segunda-feira, 18 de julho de 2011

CAWTHORNE , NIGEL.As maiores batalhas da história. Estratégias e táticas de guerra que definiram a história de países e povos. Trad. Glauco Peres Dama.São Paulo, M. Books do Brasil Editora Ltda 2010. p. 82-83-84-85-86.

BOSWORTH O começo da era Tudor 1485

A batalha do Campo de Bosworth finalmente colocou um fim na luta entre dinastias adversárias para o trono da Inglaterra. Ela precedeu a era Tudor, quando uma Inglaterra unida ergueu-se para ser um poder predominante.

A Batalha do campo de Bosworth, em 1485, marcou o fim da Guerra das Rosas. As casas de York e de Lancaster, cujos símbolos eram rosas brancas e vermelhas, haviam brigado pelo trono da Inglaterra, durante os mais de trinta anos que levaram até a batalha. Ela colocou um fim na dinastia Plantageneta, que havia governado a Inglaterra desde que Henrique II subira ao trono, em 1154, e marcou o fim da Idade Média na Inglaterra. O país não estaria mais nas mãos de soberanos rivais. Em vez disso, todos os seus assuntos deveriam estar submissos a uma única coroa.
O vencedor, Henrique Tudor, Conde de Richmond, era um galês, mas ele era membro da facção lancastriana por meio de sua mãe. Não tinha uma forte reivindicação para ser rei, mas as guerras entre Lancaster e York havia matado todos os melhores candidatos. Após a derrota lancastriana na Batalha de Tewkesbury, em maio de 1471, seu tio Jasper Tudor o levou – então com catorze anos – para exílio na Bretanha, por questões de segurança. Os iorquistas agora estavam tão seguros no trono, que a impressão era de que ele poderia ficar lá até o fim da vida.

