MIYAMOTO, Shiguenoli. O ensino das Relações Internacionais no Brasil: problemas e perspectivas.
I. A DEMANDA PELAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
1) “O que nós vamos ser quando crescer” (sic) perguntava, certa vez, aluno de graduação em Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC-MG), em artigo publicado pelo jornal o Estado de Minas.
2) A preocupação com o futuro profissional e a obtenção de emprego não são prerrogativas ou motivo de apreensão exclusivos dos estudante, ou dos recém formados em Relações Internacionais, mas de todas as carreiras.
3) Novas profissões, por outro lado, têm surgido em número cada vez maior, em função das necessidades e lacunas existentes, com carência de profissionais habilitados em quantidade suficiente para atender as demandas do mercado.
4) A procura por esses cursos tem sido grande. Vale a pena lembrar que o bacharelado em Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), criado em 1995, tem-se mantido, desde o início, entre os três mais concorridos nos vestibulares realizados por aquela instituição, muitas vezes ficando em segundo lugar na preferência dos alunos, com mais de dez candidatos (tendo chegado a 18) por vaga.
5) Nos cursos de RI da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), campus de Franca, a procura por uma das vagas é ainda maior.
6) Surgimento de dezenas no curso de Relações Internacionais em todo país.
7) Não existe, ainda no país, quantidade de profissionais suficientemente habilitados para atender um mercado com tais necessidades.
8) A criação do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e a missão de criar “um espaço de estudos e debates que propiciará insumos para o processo decisório governamental e para a atuação do governo em processos de negociação internacional.
9) Não podemos esquecer os departamentos criados para tratar de assuntos internacionais nas inúmeras federações e confederações de comércio e indústria, nas secretarias municipais e estaduais, nas empresas estatais e nos demais órgãos da Administração Federal direta e indireta, nas Universidades, nos sindicatos e nas associações de classes, nos partidos políticos e em outras organizações não-governamentais.
10) No plano federal vale lembrar a Assessoria de Relações Federativas (ARF) instituída em 09 de junho de 1997 pelo decreto n° 2246/97 (Brasil, 2003). O principal objetivo da ARF, subordinada diretamente ao Gabinete do MRE, é o de intermediar as relações entre o Itamaraty e os governos de Estados e municípios brasileiros, bem como as Assembleias estaduais e municipais, assessorando-os em suas iniciativas externas, tratativas com governos estrangeiros, organismos internacionais e organizações não-governamentais.
11) O próprio município de São Paulo criou a Secretaria Municipal de Relações Internacionais, enquanto no Rio Grande do Sul, na década de 80, uma secretaria especial de RI.
12) O surgimento dos cursos de Relações Internacionais insere no quadro do desenvolvimento do comércio internacional, dos intercâmbios políticos, culturais e sociais, a entrada de grandes conglomerados estrangeiros em praticamente todos os setores – seja adquirindo empresas nacionais, seja associando-se as mesmas passaram a assumir importância crescente, causando impacto tanto junto à sociedade quanto no Estado brasileiro.
II. Os Cursos de RI e o padrão de qualidade
13) Os cursos de RI são poucos conhecidos no país
a) UNB
b) PUC-RJ
c) UFRGS
14) Pela Portaria n. 641, de 13 de maio de 1997, a IES interessadas em criar graduação em R.I devem preencher padrões mínimos de qualidade, que se podem, resumidamente, arrolar nos seguintes intens:
a) Exigência de coordenador com formação específica na área de R.I. Critério idêntico aplica-se ao corpo docente.
b) Corpo docente: 1/3 de professores com a titulação de doutor. Os demais devem possuir os títulos de mestre ou de especialistas. Recomenda-se que professores sem titulação formal não excedam a 1/3 do total. Na aferição da qualidade do corpo docente ponderam-se, também, outras atividades como a produção acadêmica, a participação em pesquisa com apoio institucional e cargos e funções de administração acadêmica.
c) A estrutura curricular, disciplinas científicas de Relações Internacionais, disciplinas auxiliares e correlatas, além de outras optativas.
d) Biblioteca bem aparelhada que inclua as obras básicas para o bom andamento do curso, periódicos nacionais e estrangeiros, acesso a rede mundial de computadores, documentos e materiais de pesquisa.
III. As dificuldades encontradas
15) Na maioria das instiuições, as deficiências mais agudas dizem respeito ao material bibliográfico e ao corpo docente.
IV. Perspectivas do mercado de trabalho
16) As dúvidas levantadas abarcam desde a própria designação do egresso do curso – sem denominação como os profissionais de outras áreas, apenas identificando como internacionalistas, suscitando algumas discordâncias – até propostas de criação de uma reserva de mercado.
17) Deputado Antônio Carlos Konder Reis, projeto de lei, de 1999, dispunha sobre o exercício da profissão de bacharel em Relações Internacionais e autorizaria a criação dos respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais dos profissionais de R.I.
18) Os próprios alunos, como interessados maiores, poderiam agir no sentido de divulgar cada vez mais o que é e o que faz o profissional de Relações Internacionais.
19) Atividades paralelas às salas de aula, como laboratórios, jornais e empresas júnior podem, certamente, dar contribuição significativa, ajudando a impulsionar ainda mais o desenvolvimento da área de Relações Internacionais.
20) Na Universidade de Brasília, por exemplo, existia uma empresa júnior denominada “Rel Júnior – Consultoria Internacional” e que foi inclusive uma das organizadoras do I Congresso Brasileiro de Relações Internacionais realizado na capital federal em março de 1998.
21) Na PUC de São Paulo foi criado, também em 1999, o Observatório das Relações Internacionais, responsável pela publicação do boletim Observatório Internacional, de periodicidade trimestral e elaborado pelos integrantes do Projeto de Integração Graduação-Pós-Graduação em Relações Internacionais (PROIN).
22) Em outra esfera, o papel desempenhado pelo Relnet (sítio brasileiro de referência em Relações Internacionais) dispondo dados os mais variados possíveis, sob a Chancela do departamento de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, em colaboração com a Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), pelo MERCOBOL da PUC-MG e pelo FENERI, entre outros, tem sido de suma importância. Nesses sítios pode-se obter não só informações sobre seminários, cursos de extensão, de pós-graduação no país e no exterior, pesquisas realizadas e em andamento, teses, etc., mas participar também de foros de debates com diversos professores , e ler publicações tanto do MRE quanto da própria UNB.
Observações finais
23) O campo de trabalho para os “internacionalistas” – à falta de uma designação melhor – nos próximos anos deverá ser promissor, já que a falta de pessoas com formação sólida na área é patente, e o momento pelo qual passamos exige crescentemente profissionais com perfil mais amplo. Tudo parece favorecer a participação cada vez maior, em todos os níveis, dos egressos dos bacharelados de R.I.
24) Acervo bibliográfico, corpo docente especializado, abertura de muitos cursos em uma única cidade.
25) O domínio da teoria, crucial para entender e interpretar as grandes mudanças que se processam no cenário nacional regional e mundial, e, também, o conhecimento prático que tanto interessam às empresas do setor comercial e industrial, nacionais e estrangeiras, às agências de fomento, às instâncias governamentais e às organizações não-governamentais.
26) O aluno tem que procurar obter o máximo de informações possível, manter-se atualizado, realizar estágios, dedicar parte apreciável de seu tempo às leituras necessárias, participar de eventos e, na medida do possível, estar atento às possibilidades de viagens, tanto no país quanto para o exterior, visando ampliar a cada vez mais seu leque de opções. Mas não é isso que ocorre, também, com grande parte das demais profissões?
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