Eu sou Ricardo II, você
não sabia?
Outro dia fui questionado por um aluno atento qual a razão de estudar, há quase 14 anos, a obra shakesperiana, em especial, os Dramas Históricos.
Expliquei, didaticamente, sob o olhar inquisitivo do aluno as minhas razões e motivações: primeiro, meu gosto pela interdisciplinaridade, dois, a relação estreita entre a arte e a política, três, a paixão pela história inglesa e, por fim, a percepção realista de Shakespeare ao retratar as lutas pelo poder no qual aponta para a persistência das tensões no cotidiano quanto na política, pois na vida e na sociedade os conflitos são agonicos.
O aluno, parcialmente satisfeito, me questionou: "mas professor, e possível ver o Ricardo II na Dilma"? Sorri para ele e disse que sim. Decidi então escrever esse breve texto para refletir sobre a atual política brasileira e o rei inglês que perdeu a coroa.
Ricardo II foi conduzido ao trono aos 10 anos, após a morte do pai. Durante seus primeiros anos de reinado, o governo ficou nas mãos de uma série de conselheiros, formado por seus tios. Crescido, ele decidiu dar ouvidos e voz a um pequeno grupo de cortesãos e passou a confrontar seus tios poderosos. Acabou deposto por um primo, que se corou Henrique IV. Ricardo morreria, na prisão, no ano seguinte.
As vésperas das eleições, o Brasil, nesses quatro anos desperdiçou seu potencial em meio a picuinhas palacianas, incapaz de conversar, de chegar a acordos, de juntar gente que pensa diferente para erguer coisas juntas. O país está dividido ao "meio", ou melhor, em três partes, amargurado e cheio de ódio. Vemos um governo acuado e desesperado, uma oposição burra e raivosa, uma imprensa parcial, irracional e golpista que atribui a um partido e a presidenta todos os vícios e deformações do jogo político - politicagem, nepotismo, clientelismo, paternalismo, fisiologismo e etc - além de apontar os insucessos dos projetos e planos governamentais. A sensação que tenho e como se nesses quatro anos do atual governo - na visão da grande mídia e de muitas pessoas - nada foi feito. E o descontentamento e tão grande que parece que todo mundo está com raiva e frustrado. Atribuímos tudo que esta errado em nossa vida aos "petralhas".
Agora apostamos na "renovação" e na "nova política". Novamente queremos um (a) salvador (a) da pátria.
E hoje, vejo como a leitura de Shakespeare e emblemática. Tento-me Colocar- me no lugar da presidenta. Criticada pelo criador, pelos bajuladores, pela oposição, pelo mercado, pela mídia. vaiada, xingada, humilhada pela platéia na abertura e encerramento da Copa do Mundo sediada no Brasil assistida por milhões de pessoas ao redor do mundo, além de outros constrangimentos que passou em diversos eventos. Vista como "gerente" e não estadista. Vista como responsável pela recessão e a volta do desemprego. Teve que enfrentar nos seus quatro anos de governo: greves e uma onda de insatisfação popular generalizada. Governou em meio a uma crise de legitimidade.
Ah! Não podia esquecer do espetáculo midiatico ocorrido no STF - caso mensalão- e magistralmente interpretado pelo ex presidente do STF, Joaquim Barbosa.
Dilma vive e viveu a solidão do poder mesmo cercada por muitos apoiadores.
Parece encarnar, de fato, no atual momento, o rei Ricardo II. A rainha inglesa Elizabeth I, certa vez, disse num momento de turbulência e crise no governo: eu sou Ricardo II, você não sabia?
E citando a Shakespeare na peça Ricardo II, no momento da queda do rei: "agora vê como desfaço de mim, retiro este peso morto da minha cabeça, este cetro desmesurado da minha mão, o orgulho do poder régio do meu coração, com as lágrimas lavo os óleos, com as minhas mãos entrego a Coroa, com a língua renego o meu reino sagrado, com o próprio respirar quebro todos os votos...".
Realmente, as vivências políticas dos estadistas podem e são teatralizadas.
