segunda-feira, 30 de maio de 2011

Falta de pessoal em solo dificulta ataques na Líbia, diz piloto francês

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Um piloto de caça francês com experiência de combate nos Balcãs e no Afeganistão apontou a dificuldade básica das operações aéreas da Otan na Líbia: a falta de pessoal em terra para prover inteligência e a segura identificação dos alvos. "Jogar uma bomba é fácil; difícil é identificar o alvo correto", afirma o major Nicolas Lyautey, da Força Aérea Francesa.
Para Lyautey, em missões como a no Afeganistão e na Líbia, o objetivo principal é proteger a população, não destruir o inimigo. É exatamente essa a estratégia fundamental de contra-insurgência que voltou a ser pregada pelas forças armadas americanas no Iraque e Afeganistão.
Coincidentementre, o piloto francês é um parente distante de um dos mais famosos especialistas franceses em guerra contra guerrilha, o general Louis Hubert Lyautey (1854-1934), famoso pela "pacificação" de colônias africanas da França.
O major Lyautey pilotou o caça-bombardeiro ango-francês Jaguar sobre a região de Kosovo, nos Balcãs, em vinte missões de reconhecimento em 2004. E fez dois turnos de combate no Afeganistão, em 2008 e 2009, durante os quais voou 47 missões operacionais no caça Rafale, um dos que participa da concorrência brasileira para um novo avião de combate.
Segundo Lyautey, em 90% das missões os pilotos no Afeganistão não empregam seu armamento de bombas e canhões. A ênfase da Otan é em missões "progressivas": os pilotos voam para "marcar presença" em demonstrações de força; podem sobrevoar o alvo ameaçadoramente; fazem disparos de alerta; e só então, com autorização do centro de controle tático em terra, podem empregar as armas contra o alvo. O centro reúne todas as informações coletadas por aviões, pessoal de terra e aeronaves não tripuladas.
"Como você faz para identificar se um grupo de pessoas é composto ou não de Talebans?", pergunta o piloto, membro do Esquadrão 1/7 "Provence", sediado na Base Aérea de St. Dizier. Ele veio ao Brasil para fazer palestra durante o evento de aniversário de 10 Anos da revista especializada em aviação "Asas".
Lyautey é um expert na operação do Rafale; foi um dos pilotos escolhidos para compor o grupo inicial de conversão para o novo caça, e hoje participa do grupo que desenvolve uma nova versão de uma bomba inteligente capaz de atingir o alvo com margem de erro de apenas um metro.
"Como fazer para acertar um tanque colocado em uma área urbana? Armamento desse tipo é fundamental para não causar danos à população em torno. A arma de precisão é compulsória", diz o piloto.
A bomba inteligente, que já existe em outras versões e está sendo usada na Líbia, é conhecida pela sigla em francês AASM ("Armement Air-Sol Modulaire") ou Hammer ("martelo", em inglês, um nome criado para alavancar exportações). Para obter maior precisão, a ideia é combinar diferentes sistemas de guiagem, com designação do alvo por laser e por GPS.
Os Rafale foram baseados na base área de Kandahar, no Afeganistão, cuja única pista ainda detém o recorde mundial de pista com a maior atividade aérea do planeta. A base abriga 30 mil pessoas.
Na Líbia, os Rafale estão sendo empregados em missões de defesa aérea contra os aviões do ditador líbio, em operações de bombardeio e de reconhecimento.

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