domingo, 27 de fevereiro de 2011

Renúncia de primeiro-ministro devolve instabilidade à Tunísia

DA EFE, EM TÚNIS

A renúncia anunciada neste domingo pelo primeiro-ministro da Tunísia, Mohamed Ghannouchi, e sua substituição pelo recém nomeado Beji Caid Essebsi, leva de novo o país à instabilidade quando começava a encarar uma difícil transição após a revolução que derrubou o presidente Zine El Abidine Ben Ali.
Após a renúncia de Ghannouchi, o presidente interino da Tunísia, Fouad Mebazaa, designou como chefe do Executivo Essebsi, antigo decano da Escola de Advogados de Túnis e que já tinha ocupado cargos em Governos anteriores, informou a televisão nacional tunisiana.
No entanto, o porta-voz do principal sindicato tunisiano, a União Geral de Trabalhadores da Tunísia, manifestou em uma emissora privada de televisão que esta força sindical não reconhecia Essebsi como primeiro-ministro, dado que o presidente interino do país tinha decidido sua nomeação de maneira unilateral e sem contar com o resto das Forças políticas e sociais do país.
Ghannouchi anunciou sua demissão em entrevista coletiva no Palácio de Cartago, sede da Presidência da República, ao mesmo tempo que na capital tunisiana a Polícia e a Guarda Nacional enfrentaram por segundo dia consecutivo os grupos de manifestantes que exigiam sua saída como chefe do Executivo.
De acordo com o balanço oficial divulgado neste domingo pelo Ministério do Interior tunisiano, cinco pessoas morreram nos enfrentamentos do sábado, embora fontes da oposição disseram à Agência Efe que outro manifestante tinha falecido nos choques registrados neste domingo.
PARA O BEM DA TUNÍSIA
"Decidi renunciar do meu cargo de primeiro-ministro, uma decisão adotada com a consciência tranqüila e necessária para o bem da Tunísia", afirmou Ghannouchi, cuja permanência à frente do Executivo foi fortemente contestada no país nas últimas semanas.
Ghannouchi assegurou que "não se trata de uma fuga" de sua responsabilidade, já que esta reside em "abrir o caminho a outro primeiro-ministro para o bem da Tunísia, de seu futuro e sua revolução".
Além disso, explicou que tinha refletido sua decisão durante uma semana e disse não estar disposto a adotar atitudes que "possam originar perdas de vidas", no que pareceu uma referência implícita às mortes registradas nos enfrentamentos das últimas 48 horas.
Ghannouchi acusou "grupos na sombra" de tratar de "debilitar o Governo e fazer fracassar a revolução".
Esses grupos, disse, são "uma minoria, já que a maioria permanece silenciosa ou só se expressa através do Facebook", em referência à rede social.
Também se perguntou pelas razões que levam esses grupos para atuar como se "a queda do Governo fosse o principal objetivo da revolução".
EVITAR UM BANHO DE SANGUE
Ghannouchi, que ocupava a chefia do Governo há dez anos, afirmou que, após a queda de Ben Ali, aceitou continuar no cargo "para preservar a vida dos tunisianos e evitar um banho de sangue" e considerou que a Tunísia ainda precisa de mais tempo para concretizar o objetivo da democracia.
Além disso, assinalou que o presidente interino da Tunísia, Fouad Mebazaa, deverá anunciar na próxima semana a agenda e o calendário das eleições, previstas para início de julho.
Por sua parte, fontes dos grupos de oposição que permanecem acampados há uma semana na Praça do Governo da capital tunisiana, onde se encontra o gabinete do primeiro-ministro, disseram à Agência Efe que as mudanças políticas produzidos neste domingo não vão fazê-los desistir de sua atitude, já que as consideram "insuficientes."
As fontes ressaltaram que "o camping continua" porque ainda não se cumpriram todas suas reivindicações, que, além da saída de Ghannouchi do Executivo, pedem também pela formação de uma Assembleia Constituinte que elabore uma nova carta magna para a Tunísia e a convocação de eleições.

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