sábado, 27 de dezembro de 2014

A paixão de escrever

A paixão de escrever

Escrever é uma vocação imperiosa e nem todo mundo tem vocação.
Li, certa vez, que o grande escritor francês Victor Hugo queria ser Chateaubriand ou nada. Um escritor nato escreve porque tem alguma coisa para dizer e só pode dizê-lo escrevendo. 
Creio que a vontade, o sentimento, a alegria ou a tristeza faz a brancura da página desaparecer. Escrever apesar dos fracassos e das críticas hostis é algo que me atrai. Na realidade, ainda carrego a ilusão e o sentimento de libertação e de trunfo, por uma frase perfeita, caracterizar um objeto, um sentimento, narrar com brilhantismo os feitos heroicos de personagens históricos.
Todo o livro começa com uma página em branco. Cabe ao autor preencher o vazio com conhecimento e imaginação. Há de se ter perseverança - a escrita requer atributos técnicos e maturidade emocional para compreender o ser humano, incluindo o que escreve. Para o cronista e escritor Antonio Prata, não é a página em branco o que mais aflige, mas o preto das letrinhas inseguras que começam a preenchê-la. A despeito das dificuldades, escrever um romance é um sonho compartilhado por muita gente. Porque é uma tentativa de posteridade, uma trapaça contra a solidão e a morte, um jeito de sobreviver à privacidade da própria imaginação e à vida em si.
Escrever é uma religião. Une as pessoas de uma maneira que não pode ser alcançada por outros meios. Escrever exige cuidados e trabalhos incríveis. Quantos arrependimentos! Quantas correções em espiral que mutilam o texto na versão inicial.
Mas é um verdadeiro êxtase em que, numa noite, escrevemos trinta, vinte, dez páginas. Esse momento de criação feliz é cheio de esperança. Sonhamos com um texto bem acabado, bem apresentado, profundo e vibrante. Como diz Baudelaire, “manejar sabiamente uma linguagem é praticar uma espécie de feitiçaria evocatória”. Escrever exige estilo e graça. Li que em David Copperfield - o escritor Charles Dickens - descreve um homem tão alto que as pernas compridas davam a impressão de ser a sombra de outra pessoa. Como se vê, seria menos impactante dizer apenas que era um tipo grandalhão.
Por fim, suponho que escrever exige estilo. O estilo é a mão do temperamento sobre a natureza das coisas e dos homens. Sem temperamento, não há estilo. Sem paixão, não há estilo. Sem inspiração, não há estilo.
José Renato Ferraz da Silveira


Nenhum comentário:

Postar um comentário