terça-feira, 1 de março de 2011

Enquanto região ferve, feira de armas bate recorde de público

Enquanto região ferve, feira de armas bate recorde de público

Ricardo Bonalume Neto

A passagem de um fragata iraniana pelo canal de Suez, o primeiro navio de guerra do país a fazer esse trajeto desde a tomada do poder no Irã em 1979 por teocratas islâmicos, foi bem mais simbólica que intimidante.
Mais significativo das tendências regionais foi o saldo de uma feira de armamentos na semana passada: a décima edição da Idex (International Defence Exhibition and Conference, exibição e conferência internacional de defesa), em Abu Dhabi.
Maior feira bienal de material bélico do Oriente Médio e Norte da África, a IDEX 2011 contou com a presença de 1.060 empresas exibidoras de 53 países – 18% a mais do que na mostra de 2009.
Como comparação, a maior feira bienal de defesa da América Latina, a ser realizada em abril no Rio, deverá ter 350 expositores.
O espectro militar do Irã, simbolizado pela viagem da fragata para visita à Síria, também serviu de estímulo à IDEX. A paranóia em relação ao Irã serve de pano de fundo para países como Arábia Saudita e Emirados Árabes irem às compras. Um terço das armas que os EUA exportam vai para o Oriente Médio.
O aumento do preço do petróleo tende a permitir aos países da região tanto investir em programas sociais – uma maneira de reduzir o descontentamento por trás das atuais revoltas – como continuar comprando armas. Algumas para a defesa externa, algumas para uso em contenção de distúrbios.
O “timing” da feira fez alguns países deixarem de enviar representantes ou enviá-los em quantidade bem menor – caso de Egito, Tunísia, Bahrein e Líbia.
A fragata iraniana Alvand é um navio obsoleto, projetado no Reino Unido na década de 1960. Ela foi, no entanto, reequipada com mísseis anti-navio chineses C-802, que são mais modernos e letais que os originais.
O negócio mostra como é difícil consenso em bloqueios de vendas de armas. Sempre haverá um país disposto a vendê-las – China e Rússia são dois exemplos.
Justamente por não terem acesso à importação de armas durante o longo conflito com o Iraque (1980-1988), os iranianos desenvolveram uma sofisticada indústria de defesa, com destaque para mísseis, mas incluindo cerca de 2.000 diferentes itens, exportados nos últimos anos para cerca de 30 países.
De 1988 a 2007, África e Oriente Médio gastaram 79,1% mais com armas. No mesmo período, todo o planeta gastou só 1,6% mais.

Um comentário:

  1. Vale ressaltar que China, Rússia, Estados Unidos, Reino Unido e França, membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas são os países que mais exportam para o mundo, em especial, as regiões citadas no artigo, África e Oriente Médio.

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