quinta-feira, 17 de março de 2011

Amorim se defende de críticas à sua gestão no Itamaraty

MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO

Ministro das Relações Exteriores durante os dois mandatos do governo Lula, Celso Amorim, se defendeu nesta quinta-feira de críticas a sua gestão em um seminário em São Paulo.
"Fomos muito criticados de sermos generosos com relação a Bolívia [na renegociação do preço do gás], mas nunca perdemos uma molécula de gás", disse ele. "No longo prazo, a generosidade atende aos nossos próprios interesses."
O embaixador, que brincou que nunca teve tanto tempo livre como agora, também se defendeu com relação à política de apoio ao Irã e outros países autoritários no Oriente Médio. "Diziam que nossa política não tinha foco. Mas o maior superavit do Brasil é justamente com os países árabes."
RODADA DOHA
O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, afirmou nesta tarde em um seminário em São Paulo, que os problemas causados pelo Real valorizado para a indústria nacional alteram a posição do Brasil perante as negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio).
"Quando a Rodada Doha fracassou, em julho de 2008, diziam que dali a seis meses poderíamos retomar as negociações", disse Amorim. "Mas aí veio a crise financeira e agora tudo está mais difícil. Com a questão cambial, agora não podemos ter a mesma posição na área de manufatura que tínhamos lá em 2008."
Para Amorim, apesar das diferenças entre Brasil e União Europeia, o país e o bloco europeu eram os "únicos atores" nas negociações multilaterais com "visão estratégica". "Claro que todos têm interesses nacionais, mas nós éramos os únicos que também estávamos preocupados com o interesse global."
Dirigindo-se ao ex-ministro do comércio britânico Peter Mandelson, que estava na plateia, Amorim disse que em Doha "não houve ninguém de quem eu discordasse mais durante às negociações. Mas estávamos tentando obter sucesso [nas negociações]."
Amorim participou do seminário Foresight Brasil, cujo tema era "Traçando novos rumos: O Brasil em um mundo multipolar". O seminário foi organizado pela Sociedade Alfred Herrhausen em parceria com o Instituto Policy Network e o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
EUA não se intimidam com presença da China na América Latina


DA ANSA, EM WASHINGTON

Os Estados Unidos não temem a competência econômica e política da China na América Latina e acreditam que "convém" à região contar com mais fontes de investimentos e destinos de exportação, afirmou nesta quinta-feira o Departamento de Estado norte-americano, dias antes da visita do presidente Barack Obama Brasil, Chile e El Salvador.
"Todos nos beneficiamos com o comércio internacional porque vivemos em um mundo globalizado", destacou o subsecretário de Estado para Assuntos da América Latina, Arturo Valenzuela, durante uma teleconferência concedida à imprensa.
O diplomata descartou que a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, à América Latina tenha entre seus objetivos neutralizar a crescente presença econômica da China no subcontinente.
Segundo Valenzuela, seu país está interessado nos mercados latino-americanos como frente de exportações. Portanto, Washington considera que "o crescimento econômico é fundamental para as nações da região" que "isso se alcança exportando".
O subsecretário ainda afirmou que aos Estados Unidos "também convém" contar com "economias muito mais dinâmicas" na América Latina.
Na mesma coletiva, Valenzuela destacou que o presidente norte-americano, mesmo diante da crise nuclear do Japão, está "comprometido" com sua visita à região e que não pensa em cancelar a viagem que começa no sábado.
Ele ainda comentou que "a importância que Obama dá à América Latina pode ser percebida claramente pelo fato de que, efetivamente, esta viagem segue em pé apesar de todas as complicações que vemos em nível internacional".

