quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Para especialistas, capitão infringiu convenção internacional


GUILHERME CELESTINO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Especialistas dizem que o capitão do navio Costa Concordia, Francesco Schettino, errou em se aproximar demais da costa em uma ilha com formato "paredão".

Eles dizem que o capitão ainda infringiu a convenção internacional Normas de Formação, Certificação e Vigilância (STCW, na sigla em inglês) ao abandonar a embarcação, quando ainda havia passageiros a bordo.

Álvaro Otranto, oficial da Marinha Mercante e capitão de iates de grande porte, disse que o comandante deveria saber que durante a noite não é possível se aproximar tanto da costa em um navio desse porte.

Mas ele explica que, em cruzeiros, é normal fazer manobras desse tipo.

"É importante nesse caso o comandante ter o controle do navio e saber por onde vai", diz Otranto.

EXCESSO DE CONFIANÇA

Ele acredita que o acidente pode ter sido provocado por excesso de confiança. "Tem capitão de navio de passageiro que não aceita instruções da Capitania dos Portos."

Quanto à tripulação, ele explica que nem todos os integrantes têm treinamento adequado para enfrentar situações de emergência.

Há menos aquaviários, os profissionais do setor, do que pessoas que exercem outras funções --na limpeza e nos restaurantes, por exemplo-- nas equipes embarcadas.

Em relação ao abandono do navio, o capitão Odilon Braga, secretário-geral do Sindmar (Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante), afirma diz que as normas da convenção internacional STCW dizem claramente quais são as atribuições do capitão.

"É vedado abandonar o barco por maior perigo que a situação ofereça. Somente é possível em caso de naufrágio e após certificar-se de que é o último a fazê-lo", diz.

SITUAÇÃO NO BRASIL

Braga diz que é importante uma maior regulamentação dos navios de passageiros no Brasil.

Ele explica que em razão das bandeiras dos cruzeiros serem estrangeiras, não há oficiais brasileiros.

Com temporadas de duração cada vez maiores e com mais navios, o sindicato pretende atuar para rever essa situação.

Segundo Braga, já há leis que obrigam outros tipos de embarcação a terem brasileiros entre os oficiais, mas isso não acontece com os navios de passageiros.

"Isso é problemático não só pela língua, já que em uma situação de perigo avisar as autoridades poderia ser um problema, como também é importante ter oficiais brasileiros pelo fato deles terem maior conhecimento da costa brasileira", diz.

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