quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

cartilha de RI da UFSM

1) O QUE SÃO AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS?

A busca pelo entendimento das relações internacionais sempre foi, independentemente da época, uma constante na história de todos os povos. No entanto, com a intensificação das relações econômicas, sociais e políticas entre diferentes Estados, a necessidade de surgimento de uma disciplina específica e que pudesse abranger a importância dessas questões fora sentida por diferentes intelectuais e políticos. Fruto desse imperativo e desse contexto histórico-político, a disciplina de Relações Internacionais surgiu e vem sendo consolidada, cada vez mais, no mundo acadêmico, como uma ferramenta para a formulação da política externa de diferentes países. Não sendo limitada a questões de políticas de Estado, as Relações Internacionais servem também como um mecanismo para o entendimento do sistema internacional, sendo de grande valia para setores privados, para mídia bem como para grandes empresas e demais organizações intergovernamentais ou não-governamentais.
Importante frisar que as RI são definidas como uma disciplina do campos das ciências sociais, sendo uma ciência social cujo objeto de estudo encontra-se na esfera internacional. Daí a importância do conhecimento aprofundado, por parte do internacionalista, de questões trabalhadas pela Antropologia, Ciência Política, Direito, História, Geografia, Sociologia, Economia e demais áreas afins. Como uma esfera do conhecimento multidisciplinar e interdisciplinar, as RI são influenciadas por essas variadas áreas científicas, trabalham diretamente com seus postulados, congregam as diferentes visões e, por fim, colaboram para o desenvolvimento das ciências sociais, como um todo.
Por fim, podemos dizer que a matéria de estudo Relações Internacionais, como disciplina autônoma, é muito recente, visto que suas origens datam do final da Primeira Guerra Mundial, em um período cuja preocupação central era evitar a recorrência de novos fenômenos internacionais com similar potencialidade devastadora. Originariamente como uma ciência da paz, as RI representam, portanto, um instrumento utilizado na promoção de políticas e estratégias cujos objetivos últimos são o entendimento da dimensão internacional e a promoção do bem-estar de todos os indivíduos, cada vez mais interdependentes e próximos uns aos outros.

2) OBJETO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Relações Internacionais são uma ciência dedicada a estudar todos os fenômenos que ocorrem no sistema internacional, sejam eles econômicos, políticos, ambientais ou de qualquer outra espécie. Difere-se da história, sociologia, economia, antropologia, filosofia e do direito, ainda que se valha de diversos conceitos e noções destes.
Nos últimos anos, o estudo das relações internacionais vem ganhando importância, principalmente com o processo de globalização verificado ao longo dos dois últimos séculos.
As inter-relações entre os povos expandiram-se muito e o conhecimento dessa nova realidade tornou-se essencial para o entendimento da nova dimensão de interdependência entre os países e as regiões.
As relações entre Estados, organizações internacionais e outros atores do sistema mundial, bem como as transformações do sistema internacional, no decorrer do tempo, são os focos principais das interpretações que fazem parte das teorias estudadas pelas Relações Internacionais. Suas análises combinam as relações de força entre os Estados e as atuações dos organismos internacionais públicos e privados.
A necessidade específica das sociedades compreenderem a realidade externa no processo de interação entre os diversos atores, acontecimentos e fenômenos da atualidade refletem na necessidade do estudo das Relações Internacionais. Sua concentração está na interpretação dos fenômenos que extrapolam as fronteiras dos Estados.

3) OBJETIVOS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Quando assistimos televisão ou nos conectamos a Internet, lemos jornal ou ouvimos rádio, nos confrontamos com fatos internacionais que às vezes nos passam despercebidos. A não ser que tais fatos nos afetem diretamente como, por exemplo, aumentos nos preços da gasolina por causa das guerras no Iraque, a diminuição da segurança global depois dos atentados terroristas de 11 de setembro e a crise econômica global gerada pela desaceleração da economia norte-americana, encaramos tais notícias como banais. Porém, como cada vez mais se aprofundam os impactos dos fenômenos e fatos internacionais nos mais diversos países e suas sociedades domésticas, ou seja, o interno e o externo estão hoje mais interligados do que nunca, e onde termos como globalização, interdependência e regionalismo têm ganhado destaque pressionando governos, empresas e indivíduos, é que uma matéria dedicada à análise do que acontece no mundo, avaliando as interações entre os países e todos os processos que transformam e afetam o cenário mundial como as Relações Internacionais (RI) vêm ganhando centralidade e crescendo significativamente no Brasil.

4) VANTAGENS DO PROFISSIONAL DE RI

O profissional de Relações Internacionais possui amplo conhecimento multidisciplinar com estudos nas áreas de ciências políticas, ciências econômicas, história, direito internacional, geografia, sociologia, organizações e tratados internacionais; além das relações internacionais especificamente. Através da teoria humanista conjugada com a realidade, faz com que a percepção sobre global business, integração de blocos regionais, o fluxo de pessoas, análise do cenário internacional, lhe dê escopo para redigir contratos, negociar acordos com parceiros de outros países, fazer prospecção de mercados e aplicar estratégias de negociação internacional e seu conhecimento em línguas estrangeiras para maximizar resultados. É responsável por fazer a interface entre o contexto interno e o cenário externo.
Devido à globalização, à formação de blocos econômicos, às várias assinaturas de tratados internacionais bilaterais ou multilaterais e à aproximação dos países em diversas esferas; a demanda por profissionais capacitados para ligar com a diversa gama de variáveis que influenciam essas relações aumenta exponencialmente. Nesse contexto, cada vez mais as características dos bacharéis de Relações Internacionais são pré-requisitos para exercer as funções de elemento conector entre as instituições e o cenário internacional.
Dentre essas características, exemplificam-se as principais:
- habilidade em negociações; comunicação efetiva
- habilidade para lidar com pessoas
- concentração; capacidade de persuasão
- capacidade organizacional
- habilidade em tomar e mediar situações
- capacidade de agir sob pressão
- manter-se constantemente informado; busca constante por aperfeiçoamento e atualização
- manutenção de contatos estratégicos no plano internacional
- conhecimento de idiomas
O internacionalista, como é chamado esse profissional, aprende a ver a realidade com outros olhos e a correlacionar os fatos políticos e econômicos com variáveis sociais, ‘ambientais, geográficas, estratégicas, utilizando-se de raciocínio ágil é capaz de formular políticas de repercussão nacional e internacional.

