INFORMAÇÃO E LIBERDADE
No ano de 1933, pouco depois da ascensão de Adolf Hitler ao poder, inúmeros livros considerados impróprios pelo governo alemão foram queimados publicamente em uma insigne demonstração de intolerância às divergências ideológicas. Esse fato, infelizmente, ilustra uma prática comum na maioria dos regimes políticos da Antiguidade até hoje. A censura à informação mostra suas nefastas garras até mesmo em nossa tão cultuada democracia.
Essa reflexão foi suscitada desde que comecei a ler a obra “Mein Kampf” – uma autobiografia cujo autor é apontado como o maior sanguinário do século XX. Nela, Hitler esboça sua vida no interior da Áustria, em Viena e em Munique, bem como os principais preceitos ideológicos do, então recém formado, Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Por razões óbvias, após o colapso da Alemanha nazista, esse livro foi proscrito em muitos países. O destino, às vezes irônico, traçou-lhe o mesmo futuro que o daqueles condenados por seu escritor.
Ainda que “Minha Luta” seja permeado por conceitos tacanhos, beligerantes e racistas, trata-se de um documento a que todos deveriam ter acesso ilimitado. Como sabiamente frisou Nélson Jahr Garcia, essa obra tornou-se a maior arma contra os impropérios do nazismo. Nesse caso, a restrição à liberdade destoa de nosso maior anseio: a luta pela liberdade.
Somente uma sociedade livre e bem informada será capaz de canalizar forças, visando a construção de dias mais justos e igualitários. Em todas as tiranias ou democracias dilapidadas, a informação fora o alvo precípuo de toda a ira dos poderosos. Livros proibidos, intelectuais perseguidos, políticos opositores banidos da vida pública, assim como a mordaça aos críticos imperaram na tentativa de “adestramento” das massas. De forma explícita ou não, a vileza de tais atos resistem ao tempo.
Não nos enganemos, entretanto, com a clarividência da repressão. Seus métodos idílicos e sutis, comumente, ocultam-se sob as vestes constitucionais. Felizmente, no Brasil, a draconiana Lei de Imprensa fora extinta de nossa realidade por cercear a liberdade e ser incompatível com a Constituição de 1988. Todavia, resquícios do autoritarismo dos “Anos de Chumbo” subsistem na antipatia que muitos nutrem pela imprensa.
O exercício de investigação jornalística, desde que responsável, é um atributo imensurável e indelével de quaisquer sistemas políticos que visam a proteção dos indivíduos. A liberdade de expressão persiste, pois, como um horizonte a ser alcançado pelas futuras gerações.
Guilherme Backes
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