor,
Encarcerado em tua liberdade;
Suporto gratamente teu rigor,
Sem queixar-me de tua crueldade.
A teu poder não quero dar limites
Concedendo-te posição tão alta
Que nem me importa que tu mesma dites
Sentença absolvendo-te da falta.
E neste inferno aceito sem rancor,
Que teu prazer provoque minha dor.
Pedindo uma Pizza em 2009

ÉRICO VERÍSSIMO

-Telefonista: Pizza Hot, boa noite!

-Cliente: Boa noite, quero encomendar pizzas...

-Telefonista: Pode-me dar o seu NIDN?

- Cliente: Sim, o meu número de identificação nacional é 6102-1993-8456-54632107.

-Telefonista: Obrigada, Sr. Lacerda. Seu endereço é Av. Paes de Barros 1988, ap. 52 B, e o número de seu telefone é 5494-2366, certo? O telefone do seu escritório da Lincoln Seguros é o 5745-2302 e o seu celular é 962662566.

- Cliente: Como é que você conseguiu essas informações todas?

- Telefonista: Nós estamos ligados em rede ao Grande Sistema Central.

- Cliente: Ah, sim, é verdade! Eu queria encomendar duas pizzas uma quatro queijos e outra calabresa...

- Telefonista: Talvez não seja uma boa idéia...

- Cliente: O quê?

- Telefonista: Consta na sua ficha médica que o Sr. sofre de hipertensão e tem a taxa de colesterol muito alta. Além disso, o seu seguro de vida proíbe categoricamente escolhas perigosas para a sua saúde.

- Cliente: É. tem razão! O que você sugere?

- Telefonista: Por que é que o Sr. não experimenta a nossa pizza Superlight, com tofu e rabanetes? O Sr. vai adorar!

- Cliente: Como é que você sabe que vou adorar?

- Telefonista: O Sr. consultou o site Recettes Gourmandes au Soja da Biblioteca Municipal, dia 15 de janeiro, às 14:27h, onde permaneceu ligado à rede durante 39 minutos. Daí a minha sugestão...

- Cliente: OK, está bem! Mande-me duas pizzas tamanho familiar!

- Telefonista: É a escolha certa para o Sr., sua esposa e seus 4 filhos, pode ter certeza.

- Cliente: Quanto é?

- Telefonista: São 49,99.

- Cliente: Você quer o número do meu cartão de crédito?

- Telefonista: Lamento, mas o Sr. vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu cartão de crédito foi ultrapassado.

- Cliente: Tudo bem, eu posso ir ao Multibanco levantar dinheiro antes que chegue a pizza.

- Telefonista: Duvido que consiga, o Sr. está com o saldo negativo no banco.

- Cliente: Meta-se na sua vida! Mande-me as pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é que entregam?

- Telefonista: Estamos um pouco atrasados, serão entregues em 45 minutos. Se o Sr. estiver com muita pressa pode vir buscá-las, se bem que transportar duas pizzas na moto não é aconselhável, além de ser perigoso...

- Cliente: Mas que história é essa, como é que você sabe que eu vou de moto?

- Telefonista: Peço desculpas, mas reparei aqui que o Sr. não pagou as últimas prestações do carro e ele foi penhorado. Mas a sua moto está paga, e então pensei que fosse utilizá-la.

- Cliente: @#%/§@&?#§/%#!!!!!!!!!!!!!

- Telefonista: Gostaria de pedir ao Sr. para não me insultar... Não se esqueça de que o Sr. já foi condenado em Julho de 2006 por desacato em público a um Agente Regional.

- Cliente: (Silêncio).

- Telefonista: Mais alguma coisa?

- Cliente: Não, é só isso... Não, espere... Não se esqueça dos 2 litros de Coca-Cola que constam na promoção.

- Telefonista: Senhor, o regulamento da nossa promoção,conforme citado no artigo 095423/12, proíbe a venda de bebidas com açúcar a pessoas diabéticas...

- Cliente: Aaaaaaaahhhhhhhh!!!!!!!!!!! Vou-me atirar pela janela!!!!!

- Telefonista: E torcer o pé? O Sr. mora no andar térreo.
Émile Durkheim

Nasceu em Epinal, 15 de abril de 1858 e morreu em Paris, 15 de novembro de 1917. Professor de Ciências Sociais e Pedagogia na Universidade de Bordeaux é considerado um dos pais da sociologia moderna. Durkheim foi o fundador da escola francesa de sociologia, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. É reconhecido amplamente como um dos melhores teóricos do conceito da coerção social. Partindo da afirmação de que "os fatos sociais devem ser tratados como coisas", forneceu uma definição do normal e do patológico aplicada a cada sociedade, em que o normal seria aquilo que é ao mesmo tempo obrigatório para o indivíduo e superior a ele, o que significa que a sociedade e a consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma existência tangível. Essa preponderância da sociedade sobre o indivíduo deve permitir a realização desse, desde que consiga integrar-se a essa estrutura. Para que reine certo consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o aparecimento de uma solidariedade entre seus membros. Uma vez que a solidariedade varia segundo o grau de modernidade da sociedade, a norma moral tende a tornar-se norma jurídica, pois é preciso definir, numa sociedade moderna, regras de cooperação e troca de serviços entre os que participam do trabalho coletivo (preponderância progressiva da solidariedade orgânica).
A sociologia fortaleceu-se graças a Durkheim e seus seguidores. Suas principais obras são: Da divisão social do trabalho (1893); Regras do método sociológico (1894); O suicídio (1897); As formas elementares de vida religiosa (1912). Fundou também a revista L'Année Sociologique, que afirmou a preeminência durkheimiana no mundo inteiro.
TU ÉS

O amor dos meus sonhos,
O rosto meigo dos meus pensamentos,
A mulher dos meus desejos,
A colher que me alimenta,
As curvas esculturais do meu delírio,
O mapa que me orienta,
A inspiração dos meus versos,
A fome que me realimenta,
O olhar inocente da pura donzela,
A graça da criança levada,
O andar de gazela com gingados de cisne nadando,
A imagem nítida da mulher que minha memória guarda,
O suspiro do meu peito,
A bainha da minha espada,
A personagem das minhas histórias,
O inesquecível sorriso gravado em minha mente,
A musa dos meus poemas,
A esperança de um futuro promitente,
O luar das minhas noites,
A espada que me defende,
A pura água da mina que sacia minha sede,
O acelerador do meu coração,
O pão que mata minha fome,
O sol do meu verão,
O calor que aquece meu corpo,
A contínua música para meus ouvidos,
A costela que me falta,
A chama eterna do amor vivido,
A água cristalina das corredeiras,
O azul do infinito,


















O néctar que as abelhas coletam,
O deleite dos meus sentidos,
O mel que me adocica,
A claridade dos meus olhos,
A seiva que me fortalece,
A emoção refletida em meus olhos,
O aroma das folhas silvestres,
A mão que me conduz,
O rio perene que me abastece,
A armadura que me protege,
A bússola que me norteia,
O fulgor que meus olhos buscam,
O perfil de uma sereia,
A alegria de uma vida conjugal,
A serenidade da minha alma,
A aparição resplandecente da minha visão celestial,
O grande prêmio da loteria,
O rastro que persigo,
O fervor da minha juventude,
A casa onde me abrigo,
O estro das minhas estrofes,
A seta que me direciona,
O perfume da dama da noite,
O realce das cerimônias,
A companheira de uma longa vida,
A canção de ninar que cura minha insônia,
Pois tu eras a fruta proibida, que o nosso amor descascou.
Jean Jacques Rousseau (1712-1778) –

Foi o pensamento mais radical de sua época, com suas críticas à sociedade burguesa, em defesa das camadas mais populares e de uma sociedade baseada na justiça, na igualdade e na soberania do povo. As principais idéias de Rousseau estão nas obras : Discurso sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens e Contrato Social.
Na primeira, Rousseau acusava a propriedade privada de destruir a liberdade social, promovendo o despostismo, a fraqueza e a corrupção da sociedade. Para ele, « a propriedade introduzia a desigualdade entre os homens, a diferenciação entre o rico w o pobre, o poderoso e o fraco, o senhor e o escravo, até a predominância da lei do mais forte. O homem era corrompido pelo poder e esmagado pela violência.
Já no Contrato Social, afirmava que, para combater a desigualdade introduzida com o aparecimento da propriedade privada, os homens deveriam consentir em fazer um contrato social, pelo qual cada indivíduo concordava em se submeter interiamente à vontade geral, ou seja, à vontade do « soberano », que era o próprio povo. Portanto, o que prevalecia era a vontade da comunidade e não a vontade individual de cada membro dessa comunidade. Como cada indivíduo se unia a todos e ninguém se unia em particular, o homem continuaria livre, uma vez que todos tinham direitos iguais na comunidade. Para Rousseau o governo era apenas « o ministro do soberano », o agente encarregado de executar a lei. Seu poder poderia ser modificado, limitado ou retomado sempre que o povo desejasse. Rousseau destacou-se dos demais filósofos iluministas por valorizar não somente a razão, mas também os sentimentos e emoções, pregando a volta à natureza e à simplicidade da vida. Sua teoria da « vontade geral » inspirou os líderes da Revolução Francesa e do movimento socialista do século XIX.
Um dia de merda

(Luis Fernando Veríssimo)


Aeroporto Santos Dumont, 15:30.