5) MERCADO DE TRABALHO NA ÁREA DE RI

É notável a crescente necessidade de profissionais de Relações Internacionais no atual estágio da sociedade, ainda mais que, percebendo a multidisciplinaridade do curso, o internacionalista se torna um generalista, podendo atuar em qualquer área vinculada ao seu terreno. O mercado de trabalho deste setor é vasto e tende à expansão.
O que se percebe de um aluno deste curso, na grande parte das vezes, é o desejo de partir para a carreira diplomática, a possibilidade de construir uma carreira no exterior. Mas há, na realidade, uma fração mínima de egressos de Relações Internacionais concursando o Itamaraty e trabalhando no Ministério das Relações Exteriores. Porém é necessário destacar a importância daqueles que aderem à carreira no Ministério. Segundo o Instituto Rio Branco, o diplomata tem de ser capaz, entre outros, de bem representar o Brasil perante a comunidade de nações; obter as informações necessárias à formulação de nossa política externa; participar de reuniões internacionais e, nelas, negociar em nome do Brasil; assistir as missões no exterior de setores do governo e da sociedade; amparar seus compatriotas; e promover a cultura e os valores de nosso povo.
De acordo com o Ministério de Relações Exteriores brasileiro, há outras oportunidades para internacionalistas, como o Cerimonial. Cabe ao funcionário deste setor a organização dos eventos públicos que interessem ao relacionamento da Nação com outros Estados, a entrega de credenciais de embaixadores estrangeiros, além da organização de encontros de presidentes. Já a Coordenação Geral de Privilégios e Imunidades garante a concessão de privilégios e imunidades ao Corpo Diplomático e Consular e procura a reciprocidade no tratamento das Embaixadas e Consulados brasileiros. Outro setor, o Departamento de Promoção Comercial e Investimentos (DPR) é a unidade competente do Ministério das Relações Exteriores para agir na organização, na direção e na implantação das políticas de promoção das exportações brasileiras e de captação de investimentos de interesse do País.
Outra possibilidade é o trabalho em grandes organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), a Organização dos Estados Americanos (OEA), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o MERCOSUL e a Cruz Vermelha Internacional, mas o ingresso é difícil, visto que a concorrência é internacional e as indicações pessoais são significativas.
Também interessante é o ramo acadêmico, com pesquisa, desenvolvimento de projetos, além da probabilidade de se tornar docente. O professor deste curso carrega a responsabilidade de fornecer as bases para profissionais que sejam capazes de suprir a necessidade deste mercado o qual se abre para o mundo - internacionalistas que possam suprir, entre outras demandas, a necessidade encontrada pelos órgãos públicos por assessoria internacional e por funcionários que possam fornecer uma análise e um processamento de informações relativas aos diferentes cenários regionais e internacionais.
Uma crescente área de atuação para os internacionalistas encontra-se nos ministérios em Brasília, já que todos têm sua assessoria internacional. O mesmo acontece com a Câmara dos Deputados, o Senado, governos de estado, municípios e organizações não-governamentais, que procuram linhas de cooperação e investimentos do exterior. Destacam-se também a carreira pública na Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) ou no Ministério das Relações Exteriores; embaixadas, consulados, secretarias municipais e estaduais de relacionamento externo; escritórios e demais representações do governo no exterior e o cargo de analista de comércio exterior junto ao Ministério do Desenvolvimento apoiado pelo Ministério das Relações Exteriores.
As empresas privadas brasileiras têm buscado cada vez mais profissionais desta área devido a sua internacionalização. Um internacionalista que possa ocupar uma posição de gestão se torna cada vez importante neste contexto, já que as questões internacionais se refletem internamente de maneira cada vez mais acentuada. A interpretação de políticas que possam impactar nas decisões tomadas pelas empresas é o papel deste analista e consultor internacional formado em Relações Internacionais: a compreensão das realidades culturais, econômicas e sociais nas diferentes regiões do planeta se torna essencial para empresas que tenham inserção internacional.
Ao passo que os movimentos políticos e sociais se internacionalizam, abre-se um respeitável espaço de trabalho para os analistas de relações internacionais. Partidos políticos, movimentos sociais, entidades empresariais e centrais sindicais atuam no plano internacional e necessitam de um profissional com um conhecimento especializado sobre o contexto internacional.
A mídia, da mesma forma, exige esse conhecimento, sendo outro setor promissor para um bacharel em Relações Internacionais. Uma análise da conjuntura internacional pode ser fornecida por um profissional que compreenda com clareza os fatos internacionais: hoje já não é difícil encontrar profissionais da mídia que possuam alguma formação em Relações Internacionais.
O mundo globalizado, com sua interdependência cultural, econômica e social abre as portas para que se formem profissionais que tenham a capacidade de entendê-lo. Assim se expandem as Relações Internacionais, cada vez mais importantes e indispensáveis.

