Falta de pessoal em solo dificulta ataques na Líbia, diz piloto francês
RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
Um piloto de caça francês com experiência de combate nos Balcãs e no Afeganistão apontou a dificuldade básica das operações aéreas da Otan na Líbia: a falta de pessoal em terra para prover inteligência e a segura identificação dos alvos. "Jogar uma bomba é fácil; difícil é identificar o alvo correto", afirma o major Nicolas Lyautey, da Força Aérea Francesa.
Para Lyautey, em missões como a no Afeganistão e na Líbia, o objetivo principal é proteger a população, não destruir o inimigo. É exatamente essa a estratégia fundamental de contra-insurgência que voltou a ser pregada pelas forças armadas americanas no Iraque e Afeganistão.
Coincidentementre, o piloto francês é um parente distante de um dos mais famosos especialistas franceses em guerra contra guerrilha, o general Louis Hubert Lyautey (1854-1934), famoso pela "pacificação" de colônias africanas da França.
O major Lyautey pilotou o caça-bombardeiro ango-francês Jaguar sobre a região de Kosovo, nos Balcãs, em vinte missões de reconhecimento em 2004. E fez dois turnos de combate no Afeganistão, em 2008 e 2009, durante os quais voou 47 missões operacionais no caça Rafale, um dos que participa da concorrência brasileira para um novo avião de combate.
Segundo Lyautey, em 90% das missões os pilotos no Afeganistão não empregam seu armamento de bombas e canhões. A ênfase da Otan é em missões "progressivas": os pilotos voam para "marcar presença" em demonstrações de força; podem sobrevoar o alvo ameaçadoramente; fazem disparos de alerta; e só então, com autorização do centro de controle tático em terra, podem empregar as armas contra o alvo. O centro reúne todas as informações coletadas por aviões, pessoal de terra e aeronaves não tripuladas.
"Como você faz para identificar se um grupo de pessoas é composto ou não de Talebans?", pergunta o piloto, membro do Esquadrão 1/7 "Provence", sediado na Base Aérea de St. Dizier. Ele veio ao Brasil para fazer palestra durante o evento de aniversário de 10 Anos da revista especializada em aviação "Asas".
Lyautey é um expert na operação do Rafale; foi um dos pilotos escolhidos para compor o grupo inicial de conversão para o novo caça, e hoje participa do grupo que desenvolve uma nova versão de uma bomba inteligente capaz de atingir o alvo com margem de erro de apenas um metro.
"Como fazer para acertar um tanque colocado em uma área urbana? Armamento desse tipo é fundamental para não causar danos à população em torno. A arma de precisão é compulsória", diz o piloto.
A bomba inteligente, que já existe em outras versões e está sendo usada na Líbia, é conhecida pela sigla em francês AASM ("Armement Air-Sol Modulaire") ou Hammer ("martelo", em inglês, um nome criado para alavancar exportações). Para obter maior precisão, a ideia é combinar diferentes sistemas de guiagem, com designação do alvo por laser e por GPS.
Os Rafale foram baseados na base área de Kandahar, no Afeganistão, cuja única pista ainda detém o recorde mundial de pista com a maior atividade aérea do planeta. A base abriga 30 mil pessoas.
Na Líbia, os Rafale estão sendo empregados em missões de defesa aérea contra os aviões do ditador líbio, em operações de bombardeio e de reconhecimento.
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