Senti um pequeno mal-estar causado por uma cólica intestinal, mas nada que uma urinada ou uma barrigada não aliviasse. Mas, atrasado para chegar ao ônibus que me levaria para o Galeão, de onde partiria o vôo para Miami, resolvi segurar as pontas. Afinal de contas são só uns 15 minutos de busão. 'Chegando lá, tenho tempo de sobra para dar aquela mijadinha esperta, tranqüilo, o avião só sairía às 16:30'.

Entrando no ônibus, sem sanitários. Senti a primeira contração e tomei consciência de que minha gravidez fecal chegara ao nono mês e que faria um parto de cócoras assim que entrasse no banheiro do aeroporto. Virei para o meu amigo que me acompanhava e, sutil falei:

- Cara, mal posso esperar para chegar na merda do aeroporto porque preciso largar um barro...

Nesse momento, senti um urubu beliscando minha cueca, mas botei a força de vontade para trabalhar e segurei a onda. O ônibus nem tinha começado a andar quando, para meu desespero, uma voz disse pelo alto falante: 'Senhoras e senhores, nossa viagem entre os dois aeroportos levará em torno de 1hora, devido a obras na pista'.

Aí o urubu ficou maluco querendo sair a qualquer custo. Fiz um esforço hercúleo para segurar o trem merda que estava para chegar na estação ânus a qualquer momento. Suava em bicas. Meu amigo percebeu e, como bom amigo que era, aproveitou para tirar um sarro.

O alívio provisório veio em forma de bolhas estomacais, indicando que pelo menos por enquanto as coisas tinham se acomodado. Tentava me distrair vendo TV, mas só conseguia pensar em um banheiro, não com uma privada , mas com um vaso sanitário tão branco e tão limpo que alguém poderia botar seu almoço nele. E o papel higiênico então: branco e macio, com textura e perfume e, ops, senti um volume almofadado entre meu traseiro e o assento do ônibus e percebi, consternado, que havia cagado. Um cocô sólido e comprido daqueles que dão orgulho de pai ao seu autor. Daqueles que dá vontade de ligar pros amigos e parentes e convidá-los a apreciar na privada.

Tão perfeita obra, dava pra expor em uma bienal. Mas sem dúvida, a situação tava tensa. Olhei para o meu amigo, procurando um pouco de piedade, e confessei sério:

- Cara, caguei!

Quando meu amigo parou de rir, uns cinco minutos depois, aconselhou-me a relaxar, pois agora estava tudo sob controle.

'Que se dane, me limpo no aeroporto', pensei. 'Pior que isso não fico'.

Mal o ônibus entrou em movimento, a cólica recomeçou forte. Arregalei os olhos, segurei-me na cadeira mas não pude evitar, e sem muita cerimônia ou anunciação, veio a segunda leva de merda. Desta vez, como uma pasta morna. Foi merda para tudo que é lado, borrando, esquentando e melando a bunda, cueca, barra da camisa, pernas, panturrilha, calças, meias e pés.

E mais uma cólica anunciando mais merda, agora líqüida, das que queimam o fiofó do freguês ao sair rumo a liberdade. E depois um peido tipo bufa, que eu nem tentei segurar. Afinal de contas, o que era um peidinho para quem já estava todo cagado...
Já o peido seguinte, foi do tipo que pesa. E me caguei pela quarta vez. Lembrei de um amigo que certa vez estava com tanta caganeira que resolveu botar modess na cueca, mas colocou as linhas adesivas viradas para cima e quando foi tirá-lo levou metade dos pêlos do rabo junto. Mas era tarde demais para tal artifício absorvente. Tinha menstruado tanta merda que nem uma bomba de cisterna poderia me ajudar a limpar a sujeirada.

Finalmente cheguei ao aeroporto e saindo apressado com passos curtinhos, supliquei ao meu amigo que apanhasse minha mala no bagageiro do ônibus e a levasse ao sanitário do aeroporto para que eu pudesse trocar de roupas. Corri ao banheiro e entrando de boxe em boxe, constatei falta de papel higiênico em todos os cinco.

Olhei para cima e blasfemei: 'Agora chega, né?'

Entrei no último, sem papel mesmo, e tirei a roupa toda para analisar minha situação (que concluí como sendo o fundo do poço) e esperar pela minha salvação, com roupas limpinhas e cheirosinhas e com ela uma lufada de dignidade no meu dia.

Meu amigo entrou no banheiro com pressa, tinha feito o 'check-in' e ia correndo tentar segurar o vôo. Jogou por cima do boxe o cartão de embarque e uma maleta de mão e saiu antes de qualquer protesto de minha parte. 'Ele tinha despachado a mala com roupas'.
Na mala de mão só tinha um pulôver de gola 'V'.

A temperatura em Miami era de aproximadamente 35 graus. Desesperado comecei a analisar quais de minhas roupas seriam, de algum modo "boas"
As calças estavam deploráveis e assim como minhas meias, mudaram de cor tingidas pela merda . Meus sapatos estavam nota 3, numa escala de 1 a 10.
Teria que improvisar. A invenção é mãe da necessidade, então transformei uma simples privada em uma magnífica máquina de lavar. Virei a calça do lado avesso, segurei-a pela barra, e mergulhei a parte atingida na água. Comecei a dar descarga até que o grosso da merda se desprendeu. Estava pronto para embarcar.

Saí do banheiro e atravessei o aeroporto em direção ao portão de embarque trajando sapatos sem meias, as calças do lado avesso e molhadas da cintura ao joelho (não exatamente limpas) e o pulôver gola 'V', sem camisa. Mas caminhava com a dignidade de um lorde.

Embarquei no avião, onde todos os passageiros estavam esperando o 'RAPAZ QUE ESTAVA NO BANHEIRO' e atravessei todo o corredor até o meu assento, ao lado do meu amigo que sorria.

A aeromoça aproximou-se e perguntou se precisava de algo.

Eu cheguei a pensar em pedir 120 toalhinhas perfumadas para disfarçar o cheiro de fossa transbordante e uma gilete para cortar os pulsos, mas decidi não pedir:

- Nada, obrigado.

