Em abril, quem sabe próximo do aniversário de Shakespeare - 450 anos - poderei lançar a minha tese de doutorado pela editora Azougue editorial. O livro está na revisão final e tive o privilégio de contar com prefácio do amigo Reginaldo Teixeira Peres e o texto da orelha do livro de Gabriel Cohn. Abaixo o texto de Cohn:
[PARA ORELHA DE CAPA]
Tempos difíceis, tempo de tragédia,
tempo de grandes mudanças, quando se entrelaçam destinos pessoais e históricos
em registro extremo. É o retrato de tempos assim que é a matéria deste livro.
Estão em jogo a tensão e a ruptura dramática entre orientações políticas
básicas na passagem da era medieval para a moderna. E quando se fala aqui em
dramático é também no sentido literal que se pensa: a tragédia como composição
literária destinada à encenação. Isso, na sua expressão mais alta, a de
Shakespeare, e numa peça na qual todas as reconfigurações impostas pela mudança
de época se condensam, a tragédia de Ricardo II. Também não casual que se fale no
livro das “forças imponderáveis do acaso” quando a referência é a uma época em
que ruíam as defesas contra a dimensão da contingência nos assuntos humanos. Desde
Aristóteles esta era reconhecida como intrínseca à política, mas, no momento da
consolidação do poder monárquico no mundo cristão a ela se opôs a concepção da
unção divina, imune às contingências terrenas, como fundamento do direito
monárquico. Unção que se exprimia na ideia de que ao corpo profano do rei se
junta seu corpo sagrado (a doutrina dos “dois corpos do rei”, à qual o autor
deste livro recorre nas suas análises). É o período no qual vem a emergir
aquilo que Maquiavel colocou no centro da concepção do exercício do poder
político que marcaria a modernidade: a ação do homem de valor, de virtú, para dar conta da contingência e,
no tempo devido, dobrar a seu favor a inconstância do acaso, da fortuna.
Como se vê neste livro, ao tratar
de Ricardo II Shakespeare mobiliza os grandes temas que dão unidade à sua
dramaturgia política, centrada na figura trágica do homem que está no centro da
ação e tem sua capacidade de fazer frente aos entrechoques de ambições e
paixões continuamente posta à prova. Como sugere o autor, e busca demonstrar
pela contextualização histórica da figura de Shakespeare, a qualidade primeira
que ele vê no monarca consiste em ser capaz de manter sob controle as ambições
e hostilidades daqueles que o cercam. Ser capaz de centralizar e concentrar na
sua pessoa o poder, não mais por injunção divina e sim (e aqui cabe Maquiavel)
por virtú. Unificar o mando,
consolidar a nação; realizar, portanto, a grande tarefa histórica do momento, a
da construção do Estado nacional. É esse tema, nas suas diversas dimensões e na
transfiguração que lhe confere a grande obra de arte, que se encontrará reconstruído
neste livro.
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