6) O CURSO DE RI NO RS

No Brasil são dezenove instituições públicas que oferecem o curso de Relações Internacionais, quatro delas são no Rio Grande do Sul que, juntamente com instituições privadas, tem um total de onze faculdades.
Instituições públicas e privadas que oferecem o curso de Relações Internacionais no Rio Grande do Sul:
Centro Universitário La Salle (Unilasalle): A instituição foi a primeira do RS a oferecer o curso de Relações Internacionais. Teve início em 25/02/2003.
Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM): oferece o curso desde 2007.
Faculdade América Latina: oferece o curso desde 2006.
Centro Universitário Univates (UNIVATES): oferece o curso desde 2008.
Faculdade Anglo-Americano de Caxias do Sul: oferece o curso desde 2007.
Faculdade Anglo-Americano de Passo Fundo: oferece o curso desde 2009.
Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC): oferece o curso desde 2009.
Universidade Federal de Pelotas (UFPel): A Universidade de Pelotas tem o curso mais novo nas instituições públicas do estado, começou a oferecer o curso em 2010.
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e UNIPampa (Universidade Federal do Pampa): Ambas universidades começaram a oferecer o curso em 2009.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): Pioneira das federais em oferecer o curso no Rio Grande Sul, a UFRGS oferece o curso desde 2004.
Demais instituições públicas que oferecem o curso e o ano de criação, respectivamente:
Fundação Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD (2009)
Universidade de Brasília – UNB (1974)
Universidade de São Paulo – USP (2002)
Universidade Estadual da Paraíba – UEPB (2006)
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP (2003)
Universidade Federal da Integração Latino-Americana – UNILA (2010)
Universidade Federal da Paraíba – UFPB (2008)
Universidade Federal de Roraima – UFRR (2006)
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2009)
Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP (2011)
Universidade Federal de Sergipe – UFS (2009)
Universidade Federal de Uberlândia – UFU (2009)
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (2009)
Universidade Federal Fluminense – UFF (2008)
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ (2010)

Fonte: http://emec.mec.gov.br/




7) PROJETOS DE RI NA UFSM


1) grupo de estudos;
2) revista InterAção;
3) programa fronteiras;
4) conhecendo e relendo os dramas históricos shakesperianos;
5) pesquisa 50 anos da diplomacia universitária da UFSM;
6) pesquisas na área de política externa comparada, teoria das ri, história das relações internacionais, globalização e integração regional, direito internacional, regiões geoestratégicas.

Organização: PRISMA – PESQUISAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DE SANTA MARIA-RS

EDITOR GERAL: PROF. DR. JOSÉ RENATO FERRAZ DA SILVEIRA
REDATORA-CHEFE: CRISTINA FARIAS
REDATORES: AMANDA MARTINAZZO BIER, ARTUR MARION CEOLIN, BRUNO ABADE MÖLLER, DANIELLE CARNEIRO VARGAS, EDUARDO ARENHARDT WONTROBA, FERNANDA MASCHIO, GUILHERME DA CRUZ BACKES, JOSÉ LUIZ DELLINGHAUSEN NETO, JULIA PATRÍCIA GRAVE, JULIANA GRAFFUNDER BARBOSA, JUNIOR IVAN BOURSCHEID, LETICIA ROSSI ORTIZ, LUIZE SCHRAGE WACHTER, MARCELLA TEIXEIRA DA SILVA ELESBÃO, MATEUS CUNHA LARA, MATHEUS DALBOSCO PEREIRA, NATHIELLI IGNACIO GONÇALVES ZART, NERISSA KREBS FARRET, REMMO FRANKE MARTINI, ROMÁRIO DE AVILLA RODRIGUES, TAIS REGINA RÖPKE, TIAGO ELSO SATUR DROPPA, VINICIUS BEAL BOUFLEUER.

O declínio da superpotência

O declínio da superpotência
O vazamento diplomático pelo WikiLeaks mostra uma resposta dos Estados Unidos à gradual perda de poder e influência A ONG WikiLeaks escancara dois fatos com o vazamento diplomático de documentos dos Estados Unidos. Primeiro, uma evolução importante das práticas da diplomacia americana: a expansão das tarefas da espionagem direta. Segundo, esse acontecimento revela sinais da possível decadência norte-americana.

Na verdade, como afirma James Lindsay, vice-presidente sênior do Council on Foreign Relations, “as linhas entre a diplomacia e a espionagem sempre foram tênues”. O que se constata nos documentos que “poderão ser” publicados gradualmente no WikiLeaks – os Estados Unidos estão tomando medidas para evitar maior vazamento – é que diplomatas americanos receberam orientações diretas da secretária de Estado, Hillary Clinton, e da embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice, para coletar dados biométricos, números de cartões de crédito e até DNA de autoridades estrangeiras.

Para alguns analistas, o esforço dos Estados Unidos em grampear amigos e inimigos é uma resposta à perda gradual de poder e influência. O colunista e editor do Guardian, Seumas Milne, afirma que as ações “mostram como o império americano começou a perder o rumo quando o momento do mundo unipolar pós-Guerra Fria passou, Estados antigamente dependentes como a Turquia resolveram andar sozinhos e poderes regionais como a China começaram a fazer sua presença global mais sentida”.

Na mesma linha de raciocínio de Milne, o jornalista Elio Gaspari, em artigo publicado na Folha de S.Paulo de 5 de dezembro, opina que “a papelada do WikiLeaks relacionada com o Brasil prestou um serviço à diplomacia nacional. À primeira vista, apresentou o Itamaraty como inimigo dos Estados Unidos. Olhada de perto, documentou que o governo americano é inimigo do Itamaraty”.

Ainda segundo Gaspari, o que “incomoda o Departamento de Estado é uma diplomacia capaz de impedir que negocie, no varejo dos ministérios, assuntos que envolvam relações internacionais. Se o embaixador Clifford Sobel pudesse tratar temas da defesa só com Nelson Jobim, ministro da defesa, seria um prazer. Os diplomatas brasileiros não decidem todas as questões em que se metem, mas atrapalham. Por isso, um embaixador americano queixava-se dos “barbudinhos do Itamaraty”.

Segundo John Stoessinger, na obra clássica O Poder das Nações, a diplomacia pode ser definida como sendo a condução das relações internacionais por meio das negociações. É um processo pelo qual as nações procuram realizar seus interesses nacionais. Nem sempre a diplomacia é um instrumento de ordem política. Seu objeto pode ser, às vezes, a intensificação de uma luta entre as nações, ou pode ser um instrumento neutro que considere a ordem como coisa irrelevante na busca dos interesses nacionais. Já dizia o primeiro-ministro austríaco Metternich: “A diplomacia é a arte de evitar os ares da vitória”.