ONU aprova ação militar na Líbia; veja cronologia da crise no país

ONU aprova ação militar na Líbia; veja cronologia da crise no país

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Após mais de um mês de conflitos na Líbia, a resolução apresentada pela França, Reino Unido, EUA e Líbano defendendo a implementação de uma zona de exclusão aérea sobre o país foi aprovada hoje no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). Também foram aprovadas "todas as medidas necessárias para defender os civis" no país, exceto uma invasão por
A criação dessa zona autoriza o abate de aviões do ditador líbio, Muammar Gaddafi, que decolem para atacar tropas opositoras. Em outras palavras, a ONU liberou o uso da força militar para que a resolução seja respeitada.
A medida endurece ainda o embargo e as sanções contra Gaddafi, seus familiares e círculo mais próximo de colaboradores implementadas no mês passado. Bens e fundos de investimento do ditador e sua família na Suíça e na União Europeia há haviam sido congelados semanas atrás.
A resolução foi aprovada por dez votos a favor, nenhum contra e cinco abstenções, entre elas a Rússia e a China, que detêm poder de veto. Surpreendentemente, o Brasil se absteve da votação. O Itamaraty confirmou o voto brasileiro na ONU à Folha.com, por telefone.
Veja cronologia da crise:
FEVEREIRO:
Dias 15-16- Dois mil manifestantes protestam em Benghazi pela detenção de um ativista de direitos humanos e contra os governantes corruptos. Cerca de 40 pessoas ficam feridas e, na cidade de Al Baida, outras duas morrem.
Dia 17- Os protestos se estendem durante o "Dia de Fúria". Segundo Al Jazeera, 14 pessoas morreram.
Dia 19.- O Exército atira em Benghazi contra os manifestantes e são registrados enfrentamentos em Musratha, a 200 quilômetros de Trípoli.
Dia 20.- Human Rights Watch eleva para 173 o número de mortos nos protestos. UE, EUA e Liga Árabe pedem o fim imediato da repressão.
Dia 21- Os opositores controlam Benghazi e Jalu, enquanto membros do Exército desertam e se somam juntam aos manifestantes. O ministro da Justiça renuncia.
- O filho de Gaddafi, Seif el Islã, adverte para o perigo de "guerra civil".
- Aviões militares disparam contra os manifestantes em Trípoli, o que a ONU considerou um "genocídio".
Dia 22- Gaddafi diz que não deixará o poder e que está disposto a morrer.
- A fronteira líbia com o Egito fica sob controle dos opositores.
Dia 23- Um membro líbio do Tribunal Penal Internacional enumera em dez mil os mortos desde o início dos protestos.
- O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirma que o "banho de sangue" na Líbia é "inaceitável" e a UE se prepara para evacuar seus cidadãos.
Dia 24- Gaddafi incentiva o combate aos manifestantes, que vincula à Al Qaeda, enquanto os rebeldes tomam várias cidades.
Dia 25- A representação da Líbia perante a ONU se distancia de Gaddafi e pede à comunidade internacional que intervenha. A UE acorda sanções e os EUA congelam os ativos de Gaddafi e sua família.
Dia 27- A ONU aprova sanções contra Gaddafi e seu entorno: bloqueio de seus bens no exterior, proibição de viajar e embargo de armas.
- A oposição anuncia a criação de um Conselho Nacional.
- Avalanche de refugiados (100 mil pessoas) nas fronteiras com Tunísia e Egito.
MARÇO:
Dia 2- Gaddafi resiste em Trípoli e ameaça com "milhares de mortos" se os EUA ou a Otan entrarem na Líbia.
Dia 3- O Tribunal Penal Internacional anuncia que investigará Gaddafi e outros membros de seu regime por supostos crimes de guerra e contra a humanidade.
Dia 6- Os leais a Gaddafi detêm o avanço rebelde rumo a Sirte.
Dia 9- As tropas pró-governo reconquistam Al Zawiyah e os rebeldes reivindicam ajuda internacional.
Dia 10- As tropas de Gaddafi lançam uma grande ofensiva contra a linha defensiva rebelde em Ras Lanuf.
Dia 11- A UE considera o rebelde Conselho Nacional Líbio de Transição como "interlocutora político".
Dia 12- A Liga Árabe, exceto Síria e Argélia, se diz a favor de uma zona de exclusão aérea e reconhece o comando rebelde.
Dia 13- Os rebeldes perdem terreno e tentam aguentar o contra-ataque das forças de Gaddafi próximo a Benghazi.
Dia 15- O Conselho de Segurança da ONU se mantém dividido sobre estabelecer uma zona de exclusão aérea.
- Aviões rebeldes afundam dois navios das forças leais frente ao litoral de Ajdabiyah.
- Gaddafi assegura que se o Ocidente intervier na Líbia se aliará a Al Qaeda.
- A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, se reúne em Paris com os rebeldes líbios.
Dia 16- Em sua ofensiva, as forças de Gaddafi bombardeiam os arredores de Benghazi, reduto rebelde.
Dia 17- A ONU vota a exclusão aérea.

