quarta-feira, 2 de março de 2011

Agora, Ocidente rejeita ser dono da democracia

Do enviado a Genebra

Depois de ter apoiado por tanto tempo ditadores que já caíram (Tunísia e Egito) e de ter reabilitado o sitiado Muammar Gaddafi, o Ocidente foge assustado da ideia de patrocinar a democracia na Líbia.
É o paradoxo que ficou evidente ontem em todas as intervenções na sessão do Conselho de Segurança de Direitos Humanos da ONU e nas entrevistas concedidas pelos chanceleres das principais potências ocidentais.
“O Ocidente não tem todas as respostas”, assumiu Hillary Clinton. É óbvio, mas não é o que os EUA diziam ao menos no governo de George W. Bush (2001-2009), que anunciou a exportação da democracia para o mundo árabe com a invasão do Iraque.
Reforça o ministro italiano Franco Frattini, até anteontem o maior aliado da Líbia de Gaddafi: “Não pretendemos ditar a mudança na Líbia. Queremos, ao contrário, que a democracia seja de propriedade do povo líbio”.
Frattini chega a falar em diferentes modelos de democracia, como se o Ocidente admitisse que pode haver mais de um, e não apenas o que a esquerda antigamente chamava de “democracia burguesa”.
Não é difícil explicar esse receio de aparecer como donos da “nova Líbia”, como a denominou Frattini.
O Ocidente adotou, embora sem explicitá-la, a teoria de que só havia dois caminhos possíveis no Oriente Médio: ditaduras amigas, como a de Mubarak no Egito, ou inimigas, como a do Hamas em Gaza, com a ascensão dos fundamentalistas.
As revoltas derrubaram a teoria. Agora, diz Hillary, houve “houve convergência entre valores e interesses (do Ocidente).”.

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