Prof. Dr. José Renato Ferraz da Silveira
Outro dia fui questionado por um aluno atento qual a razão de estudar, há quase 14 anos, a obra shakesperiana, em especial, os Dramas Históricos.
Expliquei, didaticamente, sob o olhar inquisitivo do aluno as minhas razões e motivações: primeiro, meu gosto pela interdisciplinaridade, dois, a relação estreita entre a arte e a política, três, a paixão pela história inglesa e, por fim, a percepção realista de Shakespeare ao retratar as lutas pelo poder no qual aponta para a persistência das tensões no cotidiano quanto na política, pois na vida e na sociedade os conflitos são agonicos.
O aluno, parcialmente satisfeito, me questionou: "mas professor, e possível ver o Ricardo II na Dilma"? Sorri para ele e disse que sim. Decidi então escrever esse breve texto para refletir sobre a atual política brasileira e o rei inglês que perdeu a coroa.
Ricardo II foi conduzido ao trono aos 10 anos, após a morte do pai. Durante seus primeiros anos de reinado, o governo ficou nas mãos de uma série de conselheiros, formado por seus tios. Crescido, ele decidiu dar ouvidos e voz a um pequeno grupo de cortesãos e passou a confrontar seus tios poderosos. Acabou deposto por um primo, que se corou Henrique IV. Ricardo morreria, na prisão, no ano seguinte.
As vésperas das eleições, o Brasil, nesses quatro anos desperdiçou seu potencial em meio a picuinhas palacianas, incapaz de conversar, de chegar a acordos, de juntar gente que pensa diferente para erguer coisas juntas. O país está dividido ao "meio", ou melhor, em três partes, amargurado e cheio de ódio. Vemos um governo acuado e desesperado, uma oposição burra e raivosa, uma imprensa parcial, irracional e golpista que atribui a um partido e a presidenta todos os vícios e deformações do jogo político - politicagem, nepotismo, clientelismo, paternalismo, fisiologismo e etc - além de apontar os insucessos dos projetos e planos governamentais. A sensação que tenho e como se nesses quatro anos do atual governo - na visão da grande mídia e de muitas pessoas - nada foi feito. E o descontentamento e tão grande que parece que todo mundo está com raiva e frustrado. Atribuímos tudo que esta errado em nossa vida aos "petralhas".
Agora apostamos na "renovação" e na "nova política". Novamente queremos um (a) salvador (a) da pátria.
E hoje, vejo como a leitura de Shakespeare e emblemática. Tento-me Colocar- me no lugar da presidenta. Criticada pelo criador, pelos bajuladores, pela oposição, pelo mercado, pela mídia. vaiada, xingada, humilhada pela platéia na abertura e encerramento da Copa do Mundo sediada no Brasil assistida por milhões de pessoas ao redor do mundo, além de outros constrangimentos que passou em diversos eventos. Vista como "gerente" e não estadista. Vista como responsável pela recessão e a volta do desemprego. Teve que enfrentar nos seus quatro anos de governo: greves e uma onda de insatisfação popular generalizada. Governou em meio a uma crise de legitimidade.
Ah! Não podia esquecer do espetáculo midiatico ocorrido no STF - caso mensalão- e magistralmente interpretado pelo ex presidente do STF, Joaquim Barbosa.
Dilma vive e viveu a solidão do poder mesmo cercada por muitos apoiadores.
Parece encarnar, de fato, no atual momento, o rei Ricardo II. A rainha inglesa Elizabeth I, certa vez, disse num momento de turbulência e crise no governo: eu sou Ricardo II, você não sabia?
E citando a Shakespeare na peça Ricardo II, no momento da queda do rei: "agora vê como desfaço de mim, retiro este peso morto da minha cabeça, este cetro desmesurado da minha mão, o orgulho do poder régio do meu coração, com as lágrimas lavo os óleos, com as minhas mãos entrego a Coroa, com a língua renego o meu reino sagrado, com o próprio respirar quebro todos os votos...".
Realmente, as vivências políticas dos estadistas podem e são teatralizadas.
Prof. Dr. José Renato Ferraz da Silveira
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