sábado, 15 de março de 2014

Outro momento de intensidade lírica e dramática da peça: 

Por amor de Deus, sentemo-nos no chão
E contemos histórias tristes da morte de reis:
De como uns foram depostos, outros mortos na guerra,
Uns perseguidos pelos fantasmas que tinham deposto,
Outros envenenados pelas esposas, ou mortos
Durante o sono, todos assassinados – pois,
Dentro da Coroa oca que cinge as fontes de um rei,
Tem a Morte a sua corte, onde faz sentar o bobo,
E zomba do poder real num esgar à sua pompa,
Concedendo-lhe um suspiro, uma cena breve,
Para fazer de rei, ser temido e matar com o olhar,
Infunde-lhe um vão conceito de si próprio,
Como se a carne que nos empareda a vida
Fosse imperecível como o bronze; assim divertida,
Para furar as muralhas do castelo e...adeus, rei!
Cobri as cabeças e não mofeis da carne,
Fazendo solenes referências; deitai fora
O respeito, a tradição, fórmulas e etiquetas;
Todo este tempo me entendestes mal.
Vivo de pão como vós, sinto necessidades,
Sinto tristeza, preciso de amigos – carente;
Assim, como podeis dizer-me que sou rei?
(SHAKESPEARE, 2002, p. 90).


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