Realmente a diplomacia é o principal instrumento da ordem política. Nas palavras do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas A. Shannon (que substituiu Sobel neste ano), “Diplomatas devem conduzir conversas francas com seus pares e eles devem ter a garantia da confidencialidade dessas conversas. O diálogo honesto, dentro e entre governos, faz parte da base das relações internacionais. Não poderíamos manter a paz, a segurança e a estabilidades internacionais sem isso”.

A velha e a nova diplomacias

Ao longo da história, a diplomacia precedeu de quase 2 mil anos o sistema de nações-estado. Quando lemos Guerra do Peloponeso, de Tucídides, nos surpreendemos pelas visões profundas que os antigos tinham da sutil arte de negociar. Conforme Stoessinger, “se os gregos fizeram uma contribuição realmente importante para a essência da diplomacia – a acomodação de conflitos de interesses –, a contribuição dos romanos foi igualmente importante, isto é, investir a prática da diplomacia de autoridade legal”.

O Príncipe, de Maquiavel, durante o período do Renascimento, foi o mais famoso dentre muitos discursos contemporâneos sobre o tema. O advento do sistema de estados-nações, no século 17, introduziu a era da atividade diplomática (a velha diplomacia) e dominou o cenário até a Primeira Guerra Mundial. A diplomacia tradicional, de curiosas práticas que prevaleceram durante 300 anos – de intrigas, conspirações, libelos, perucas empoadas e “congressos valsantes” –, muito raramente cometia erros grosseiros na avaliação que fazia do poder e dos objetivos de outras nações. Subestimar ou superestimar o poder dos antagonistas era exceção, não regra. A diplomacia tradicional, via de regra, caracterizava-se por um espírito de negociação. A característica inconfundível da velha diplomacia era o princípio do dá-cá-tomá-lá.

A velha diplomacia caiu em descrédito com a chegada do século 20. Os idealistas, acreditando que a política do poder pudesse ser banida da terra pelo estabelecimento de uma Liga das Nações, faziam mau juízo da antiga diplomacia, toda imersa num clima de segredo, considerando-a sintoma de uma era corrupta e já morta. O novo espírito da diplomacia moderna ficou personificado no presidente norte-americano Woodrow Wilson em seus 14 itens: “Convênios de paz, abertos e negociados abertamente, após os quais não haja interpretações privadas de nenhuma espécie, senão que a diplomacia se processe a portas abertas e sob as vistas do público”. A implicação disso tudo significa que os negócios da diplomacia são demasiado importantes para se restringirem apenas aos diplomatas. Os princípios do governo democrático exigem que, em matérias que afetem os interesses vitais da nação, o público seja mantido informado e livre para se exprimir, a cada fase do processo das negociações.

O papel do novo diplomata

A natureza da diplomacia e do diplomata mudou, portanto, nos séculos 20 e 21. É inegável que o moderno diplomata pouco será mais que um mensageiro encarregado de comunicar a outros as instruções recebidas de seu governo. Com frequência, vemos, nas conferências de cúpulas, os chefes de Estado estabelecerem uma diplomacia presidencial, ignorando os emissários e tratando uns com os outros diretamente. Durante a Segunda Guerra Mundial, Stalin, Churchill e Roosevelt, por exemplo, não confiaram unicamente no talento de seus diplomatas. Com efeito, boa parte de suas decisões políticas mais vitais foram acertadas entre eles por telegramas e por longas conversas telefônicas pessoais.

De acordo com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, “os tempos mudam, e nós mudamos com eles. No entanto, há coisas que, por sua própria natureza, possuem uma vocação de permanência, de tradição, de contato com o passado. A diplomacia, por razões de fundo e de forma, é certamente uma delas (...) Nada disso, contudo, significa que a diplomacia esteja isenta de sofrer os efeitos da passagem do tempo. Os países mudam, as sociedades se transformam, envelhecem as visões de mundo, os diplomatas se defrontam com o desafio de responder aos novos tempos sem perder as referências tradicionais, atualizar-se sem desenraizar-se, abrir-se ao novo sem romper equilíbrios delicados, construídos ao longo de décadas, às vezes até séculos”.

Contudo, o que se verifica nessa crise diplomática global, a partir do vazamento de documentos sigilosos da diplomacia dos Estados Unidos, é que cada vez mais a diplomacia e a espionagem estão em uma zona interligada. Para Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, é “notório que os EUA são particularmente ativos em espionagem internacional”.

De fato, coletar dados é parte intrínseca do trabalho dos diplomatas – avaliações de políticas, negociações e líderes mundiais, relatórios sobre conversas privadas com pessoas de dentro e de fora de outros governos. Nos Estados Unidos, relatórios internos dos diplomatas são um dos muitos elementos que formam as políticas de defesa e segurança.

Disso tudo, o fato que chama atenção é o constrangimento do vazamento dessas informações de um país que gasta US$ 75 bilhões anuais num sistema de segurança que agrupa 1,2 mil repartições, contrata 2 mil empresas privadas e emprega mais de 1 milhão de pessoas, das quais 854 mil têm acesso a informações privilegiadas. E tudo indica, conforme “fontes oficiais”, que os documentos sigilosos foram copiados por um jovem soldado num CD enquanto fingia ouvir Lady Gaga, cantarolando Telephone: “Pare de ligar, eu não quero falar”.

Dessa forma, as autoridades norte-americanas não deveriam responsabilizar o WikiLeaks (e seu editor Julian Assange) e os jornais que divulgaram os documentos pelos problemas da diplomacia dos Estados Unidos – que deveria zelar pelos dados sigilosos.

*Doutor em Ciência Política pela PUC-SP e professor de Relações Internacionais da UFSM



JOSÉ RENATO FERRAZ DA SILVEIRA*

Presidente Denardin recebe a visita de integrantes do curso de Relações Internacionais da UFSM

Presidente Denardin recebe a visita de integrantes do curso de Relações Internacionais da UFSM
01/07/2010 - 11:42:10
O presidente da Câmara, vereador Paulo Airton Denardin (PP), recebeu na manhã desta quinta-feira (1), a visita de integrantes do curso de Relações Internacionais, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
O professor e vice-coordenador do curso, José Renato Ferraz da Silveira, acompanhado de cinco alunos, apresentou ao presidente os objetivos do curso e informou sobre o lançamento da revista Interações Internacionais, elaborada pelos próprios alunos e professores. O lançamento da publicação está previsto para a segunda quinzena de agosto e deverá ocorrer na Câmara de Vereadores.