Eu só queria esquecer este dia de merda . Um dia de merda...
John Locke e a reação antiabsolutista

John Locke prega o antiabsolutismo, a limitação da autoridade real pela soberania do povo, a eliminação dos riscos da prepotência e do arbítrio. Em sua obra Segundo Tratado do Governo Civil, baseada nos princípios liberais da teoria contratualista, prega a distinção entre os poderes Legislativo e Executivo, bem como o direito de insurreição dos súditos. Em caso de conflito entre o poder governante e o povo, deve prevalecer a vontade soberana da comunidade nacional, que é a fonte única do poder.
A obra de Locke é a justificação doutrinária da revolução de 1688, e, ao mesmo tempo, o alicerce do magnífico sistema parlamentarista que vigora na Inglaterra desde 1695.
O Estado, segundo a doutrina de Locke, resulta de um contrato entre o Rei e o Povo, contrato esse que se rompe quando uma das partes lhe viola as cláusulas. Os direitos naturais do homem são anteriores e superiores ao Estado, por isso que o respeito a esses direitos é uma das cláusulas principais do contrato social. Se os homens adotaram a forma de vida em sociedade e organizaram o Estado, fizeram-no em seu próprio benefício, e não é possível, dentro dessa ordem, que o poder se afirme com mais intensidade do que o bem público o exige.
Pesquisa sobre Política


1- Por que há tantas pessoas que se desinteressam pela política?
“Devido a tantas más surpresas com os candidatos em nosso país, por inúmeros casos de envolvimento político em esquemas de corrupção, que estão aí dia a dia sendo estampadas em jornais de todo o país. E também são inúmeras as denuncias feitas pelos telejornais; conversas gravadas, subornos, e tantas outras faucatruas vindas, dos nossos governantes, que estão la colocados pelo povo, para assim representa los, mas muitos dos quais estão lá não tem dado a mínima para o povo, perdendo assim a confiança do povo, tanto o político como a política”
M.R
“Há duas características de pessoas que desinteressam pela política. Uma pessoa que não é politizada, então não tem conhecimento político, deixando assim de se envolver no assunto ficando alheia a tudo que envolve no processo político. Outras pessoas descontentes com a política e governantes. Então desistem, não acreditam mais que existe solução ao país, onde todos os políticos são corruptos e só pensam neles mesmos. Assim ignoram a política”.
S.A.M.
“Segundo Aristóteles, o homem é um animal político, sempre vai querer se socializar, e até que ele aprenda isto, vai um pouco de tempo principalmente na política, estas pessoas bloqueiam suas mentes tentando se afastar da política”
M.R

“No Brasil, há tantas pessoas que se desinteressam pela política por dois fatores primordiais. O primeiro, pela própria ignorância, por não saber, ao certo, o papel que ela desempenha a política em nossa sociedade; por não saber o quanto a política está interligada a nossas próprias vidas. E o segundo fator, é decorrido do “lixo político” que vemos pelo meio televiso; não esta tomando a parte pelo todo, porém, nos dias de hoje o discurso político pode ser associado a politicagem, ao fisiologismo, ao nepotismo, a mentira e a ocultação. Contudo, não podemos generalizá-la. Por ser um assunto polêmico e complexo, há conceituações imprecisas e superficiais”
M.A

“O grande desinteresse pela política é causado pela banalidade como é tratada. A corrupção é um dos fatores de grande relevância que leva o povo a não acreditar, a não se interessar e por acreditar que todos agirão da mesma forma. Outro fator é exatamente a ignorância. Sem uma formação básica de ensino, sem conhecer seus direitos e seus deveres, acabam se acomodando e deixam as coisas acontecerem”.
E.M.G.

“Devido a corrupção e exploração existente entre o povo, também muitos se desinteressam pela política, porque nos noticiários só se vê essas coisas ruins entre eles. (Ou seja uma palhaçada onde muitos dependem deles)”.
W.O.F

“A política, em especial a política brasileira, tornou-se desinteressante ao povo. O cidadão paga seus impostos, acredita na justiça e tudo isso acaba deixando as pessoas desacreditadas com tamanha corrupção dos atuais políticos. Notório, porém, é o caso do fatídico mensalão. Grande parte da população passando fome, outras com irrisórios salários e a cúpula da política brasileira se apoderando de uma grande fortuna. Infelizmente a política brasileira causa desinteresse dos cidadãos por causa dos políticos vigaristas, corruptos e exploradores do povo. A insatisfação do povo brasileiro é pública e notória”
A.T.G.

“A falta de uma alicerce educacional adeuqado para um jovem, e dentre outros fatores a grande causa pelo afastamento dos indivíduos pela política. Uma boa formação educacional, de um aprendizado com muitas e boas leituras, é fundamental para ter uma relação de aproximação pela política, acabando por assim afastar o seu desinteresse político, que para muitos chegam como um verdadeiro mistério, e acabam não entendendo nada”.
M.M.N

“Porque a maioria da população que não se interessa pela política são aqueles que sofreram e cansaram de reclamar, ou intão há muitos que nunca refletiram na própria palavra. Política ou ao menos exercem seu papel de cidadão sabendo o nome dos políticos que fazem o que querem com o nosso país”.
G.S.B

“A cultura de um modo geral proporciona as pessoas um aprendizado que se não as fazem exercer a política, pelo menos as fazem refletir sobre a mesma. Num país onde a grande maioria da população desconhece a língua pátria, não é de se estranhar que sejam alheios a política”.
S.L.T.P

“Muitas pessoas se desinteressam pela política porque elas cansam de acreditar em políticos que durante o mandato acabam todos fazendo as mesmas falcatruas, desse modo acabando com a esperança dos eleitores”.
J.A.L.S
“Infelizmente as pessoas mais humildes, de pouco conhecimento e cultura, pouco sabem de política e se interessam; Isso acontece pela falta de conhecimento, de saber que tudo gira em torno da política. E os mais humildes e necessitados talvez seriam os que mais deveriam se interessar pela política e sobretudo lutar pelos seus direitos e melhores condições”.
R.A.B.

“As pessoas se desinteressam pela política devido as atrocidades que ocorrem no âmbito da mesma, ou seja, corrupções, falcatruas, que sempre existiu, tornando as pessoas cada vez mais desinteressadas pela política, tendo a idéia de que esses acontecimentos nunca vai mudar”.
E.B.

“Hoje em dia existe muita corupção políticos corruptos que só pensam em si própria esquecem que foram eleitos para representarem o povo, aqueles que realmente precisam por isso que tantas pessoas deixam de acreditar nós políticos”.
M.A.B.

“Porque a falta de conhecimento sobre a política a torna desinteressante e as pessoas preferem apenas esperar e ver o que acontece”.
L.G.B.M
“Por falta de credibilidade, os políticos depois de eleitos não leslijam em prol do povo, mas para si”.
A.L.B

“Por culpa do próprio governo e políticos que mentem, prometem coisas e depois fazem totalmente o contrário para a sociedade. Pessoas que ouvem o que elas dizem e são enganados. Acreditando na farsa que estão dizendo, e com isso o povo só tem mais raiva e quer quanto menos ouvir de política melhor”.
D.G.R.

“A política é para muitas pessoas algo difícil e que necessita de um acompanhamento intensivo para que possa entender. Uma pessoa que nunca se interessou por política necessitaria pesquisar muito sobre a situação para que podesse entendê-la. Por ser muito trabalhoso, as pessoas acabam se isentando do assunto”.
L.C.B.T.

“Infelizmente em nosso país apesar da importância da política na vida das pessoas, o povo já está farto de tantas promessas e não cumprimento, corrupção; há muita desesperança, causada pelos homens públicos, é a própria ignorância também das pessoas também causada por questões sociais muito grave em nosso país. Há poucos com muito e muito sem nada”.
I.M.B
“Porque na época das eleições, os candidatos falam que vão fazer, vão mudar, melhorar o país, e quando são eleitos, viajam, participam de algumas convenções e nada fazem para melhorar o país. Tenho por exemplo a minha cidade que em época de eleições, candidatos prometem melhorar as condições do meu bairro e nada fazem, prometem melhorar as condições do meu bairro e nada fazem, prometem empregos e após ganharem suas candidaturas, evitam as pessoas nas ruas, porque são tantas promessas, principalmente os de emprego que nem se esvasiar a prefeitura cabe tanto funcionário”.
W.R.P.O

“Acredito que seja pela cultura das pessoas de não se informar e não se aprofundarem em assuntos complexos, o brasileiro nada mais é do que um preguiçoso que prefere aceitar o que lhes dão a correr atraz e lutar pelo o que é seu. E a própria política aproveitando deste defeito induz o brasileiro a continuar assim, sem reação e sem voz ativa”
F.C.

“Um dos fatores que coopera – e muito – com a falta de atenção do cidadão na política, com certeza é o fato de não haver mudanças positivas, permanecendo a demagogia”.
E.R.T.

“Devido ao histórico-político de nosso país, banhdo por corrupção, impunidade e incompetência, muitas pessoas acreditam que se alienando ou melhor poupando-se da discussão ou participação na política, estariam eximidas de culpa, nesses casos infortúnios supra citados”.
F.A.L.

