segunda-feira, 18 de julho de 2011

CONHECENDO E RELENDO OS DRAMAS HISTÓRICOS SHAKESPERIANOS

As atividades do Curso de extensão Conhecendo e relendo os Dramas Históricos shakesperianos prosseguirão no segundo semestre de 2011.
Em 2010, o Curso de extensão organizado pelo Núcleo Prisma – Pesquisas em Relações Internacionais de Santa Maria - e coordenado pelo professor Dr. José Renato Ferraz da Silveira – estudioso há doze anos dos Dramas históricos shakesperianos e da História Medieval e Moderna inglesa - teve quatro módulos: 1° módulo, tratou da Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e da Guerra das Duas Rosas (1455-1485); 2° módulo, discutiu as batalhas pelo poder durante a ascensão e o governo de Elisabeth I (1558-1603); 3° módulo, debateu sobre a Renascença inglesa - os gênios universitários e a filosofia inglesa (Francis Bacon, David Hume, Thomas Hobbes); 4° módulo, enfatizou de modo geral os Dramas históricos e a peça Ricardo III.
Em 2011, o Curso de Extensão discutirá a tetralogia da Guerra das Duas Rosas – trilogia Henrique VI e a peça Ricardo III.

Shakespeare e o teatro moderno

Apesar de Shakespeare não ser um historiador, é rigoroso e preocupado de desenvolver a sua dramaturgia, a sua imaginação, a partir de fatos reais, ou pelo menos, mundanos. A história e a geografia acabam sendo fontes da ação dramática para Shakespeare.
Antes dele, a ação dramática tinha como tema central o relacionamento dos homens com o divino e, num segundo plano, com a sociedade e com o Estado. Shakespeare não precisou de plano mítico para discutir os problemas de seu tempo, porque busca na história e nos homens, a ligação para discutir problemas, tais como: aspirações nacionais, triunfos e fracassos de personagens reais, filosofia humanista, política exterior, direito divino dos reis, questões religiosas, direito dos indivíduos, etc.
Shakespeare inaugura o Teatro Moderno Ocidental, revolucionando as bases do teatro, mudando seu sentindo de forma irreversível. Ao narrar uma história emocionante e reflexiva sobre a vida e morte, a obra de Shakespeare fascina todo tipo de platéia: desde que a procura o teatro como mera diversão até a que busca formas de pensamento mais profundas.
Ele criou uma variedade de personagens complexas e coerentes entre si, o que por si só, já bastaria para a sua dramaturgia estar viva até os dias de hoje. Suas personagens são quase todas formadas por ativas personalidades, desde heróis que conquistam coroas ou a glória, até andarilhos ou vagabundos que roubam bolsas e dormem em celeiros, desde rainhas apaixonadas até marafonas promíscuas e donzelas núbeis que se vestem com roupas de rapazes para seguir os homens de seu desejo. Modificou o conteúdo do teatro, o objeto do teatro, definiu a emancipação definitiva do teatro de todas as amarras, temáticas e formais, anteriores, deu profundidade e individualidade às personagens, atingindo um nível antes nunca aproximado na sondagem do homem e seu relacionamento com o processo histórico, construindo uma dramaturgia inesgotável. Os conflitos nas peças Shakespearianas são produzidas invariavelmente pelo exercício da vontade humana. O homem luta contra o homem e não contra Deus, a hereditariedade ou os distúrbios glandulares. O drama shakesperiano é o drama da vontade individual. Os personagens de Shakespeare são apresentados com perspectiva e multidimensão. Trabalhou o claro-escuro, como depois dele o fez nas telas o mestre Barroco Caravaggio, tendo, porém a pena como pincel. Não só usou os recursos fortemente contrastantes dentro da mesma peça, alternando, de um ato para outro, de uma cena para outra, momentos de escuridão com outros de luz, como também nos gêneros, saltando da tragédia para uma hilariante comédia.
Podemos dizer então que, ele ao ousar criar um novo conteúdo, foi o poeta mais renascentista, humanista e moderno de seu tempo, acabando por se tornar o cânone do teatro ocidental moderno. Shakespeare, o guia de diversas idades, de moços e velhos, e o verdadeiro realizador, o gênio do teatro como nunca mais houve outro, mágico encantador das almas, para quem o mundo era como o palco onde podia exibir seus sonhos de artista. Primeiro foram as comédias e as histórias, depois as tragédias sobre temas antigos e modernos; fábulas, histórias, sagas, lendas, novelas tudo enfim que estava ao alcance dum inglês desse tempo. Shakespeare tornou-se o primeiro autor universal, substituindo a Bíblia no consciente secular.
Shakespeare situa seus textos dramáticos num tempo e espaço específicos, não mais num tempo, espaço ou história mítica. Suas peças se passam em Verona, em Roma, em Atenas, na Dinamarca, etc. Isso acaba por mudar o conteúdo do próprio Teatro.