Texto e foto: Pedro Pavan

50 anos sem Brecht

50 anos sem Brecht

Não é de hoje que a política brasileira está claramente associada às viciosas deformações, suspeições e traições. Politicagem, nepotismo, clientelismo, paternalismo, fisiologismo, impunidade, corrupção são termos comumente utilizados para pontuar, raras exceções, as práticas do político brasileiro.

A atual legislatura nas palavras do Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Jorge Busato, “é, talvez, a mais vergonhosa da história da República”. Dá para entender através da conduta ignominiosa desses parlamentares os motivos pelos quais a política, através do Estado democrático de Direito, mostra-se insuficientemente ineficaz na solução dos problemas nacionais.

A reação da sociedade tende a dois movimentos “centrífugos” em relação à política: primeiro, ao descrédito, desprezo e a desqualificação dos agentes formais da política - políticos, partidos e governos. E em segundo lugar, ao afastamento de tudo que pertence ao campo da política.

A política contemporânea como afirma o filósofo José Arthur Giannotti mostra-se “soft”: os acertos são pequenos e lentamente conseguidos, os erros constantes e tenebrosos. De fato, tal pensamento trágico acerca da política caracteriza a tese do professor titular aposentado de sociologia da Universidade de São Paulo e um dos fundadores do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e do PT (Partido dos Trabalhadores) Francisco de Oliveira, 72 anos. Na entrevista a Folha de São Paulo Chico de Oliveira afirma: “A política tornou-se irrelevante...o fundo da irrelevância da política é a desigualdade. Não é mais plausível, para nenhum de nós, que você possa, por meio da política, atravessar o Rubicão...a política interna perdeu a capacidade de dirigir a sociedade. Qualquer que seja a relação, ela tem que passar pelas relações externas. Isso quebra na espinha a política. Política é escolha. Política é opção. Mais ou menos, todos agora têm que seguir a mesma regra”.

Evidentemente que os limites e os paradoxos da Globalização refletem nas ações e movimentos do poder social do Estado, enfraquecendo-o e “desalinhando os procedimentos normais de dirigir a sociedade”. O governo brasileiro, bem como de outros países estão na dependência do crescimento do mercado externo e fluxo do capital internacional. No entanto, é inegável ainda que o Estado brasileiro seja “capaz” ou possa ser capaz de formular políticas públicas mesmo apresentando resultados pouco convincentes.

Esse entendimento da tragédia da política pode ser entendido por meio das artes. As “produções artísticas elucidam alguns aspectos da política e propiciam contundentes indícios para se apreenderem os limites e os paradoxos da mesma, suas razões e insuficiências, esperança de construção do espaço público e frustração com os resultados alcançados”, como afirma o professor Miguel Chaia da PUC-SP.

Daí a contribuição artística de Bertolt Brecht, poeta e dramaturgo alemão, autor de um teatro de idéias. Ele revolucionou o teatro moderno e a língua alemã para os palcos. Marxista, produz uma arte crítica e um teatro popular que nos ensina: “pensar e praticar política supõe compreender o sistema de forças existentes e calcular a relação de equilíbrio criada pela interferência da nossa própria ação nesse sistema”. A aguçada consciência crítica de Brecht nos possibilita compreender, décadas passadas, de como a política pode causar simultaneamente pólos de atração e repulsa.

No dia 14 de agosto de 1956, em Berlim, Bertolt Brecht faleceu. Ele nos deixou seu rico poema chamado Analfabeto Político. Trata-se de um poema símbolo de como o exercício da política é ainda relevante: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, do remédio, dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.

José Renato Ferraz da Silveira

Saldo positivo

Saldo positivo
Lula termina seu mandato recebendo elogios e lançando uma aliada


Nathália Boni

nathaliaboni@hotmail.com

Estabilidade econômica, geração de empregos, implantação de programas sociais. Tudo isso faz parte do rol de elogios que permeiam o fim do mandato Lula e o retrospecto de seu governo. “Boa parte do prestígio do atual governo deve-se à capacidade de gerir melhor o modelo herdado da administração anterior”, explica o Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Virgílio Arraes.

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No quesito diplomático, Lula se firmou no mesmo modelo de Fernando Henrique Cardoso, que também conquistou status e fama políticos. O diferencial do atual presidente, no entanto, é sua imagem internacional como bom negociador e figura carismática. “Para os europeus, é um sonho realizado ter Lula e o Brasil no comando de uma América Latina unida. Espera-se que o sucessor de Lula garanta um futuro em que o continente se una em torno da política e da economia”, afirma o doutorando em Ciências Políticas pela PUC-SP e professor da Universidade Federal de Santa Maria - RS, José Renato Ferraz da Silveira.

Na política externa, prevaleceu o agronegócio, o que significou não mudar a estrutura fundiária, ou seja, não realizar a reforma agrária. “Por outro lado, houve uma atenção maior à América do Sul, necessária para ajudar a manter a indústria brasileira, incapaz de competir de modo geral com países mais desenvolvidos”, comenta o Professor Arraes.

Porém, o governo não conseguiu estabelecer uma política duradoura de convergência da produção científica das universidades com a demanda da sociedade. O que diz respeito aos problemas ambientais é outro motivo de insatisfação popular, assim como a discussão sobre os recursos e a preservação da Amazônia.

Ademais, os inúmeros escândalos que envolveram denúncias de corrupção, erros de estratégia e desmandos políticos também não impedirão que Lula termine seu mandato com forte apoio popular - o que chega a ser invejável para a oposição - além de uma boa diplomacia internacional. “O governo Lula caminha para seu final com duas bandeiras que podem garantir à Dilma a vitória na sucessão presidencial: a estabilidade da economia e sua popularidade”, afirma o doutorando José Ferraz.