Líder budista culpa "prepotência humana" por tragédia no Japão

Líder budista culpa "prepotência humana" por tragédia no Japão

MAURÍCIO KANNO
DE SÃO PAULO

Em evento ecumênico nesta quinta-feira (17), na Liberdade, em São Paulo, o reverendo budista Kensho Kikuchi, 73, acusou a "prepotência humana na busca de dominar a natureza e ter cada vez mais comodidades", como parte da causa da tragédia que vive hoje o Japão, referindo-se aos acidentes na usina nuclear da província de Fukushima --que ocorreu após terremotos e tsunami.
Veja galeria de imagens do evento
Ele é presidente da Federação das Escolas Budistas do Brasil, e foi o primeiro entre os três líderes religiosos presentes a transmitir mensagens de solidariedade e fazer orações.
O padre Paulo Go Kurebayashi, 33, que representou a Igreja Católica, leu um trecho do livro do Apocalipse da Bíblia, afirmando que se tratava de mensagem de esperança. Pedia que Deus "acolhesse as vítimas da tragédia", e desejou "felicidade aos que ficam", apesar de tudo.
Já o pastor Mitsu Nagaki, representando as igrejas evangélicas, leu o salmo 90 da Bíblia, evocando a fugacidade da vida. A força dos imigrantes japoneses no Brasil também foi lembrada.
Os líderes cristãos fizeram seus discursos tanto em japonês como em português (com sotaque); e o budista, que vive no Brasil desde novembro, falou em japonês e depois uma tradução foi lida pelo mestre-de-cerimônias.



O cônsul-geral do Japão em São Paulo, Kazuaki Obe, precedeu os líderes religiosos com um discurso, relembrando os terremotos, tsunami e perigo nuclear, juntos representando "a maior tragédia no Japão, desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)".
Também estavam presentes cônsules de outros países, como Estados Unidos e Espanha. A vice-prefeita da cidade, Alda Marco Antônio, assim como parlamentares nipodescendentes, como a deputada federal Keiko Ota e o vereador Ushitaro Kamia, também compareceram à cerimônia.
O vice-presidente do Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social), Tomio Katsuragawa --organização que sediou o evento na Liberdade--, conta que a iniciativa visa atender às pessoas que se sentem "impotentes" ao tentar ajudar os japoneses.
TRADIÇÃO
No final do evento, flores brancas, crisântemos, foram entregues aos presentes e depositadas em mesa diante do palco, como símbolo de solidariedade às vítimas. Flores também estavam presentes no palco: os líderes religiosos curvavam-se diante de um ikebana, arranjo artístico tradicional japonês.
A tradição japonesa estava presente também na música que acompanhava as cerimônias.
O flautista Danielo Tomac, 45, usou um shakuhachi, tipo de flauta japonesa de bambu com apenas cinco furos que vem desde a época medieval e é usada para músicas meditativas.

