sexta-feira, 4 de março de 2011

Dilma fala com presidente do FMI sobre crescimento 'estável'

DE BRASÍLIA

No dia em que foi anunciado um crescimento robusto do PIB (Produto Interno Bruto) de 7,5%, a presidente da República, Dilma Rousseff, e o diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, conversaram sobre os riscos do superaquecimento da economia e a necessidade de crescimento "lento e estável" dos países.
"É chegado o momento de desacelerar a economia", afirmou Strauss-Kahn sobre o Brasil após o encontro.
O diretor do FMI foi recebido no Palácio do Planalto. Além da presidente, participou da audiência o ministro Guido Mantega (Fazenda).
Strauss Kahn afirmou que ele e a presidente concordam que "crescimento por si só não é o bastante". Ele elogiou os programas sociais do governo brasileiro --citou o Bolsa Família-- e, principalmente, a recente decisão de corte de gastos. Segundo ele, os cortes são "muito bem-vindos".
O executivo anunciou mudanças aprovadas no Fundo para um "rebalanceamento" de poder, o que abriria mais espaço para a participação do Brasil. Segundo ele, o país é um dos dez maiores acionistas do FMI.
Com câmbio favorável, brasileiros gastam em lojas uruguaias

SARA PUIG
DA FRANCE PRESSE, EM RIVERA

Atraídos por uma taxa de câmbio favorável, 5.000 brasileiros do Rio Grande do Sul percorrem até 500 quilômetros todos os fins de semana para gastar seus reais nas lojas de livre comércio de Rivera, um paraíso do consumismo situado na fronteira uruguaia.
"Viemos para Rivera porque tudo é muito mais barato", afirma à AFP Roberto Pereira, enquanto paga com seu cartão de crédito um secador de cabelo e alto-falantes para o carro.
Os brasileiros desfrutaram neste ano do melhor verão desde 1947 para o turismo pela forte valorização do real, que encerrou 2010 com uma alta de 4,6% após ganhar 3,9% em 2009. Apenas em janeiro gastaram US$ 1,741 bilhão em viagens ao exterior.
Em Rivera, uma cidade de 70 mil habitantes, isto se traduziu em uma chegada em massa de brasileiros, atraídos por uma enorme gama de produtos livres de impostos, num momento em que o real é cotado a US$ 1,65 e a 11,8 pesos uruguaios. Prevê-se que as 60 lojas "Free Shop" presentes na cidade alcancem neste ano os US$ 240 milhões em lucros, segundo a Intendência.
"Compram os produtos cuja diferença de preços é maior", afirma Gandhi Abdullah, presidente das Lojas Free Shop de Rivera, acrescentando que o faturamento das lojas aumentou 40% de 2009 a 2010.
Perfumes, maquiagem, óculos de sol, sapatos, malas, raquetes de tênis, vinhos e champanhe, doce de leite, batatas fritas, micro-ondas, antenas parabólicas... Mas a estrela, sem dúvida, é o ar condicionado.
"Na loja temos uns 80 aparelhos de ar condicionado. Mas temos mais no estoque. Hoje podemos vender mais de cem. Valem uns US$ 600, em função da marca, mas no Brasil custam o dobro", explica Alicia Batista, uma das responsáveis pela loja Mega, enquanto manda colocar sete destes aparelhos junto à porta de entrada.
"PARQUE TEMÁTICO"
Famílias inteiras passeiam pelas ruas de Rivera como se estivessem em um parque temático. Com a lista nas mãos, os brasileiros percorrem loja por loja à caça de produtos. São uma clientela particular, que sabe o que quer e não precisa dos conselhos dos vendedores para se decidir.
"Ostentam muito a marca, vestem o que compram. As mulheres gastam mais que os homens. Elas sabem antes de nós os últimos lançamentos, e às vezes acontece de não termos o produto que procuram", explica Natalia González, uma das 110 funcionárias da loja Siñeriz.
O fenômeno deste ano não é novo, embora tenha confirmado uma tendência que começou há cinco anos, explica à AFP o intendente de Rivera, Marne Osorio.
"Em janeiro fomos muito, muito bem. Há lojas que chegaram a faturar até US$ 750 mil em um dia. O sistema de Free Shops está gerando um faturamento impressionante", diz Osorio.
IRMÃ BRASILEIRA
Enquanto isso, do outro lado da rua, a tranquilidade reina nas lojas de Sant'Ana do Livramento, a cidade irmã de Rivera no Brasil, com cerca de 82.000 habitantes. Mas a prefeitura aguarda com ansiedade a chegada de brasileiros, já que a cidade do Brasil absorve tudo o que Rivera não consegue gerir.
"Nós temos mais hotéis e mais restaurantes do que Rivera. Se em Rivera não há lugar, as pessoas vêm para Sant'Ana. Comemoramos que existam tantos brasileiros comprando nos Free Shops porque também é bom para nós", conta à AFP o prefeito Weinar Machado.
No entanto, atenta ao fenômeno dos Free Shops, Sant'Ana já pediu autorização ao governo do Brasil para criar uma zona livre de impostos, onde os brasileiros também possam comprar.
FISCALIZAÇÃO
Ante as compras em massa de produtos no Uruguai, o contrabando é um problema. O Brasil se encarrega de supervisionar que seja cumprida a lei que limita a US$ 300 o gasto por pessoa nas lojas sem impostos. A cinco quilômetros de Sant'Ana, um posto de controle alfandegário verifica o porta-malas de todos os veículos.
"Hoje podem passar até 10 mil veículos, por isso temos uma operação especial, com funcionários de outros postos fronteiriços entre Uruguai e Brasil", afirma à AFP Carlos Luciano Sant'Anna.
Parados em fila, os carros aguardam o registro de um funcionário que controla o número de passageiros e revisa as notas fiscais de cada compra.
"Vale a pena pagar a diferença (quando o valor supera os US$ 300), porque continua sendo mais barato do que no Brasil", contam dois casais de Porto Alegre, que visitaram Rivera pela segunda vez no ano.
"As pessoas devem declarar no escritório de Impostos Federal se têm bens que superam os US$ 300 por pessoas. Do contrário, aqui ficamos com as coisas", garante um dos responsáveis pela operação.
Um caminhão aguarda na sombra a chegada dos produtos apreendidos. Os primeiros do dia verificados pela reportagem foram dois aparelhos de ar condicionado, apesar dos apelos de seus proprietários.
Brasil já é a 7ª maior economia do mundo, diz Mantega

