segunda-feira, 31 de outubro de 2011

SILVA, Guilherme A; Gonçalves, Williams. Dicionário de Relações Internacionais. 2 ed. Barueri: Manole, 2010.

Teoria dos jogos

Teoria dos jogos é um método matemático formal (portanto quantitativo) utilizado nas mais diversas áreas, como ciência da computação, matemática, filosofia, economia, ciência política e política externa, e representa a edificação de um modelo fictício e simplificado de relações binárias ou múltiplas. O “jogo” é formado pela situação de interação, pelo desempenho ou comportamento disponíveis das partes envolvidas e pelo tipo de retorno que cada ação acarreta. Em cada período ou repetição do jogo, os “jogadores” selecionam a melhor resposta ao desafio proposto, ou a melhor estratégia, baseados na freqüência histórica das ações de seus oponentes. A teoria dos jogos procura analisar probabilidades comportamentais em situações de negociação e interação internacionais em que há uma prevalência de componentes de disputa, conflito de interesses, competição, possibilidades de ganhos e perdas excludentes. O modelo proposto pela teoria dos jogos se aplica a identificação de prováveis estratégias e tomadas de decisão privilegiadas pelos atores desde que determinadas condições e pressupostos estejam presentes.
Três princípios básicos devem ser considerados. Primeiro, os atores agem conforme a lógica da racionalidade, buscando maximizar ganhos e minimizar perdas. Segundo, as opções, estratégias e decisões privilegiadas por um dos atores irão influenciar o resultado para os demais. Em outros tipos de “jogo”, como na área de comércio competitivo, basta que o “jogador” atinja seus próprios limites de eficiência para que as ações e estratégias de seus concorrentes possam ser desconsideradas. Em outras palavras, a busca por ganhos absolutos tende a definir estratégias. Por exemplo, o aumento de vendas ou exportação de uma empresa (ganho absoluto) em teoria independe do desempenho imediato de seus concorrentes. Esse, no entanto, não é o caso das relações internacionais, uma vez que as questões de ganhos relativos são consideradas essenciais nas relações entre países. Ou seja, não basta que determinado país obtenha ganhos, tanto econômicos como militares. Para tal país sua posição relativa diante dos demais países é crucial, já que em grande medida isso determinará o limite de seu poder de ação e influência no cenário internacional. Terceiro, tal como frequentemente ocorre no mundo da política e da negociação internacional, o modelo se baseia na noção de que o “jogador” desconhece as estratégias e ações de que seu oponente se valerá para a obtenção dos resultados desejados.
A teoria dos jogos é mais facilmente aplicável em situações em que os resultados possíveis são tidos como de soma zero. Ou seja, o ganho de um dos “jogadores” ou atores envolvidos na disputa representa perda para outra parte. Dessa forma, a presunção é que não há maiores incentivos para que as partes em contenda optem por estratégias alternativas de caráter cooperativo que diminuam a validade do modelo. Estratégias baseadas na coordenação ou cooperação tornam problemática a aplicação dos princípios em que as partes desconhecem os movimentos de seus adversários, bem como aqueles em que as partes agem de forma racional, assim definida como a busca pela maximização de ganhos. Ainda assim, jogos de motivos mistos são relevantes para estudos em Relações Internacionais. A variação do jogo conhecida como dilema do prisioneiro impõe uma situação em que as duas partes em disputa podem ganhar ou perder. Apesar dos problemas que esse modelo apresenta, como acima descrito, sua vantagem está em representar condições mais condizentes com a realidade das relações internacionais. Tem sido bastante usado para a análise de temas como controle de armamento e negociações para desarmamento.

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