“Porque a política tem nos provado que para ser integrante de algum partido político tem que ser desonesto ou cúmplice de atos desonrosos”.
M.O.P.
The New Republican Landscape

Paul Krugman

Six months after voters sent Republicans in large numbers to Congress and many statehouses, it is possible to see the full landscape of destruction that their policies would cause — much of which has already begun. If it was not clear before, it is obvious now that the party is fully engaged in a project to dismantle the foundations of the New Deal and the Great Society, and to liberate business and the rich from the inconveniences of oversight and taxes.
At first it seemed that only a few freshmen and noisy followers of the Tea Party would support the new extremism. But on Friday, nearly unanimous House Republicans showed just how far their mainstream has been dragged to the right. They approved on strict party lines the most regressive social legislation in many decades, embodied in a blueprint by the budget chairman, Paul Ryan. The vote, from which only four Republicans (and all Democrats) dissented, would have been unimaginable just eight years ago to a Republican Party that added a prescription drug benefit to Medicare.
Mr. Ryan called the vote “our generation’s defining moment,” and indeed, nothing could more clearly define the choice that will face voters next year.
His bill would end the guarantee provided by Medicare and Medicaid to the elderly and the poor, which has been provided by the federal government with society’s clear assent since 1965. The elderly, in particular, would be cut adrift by Mr. Ryan. People now under 55 would be required to pay at least $6,400 more for health care when they qualified for Medicare, according to the Congressional Budget Office. Fully two-thirds of his $4.3 trillion in budget cuts would come from low-income programs.
In addition to making “entitlement” a dirty word, the Ryan bulldozer would go much further in knocking down government programs to achieve its goals. It would cut food stamps by $127 billion, or 20 percent, over the next 10 years, almost certainly increasing hunger among the poor. It would cut Pell grants for all 9.4 million student recipients next year, removing as many as one million of them from the program altogether. It would remove more than 100,000 low-income children from Head Start, and slash job-training programs for the unemployed desperate to learn new skills.
And it would do all that while preserving the Bush tax cuts for the rich, and even expanding them. Regulation of business and the environment would be sharply reduced.
The mania for blindly cutting has also spread to statehouses, many with new Republican governors and legislatures. Several states have cut their unemployment benefits below the standard 26 weeks. Gov. Jan Brewer of Arizona has proposed removing 138,000 people from Medicaid. Many recession-battered states, including some led by Democrats, have been forced to cut other services because Republicans have made it so politically difficult to raise taxes. Education, mental health and juvenile justice funds have been particular targets.
In Wisconsin, Ohio, Indiana, Maine and Florida, Republican governors have used the smokescreen of a poor economy to pursue a long-held conservative goal of destroying public and private unions. This has nothing to do with creating jobs, of course, and it has shocked many blue-collar voters who are suddenly second-guessing their support for Republicans last November. Several states are also adopting Arizona-style anti-immigrant laws.
President Obama, after staying in the shadows too long, is starting to illuminate the serious damage that Republicans are doing. Their vision, he said last week, “is less about reducing the deficit than it is about changing the basic social compact in America.” Other Democrats are also beginning to stand up and reject these ideas, having been cowed for months by the electoral wave. Their newfound confidence will give voters a clearer view of this bare and pessimistic landscape.
Let’s Not Be Civil

By PAUL KRUGMAN

Last week, President Obama offered a spirited defense of his party’s values — in effect, of the legacy of the New Deal and the Great Society. Immediately thereafter, as always happens when Democrats take a stand, the civility police came out in force. The president, we were told, was being too partisan; he needs to treat his opponents with respect; he should have lunch with them, and work out a consensus.

That’s a bad idea. Equally important, it’s an undemocratic idea.
Let’s review the story so far.
Two weeks ago, House Republicans released their big budget proposal, selling it to credulous pundits as a statement of necessity, not ideology — a document telling America What Must Be Done.
But it was, in fact, a deeply partisan document, which you might have guessed from the opening sentence: “Where the president has failed, House Republicans will lead.” It hyped the danger of deficits, yet even on its own (not at all credible) accounting, spending cuts were used mainly to pay for tax cuts rather than deficit reduction. The transparent and obvious goal was to use deficit fears to impose a vision of small government and low taxes, especially on the wealthy.
So the House budget proposal revealed a yawning gap between the two parties’ priorities. And it revealed a deep difference in views about how the world works.
When the proposal was released, it was praised as a “wonk-approved” plan that had been run by the experts. But the “experts” in question, it turned out, were at the Heritage Foundation, and few people outside the hard right found their conclusions credible. In the words of the consulting firm Macroeconomic Advisers — which makes its living telling businesses what they need to know, not telling politicians what they want to hear — the Heritage analysis was “both flawed and contrived.” Basically, Heritage went all in on the much-refuted claim that cutting taxes on the wealthy produces miraculous economic results, including a surge in revenue that actually reduces the deficit.
By the way, Heritage is always like this. Whenever there’s something the G.O.P. doesn’t like — say, environmental protection — Heritage can be counted on to produce a report, based on no economic model anyone else recognizes, claiming that this policy would cause huge job losses. Correspondingly, whenever there’s something Republicans want, like tax cuts for the wealthy or for corporations, Heritage can be counted on to claim that this policy would yield immense economic benefits.
The point is that the two parties don’t just live in different moral universes, they also live in different intellectual universes, with Republicans in particular having a stable of supposed experts who reliably endorse whatever they propose.
So when pundits call on the parties to sit down together and talk, the obvious question is, what are they supposed to talk about? Where’s the common ground?
Eventually, of course, America must choose between these differing visions. And we have a way of doing that. It’s called democracy.
Now, Republicans claim that last year’s midterms gave them a mandate for the vision embodied in their budget. But last year the G.O.P. ran against what it called the “massive Medicare cuts” contained in the health reform law. How, then, can the election have provided a mandate for a plan that not only would preserve all of those cuts, but would go on, over time, to dismantle Medicare completely?
For what it’s worth, polls suggest that the public’s priorities are nothing like those embodied in the Republican budget. Large majorities support higher, not lower, taxes on the wealthy. Large majorities — including a majority of Republicans — also oppose major changes to Medicare. Of course, the poll that matters is the one on Election Day. But that’s all the more reason to make the 2012 election a clear choice between visions.
Which brings me to those calls for a bipartisan solution. Sorry to be cynical, but right now “bipartisan” is usually code for assembling some conservative Democrats and ultraconservative Republicans — all of them with close ties to the wealthy, and many who are wealthy themselves — and having them proclaim that low taxes on high incomes and drastic cuts in social insurance are the only possible solution.
This would be a corrupt, undemocratic way to make decisions about the shape of our society even if those involved really were wise men with a deep grasp of the issues. It’s much worse when many of those at the table are the sort of people who solicit and believe the kind of policy analyses that the Heritage Foundation supplies.
So let’s not be civil. Instead, let’s have a frank discussion of our differences. In particular, if Democrats believe that Republicans are talking cruel nonsense, they should say so — and take their case to the voters.
O fim da humanidade (ou a dívida externa argentina)

BUENOS AIRES

A dívida externa é um assunto tão discutido na Argentina que o país tem até um museu exclusivo sobre o tema, o "Museo de la Deuda Externa", da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Buenos Aires. Talvez seja o único museu do gênero no mundo _não encontrei referência a outros.

A instituição conta de forma didática toda a história do endividamento externo do país, da Independência, em 1810, passando pelo governo Perón, aos problemas econômicos das muitas ditaduras, chegando à crise econômica e social de 2001 e finalmente ao calote dado pelo ex-presidente Néstor Kirchner.

O museu, que já inovou ao contar a história da dívida argentina em uma revista em quadrinhos, agora criou um desenho animado. Ele começa a ser exibido na próxima semana no canal educativo "Encuentro".

A trama consiste na chegada à terra de três extraterrestres, que se deparam com uma arrasada Buenos Aires. Um economista (sempre eles!) trata de explicar aos alienígenas a causa do fim da humanidade: a dívida externa.

A série terá ao todo seis episódios de 25 minutos. O trailer é muito divertido.

Em tempo: segundo números do governo, a dívida externa argentina fechou o ano de 2010 em US$ 128 bilhões. Apesar dos esforços da área econômica (que montou um programa de renegociação e pagamento), ela continua crescendo. Em 2009 a dívida era de US$ 117 bilhões.

