segunda-feira, 5 de setembro de 2011

OS GRANDES LÍDERES E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS


Os últimos acontecimentos internacionais chamam a atenção da opinião pública, na medida em que nomes conhecidos da política internacional estampam as manchetes dos principais veículos de imprensa. Para citar casos mais recentes, a morte do terrorista Osama Bin Laden, considerado, até então, inimigo número um dos EUA, bem como a prisão do ex-diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, acusado de assédio sexual, em Nova York, atestam a importância dos líderes para as relações internacionais.
Ao olharmos para o passado, por meio de uma breve revisão histórica, notamos que a história dos diferentes países pode ser altamente influenciada por seus líderes. A instabilidade emocional, as virtudes, os vícios, os medos e os traumas de cada líder político têm a capacidade de levar uma nação à bancarrota ou ao seu apogeu. Obviamente, inúmeros outros fatores atuam na história das nações, no entanto os efeitos gerados pela psicologia dos governantes podem, até mesmo, transcender fronteiras territoriais.
Logo após o colapso da Alemanha nazista, Konrad Adenauer, aos 73 anos de idade, tornou-se chanceler da Alemanha Ocidental. Diante do esfacelamento do Estado alemão após a Segunda Guerra Mundial, Adenauer fora um dos principais responsáveis pela reinserção de parte de seu país, na esfera internacional. A despeito da divisão do território do antigo Terceiro Reich, a República Federativa da Alemanha, capitaneada pelo pragmatismo político desse eminente estadista, aliou-se ao Ocidente, preterindo, assim, a unidade nacional. Para ele, uma aliança com os Estados Unidos representava uma base de sustentação para que os resquícios do pan-germanismo da primeira metade do século XX não emergissem novamente, ameaçando, mais uma vez, a estabilidade internacional. Conforme afirma Henry Kissinger, diplomata norte-americano, em sua conhecida obra Diplomacia, “A resposta de Adenauer ao caos do após-guerra foi que um país dividido e ocupado, cortado de suas raízes históricas, exigia uma política estável para voltar a ter algum controle sobre o seu futuro. Adenauer negou-se a sair desse caminho por nostalgia ou pela tradicional relação alemã de amor e ódio com a Rússia. Ele optou sem hesitação pelo Ocidente, mesmo ao preço de adiar a unidade alemã”.
Richard Milhous Nixon, a despeito de ter sido o único presidente estadunidense a renunciar – em virtude do famoso escândalo de Watergate - também pode ser lembrado por sua influência nas relações internacionais, em um contexto de plena Guerra Fria. O período em que as críticas mais severas e ferrenhas ao envolvimento dos Estados Unidos em uma guerra sem precedentes em sua própria história – a Guerra do Vietnã – coincidira com o mandato de Nixon, na Casa Branca. Além de ser o presidente responsável pela retirada das tropas americanas do “atoleiro sul-vietnamita”, Nixon contrariou a política externa de quatro outros presidentes dos EUA, entre eles um dos mais populares da história política norte-americana – John Fitzgerald Kennedy. Não obstante, Nixon fora responsável também pela chamada diplomacia triangular, na medida em que aproximou os EUA da República Popular da China. A despeito da bipolaridade ideológico-militar entre americanos e soviéticos, esse presidente estabeleceu, no começo da década de 1970, relações diplomáticas com o governo socialista de Mao Tsé-Tung, contrariando a rigidez ideológica de muitos policymakers da superpotência ocidental. Apesar de ser representada por um governo de tendências marxistas, a China da década de 1970 não constituía mais um aliado da URSS, acabando, assim, com o monolítico socialismo açambarcado pelos comunistas do leste europeu. No que tange a essa inovação na política externa norte-americana, o próprio Kissinger – antigo conselheiro político de Nixon – argumenta que “Uma vez que os EUA se abriram à China, a melhor opção da União Soviética passou a ser a sua própria distensão com os Estados Unidos”. Em outras palavras, “Na medida em que a China e a União Soviética calculassem que ambas precisavam da boa-vontade americana ou temessem uma aproximação americana com o adversário, ambas teriam bom motivo para melhorar suas relações com Washington”.
Outro exemplo a ser mencionado é a figura de Mikhail Gorbachov. Líder da antiga União Soviética, Gorbachov, de 1985 a 1991, foi responsável por uma serie de reformas políticas e econômicas, na então cambaleante economia soviética. Nesse sentido, “Quando Gorbachov assumiu a presidência, em 1985, era o líder de uma superpotência nuclear, em decadência econômica e social.” Por meio de medidas tais como a glasnost (transparência) e a perestroika (reestruturação), suas tentativas de modernizar a engrenagem do corrompido sistema socialista da URSS fracassaram com a a queda do muro de Berlim e com o colapso das repúblicas socialistas, no leste europeu. No entanto, cabe mencionar as intensas pressões que seu governo enfrentou, tais como o desastre nuclear na Usina de Chernobyl, na Ucrânia, a ascensão política do sindicato Solidariedade, sob a tutela do ativista polonês Lech Walesa, além dos dispendiosos investimentos em armamentos e da intensificação de uma burocracia parasitária e corrupta. Outrossim, embora tenha sido o último presidente de uma antiga superpotência nuclear, Gorbachov eternizou seu nome em todos os livros de História do século XX.
Os exemplos de apenas três importantes líderes políticos – um alemão, um norte-americano e um soviético – não encerram a importância das figuras políticas para o desenvolvimento das relações internacionais, sejam elas sob a cooperação ou sob o conflito interestatal. Inúmeros outros nomes merecem ser lembrados em qualquer breve revisão histórica do século XX, haja vista a influência que os seres humanos despertam sobre as mais diferentes instituições. As organizações internacionais, as forças transnacionais e, principalmente, os Estados não fogem à essa regra, como atesta a história das relações internacionais. Antes mesmo da gênese dos Estados Nacionais, grandes lideres já tinham sua importância reconhecida para a política internacional e a complexificação do capitalismo contemporâneo não tem a capacidade de extirpar esse vínculo entre, por um lado, os líderes políticos e, por outro, os impactos de suas personalidades sobre a sociedade internacional. Sendo assim, inevitavelmente, as relações internacionais continuarão, por conseguinte, sendo ligadas a nomes como Muamar Kadafi, Barack Obama, Angela Merkel, Nicolas Sarkozy, entre tantos outros representantes dos principais atores internacionais.

Guilherme Backes – acadêmico de Relações Internacionais (UFSM) e pesquisador do grupo PRISMA.

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