Os Dramas Históricos

Ao todo são nove Dramas Históricos: a trilogia Henrique VI, Ricardo III (tetralogia da Guerra das Duas Rosas), as duas partes de Henrique IV, Henrique V, Ricardo II, Henrique VIII.
A trilogia Henrique VI retrata um “bom” governante, mas incapaz de governar. Como descreve Churchill, “Henrique VI era piedoso, calmo, gentil por natureza, débil de corpo e pusilânime de mentalidade. Era incapaz de resolver uma situação que breve derivaria para uma guerra civil. No realismo político, às vezes o governante “bom” e “virtuoso” traz prejuízo aos interesses coletivos, da mesma forma que a violência não pode ser condenada de antemão, de acordo com a visão realista de Nicolau Maquiavel.

A trilogia Henrique VI

Henrique VI Parte 1 (1590)

Nessa peça, encontramos Shakespeare ainda um jovial aprendiz de seu ofício. A construção é mais livre e um ingrediente indispensável na trama é o tema da vingança, tão apreciado pelo público elizabetano.
A parte 1 divide-se entre a crescente resistência dos franceses à ocupação inglesa e os acontecimentos políticos na corte inglesa.
A grande personagem da peça é Joana D´Arc. De fato, parece um grande tributo a ela e também a resistência francesa. Joana é uma líder, ativa e dotada de inúmeras e elevadas qualidades que a tornam uma das grandes heroínas das peças históricas de Shakespeare.
A perda da França leva a Inglaterra à guerra civil e esse é o tema da segunda parte de Henrique VI.

Henrique VI Parte 2 (c. 1590)

Na segunda parte de Henrique VI somente os mais cruéis sobrevivem. Nisso o rei Henrique VI é um bom homem mas que fracassa como governante. Fica nítido que Shakespeare insinua que apenas um governante duro, até mesmo cruel, possa ser eficiente. Henrique deseja livrar-se do trono para o qual nasceu e por sua vez, York, está ansiosamente desejoso de tomá-lo. Conforme o crítico literário Victor Kiernan “Shakespeare tinha algum tipo de fascínio por tais personagens e seu desejo nietzschiano de poder”.
De acordo com os críticos Victor Kiernan e Harold Bloom, as cenas mais empolgantes da Parte 2 são aquelas que tratam de Jack Cade e de sua rebelião. Há uma mistura do sério, cômico e grotesco. As falas de Cade são paradoxais, jocosas e envolvem sensatez e insensatez ao mesmo tempo. O seu fim trágico revela a brutalidade e a insensibilidade social da nobreza.



Henrique VI Parte 3 (c. 1591)

Na Parte 3, Victor Kiernan afirma que Shakespeare nessa peça apresenta um sem-número de versos sem inspiração e há uma busca de construir personagens mais sólidos.
O assassinato é parte constante e normal dessa trama. Como reitera Kiernan “sangue clama por mais sangue, e Shakespeare tem de exagerar na agonia, para manter o interesse”
Em determinados momentos, o bardo protesta contra a desumanidade do homem contra o próprio homem.
Henrique VI, fraco e dominado por sua esposa megera e seus comparsas é morto no final pelo Duque de Gloster, futuro Ricardo III. O irmão deste, Eduardo IV, torna-se rei. Libertino e egoísta demonstra como a monarquia está em decadência. Gloster, ao final da peça, trama maldades. E Shakespeare constrói , enfim, seu grande personagem. A cena dramatizada no Curso de Extensão terá vínculo com essa roupagem despida pelo Duque de Gloster.

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