Boca de urna aponta vitória da centro-direita nas eleições portuguesas
VAGUINALDO MARINHEIRO
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
A boca de urna nas eleições portuguesas deste domingo indica vitória do PSD, partido de centro-direita em Portugal.
Pelas projeções feitas pela Universidade Católica, o PSD terá entre 37% e 42% dos votos. O Partido Socialista, que estava no poder desde 2005, deve ficar com uma fatia entre 26% e 30%.
Se confirmados os números, o PSD terá que fazer alguma coalizão para obter maioria absoluta no Parlamento --o mais provável é que faça um acordo com o CDS, também de direita.
Foi uma grande derrota para a esquerda. Além do PS, perderam votos o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda.
A abstenção pode ter atingido um recorde, segundo as projeções: 45%. A maior da história portuguesa já fora registrada nas últimas eleições legislativas, em 2009 (40,3%).
PARA QUÊ?
Os jornais e as TVs insistem em dizer que a eleição portuguesa é a mais acirrada dos últimos anos. Mas o que se vê nas ruas é apatia e desesperança com relação ao futuro.
Serão escolhidos os 230 deputados da Assembleia Nacional. O partido que obtiver mais cadeiras indica o novo primeiro-ministro, que irá administrar um país em recessão, com desemprego de 12,6% e dívida pública equivalente a 93% do PIB, cerca de 160 bilhões de euros (R$ 368 bi).
Nos bares, nas universidades, nos shoppings, o que se ouve é a mesma resposta quando o assunto é eleição.
'Para que votar? O país está ruim e continuará assim pelo menos nos próximos dois anos. Qualquer que seja o governo, irá apenas cumprir o acordo com o Fundo Monetário Internacional, que prevê mais austeridade. Só espero que não aconteça com a gente o mesmo que se passa na Grécia, em que as medidas do FMI só pioram a situação', afirma Henrique Simão, 28, que passou dois anos desempregado e hoje faz mestrado em economia e vive de bolsa de estudo.
Como ele, muitas pessoas não devem votar hoje.
"A insatisfação que os portugueses têm não gera participação, mas alienação", afirma Marina Costa Lobo, doutora em ciência política da Universidade de Lisboa.
O sociólogo Pedro Magalhães concorda. "O português se sente distante do poder. Isso explica a abstenção elevada e a apatia", diz.
A eleição de hoje é fruto de uma crise política gerada por problemas econômicos.
Portugal tem uma dívida crescente, e os mercados começaram a exigir juros cada vez mais altos para emprestar ao país.
Em março, o governo do socialista José Sócrates não conseguiu aprovar no Parlamento seu quarto pacote de austeridade.
Com isso, Sócrates renunciou e foram convocadas eleições antecipadas.
Ele espera uma vitória de seu partido para continuar no poder. Mas as últimas pesquisas colocam o PSD (Partido Social Democrata) à frente, com intenções de voto que variam de 34,4% a 38,5%. O PS aparece com, em média, 5 pontos percentuais a menos.
O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, pregou o voto útil. Afirmou que Portugal precisa de um governo com maioria absoluta no Parlamento para conseguir implantar as medidas necessárias para enfrentar a crise.
São medidas acordadas com o FMI e a União Europeia em troca de um empréstimo de 78 bilhões de euros.
Entre elas estão cortes de gastos públicos e privatizações. Devem ser vendidas empresas como TAP (aérea), o Metrô de Lisboa e do Porto, o sistema ferroviário e a administradora dos aeroportos.
IRRITAÇÃO E BUZINAÇO
Apesar da aparente resignação, ao menos anteontem, último dia da campanha nas ruas, o lisboeta colocou para fora sua irritação.
O PS e o PSD fizeram arruadas (como os portugueses chamam as passeatas) em horários alternados pelo bairro do Chiado, o que complicou ainda mais o trânsito nas estreitas ruas da região.
Os militantes, aos gritos, tentavam sem sucesso se sobrepor às buzinas dos motoristas impacientes.
No mesmo dia, o país enfrentou mais uma das greves no sistema ferroviário.
Com pouco dinheiro e sem trens, tudo bem. Ficar parado sob um sol de quase 30ºC foi demais.
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