Outro momento de intensidade lírica e dramática da peça:
Por amor de
Deus, sentemo-nos no chão
E contemos
histórias tristes da morte de reis:
De como uns
foram depostos, outros mortos na guerra,
Uns
perseguidos pelos fantasmas que tinham deposto,
Outros
envenenados pelas esposas, ou mortos
Durante o
sono, todos assassinados – pois,
Dentro da
Coroa oca que cinge as fontes de um rei,
Tem a Morte
a sua corte, onde faz sentar o bobo,
E zomba do
poder real num esgar à sua pompa,
Concedendo-lhe
um suspiro, uma cena breve,
Para fazer
de rei, ser temido e matar com o olhar,
Infunde-lhe
um vão conceito de si próprio,
Como se a
carne que nos empareda a vida
Fosse
imperecível como o bronze; assim divertida,
Para furar
as muralhas do castelo e...adeus, rei!
Cobri as
cabeças e não mofeis da carne,
Fazendo
solenes referências; deitai fora
O respeito,
a tradição, fórmulas e etiquetas;
Todo este
tempo me entendestes mal.
Vivo de pão
como vós, sinto necessidades,
Sinto
tristeza, preciso de amigos – carente;
Assim, como
podeis dizer-me que sou rei?
(SHAKESPEARE,
2002, p. 90).
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