Viver em sociedade
Eugênio Mussak
Ando preocupado com minha conduta perante as demandas da vida em sociedade. Por quê? Porque viver em sociedade – na empresa, no condomínio, no aeroporto, no clube, na rua – requer duas qualidades fundamentais: respeito e tolerância, e acho que ultimamente tenho perdido um pouco da segunda.
Do ponto de vista da ética das relações, respeitar tem o significado de não se apropriar do que é do outro, seja um valor material, seja um valor imaterial. Respeitar significa “lançar um novo olhar”, ou “olhar duas vezes” antes de tomar uma atitude. Eu procuro fazer isso: olho e penso duas vezes antes de falar, tocar, entrar, interferir. Respeito é bom e todo mundo gosta, diz o sábio ditado.
E tolerância significa que devemos respeitar o outro que, de alguma maneira, é diferente de nós. Devemos, sim, respeitar raça, religião, origem, posição social, preferência sexual, time, qualidades de âmbito pessoal. Até aqui, tudo bem, continuo me enquadrando dentro da categoria dos tolerantes. Só que tenho andado menos tolerante com quem não tem compromisso com a primeira qualidade: o respeito. Ando sem paciência, confesso, com coisas assim: um sujeito utiliza o celular no restaurante e fala tão alto que poderia dispensar o aparelho para ser ouvido pelo outro; o avião pousa, os passageiros esperam o desembarque no corredor e alguém resolve colocar a mochila nas costas exigindo contorcionismo de quem está atrás dele; numa reunião, um executivo faz seu discurso, mas, quando os outros estão falando, ele aproveita para acessar seu smartphone; o e-mail, mesmo com o sinal de alta prioridade, leva dias para ser respondido; o fanático por Techno music tem certeza que todos na rua apreciarão a potência do som do seu carrão. Sintomas de uma sociedade que tem a doença do desrespeito.
Tolerância é uma forma de respeito, sim, mas a tolerância com o desrespeito perde sua essência. Uma sociedade assim desrespeita a si mesma, banaliza a educação, embrutece as relações, diminui seu valor e compromete seu futuro. E tudo começa nos pequenos atos, que se replicam nas grandes decisões.
Eugênio Mussak é professor do MBA da FIA e consultor da SAPIENS SAPIENS. eugenio@ssdi.com.br
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