No entanto, Eduardo IV morreu em abril de 1483, e seu filho Eduardo V, de doze anos, sucedeu com seu tio Ricardo Plantageneta, Duque de Gloucester, como protetor. Ricardo, que já fora considerado responsável pelas mortes de Henrique VI, de seu filho, príncipe Eduardo, e de seu próprio irmão, o Duque de Clarence, tomou o garoto de sua mãe. Ela era membro da poderosa família Woodville, e alguns Woodvilles foram presos e executados. Ricardo hospedou Eduardo na Torre de Londres, na época um palácio real. O irmão de Eduardo, Ricardo, Duque de York, foi trazido para acompanhá-lo. Ricardo, então, declarou inválido o casamento de seu irmão com Isabel Woodville, transformando em bastardos os dois príncipes. As crianças desapareceram, e muitos presumem, sob influência de Shakespeare, que eles foram assassinados por Gloucester, que então tomou o trono como Ricardo III, em junho de 1483. Em 1674, quando alterações na construção estavam em andamento na Torre, foram encontrados esqueletos de duas crianças. Assumidos, de modo geral, como das duas infelizes crianças, eles foram levados para a Abadia de Westminster, onde foram enterrados.
Ricardo foi largamente visto como usurpador. Seu ex-aliado, Henrique Stafford, Duque de Buckingham, levantou uma rebelião no sul da Inglaterra; embora rapidamente contida, enfraqueceu ainda mais a causa iorquista. Lancastrianos exilados se juntaram a Henrique Tudor, e seus conselheiros o convenceram de que seu tempo havia chegado.
Em 1° de agosto de 1485, a frota de Henrique saiu de Harfleur, na Normandia, levando uma força de 2 mil mercenários franceses sob comando de Philibert de Chaundé, e alguns lancastrianos proeminentes, incluindo Jasper Tudor, o Bispo de Ely e John de la Vere, Conde de Oxford. Um “suave vento sul” os conduziu caminho abaixo no Canal e ao longo de Land’ End. Seis dias depois de sair da França, eles chegaram a Milford Haven, em Pembrokeshire, que era parte do condado de Jasper Tudor. Henrique passara boa parte de sua infância lá, e os galeses locais correram em sua ajuda.
Conforme o crescente exército de Henrique marchava em Gales sem oposição, ficava claro para Ricardo que seus partidários não podiam ser confiáveis. Um deles, William Stanley, não fez nenhum esforço para impedir o progresso dos rebeldes. Seu irmão Thomas, Lorde Stanley, estava preso e implorou que o deixassem voltar a suas terras em Lancashire, alegando saúde precária. Ricardo lhe deu permissão para ir apenas se ele deixasse o filho, Lorde Strange, como refém.
Não havia falta de suporte para Henrique na Inglaterra. Em Shrewsbury, juntaram-se a ele 500 homens sob o comando de Sir Gilbert Talbot; em Atherstone, em Warwickshire, ele encontrou William e Thomas Stanley, que permaneceriam neutros a essa altura. Quando chegou a Leicestershire, Henrique havia reunido uma força de 5 mil homens.
Ricardo estava em Nottingham e temia que os rebeldes se apressassem em direção a Londres. Em 19 de agosto, ele seguiu a sul, para Leicester, com aproximadamente 8 mil homens.
Na liderança da coluna estavam 200 cavaleiros e 1.200 arqueiros sob o comando de John Howard, Duque de Norfolk. O próprio Ricardo comandou a força principal de 3 mil homens armados com lanças e alabardas. Na retaguarda, sob comando de Henry Percy, Conde de Northumberland, havia outros 2 mil alabardeiros. Guardando a retaguarda e os flancos, 1500 cavaleiros. Eles eram uma força robusta, profissional, e seus líderes – Ricardo e Norfolk – haviam ganhando fama em batalhas comandadas por Eduardo IV.
Os dois exércitos se encontram mais cedo, em 22 de agosto, na vila de Sutton Cheney, a quase vinte quilômetros a oeste de Leicester e a quase cinco quilômetros a sul de Market Bosworth. Aproximadamente 4 mil homens, sob comando dos irmãos e Stanley, também estavam nos arredores, prontos para se juntarem a qualquer lado que aparentasse estar vencendo. Ricardo enviou a Lorde Stanley uma mensagem: se ele não se unisse às forças do rei, seu filho Lorde Strange seria assassinado. Stanley respondeu que tinha outros filhos, mas Ricardo não matou o garoto – o que é estranho sob a ótica de sua reputação.
Ricardo tomou posição em Ambien Hill, o que lhe deu vantagem devido ao solo elevado. O Conde de Oxford, liderando a tropa dianteira do exército de Henrique, começou o ataque, mas as formações de Tudor foram fragmentadas pelo solo pantanoso na base da cordilheira. Se Ricardo tivesse atacado nesse momento, aproveitando a vantagem da desordem nas fileiras o inimigo, provavelmente teria vencido. Nessas circunstâncias, ele recuou. Talvez o motivo seja Ricardo não poder contar com seus homens. Um historiador registrou que entre eles havia muitos que “desejavam o rei morto; portanto, lutaram frouxamente”.
Oxford restaurou a ordem e trouxe artilharia para atacar o exército de Ricardo, concentrado colinas acima. O ataque causou poucas baixas, mas produziu um efeito psicológico nas tropas, cujo moral já estava baixo. Oxford, então, juntou seus homens ao redor de seu próprio estandarte e os liderou colina acima em duas horas de luta corpo a corpo.
Norfolk foi morto cedo na batalha – dizem que pelo próprio Oxford -, e seu filho, o Conde de Surrey, foi capturado. Isso baixou ainda mais o moral dos homens de Ricardo. Um mensageiro foi visto se afastando a cavalo para levar as notícias aos Stanleys, que prontamente juntaram-se ao lado de Henrique na batalha. Notando para qual lado o vento soprava, Northumberland se recusou a enviar suas tropas de reserva, e as forças iorquistas começaram a se dissolver.
Para Ricardo, havia ainda uma pequena chance de ganhar – ou seja, se Henrique morresse. Agarrando uma alabarda, ele montou em seu cavalo branco de batalha e cavalgou diretamente até Henrique, acompanhado por seu corpo de guarda de oito cavaleiros. Abriu caminho através das fileiras de soldados galenses e matou Sir John Cheney, um homem consideravelmente maior e mais forte que ele. Em seguida matou o porta-estandarte pessoal de Henrique, Sir William Brandon. As adversidades que ele enfrentou foram avassaladoras. Foi derrubado do cavalo e morto em um pântano antes que pudesse alcançar Henrique, sendo o segundo rei inglês a ser morto em batalha na liderança de suas tropas.
Dizem que a coroa de Ricardo foi encontrada em um espinheiro. Lorde Stanley, cuja traição havia vencido, depois coroou Henrique Tudor rei da Inglaterra no campo de batalha.
Com Ricardo morto, a luta terminara. O exército de Ricardo perdera aproximadamente mil homens; o de Henrique, apenas duzentos. Na época, as baixas foram consideradas leves. O corpo de Ricardo foi jogado no dorso de um cavalo e levado a Leicester, onde foi exibido para ridicularização pública durante dois dias antes de ser enterrado na Igreja Greyfriars.
No ano seguinte a Bosworth, o novo Henrique VII casou-se com Isabel de York, unindo os dois ramos rivais da agora extinta família Plantageneta. A vitória de Henrique em Bosworth marcou o início de 118 anos de domínio Tudor, tempo em que a Inglaterra tornou-se a principal potência na Europa.
O fato de Ricardo III ser registrado como um dos piores vilões na história inglesa é largamente atribuído ao retrato que Shakespeare fez dele na peça homônima. Shakespeare escreveu na era Tudor, por isso tinha boas razões para obscurecer a personagem de Ricardo. Naquela época, pensava-se que deformidades físicas eram compatíveis com deformidades morais, por isso Ricardo é retratado na peça como um horrível corcunda de pé torto. No entanto, parece improvável que ele fosse feio quanto Shakespeare o representou, porque deixou sete filhos ilegítimos.

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