LUCAS FERRAZ
Lula encerra 'tour' pela Europa após dar palestra e receber prêmio

LUISA BELCHIOR
DE MADRI
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fechou neste sábado em Madri sua agenda de encontros na Europa em uma reunião com o presidente espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero.
Lula passou cinco dias entre Londres, Madri e Cádiz, no sul da Espanha, para dar palestra, receber prêmio e ter encontros personalidades internacionais. Ele viajou para dar uma palestra em um seminário da Telefónica para banqueiros e empresários que aconteceu em Londres. Mas aproveitou a estadia na Europa para angariar apoio internacional para o instituto que pretende criar.
Neste sábado, ele almoçou com Zapatero na sede do governo, o Palácio de la Moncloa. Lá, foi recebido como estadista pelo chefe do governo espanhol, que foi recebê-lo poucas horas depois de chegar da China, onde também se reuniu com a presidente Dilma Rousseff.
Lula e Zapatero conversaram de crise na Espanha, agenda política da América Latina e o futuro instituto de Lula. De noite, o ex-presidente aproveitou a estadia em Madri e foi assistir ao jogo de futebol entre o Real Madrid e o Barcelona. Viu o jogo no camarote do clube madrilenho, a convite da Telefónica, que fretou um avião para transportar Lula.
"Vou ver o jogo porque ninguém é de ferro", disse o ex-presidente, ressaltando que não torceu para nenhum time. "Tem brasileiro nos dois times, e além disso fui convidado pelo Real Madrid, então é melhor ficar neutro".
De manhã, Lula fez uma visita guiada pelo estádio do Real Madrid, o Santiago Bernabéu, onde aconteceu a partida. Diariamente, o clube oferece o tour por 18 euros ao longo de todo o dia para turistas, que fazem fila para o passeio. Na manhã deste sábado, porém, houve apenas uma visita, fechada para Lula e sua comitiva.
Antes de Madri, Lula passou dois dias em Londres, onde teve reuniões com o historiador Eric Hobsbawn e a presidente da ONG inglesa Oxfam Bárbara Stocking. Na palestra que deu no seminário da Telefônica, o ex-presidente deu garantias de estabilidade fiscal e democrática no Brasil e na América Latina, para atrair investimentos à região.
Na sexta-feira, foi até Cádiz, no sul da Espanha, receber um prêmio da prefeitura local.
Em uma cerimônia pequena, para 150 políticos da região, Lula discursou por mais de meia hora. Exaltou o papel de seu governo, que disse ter sido o momento mais democrático da História do Brasil, e explicou programas sociais da sua gestão.
Alguns deles, como o Bolsa Família, Lula anunciou que quer levar para a África. O tema foi conversado com a presidente da Oxfam, com quem o ex-presidente fechou parcerias.
Em Londres e na Espanha, o ex-presidente cumprimentou e abraçou imigrantes brasileiros que foram pegos de surpresa com a visita de Lula.
Esta foi a terceira viagem internacional, desde que deixou o governo, que Lula fez para dar palestras pagas -- as outras foram nos Estados Unidos e no México. Além disso, esteve em Portugal no fim de março, junto com a presidente Dilma Rousseff, para receber o título de doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra.
O ex-presidente voltou para o Brasil no fim da noite de sábado, logo após o jogo entre Real Madrid e Barcelona.
CIA sabia que invasão da baía dos Porcos fracassaria, diz americano
Publicidade

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Documentos secretos da CIA que vem sendo gradualmente divulgados mostram que a agência sabia muito bem que a invasão da Baía dos Porcos, uma tentativa dos Estados Unidos de sufocar a revolução cubana em 1961, seria um "fracasso perfeito".

A invasão de exilados cubanos patrocinada pela CIA, que completou 50 anos ontem, acabou se tornando "a maior catástrofe pública da história da agência".

Segundo Peter Kornbluh, diretor do projeto Cuba do National Security Archives, que estuda arquivos do governo americano, os papéis mostram em detalhes como o presidente John Kennedy (1961-63) mudou os planos da CIA e minou as chances de sucesso da operação.

Mas também revelam a responsabilidade da agência na comédia de erros que se tornou a invasão, inclusive por esconder do presidente que os planejadores do ataque tentaram se demitir uma semana antes.

FOLHA- O que os documentos mostram sobre como os EUA chegaram a decidir lançar a invasão da Baía dos Porcos?

PETER KORNBLUH- Documentos de dezembro de 1959 mostram que a visão dos EUA sobre Cuba passou por uma evolução no primeiro ano após a revolução. Quando Fidel veio aos EUA, se encontrou com o vice-presidente Richard Nixon, que ficou muito impressionado com seu carisma e escreveu um memorando ao presidente [Dwight] Eisenhower [1953-61] que dizia: "vamos ter que trabalhar com esse cara, ele tem um carisma tremendo, é um líder, e não temos escolha a não ser tentar guiá-lo na direção dos nossos interesses".

A CIA também se encontrou com Fidel secretamente nesta viagem também e disse, "sabe, achamos que você será o líder espiritual das forças democráticas na América Latina, mas há esse monte de comunistas soltos em seu governo, e achamos que você devia saber quem são para poder fazer algo a respeito. Então vamos armar um canal secreto para podermos te passar informações sobre comunistas em seu governo para que você se livre deles". E Fidel disse, "claro".

A visão da CIA e do Departamento de Estado passou disso para decidir por volta do verão (austral) de 1959 que Fidel Castro era tão anti-americano em sua retórica, tão perigoso por sua popularidade entre as massas do hemisfério, que precisava ser eliminado.

Em dezembro de 1959, foi escrito um grande memorando da CIA para o diretor da agência denominado "o problema cubano" no qual sugerem que o plano é se livrar de Fidel em um ano e o substituir por uma junta amigável aos EUA.

O que causou uma mudança tão rápida?

Houve todo um ciclo de indas e vindas, com a expropriação de propriedades americanas em Cuba, inclusive indústrias controladas por empresas americanas, como a açucareira, telefônicas, etc. Fidel recebeu delegações da União Soviética por razões comerciais e decidiu que as refinarias americanas em Cuba teriam que refinar petróleo soviético e não apenas americano. E havia cada vez mais inteligência sobre operativos cubanos em outros países e apoiando movimentos revolucionários por lá.

Isso os levou a planejar uma operação secreta?

Bem, foi a expropriação, a defecção da classe média alta... há documentos da CIA que mostram a expectativa [americana] de mais atividade subversiva [em outros países]. E havia [temor] de dano drástico à liderança já enfraquecia dos EUA na região.

Quando começaram com os encontros para decidir como seria a operação, como foi?

Primeiro pensaram em criar pequenas células de infiltrados que seriam levados a Cuba e teriam armas fornecidas por aviões que as jogariam do ar. Previam um orçamento de US$ 4,4 milhões.

Isso chegou a US$ 45 milhões um ano depois, quando a operação foi lançada. Então você pode ver como se expandiu.

Tentaram levar os infiltrados, mas os camponeses os entregaram às autoridades imediatamente. Foram presos, interrogados, e contaram onde as armas seriam jogadas e as datas. Quando os aviões levaram as armas, os militares cubanos estavam lá esperando por elas. Acabamos armando o Exército.

Em novembro [de 1960] abandonaram esse plano e passaram a um esquema completo de invasão paramilitar, assim como um plano secreto para assassinar Fidel.
Então a invasão foi planejada em um período de novembro a abril de 61. Começaram um esforço frenético para recrutar exilados, levá-los a campos na Guatemala, treiná-los em operações militares e organizar essa invasão.

O problema é que o governo Nixon/Eisenhower acabara de perder a eleição [para John Kennedy]. Então a CIA teve que convencer Kennedy de que a operação devia prosseguir.

Enviaram para falar com ele alguém muito persuasivo, Richard Bissel, [vice-diretor de planos da CIA], que foi o arquiteto de tudo isso. Mas ele não entendia nada sobre Cuba. Se baseava em uma série de presunções falsas de que essa força [de exilados] chegaria e todos os cubanos se uniriam para derrubar Castro.

Se não conseguissem estabelecer um campo de resistência, iriam para as montanhas e formariam uma guerrilha, assim como Castro fez.

Na ata da primeira reunião do grupo que planejou a invasão dizem que entre 60% e 70% da população apoiava Fidel e que o inimigo "sob hipótese alguma poderia ser subestimado". O plano que se seguiu não foi totalmente incoerente com essas afirmações?

