Perder as palavras
A vida é uma jornada de nascimento à morte, uma caminhada ao mesmo
tempo externa e interna, pelo período que nos couber. Como diria Cecília
Meireles, “entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação dos meus
desejos afligidos”.
Mas, há momentos em nossa existência, em que os desejos mais agudos e
que nos angustiam são silenciados diante do belo.
A contemplação do belo é realmente um verdadeiro aproximar-se da luz
divina e um afastar-se das trevas. É um momento mágico e de sublime deleite aos
olhos, o espelho da alma. Sinto-me tão frágil, tão
inexistente, mas ao mesmo tão ardente e sedento por contemplá-la novamente.
Encontrei a
perfeita definição, na
obra Confissões de Santo Agostinho (354-430), em trecho que trata a respeito da
relação dicotômica entre luz-sabedoria – trevas-ignorância: “(...) que luz é
esta que me ilumina de quando em quando e me fere o coração, sem o lesar?
Horrorizo-me e inflamo-me: horrorizo-me enquanto sou diferente dela, inflamo-me
enquanto sou semelhante a ela. É a Sabedoria, a própria Sabedoria que bruxuleia
em mim e rasga a minha nuvem. Esta me encobre de novo quando desanimo por causa
da escuridão e do peso das minhas misérias(...)”.
Para mim, a beleza
feminina é um toque majestoso do Criador. Como diria meu pai: “Se o criador
estabeleceu as regras da natureza para a criação do universo. Num momento de divina inspiração, na criação
da terra e de seus habitantes. Inovou numa equação, onde incluiu as variáveis:
o dedo mágico do pintor, os olhos de lince do fotógrafo, mas com uma visão tão
abrangente como a do sol; a
sensibilidade da psicóloga, a sutil mão do
escultor, a extravagante criatividade do arquiteto, o refinado capricho
da decoradora, a inefável beleza do próprio paraíso”.
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