Em Benghazi, multidão comemora resolução da ONU contra a Líbia

Em Benghazi, multidão comemora resolução da ONU contra a Líbia

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Milhares de pessoas concentradas na praça principal de Benghazi comemoraram nesta quinta-feira a aprovação da ONU ao uso da força militar por forças estrangeiras na Líbia. Os manifestantes, que acompanharam ao vivo na praça a transmissão feita pela rede de televisão "Al Jazeera", soltaram fogos de artifício e agitaram as bandeiras líbias oficiais do país anterior à chegada de Muammar Gaddafi ao poder.
Os manifestantes levantaram suas mãos com o sinal de vitória e cartazes nas quais se lia "Agora, Líbia e a revolução", assim como grandes fotos das vítimas da repressão.
Entre alguns tiros para o ar e gritos de glória à revolução, os congregados gritaram palavras de ordem como "Oh Muammar, mentiroso" e "Moradores de Trípoli, chamem a liberdade".
Outro cartaz dizia: "Nota urgente Muammar: Líbia não te quer".
O povo continua chegando ao local para se juntar à comemoração e cada vez é maior o número de pessoas concentradas em uma praça na segunda maior cidade da líbia e principal reduto rebelde, que Gaddafi ameaçou atacar ainda nesta noite se os insurgentes não se rendessem.
Fontes rebeldes asseguraram a Al Jazeera que as celebrações pela aprovação da resolução no Conselho de Segurança se estenderam para várias regiões do leste da Líbia sob controle insurgente.
ONU APROVA MEDIDA CONTRA GADDAFI; BRASIL SE ABSTÉM
A resolução apresentada pela França, Reino Unido, EUA e Líbano defendendo a implementação de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia foi aprovada hoje no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). Também foram aprovadas "todas as medidas necessárias para defender os civis" no país, exceto uma invasão por terra.
A criação dessa zona autoriza o abate de aviões do ditador líbio, Muammar Gaddafi, que decolem para atacar tropas opositoras. Em outras palavras, a ONU liberou o uso da força militar para que a resolução seja respeitada.
A medida endurece ainda o embargo e as sanções contra Gaddafi, seus familiares e círculo mais próximo de colaboradores implementadas no mês passado. Bens e fundos de investimento do ditador e sua família na Suíça e na União Europeia há haviam sido congelados semanas atrás.
A resolução foi aprovada por dez votos a favor, nenhum contra e cinco abstenções, entre elas a Rússia e a China, que detêm poder de veto. Surpreendemente, o Brasil se absteve da votação. O Itamaraty confirmou o voto brasileiro na ONU à Folha.com, por telefone.
O resultado da votação chega em meio a um clima de extrema urgência na comunidade internacional, horas após o regime de Gaddafi fazer na TV estatal uma promessa de ataques para "limpar Benghazi, sem piedade", e oferecer anistia aos que se renderem.
A embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Ribeiro Viotti, disse que o país não está convencido de que o uso da força levará ao objetivo primordial de defesa ao povo líbio e que a resolução pode ter um efeito não desejado de "aumentar os confrontos no solo".
Ela ressaltou que o Brasil continua apoiando a resolução passada no Conselho sobre a Líbia, que impôs sanções como proibição de viagens e veto à venda de armas ao país.
A diplomata brasileira condenou ainda publicamente o uso de violência contra os manifestantes, o desrespeito aos direitos humanos e pediu o direito à liberdade de expressão. Ela defendeu, contudo, uma solução aos confrontos através de um "diálogo significativo", "uma solução pacífica e sustentável".
FORÇAS ESTRANGEIRAS PREPARAM OPERAÇÃO
Horas antes da votação, o primeiro-ministro francês, François Fillon, adiantou que em caso de aprovação da medida na ONU, Paris estaria disposta a dar início às operações dentro de apenas algumas horas.
Os EUA disseram que já preparavam seus operativos e entre os países árabes, Qatar e Emirados Árabes Unidos podem participar, disse mais cedo o representante da Liga Árabe na ONU, Yahya Mahmassani.
A Itália, país cuja posição estratégica no Mediterrâneo é crucial para o sucesso de qualquer operação contra a Líbia, também dissera que participaria das ações.
"Nós não nos esquivaríamos de nossas obrigações, embora nossa posição tenha sempre sido de moderação e equilíbrio", disse o ministro da Defesa italiano Ignazio La Russa, em
Roma.
A base de Sigonella, na ilha italiana da Sicília, dá suporte logístico à Sexta Frota dos EUA e é uma das bases da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) mais próximas à região.
No Reino Unido, um parlamentar próximo ao Ministério da Defesa confirmou ainda na tarde de quinta-feira que o país já mantinha caças da Força Aérea Real britânica em stand-by prontos para serem despachados ainda hoje à noite.
GADDAFI AUMENTA O TOM
"Limparemos Benghazi, toda Benghazi, dos criminosos e de qualquer um que tente ferir nosso líder e nossa revolução. Não teremos piedade contra colaboradores [dos rebeldes]", diz a mensagem do regime transmitida repetidamente durante a quinta-feira na TV estatal, prometendo ataques contra o bastião da oposição no sábado.
As ameaças chegam após o regime divulgar outro comunicado alertando que ações militares externas podem resultar em danos a alvos civis e militares no Mediterrâneo como parte de um contra-ataque de suas forças.
"Qualquer ação militar externa contra a Líbia deixará todo o tráfego áereo e marítimo no mar Mediterrâneo exposto e [instalações] civis e militares se tornarão alvos do contra-ataque da Líbia", disse o comunicado transmitido pela TV estatal e distribuído pela agência oficial de notícias Jana.
Ainda na noite de quarta-feira (16), em meio a alertas do filho de Gaddafi, Saif al Islam, de que bastavam 48 horas para a vitória contra os rebeldes na Líbia, membros do Conselho de Segurança da ONU mais uma vez falharam na tentativa de obter um consenso sobre uma ação militar para deter o avanço do regime na repressão aos opositores.
O vice-embaixador da Líbia na ONU, Ibrahim Dabbashi, disse na ocasião que o mundo tinha dez horas para agir antes que um genocídio ocorra nas batalhas em Ajdabiyah, prevendo o início dos confrontos para esta quinta-feira.