O fillho do Brasil

O Filho do Brasil
Filme sobre Lula é caracterizado, por muitos, como propaganda política


Nathália Boni

nathaliaboni@hotmail.com

Críticas é que não faltam para o lançamento do filme que conta a trajetória do presidente. “Lula, o Filho do Brasil” estréia em janeiro de 2010, mas já rendeu diversas discussões em torno de seu enredo. Dirigido por Fábio Barreto, o longa narra a história de Lula desde seu nascimento até a morte de sua mãe, momento em que se posiciona como um líder sindical de 35 anos detido pela polícia da ditadura militar. O orçamento do filme foi além do que se esperava para uma produção nacional: 18 milhões que foram obtidos sem subsídios governamentais a fim de evitar críticas.

Divulgação

Cartaz do filme "Lula: O Filho do Brasil"

O ano de 2010 pode ser considerado estrategicamente escolhido para a estreia deste filme. Em outubro serão realizadas as eleições presidenciais e Lula, que não poderá mais se reeleger, pretende colocar a aliada petista, Dilma Rousseff, em seu lugar no governo. Dilma inclusive já admitiu que o filme pode influenciar no resultado das eleições. Além disso, fala-se na falta de fidelidade ao retratar a vida e carreira do presidente. De acordo com quem já viu – imprensa e críticos - o longa transforma o protagonista em uma figura heróica e romantizada.

“Na verdade é um filme que provoca e provocará maior admiração e afetuosidade à imagem de Lula. Não me espantará se o filme for usado como propaganda política para aumentar ainda mais a popularidade e o carisma do presidente”, ressalta o doutorando em Ciências Políticas pela PUC-SP e professor da Universidade Federal de Santa Maria - RS, José Renato Ferraz da Silveira.

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O filme também fará uma enorme mobilização no país. Um número bem acima do normal, 400 salas de cinema, exibirão o longa, e está previsto que seja projetado em telas itinerantes, para que um maior número de pessoas carentes possa conferir. Mais uma estratégia que promove campanhas políticas para o partido de Lula em 2010. “A oposição, de um lado, bate no governo argumentando haver falta de ética; pelos lados do governo a resposta é que, no Brasil, de uma forma ou de outra há comícios todos os anos. A realidade é que sem o auxílio de Lula a missão de Dilma dificilmente sairá do papel”, comenta Marcelo Haydu, mestrando em Ciências Sociais pela PUC de São Paulo e pesquisador do Grupo de Análise e Prevenção de Conflitos (Gapcon – UCAM).

Por trás do Muro

Por trás do Muro
O dia 13 de agosto de 1961 deu início à construção pelo arame farpado e pelo concreto


Giuliana Chorilli

giuliana_chorilli@yahoo.com.br

Mariana Zaia

13 de agosto de 1961: início da construção do Muro de Berlim.

Berlim tornou-se a cidade-confronto dos dois sistemas ideológicos que lutavam pelo controle do mundo: o socialismo e o capitalismo. Após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, a Alemanha derrotada foi ocupada pelas potências aliadas que saíram vitoriosas: Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e União Soviética.

A zona oeste alemã passou a ser administrada por britânicos, norte-americanos e franceses, enquanto a leste passou a ser comandada pelos soviéticos. A Guerra Fria definiu-se como o período de disputas estratégicas e a diversidade entre as zonas do país alemão se acirraram até culminar na construção de uma barreira material pelos comunistas.

Berlim pertencia ao território soviético, mas parte dela pertencia à zona capitalista. Entre 1949 e 1960, mais de três milhões de alemães deixaram o leste comunista em direção ao oeste, através de Berlim Ocidental.



Em 13 de agosto de 1961 começou a construção do Muro de Berlim, chamada pelos alemães orientais de “muralha de proteção antifacista”. O chefe do governo, Walter Ulbricht, que havia conseguido em Moscou – centro soviético – uma permissão para construir a barreira, encarregou o então secretário do Conselho Nacional de Defesa de cercar a fronteira. Quando era aproximadamente uma hora da manhã, apagaram-se as luzes da rua no Portão de Brandemburgo, o cartão de visitas da cidade.

Contornando 155 quilômetros, Berlim estava cercada. Seis horas depois 77 cruzamentos entre leste e oeste foram fechados separando mais de milhões de cidadãos. “O muro separou família, amigos e cidadãos de um mesmo país”, diz o cientista político José Renato Ferraz da Silveira. Por quase três décadas o Muro de Berlim foi o símbolo de excelência da Guerra Fria, da bipolarização do mundo, com decadência do regime socialista.

“Podemos afirmar que fatores endógenos e exógenos foram determinantes para a queda do Muro de Berlim. Os exógenos: as medidas político-econômicas, a pereistroika e a glasnost, adotadas pelo chefe do Estado soviético Mikhail Gorbatchov conjugado com outros países que começam um processo de “Abertura ao Ocidente”. As razões endógenas se dão principalmente pela pressão social da população da Alemanha Oriental que pede por reformas e mudanças e o enfraquecimento cada vez mais acentuado do governo da República Democrática Alemã (RDA), todos esses elementos repercutem na queda do Muro”, afirma José Ferraz.

No dia 9 de novembro de 1989, o governo da Alemanha Oriental anunciou que todos os cidadãos da RDA poderiam visitar a Alemanha Ocidental e Berlim Ocidental. Ao longo das semanas seguintes, partes do muro foram destruídas, abrindo caminho para a reunificação alemã, celebrada em 3 de outubro de 1990.

O esboço de um muro econômico

O esboço de um muro econômico
São 20 anos de unificação de uma Alemanha que ainda preserva traços do passado “murificado”


Giuliana Chorilli

giuliana_chorilli@yahoo.com.br

Mariana Zaia

O que restou do extenso muro em Berlim.

