segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O marxismo-leninismo ainda vive?

O marxismo-leninismo ainda vive?


Em um ano eleitoral como este, nada mais natural e salutar do que refletir e escrever sobre a política brasileira, bem como seus desafios, seus principais debates ideológicos e suas contradições. Indubitavelmente, um dos temas que mais chama a atenção dos diletantes das relações políticas são as divergências e os embates que ocorrem dentro da própria esquerda. No entanto, essa tendência à auto-fragmentação existe desde os tempos de Rosa Luxemburg, Lênin e Kautsky.
Nos áureos tempos do movimento socialista alemão, as dúvidas pairavam sobre qual método deveria ser escolhido a fim de que a sociedade européia trilhasse, da maneira mais eficiente possível, o seu caminho rumo ao socialismo. De um lado, posicionavam-se os marxistas mais ortodoxos e dogmáticos, tais como Luxemburgo e Lênin. Suas concepções pregavam a extirpação do capitalismo pela via revolucionária. Sua lógica centrava-se na necessidade de desmantelamento da “democracia formal burguesa” para que a igualdade fosse, de fato, colocada em prática, sob o estabelecimento da ditadura do proletariado. No entanto, entre os revisionistas do marxismo dentro do SPD (Partido Social-Democrata Alemão), um dos grandes expoentes era Karl Kautsky, muitas vezes ridicularizado pela esquerda internacional. Para esse renegado, a via reformista era a tônica da ação socialista, em um contexto de melhorias da qualidade de vida dos trabalhadores, de inclusão dos mais pobres na democracia política e de abrandamento dos conflitos entre as diferentes classes sociais.
Após essa breve análise histórica do pensamento marxista, pode-se inferir que a própria história mostrou quem estava certo nesse debate. O que se vê atualmente é o êxito do reformismo e o fracasso da revolução socialista em todo o mundo. O próprio Brasil é um exemplo disso, porquanto a democracia não fora restabelecida pela via armada, mas sim por meio de um processo gradual, moroso e, muitas vezes, estafante. A nova esquerda está ciente disso e não prega mais a destruição do capitalismo, por mais injusto que possa ser ele. O fato é que vivemos em uma atmosfera de conquistas sociais e políticas, em que as liberdades individuais e as instituições democráticas são a tônica de nossas relações políticas. A luta por dias melhores deve ser, portanto, travada dentro do jogo democrático, com o respeito às regras previamente estabelecidas.
Entrementes, a senilidade e o anacronismo de muitos camaradas ainda agonizam e lutam contra essas evidências. O que mais impressiona nisso tudo é a incapacidade da ortodoxia marxista-leninista em compreender que vivemos sob a tutela de um novo capitalismo, diferente, em muitos aspectos, do que Marx e outras “autoridades” conheceram. Esse romantismo obtuso e inconseqüente serve, por conseguinte, como uma mera válvula de escape da realidade, completamente imune de valores práticos ou de propostas viáveis. Nada mais do que isso, já que seus eloqüentes e fervorosos discursos contra o capital e a propriedade privada ecoam apenas como últimos suspiros de uma esquerda sepultada pela própria história da luta de classes. Sendo assim, o rancor e o ódio a essa inexorável realidade apenas anulam a capacidade de adaptação dessa velha esquerda, limitada pelo seu idealismo intransigente.

Guilherme Backes – acadêmico do curso de Relações Internacionais da UFSM e membro do núcleo de pesquisa PRISMA.

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