Brasil se absteve em resolução da ONU contra Líbia; veja discurso

Brasil se absteve em resolução da ONU contra Líbia; veja discurso

DE SÃO PAULO

O Brasil se absteve na noite desta quinta-feira no voto do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) que determinou uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, além de outras medidas para proteger os civis, exceto uma invasão por terra, em meio aos confrontos que se arrastam há um mês.
A criação dessa zona autoriza o abate de aviões do ditador líbio, Muammar Gaddafi, que decolem para atacar tropas opositoras. Em outras palavras, a ONU liberou o uso da força militar para que a resolução seja respeitada.
A resolução foi aprovada por dez votos a favor, nenhum contra e cinco abstenções, entre elas a Rússia e a China, que detêm poder de veto. Surpreendemente, o Brasil se absteve da votação.
A embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Ribeiro Viotti, disse que o país não está convencido de que o uso da força levará ao objetivo primordial de defesa ao povo líbio e que a resolução pode ter um efeito não desejado de aumentar os confrontos no solo.
Ela ressaltou que o Brasil continua apoiando a resolução passada no Conselho sobre a Líbia, que impôs sanções como proibição de viagens e veto à venda de armas ao país.
A diplomata brasileira condenou ainda publicamente o uso de violência contra os manifestantes, o desrespeito aos direitos humanos e pediu o direito à liberdade de expressão. Ela defendeu, contudo, uma solução aos confrontos através de um diálogo significativo, uma solução pacífica e sustentável.
Veja a íntegra do discurso de Viotti ao Conselho:
"Senhor Presidente,
O Brasil está profundamente preocupado com a deterioração da situação na Líbia. Apoiamos as fortes mensagens da Resolução 1970 (2011), adotada por consenso por este Conselho.
O governo do Brasil condenou publicamente o uso da violência pelas autoridades líbias contra manifestantes desarmados e exorta-as a respeitar e proteger a liberdade de expressão dos manifestantes e a procurar uma solução para a crise por meio de diálogo significativo.
Nosso voto de hoje não deve de maneira alguma ser interpretado como endosso do comportamento das autoridades líbias ou como negligência para com a necessidade de proteger a população civil e respeitarem-se os seus direitos.
O Brasil é solidário com todos os movimentos da região que expressam suas reivindicações legítimas por melhor governança, maior participação política, oportunidades econômicas e justiça social.
Condenamos o desrespeito das autoridades líbias para com suas obrigações à luz do direito humanitário internacional e dos direitos humanos.
Levamos em conta também o chamado da Liga Árabe por medidas enérgicas que deem fim à violência, por meio de uma zona de exclusão aérea. Somos sensíveis a esse chamado, entendemos e compartilhamos suas preocupações.
Do nosso ponto de vista, o texto da resolução em apreço contempla medidas que vão muito além desse chamado. Não estamos convencidos de que o uso da força como dispõe o parágrafo operativo 4 (OP4) da presente resolução levará à realização do nosso objetivo comum --o fim imediato da violência e a proteção de civis.
Estamos também preocupados com a possibilidade de que tais medidas tenham os efeitos involuntários de exacerbar tensões no terreno e de fazer mais mal do que bem aos próprios civis com cuja proteção estamos comprometidos.
Muitos analistas ponderados notaram que importante aspecto dos movimentos populares no Norte da África e no Oriente Médio é a sua natureza espontânea e local. Estamos também preocupados com a possibilidade de que o emprego de força militar conforme determinado pelo OP 4 desta resolução hoje aprovada possa alterar tal narrativa de maneiras que poderão ter sérias repercussões para a situação na Líbia e além.
A proteção de civis, a garantia de uma solução duradoura e o atendimento das legítimas demandas do povo líbio exigem diplomacia e diálogo.
Apoiamos os esforços em curso a esse respeito pelo Enviado Especial do Secretário-Geral e pela União Africana.
Nós também saudamos a inclusão, na presente resolução, de parágrafos operativos que exigem um imediato cessar-fogo e o fim à violência e a todos os ataques a civis e que sublinham a necessidade de intensificarem-se esforços que levem às reformas políticas necessárias para uma solução pacífica e sustentável. Esperamos que tais esforços continuem e tenham sucesso.
Obrigada."