Vinte anos separam a Alemanha atual do dia da unificação territorial: nove de novembro de 1989. Foram quase trinta anos de uma nação dividida por dois sistemas políticos que promoveram as diferenças que ainda existem no país. Mesmo com muito desenvolvimento na região do antigo Oriente socialista, ainda hoje o atraso é perceptível, tanto na área econômica como nos meios de transporte e também na infraestrutura urbana.

Entre conspirações, há os que dizem que a crise financeira, há época, atingiu mais a região ocidental capitalista que a oriental socialista. A explicação para tal hipótese é a existência de um maior número de pequenas e médias empresas nos estados que fizeram parte da extinta Alemanha Oriental, companhias que, portanto, dependem pouco de exportações. O progresso da Alemanha Oriental dá-se pelos campos da microtecnologia, da tecnologia de energia solar e de produtos orgânicos. Contudo, de acordo com uma análise realizada pelo Instituto Alemão de Pesquisas Econômicas, o lado oriental do país ainda tem grandes desafios a serem superados.

Élcio Padovez

O muro, hoje, é espaço para manifestações artísticas.

O Muro que separava a República Federal da Alemanha da República Democrática Alemã serviu para preservar uma diferença econômica por causa do rendimento econômico per capita do Leste que perfaz apenas 70% do nível ocidental. Até hoje o Estado transfere por volta de 30 bilhões de euros do Oeste para o Leste anualmente.

Conforme o cientista político e professor, Dr. José Renato Ferraz da Silveira “Hoje ainda há uma disparidade entre as regiões que pertenciam ao lado ocidental e oriental. Um dos desafios da Alemanha nesse século XXI está no combate ao desemprego e no desenvolvimento econômico dos estados da antiga Alemanha Oriental”, diz o professor.

Assista a reportagem da BBC Brasil sobre o Muro de Berlim.

Mais uma cadeira para o Brasil

Mais uma cadeira para o Brasil
São mais de 60 anos de participação brasileira na ONU


Diogo Zambello

diogo_zambello@hotmail.com

A ONU fixou representação no Brasil em 1947, no Rio de Janeiro. Hoje em dia, o país conta com 18 Agências, Fundos, Programas, e Comissões Regionais, entre eles a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).

Para participar das decisões e acompanhar de perto a agenda da Organização, o Brasil tem quatro representações permanentes instaladas junto a quatro importantes escritórios da ONU: em Nova York, na sede da Organização (Missão Permanente Junto às Nações Unidas); em Genebra, Suiça, no maior escritório da ONU; em Roma, Itália, na sede da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação); e em Paris, França, na sede da UNESCO.

UPI/John Angelillo

Presidente Lula discursando em favor da cadeira brasileira no Conselho

O Primeiro Secretário da Missão Permanente Junto às Nações Unidas, Daniel Nogueira Leitão, forneceu dados interessantes sobre a participação brasileira nas missões da ONU. Segundo a comissão, das 63 operações de paz que a Organização realizou até hoje, o Brasil participou de 33 e enviou cerca de 27 mil homens para as missões. “O Brasil sempre teve nas relações internacionais uma característica de diálogo, e sempre utilizou instrumentos diplomáticos, como o faz na ONU”, acrescenta o Cientista Político, José Renato Ferraz da Silveira.

No dia 15 desse mês, o Brasil foi eleito pela Assembléia Geral para compor o Conselho de Segurança da ONU, durante um mandato de dois anos. É a décima vez em que o Brasil se elege para o cargo, a segunda durante o mandato do presidente Lula. É a primeira vez que o país terá uma representação feminina no órgão: Maria Luisa Viotti, embaixadora do Brasil na Organização. “A possibilidade do país participar do Conselho de Segurança daria maior visibilidade ao negociar questões diplomáticas na América do Sul, por exemplo no caso de Honduras”, afirma José Renato.

Em seu discurso na abertura da 2ª Cúpula América do Sul-África, que ocorreu no fim de setembro, o Presidente Lula afirmou que o Conselho de Segurança, o órgão mais poderoso da ONU, “perdeu a relevância”. Lula defendeu a cooperação internacional para “trabalhar juntos pela sua reforma, sob pena de perder a oportunidade de garantir nosso direito a uma voz nas grandes questões da agenda internacional". A Missão Permanente Junto às Nações Unidas também afirma que “Como qualquer instituição com 60 anos de história, a ONU precisa de ser reformada. O Conselho de Segurança também precisa ser reformado, para torná-lo mais efetivo, legítimo e representativo da corrente realidade internacional”.

Os grandes órgãos em função da paz

Os grandes órgãos em função da paz
Conheça a estrutura da organização internacional mais importante do mundo


Diogo Zambello

diogo_zambello@hotmail.com

A ONU é dividida em seis principais órgãos:

A Assembléia Geral é formada por todos os membros da ONU. Fica ao seu cargo admitir novos membros, realizar as principais discussões, avaliações e recomendações para os rumos da Organização, contudo, o órgão não tem o direito de deliberar.

Divulgação

Assembléia da ONU em debate.

No Conselho de Segurança, o órgão mais poderoso, participam quinze países membros. Dez são eleitos para um mandato bienal pela Assembléia e cinco são permanentes (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China), os quais têm o poder de veto sobre qualquer decisão tomada pelo Conselho. Para o Cientista Político, José Renato Ferraz da Silveira, “o Conselho de Segurança contraria essa ordem democrática que a Assembléia garante”. Em caso de ameaça à segurança mundial o Conselho determina como será a atuação dos membros diante dos conflitos, o que é decido pelo Conselho se torna obrigatório para todos os membros da ONU. “Já é uma estrutura defasada, que foi feita a partir do contexto de fim da Segunda Guerra Mundial”, comenta José Renato sobre o Conselho.

O Secretariado, a banca executiva da Organização, é responsável pela coordenação de políticas, programas e operações diárias. Seu chefe é o porta-voz da ONU, o Secretário Geral, nomeado pela Assembléia Geral. Atualmente, quem ocupa o cargo é o sul-coreano Ban Ki-Moon, - oitavo Secretário Geral da história da Organização – que deve cumprir mandato até 2011.