Exatamente. O plano final ignora esses avisos, e não só isso: ignora os membros da CIA que sabiam que isso não ia funcionar e disseram isso repetidamente. Mas Bissel disse a Kennedy que daria certo, e que mesmo se não funcionasse da forma como planejaram, daria certo no longo prazo.

Há toda uma questão parte do folclore da Baía dos Porcos chamada "o problema da eliminação". Basicamente não poderiam cancelar o plano porque teriam 1.500 exilados voltando de campos da Guatemala para Miami que diriam que o presidente os vendeu e foi o elo fraco da operação.

Seria impossível manter tudo em segredo se fosse cancelado. Então a forma de "eliminar" o problema seria levá-los a Cuba e os apoiar, e na pior das hipóteses formar uma guerrilha nas montanhas.

O quanto Kennedy alterou o plano?

Muito. Tanto Kennedy quanto Eisenhower queriam que essa fosse uma operação secreta, pois seria completamente ilegítimo para o "superpoder" EUA invadir Cuba sem nenhum motivo.

Cuba não nos havia atacado, não era ameaça para nossa segurança [física], não estávamos em guerra, assinamos a convenção da ONU sobre os direitos soberanos de países, toda a América Latina pegaria em armas se invadíssemos, e ajudaríamos a radicalizar a região. O Departamento de Estado também não estava muito ansioso por uma invasão aberta.

Mas quando a CIA abordou Kennedy, o plano era chegar a Cuba durante o dia em uma cidade --Trinidad. Ele exigiu algo "menos barulhento' e ordenou que a invasão fosse a noite em um lugar isolado.

Isso foi em março de 1961. Então tiveram quatro dias, depois de planejar por um ano, para encontrar um novo local de chegada. O único lugar que encontraram que atendia aos critérios da Casa Branca foi a Baía dos Porcos. Lá havia uma praia, era isolado, e havia uma faixa de terra onde todos os aviõezinhos que chegariam da América Central poderiam pousar depois que a praia fosse conquistada.

De lá poderiam lançar ataques às forças em Havana.

O plano mudou. O gerente da operação na CIA, Jacob Esterline, me disse ter pensado: "Baía dos Porcos... não é um nome que soa a sucesso". Não havia nada lá a não ser crocodilos e patos.

Esterline e Jack Hawkins, que comandou a parte militar, tentaram se demitir uma semana antes. Foram até a casa de Bissel em 8 de abril [cerca de uma semana antes do início da operação] para dizer que não achavam que o presidente entendia o que era necessário e que todas as restrições exigidas para manter a operação secreta prejudicavam as chances de ela ser bem sucedida.

Bissel disse que falaria com Kennedy e os convenceu a ficar. Mas não fez isso.

Kennedy fez várias outras coisas, como cortar o número de aviões que participariam de um ataque aéreo preliminar de 16 para oito, pois ele achava que 16 não seriam muito discretos.

Esse ataque preliminar foi armado porque os estrategistas militares americanos sabiam que sem isso os aviões de Castro poderiam atacar a praia, matar todo mundo e afundar nossos navios.

E foi exatamente o que fizeram. Afundaram o navio que tinha alimentos, combustível e munição. Todas as armas e gasolina foram perdidas.

Outro problema era que para manter a história os aviões não podiam partir de Miami, tinham que vir da América Central, de lugares mais afastados, e só tinham uma hora para fazer os ataques e voltar antes que o combustível acabasse. Como a faixa de terra nunca foi conquistada, não podiam aterrissar por lá.

De toda forma a mentira de que os EUA não estavam envolvidos não se sustentou, e Kennedy mandou cancelar o segundo ataque aéreo.

Kennedy havia sido humilhado na frente do mundo inteiro. A CIA estupidamente deixou que a invasão coincidisse com uma conferência na ONU sobre as reclamações de Cuba a respeito das agressões crescentes dos EUA.

A CIA foi até o embaixador americano na ONU e contou uma grande mentira, dizendo que um piloto cubano decidiu deserdar e jogou um monte de bombas e depois fugiu para Miami. Era e história de fachada. Enquanto o embaixador tentava contar essa história para a comunidade internacional, repórteres em Miami relatavam que o avião que apresentaram a eles como prova da deserção do piloto cubano era de fato americano e a coisa toda era um embuste.

A operação "secreta" foi exposta em minutos.

Houve vários outros detalhes que não deram certo...

Vários. Um dos planos era enviar proteções para os aviões dos exilados no meio do ataque. Os aviões dos exilados vinham da América Central e usavam o fuso horário local; as aeronaves de proteção partiram de porta-aviões da Marinha americana que estavam em águas internacionais usando o horário de Washington. Resultado: chegaram uma hora atrasados.

Esse acúmulo de erros de planejamento foram resultado do pouco tempo de reajuste do plano após a posse de Kennedy?

Em um documento interno da CIA que obtive em 1998, há as seguintes afirmações do inspetor-geral da CIA: "A agência fracassou em reconhecer que quando o projeto avançou para além do padrão de uma negativa plausível, estava indo além da área de responsabilidade e também de capacidade da agência".

"A agência acabou tão envolvida no planejamento militar que não conseguiu avaliar as chances de sucesso realisticamente. E mais: fracassou em manter os que ditavam as políticas adequadamente informados sobre temas considerados essenciais para o sucesso e não pressionou suficientemente por decisões em uma situação que se movia muito rápido."

As coisas deram errado desde o princípio. O que os memorandos indicam sobre as reações de Kennedy?

Seus assessores foram até ele e disseram que era preciso transformar a operação em algo declarado e deixar os militares entrarem atrás dos exilados e os salvar. E sua posição foi manter tudo secreto e dizer que os EUA não invadiriam Cuba. Só cedeu em permitir os aviões de proteção, mas eles não chegaram a tempo e foi uma oportunidade única. Pelo terceiro dia, as forças de Castro já haviam basicamente vencido. A brigada não tinha mais munição nem comida, não podia ficar na praia e acabou no pântano, onde era impossível lutar. Eventualmente foram todos capturados ou se renderam.

Kennedy errou totalmente ou foi mal informado?

Bem, não quero tirar sua responsabilidade. Ele deu o sinal verde, mesmo estando cético e só aprovando a operação no último minuto.

Mas ele realmente não estava bem informado. Ouviu de Bissel uma história irreal sobre as chances de sucesso e a necessidade de ir em frente. O próprio inspetor-geral da CIA culpou Bissel em sua avaliação.

A CIA mais tarde concordou com a avaliação de que a baía dos Porcos foi uma vitória política para Cuba?

Do ponto de vista analítico, certamente. [A invasão] deu a Cuba uma reputação tremenda no Terceiro Mundo. Foi a verdadeira história de Davi e Golias. Foi parte do que fez a Baía dos Porcos um "fracasso perfeito". A intenção era minar a revolução, e a impulsionou. Era remover aliados soviéticos potenciais do hemisfério Ocidental, e levou Castro direto para os braços da União Soviética. Foi no meio da invasão que Fidel declarou a ilha um Estado socialista. E, claro, era para ser uma operação secreta, e se tornou uma das maiores catástrofes públicas da história da CIA.
Embaixador em Paris é nomeado premiê de Burkina Fasso


DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O embaixador de Burkina Fasso em Paris, Luc-Adolphe Tiao, foi nomeado nesta segunda-feira à noite por decreto primeiro-ministro para substituir Tertius Zongo, destituído na sexta-feira em meio a movimentos de contestação em todo o país, principalmente de militares.

O novo premiê do país da áfrica ocidental tem 56 anos e nunca tinha ocupado um posto ministerial antes. Ele é formado em jornalismo e foi diretor do jornal estatal "Sidwaya". Também foi presidente do Conselho Superior de Comunicação do país.

Tiao ficará encarregado de formar um novo governo para pôr fim aos diversos movimentos de contestação, principalmente de soldados e jovens, que afetam Burkina Fasso há dois meses.

O presidente Blaise Compaoré dissolveu na sexta-feira o governo de Zongo um dia depois de novos motins de soldados de sua própria guarda presidencial. Ele também substituiu os principais chefes do Exército e instaurou um cessar-fogo.

As medidas não conseguiram reduzir a tensão e o país é afetado por violentas manifestações e motins.
Embaixador em Paris é nomeado premiê de Burkina Fasso


DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O embaixador de Burkina Fasso em Paris, Luc-Adolphe Tiao, foi nomeado nesta segunda-feira à noite por decreto primeiro-ministro para substituir Tertius Zongo, destituído na sexta-feira em meio a movimentos de contestação em todo o país, principalmente de militares.