Governo brasileiro está pessimista com visita de Obama

Governo brasileiro está pessimista com visita de Obama

NATUZA NERY
DE BRASÍLIA

O Palácio do Planalto começa a revelar pessimismo em relação à visita de Barack Obama, neste final de semana, e reclama da resistência dos EUA em discutir temas de interesse do Brasil, apesar do discurso corrente de implantar um novo capítulo nas relações entre os dois países.
Segundo a Folha apurou, a declaração de um funcionário da Casa Branca, publicada na edição de ontem do jornal, ajudou a "azedar" o clima pré-visita. Mike Froman, vice-conselheiro de segurança nacional de Obama, afirmou que a "viagem é fundamentalmente a respeito da recuperação econômica e exportações americanas".
Nas palavras de um integrante da Presidência, trata-se de um visão utilitarista dos EUA sobre o Brasil, principalmente diante da preocupação da presidente Dilma Rousseff com o deficit comercial brasileiro em relação ao mercado americano -- US$ 7,731 bilhões em 2010, em dados do Ministério do Desenvolvimento.
O desânimo foi reforçado pela informação de que o mandatário não iria a um jantar que Dilma havia sugerido no Palácio da Alvorada.
A equipe que negocia os termos do encontro oficial comunicou que Obama gostaria de deixar Brasília rumo ao Rio de Janeiro no fim da tarde de sábado, não por volta das 20 horas, como inicialmente pensado. Até segunda ordem, o evento se transformou em um rápido encontro de despedida.
Representantes da diplomacia brasileira, porém, evocam outro tipo de visão. Consideram que a chegada do presidente da mais importante economia do planeta em menos de três meses de governo já é, por si só, um "êxito".
Apesar da contrariedade entre não diplomatas, o Itamaraty não faz reparos à lista de acordos e termos de cooperação que sairá da visita.
Dilma, embora reconheça o simbolismo da visita, tem dito a assessores que desejava ver do parceiro sinalizações mais concretas de aproximação. Na pauta de seus sonhos, o apoio à campanha brasileira por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
À medida que as negociações avançavam, multiplicavam-se as críticas no Planalto. Um interlocutor palaciano argumenta que os EUA tentam vender seus caças F18, mas dizem não aos aviões da Embraer.
Afirma que os americanos desejam entrar na indústria do pré-sal e cooperar na área energética, mas não discutem as tarifas à importação do etanol brasileiro.
Nas reuniões preparatórias, ministros relembram o financiamento de US$ 10 bilhões que a China concedeu à Petrobras no passado.
Um acordo para tratar de uma futura e gradativa eliminação da exigência de vistos a visitantes brasileiros nos EUA não deve sequer entrar nas conversas oficiais.