Fica por conta do Conselho Socioeconômico a coordenação de estudos e o aconselhamento sobre as ações econômicas e sociais da Organização. A educação e saúde internacional também fazem parte da área de atuação desse Conselho.

A Corte Internacional de Justiça da ONU está situada em Haia, na Holanda. É uma banca judicial cuja função é lidar com casos em que nações acusam outras nações de práticas impróprias.

Atualmente o Conselho de Tutela está desativado pela Organização. A tarefa do Conselho era, inicialmente, administrar territórios que se encontravam sob tutela internacional, por exemplo, as colônias que não haviam conquistado sua independência.

Missão: Salvar o mundo

Missão: Salvar o Mundo
Quase todos os países do planeta unidos por um ideal


Diogo Zambello

diogo_zambello@hotmail.com

Estabelecer a paz mundial, auxiliar na colaboração entre as nações, gerar valores de democracia, promover o respeito aos direitos humanos, evitar mais uma guerra mundial e solucionar problemas globais como pobreza, fome, degradação ambiental etc. Achou ambicioso? Estes são os principais objetivos da ONU, a Organização das Nações Unidas.

Divulgação

Atualmente a ONU é formado por 192 Estados soberanos.

Durante a Primeira Guerra Mundial, em 1919, foi criada a Liga das Nações, cujo objetivo era manter a paz no mundo. Com a eclosão da Segunda Guerra, porém, a Liga foi dissolvida, mostrando a necessidade de um órgão internacional poderoso que pudesse dar conta dos impasses entre as nações. Um dos grandes problemas da Liga era a ausência das superpotências, como por exemplo, os EUA.

Em 1941, durante a Segunda Guerra, foi criado o Tratado do Atlântico, organizado por Estados Unidos e Reino Unido. O documento previa a luta contra o Eixo e contou com a assinatura de 26 países do bloco capitalista. Caminhando para o fim da Guerra, em 1944, Estados Unidos, Reino Unido, França, União Soviética e China, organizaram e redigiram outro documento, o Tratado das Nações Unidas. O documento foi ratificado originalmente por 50 países durante uma conferência realizada em São Francisco, nos EUA, em abril de 1945. Oficialmente, porém, a Organização foi fundada meses depois, em outubro desse mesmo ano.

Hoje, a ONU, sediada em Nova York, é formada por 192 Estados soberanos - praticamente todas as Nações do mundo. Seus membros estão ligados por meio da Carta da ONU, um tratado que dispõe sobre os direitos e deveres da comunidade internacional. Segundo o Cientista Político, José Renato Ferraz da Silveira, “a ONU é uma instituição democrática a medida que procura representar todos os seus países signatários”.

A estrutura da Organização é composta por seis principais órgãos, Assembléia Geral, Conselho de Segurança, Secretariado, Conselho Socioeconômico, Corte Internacional de Justiça e o Conselho de Tutela – hoje em dia desativado.

Ele é o cara

Ele é “O Cara”
Carisma e diplomacia trouxeram fama e status à Lula


Nathália Boni

nathaliaboni@hotmail.com

O presidente Lula foi escolhido personagem do ano pelo jornal espanhol "El País" e qualificado pelo líder do governo da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, como um "homem cabal e tenaz", em um artigo publicado no site do diário, no dia 10 de dezembro. "Seguindo o caminho aberto por seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, o Brasil, em apenas 16 anos, deixou de ser o país de um futuro que nunca chegava para se transformar em uma formidável realidade, com um brilhante porvir e uma projeção global e regional cada vez mais relevante". Com esse discurso, o líder espanhol exemplifica o sucesso internacional que Lula alcançou.

Alex Majoli - El País

José Luis Rodriguez Zapatero, líder do governo espanhol, considera Lula "um homem que assombra o mundo"

Eleito em 2002, Luís Inácio Lula da Silva iniciou seu governo em meio a desconfianças e incertezas. “Estaria sendo alçado ao poder um presidente que, de forma efetiva, lutaria em prol da classe menos abastada de nosso país? A promessa de crescimento econômico e da importância do Brasil em nível mundial tornar-se-ia real?”, questiona Marcelo Haydu, mestrando em Ciências Sociais pela PUC de São Paulo e pesquisador do Grupo de Análise e Prevenção de Conflitos (Gapcon – UCAM). Essas eram perguntas feitas por milhares de brasileiros e autoridades que estavam na expectativa sobre o que aconteceria no mandato de um ex-metalúrgico do ABC Paulista.

Hoje, sete anos depois, o ex-sindicalista é uma figura reconhecida em todo o mundo, com fama e status de personalidade artística. “No consenso geral da sociedade internacional, o presidente Lula é apontado como um sujeito político capaz de liderar uma força mundial para resolver impasses internacionais, como por exemplo, o conflito entre o Irã e Israel”, explica o doutorando em Ciências Políticas pela PUC-SP e professor da Universidade Federal de Santa Maria - RS, José Renato Ferraz da Silveira. Com credibilidade e autonomia em seu discurso, Lula chegou a ser chamado de “O Cara” pelo presidente estadunidense, Barack Obama.

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Presidente americano Obama não poupa elogios ao líder brasileiro

Obama, inclusive, não poupa elogios ao líder brasileiro, a quem julga ser o mais popular entre os políticos. “O bom relacionamento do Brasil com os Estados Unidos e com alguns países europeus faz crescer a esperança da aceitação do país como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, desejo brasileiro há muito tempo”, comenta o pesquisador Haydu.

A aprovação de Lula não é só no âmbito internacional. Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha aponta que 70% da população brasileira apóia o governo Lula. É inegável que ao longo de dois mandatos, Lula tornou-se uma figura carismática, que atrai principalmente a camada mais pobre do país. “O atual governo é muitas vezes lembrado pelo trabalho direcionado aos mais pobres, visando à diminuição da desigualdade social no país, tendo em alguns casos, como por exemplo, no Programa Bolsa Família, resultados muito expressivos”, afirma Marcelo Haydu.