O novo premiê do país da áfrica ocidental tem 56 anos e nunca tinha ocupado um posto ministerial antes. Ele é formado em jornalismo e foi diretor do jornal estatal "Sidwaya". Também foi presidente do Conselho Superior de Comunicação do país.

Tiao ficará encarregado de formar um novo governo para pôr fim aos diversos movimentos de contestação, principalmente de soldados e jovens, que afetam Burkina Fasso há dois meses.

O presidente Blaise Compaoré dissolveu na sexta-feira o governo de Zongo um dia depois de novos motins de soldados de sua própria guarda presidencial. Ele também substituiu os principais chefes do Exército e instaurou um cessar-fogo.

As medidas não conseguiram reduzir a tensão e o país é afetado por violentas manifestações e motins.
Europa permite à França rejeitar imigrantes ilegais vindos da Itália

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Após protestos do governo italiano, a Comissão Europeia anunciou seu apoio à decisão da França de fechar temporariamente suas fronteiras a trens com imigrantes africanos vindos da Itália. Embora os dois países tenham acordos de circulação livre de cidadãos, o bloco chegou à conclusão de que as medidas francesas não violam as regras da União Europeia (UE).

A França barrou no fim de semana a passagem dos trens na fronteira de Menton com Ventimiglia (Itália), o que levou Roma a acusar Paris de estar violando as leis europeias que garantem a livre circulação de pessoas.

Mas a comissária europeia para Assuntos Internos, Cecilia Malmstrom, se disse satisfeita com a explicação francesa de que a medida se destinava a preservar a ordem pública. "Aparentemente, eles tinham o direito de fazer isso", afirmou ela em entrevista coletiva.

Em entrevista publicada na segunda-feira, o chanceler italiano, Franco Frattini, declarou que a França violou regras e pisoteou o Tratado Schengen, um regulamento crucial da União Europeia que assegura a livre circulação de viajantes entre os países aderentes.

"Se a situação persistir, pouparíamos tempo ao dizermos que simplesmente mudamos de ideia a respeito da livre circulação, que é um dos princípios fundamentais da União", disse ele. "Mas temos certeza de que a França irá se explicar."

Em visita à Bulgária, o ministro francês do Interior, Claude Gueant, retrucou dizendo que Paris seguiu as regras. "Aplicamos a letra e o espírito do Acordo Schengen", afirmou.

POLÊMICA

A polêmica entre França e Itália prenuncia um acirrado debate nas próximas semanas sobre como a UE deve lidar com a onda de refugiados causada pelas revoltas populares no norte da África.

A Itália pleiteia ajuda de outros governos da UE para lidar com 26 mil imigrantes que chegaram às suas costas desde o começo do ano.

Roma concedeu autorizações temporárias para que esses imigrantes viajem pela Europa, o que causou preocupação em outros governos, temerosos de que isso estimule a imigração ilegal para o continente.

Agências humanitárias dizem que milhares de pessoas ainda podem tentar cruzar o Mediterrâneo para chegar à Europa fugindo da guerra civil em curso na Líbia.

A França não está sozinha na tentativa de barrar os imigrantes. Tunisianos que chegam à Bélgica portando os vistos temporários emitidos pela Itália precisarão provar que possuem pelo menos 10 mil euros (14.330 dólares) por casal.

A Áustria, que assim como a França tem fronteira com a Itália, também procura maneiras de conter os imigrantes; já o Reino Unido acaba de decidir impor um limite ao número de trabalhadores qualificados vindos de qualquer lugar de fora da UE.

Pelas regras da UE, os governos podem emitir autorizações de residência a cidadãos de fora do bloco, mas os migrantes precisam ter documentos de viagem válidos e condições de subsistência para se sustentar se quiserem entrar em outros países.

Um governo europeu também pode realizar controles fronteiriços esporádicos, e podem temporariamente adotar controles fronteiriços plenos por motivos de segurança pública.
Um funcionário do alto escalão do partido conservador alemão, da chanceler Angela Merkel, acusou a Itália de usar métodos mafiosos na concessão de vistos a refugiados tunisianos.

Roma utiliza “métodos de chantagem que conhecemos unicamente na máfia”, declarou nesta quarta-feira Günter Krings, responsável pelas Relações Interiores do grupo parlamentar CDU/CSU, segundo o jornal Bild.

Para o secretário de Estado de Interior, Ole Schröeder, citado pelo mesmo jornal, os tunisianos, com os quais o governo italiano decidiu acordar um visto de residência de seis meses, que os permite se mover por todo o espaço Schengen, são “claramente refugiados econômicos”.

O ministro do Interior do estado regional da Baixa-Saxônia, Uwe Schünemann, pediu, por sua vez, que a UE retire as ajudas solicitadas por Roma para gerir a chegada de mais de 25 mil tunisianos que emigraram para a Itália desde o início de 2011.

Fonte: AFP
Mais de 36 mil pessoas fugiram dos distúrbios na Líbia e cruzaram a fronteira para o Níger nos últimos dois meses, segundo afirmou hoje a rádio pública do país, Voz do Sahel. A maioria é de cidadãos da Nigéria.

Aproximadamente 10 mil pessoas chegaram à capital do norte do Níger, Agadez, em cerca de 50 caminhões entre sábado e ontem, incluindo mulheres e crianças. “Até 11 de abril, 36.300 pessoas, incluindo 33.800 nigerianos e 2.500 outras do oeste africano, fugindo da violência na Líbia, foram registradas em Agadez”, afirma a rádio.

A Organização das Nações Unidas (ONU) espera cerca de 2 mil novas chegadas por semana no Níger, para os próximos três meses. Um país rico em petróleo, a Líbia é uma grande fonte de empregos para pessoas do oeste da África, muitas delas trabalhando irregularmente. Elas começaram a deixar o país em fevereiro, em meio aos protestos contra o governo de Muamar Kadafi. As informações são da Dow Jones.

Fonte: O Estado de S. Paulo
Os moradores que fugiram das imediações da central nuclear de Fukushima, no nordeste do Japão, são recusados pelos abrigos, pelo temor de que estejam contaminados por radiação e prejudiquem outras pessoas.

Os que tiveram que deixar suas casas, suas fazendas, seus animais, em razão da crise na central Fukushima Daiichi (N°1), precisam de um certificado oficial provando que não estão contaminadas para que possam entrar nos centros de acolhida de desabrigados.

Os equipamentos de detecção de radiação instalados na entrada dos locais tornaram-se postos de controle que dão acesso a um lugar para dormir ou mesmo para que recebam cuidados médicos, mesmo que os especialistas afirmem que as pessoas que deixaram as áreas afetadas não representam risco algum para as outras.
Um navio de ajuda humanitária levou quase 1.200 imigrantes para a cidade de Benghazi, no leste da Líbia, na noite de sexta-feira, apenas uma parte daquelas pessoas retidas na cidade sitiada de Misrata que desesperadamente tentam escapar.

Forças leais ao líder líbio, Muammar Gaddafi, cercaram o único reduto rebelde no oeste do país há seis semanas usando foguetes e outras armas pesadas. Centenas de civis podem ter morrido nos confrontos.

Provavelmente há ao menos de 8 mil a 10 mil imigrantes que ainda precisam ser retirados da cidade, disse Jeremy Haslam, um coordenador da Organização Internacional para as Migrações (OIM) que estava a bordo do navio.
Nampula, Moçambique, 18 abr (Lusa) – O Alto Comissariado das Nações Unidas para o Apoio aos Refugiados(ACNUR) e a Cruz Vermelha de Moçambique (CVM) preveem concluir em breve a construção de 200 abrigos provisórios para mil refugiados do Centro de Marratane, em Nampula.

Fonte da administração do centro confirmou hoje o estado deplorável em que vivem os refugiados naquele campo no norte de Moçambique, muitos sem condições mínimas de abrigo.