LORENNA RODRIGUES
DE BRASÍLIA
DE SÃO PAULO

O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse, nesta quinta-feira que, segundo dados preliminares, a economia brasileira ultrapassou a da França e do Reino Unido em paridade de poder de compra e é agora a 7ª maior economia mundial. Antes, o país ocupava a 9ª posição na comparação em paridade de poder de compra, segundo o ranking do Banco Mundial.
Dois anos atrás, o país estava atrás de Estados Unidos, China, Japão, Índia, Alemanha, Rússia, Reino Unido e França, esta ordem. As projeções preliminares citadas por Mantega ainda não foram confirmadas pelo Banco Mundial.
Entre os países do G20, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro foi o quinto maior, ficando atrás de China, Índia, Argentina e Turquia.
Segundo informou hoje o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o PIB brasileiro cresceu 7,5% em 2010. De acordo com Mantega, esse crescimento não sinaliza um superaquecimento da economia. Para ele, os dados mostram que já há um desaquecimento no último trimestre.
Em valores correntes, o PIB alcançou R$ 3,675 trilhões em 2010.

"Isso mostra a capacidade produtiva da economia brasileira, o potencial que vem sendo realizado nesses últimos anos. Mostramos nossa capacidade de crescer cada vez mais", afirmou.
O ministro disse ainda que o crescimento significativo do investimento mostra a qualidade do crescimento brasileiro, já que está havendo expansão na capacidade produtiva brasileira.
"Isso nos habilita a continuar o crescimento nos próximos anos e crescimento equilibrado com mais oferta de produto afastando problemas de abastecimento e de inflação", completou.
O percentual do PIB é o maior desde 1986, quando houve a mesma alta. No entanto, a metodologia da série foi modificada em 1996.
Em 2009, o PIB havia apresentado retração de 0,6% --a primeira na atividade econômica desde 1992.
Com o crescimento mais arrefecido na parte final do ano, o PIB subiu 0,7% no quarto trimestre de 2010, em relação aos três meses imediatamente anteriores. Na comparação com o período de outubro a dezembro de 2009, a economia registrou alta de 5,0%.
REVISÃO
O IBGE revisou os dados dos trimestres do ano passado que já haviam sido divulgados. No primeiro trimestre, a economia avançou 2,2% ante os três meses imediatamente anteriores --anteriormente tinha apresentando expansão de 2,3%.
No segundo trimestre, a revisão também apontou um percentual menor --de acréscimo de 1,8% para 1,6%. Já no terceiro trimestre, o crescimento passou de 0,5% para 0,4%.