Para minimizar o actual cenário, ACNUR e CVM mobilizaram recursos financeiros, materiais e humanos, para acomodar de forma provisória parte dos somalis e etíopes que entram semanalmente no país, invocando a sua condição de refugiados

O declínio da Superpotência

O declínio da Superpotência


A ONG WikiLeaks escancara dois fatos com o vazamento diplomático de documentos dos Estados Unidos.
Primeiro, uma evolução importante das práticas da diplomacia americana: a expansão das tarefas da espionagem direta. Segundo, esse acontecimento revela sinais da possível decadência norte-americana.
Na verdade, como afirma James Lindsay, vice-presidente sênior do Council on Foreign Relations: “as linhas entre a diplomacia e a espionagem sempre foram tênues”. Embora o que se constata nos documentos que “poderão ser” publicados gradualmente no WikiLeaks – os Estados Unidos estão tomando medidas para evitar maior vazamento - é que diplomatas americanos receberam orientações diretas da secretária de Estado, Hillary Clinton, e da embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice para coletar dados biométricos, números de cartões de crédito e até DNA de autoridades estrangeiras.
Para alguns analistas, o esforço dos Estados Unidos em grampear amigos e inimigos é uma resposta à perda gradual de poder e influência. O colunista e editor do “Guardian”, Seumas Milne, afirma que as ações “mostram como o império americano começou a perder o rumo quando o momento do mundo unipolar pós-Guerra Fria passou, Estados antigamente dependentes como a Turquia resolveram andar sozinhos e poderes regionais como a China começaram a fazer sua presença global mais sentida”.
Na mesma linha de raciocínio de Milne, o jornalista Elio Gaspari da Folha de São Paulo, em artigo publicado na Folha, 5 de dezembro p.p, opina: “A papelada do WikiLeaks relacionada com o Brasil prestou um serviço à diplomacia nacional. À primeira vista, apresentou o Itamaraty como inimigo dos Estados Unidos. Olhada de perto, documentou que o governo americano é inimigo do Itamaraty”.
Ainda segundo Gaspari, o que “incomoda o Departamento de Estado é uma diplomacia capaz de impedir que sua negocie no varejo dos ministérios assuntos que envolvem relações internacionais. Se o embaixador Sobel pudesse tratar temas da defesa só com Jobim, seria um prazer. Os diplomatas brasileiros não decidem todas as questões onde se metem, mas atrapalham. Por isso, um embaixador americano queixava-se dos “barbudinhos do Itamaraty”.
Segundo Stoessinger, na obra clássica O poder das Nações, a diplomacia pode ser definida como sendo a condução das relações internacionais por meio das negociações. É um processo através do qual as nações procuram realizar seus interesses nacionais. Nem sempre ela é um instrumento de ordem política. Seu objeto pode ser, às vezes, a intensificação de uma luta entre as nações, ou pode ser um instrumento neutro que considere a ordem como coisa irrelevante na busca dos interesses nacionais. Já dizia o primeiro-ministro austríaco Metternich: “a diplomacia é a arte de evitar os ares da vitória”.
Realmente a diplomacia é o principal instrumento da ordem política. Nas palavras do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas A. Shannon: “Diplomatas devem conduzir conversas francas com seus pares e eles devem ter a garantia da confidencialidade dessas conversas. O diálogo honesto, dentro e entre governos faz parte da base das relações internacionais. Não poderíamos manter a paz, a segurança e a estabilidades internacionais sem isso”.
Ao longo da história, a diplomacia precedeu de quase dois mil anos o sistema de nações-estado. Quando lemos a Guerra do Peloponeso de Tucídides nos surpreendemos pelas visões profundas que os antigos tinham da sutil arte de negociar. Conforme diz Stoessinger: “se os gregos fizeram uma contribuição realmente importante para a essência da diplomacia – a acomodação de conflitos de interesses – a contribuição dos romanos foi igualmente importante, isto é, investir a prática da diplomacia de autoridade legal”. O Príncipe, de Maquiavel, durante o período do Renascimento, foi o mais famoso dentre muitos discursos contemporâneos sobre o tema. O advento do sistema de Estados-nações, no século XVII, introduziu a era da atividade diplomática (a velha diplomacia) e dominou o cenário até a Primeira Grande Guerra Mundial. A diplomacia tradicional, de curiosas práticas que prevaleceu durante trezentos anos – de intrigas, conspirações, libelos, perucas empoadas e “congressos valsantes” – muito raramente cometiam erros grosseiros na avaliação que faziam do poder e dos objetivos de outras nações. Subestimar ou superestimar o poder dos antagonistas era exceção, não regra.
A diplomacia tradicional, via de regra, caracterizava-se por um espírito de negociação. A característica inconfundível da velha diplomacia era o princípio do dá-cá-tomá-lá.
A velha diplomacia caiu em descrédito, com a chegada do século XX. Os idealistas acreditando que a política do poder pudesse banida da terra através do estabelecimento de uma Liga das Nações, faziam mau juízo da antiga diplomacia, toda imersa num clima de segredo, considerando-a sintoma de uma era corrupta e já morta. O novo espírito da Diplomacia moderna ficou personificado no presidente norte-americano Woodrow Wilson em seus Cartoze itens: “Convênios de paz, abertos e negociados abertamente, após os quais não haja interpretações privadas de nenhuma espécie, senão que a diplomacia se processe a portas abertas e sob as vistas do público”. A implicação disso tudo significa que os negócios da diplomacia são demasiado importantes para se restringirem apenas aos diplomatas. Os princípios do governo democrático exigem que, em matérias que afetassem os interesses vitais da nação, o público fosse mantido informado e livre para se exprimir, a cada fase do processo das negociações.
A natureza da diplomacia e do diplomata mudou, portanto, no século XX e XXI. É inegável que o moderno diplomata pouco será mais que um mensageiro encarregado de comunicar a outros as instruções recebidas de seu governo. Com freqüência, vemos nas conferências de cúpulas os chefes de Estado estabelecerem uma diplomacia presidencial, ignorando os emissários e tratando uns com os outros diretamente. Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, Stalin, Churchill, Roosevelt não se confiaram apenas unicamente ao talento de seus diplomatas. Com efeito, boa parte de suas decisões políticas mais vitais foram acertadas entre eles por telegramas e por longas conversas telefônicas pessoais.
De acordo com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: “os tempos mudam, e nós mudamos com eles. No entanto, há coisas que, por sua própria natureza, possuem uma vocação de permanência, de tradição, de contato com o passado. A diplomacia, por razões de fundo e de forma, é certamente uma delas (...) Nada disso, contudo, significa que a diplomacia esteja isenta de sofrer os efeitos da passagem do tempo. Os países mudam, as sociedades se transformam, envelhecem as visões de mundo, os diplomatas se defrontam com o desafio de responder aos novos tempos sem perder as referências tradicionais, atualizar-se sem desenraizar-se, abrir-se ao novo sem romper equilíbrios delicados, construídos ao longo de décadas, às vezes até séculos”.
Contudo, o que se verifica nessa crise diplomática global a partir do vazamento de documentos sigilosos da diplomacia dos Estados Unidos é que cada vez mais a diplomacia e a espionagem estão em uma zona cada vez mais interligada. Para Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasil nos EUA, é “notório que os EUA são particularmente ativos em espionagem internacional”.
De fato, coletar dados é parte intrínseca do trabalho dos diplomatas – avaliações de políticas, negociações e líderes mundiais, relatórios sobre conversas privadas com pessoas de dentro e de fora de outros governos. Nos Estados Unidos, relatórios internos dos diplomatas são um dos muitos elementos que formam as políticas de Defesa e Segurança. Disso tudo, o fato que chama atenção é o constrangimento do vazamento dessas informações de um país que gasta US$ 75 bilhões anuais num sistema de segurança que agrupa 1.200 repartições, contrata 2.000 empresas privadas e emprega mais de 1 milhão de pessoas, dos quais 854 mil têm acesso a informações privilegiadas. E tudo indica conforme “fontes oficiais”, os documentos sigilosos foram copiados por um jovem soldado num CD enquanto fingia ouvir Lady Gaga, cantarolando “Telephone”: “Pare de ligar, eu não quero falar”.
Dessa forma, as autoridades norte-americanas não deveriam responsabilizar o WikiLeaks (e seu editor Julian Assange) e os jornais que divulgaram os documentos pelos problemas da diplomacia dos EUA – que deveria zelar pelos dados sigilosos.

José Renato Ferraz da Silveira é doutor em Ciência Política pela PUC-SP e professor de Relações Internacionais da UFSM. jreferraz@hotmail.com