Ideias, pensamentos, reflexões, crônicas pessoais e profissionais da área de Relações Internacionais, bem como das Ciências Sociais em geral - Política, História, Geografia, Sociologia, Economia, Direito e Psicologia.
sábado, 17 de novembro de 2012
F5 - Consultoria Internacional - Empresa Júnior de RI-UFSM
Devido ao emergente e variado campo de atuação nas Relações Internacionais, e destacando como um dos principais, o mercado internacional, a F5 Junior – Consultoria Internacional busca suprir a demanda dos estudantes interessados nessa área.
Fundada, constituída e coordenada por alunos do Curso de Relações Internacionais da UFSM, a F5 surge para "atualizar" a cidade de Santa Maria, a Universidade Federal e principalmente o curso de Relações Internacionais nos assuntos que envolvem consultoria, exportação, importação ou internacionalização das empresas.
Esta Empresa Júnior tem o intuito de proporcionar ao estudante, tanto do curso de Relações Internacionais, como das áreas afins, o crescimento pessoal e a experiência corporativa, complementando e estendendo os conhecimentos às entidades privadas, governamentais e do terceiro setor.
A F5 Junior – Consultoria Internacional tem como meta o trabalho com dedicação e transparência. A nossa meta é motivar o espírito empreendedor dos estudantes e principalmente contribuir com o desenvolvimento de empresas em nossa região.
Bate papo com os alunos do Ensino Médio
1) Fale um pouco sobre como é a sua profissão, o seu cotidiano de trabalho, que tipo de atividades realiza.
R: Ser profissional de relações internacionais é pensar de forma crítica a complexa interação - pacífica e conflituosa - entre as fronteiras territoriais, políticas, culturais, econômicas dos países. Hoje vemos uma interdependência crescente que se verifica nos acordos bilaterais e multilaterais, os entendimentos entre empresas e governos de diferentes Estados. O fator econômico tem um peso fundamental na análise do cenário mundial ao investigar mercados, avaliar as possibilidades de negócios e os investimentos no exterior. Evidentemente, os fenômenos da guerra e paz e os novos temas da agenda internacional (terrorismo, meio ambiente, direitos humanos, segurança internacional) são elementos intrínsecos na análise cotidiana do internacionalista. Como sou professor de uma Universidade Federal, a minha preocupação é com o ensino, pesquisa e extensão. Manter-se antenado aos acontecimentos internacionais, formar e informar novos profissionais capazes de entenderem como os eventos do mundo lá fora impactam em nossa realidade nacional. De fato, é uma experiência gratificante e desafiadora. Educar e preparar jovens para o mundo competitivo não é tarefa para amadores. Embora em todas áreas há bons e maus profissionais. Dessa forma, ler muito, pesquisar com cuidado e dedicação, pensar holisticamente os objetos de análise e utilizar as novas ferramentas didático pedagógicas são princípios chave na minha conduta como educador do ensino superior. Meu dia começa cedo e termina tarde. Creio que o alimento para a minha alma é a motivação. E ela está ligada incondicionalmente ao amor pela educação. Creio que desde a minha formação na graduação em Relações Internacionais, gostei da arte de lecionar. É um dom! E como dom, a minha missão e o meu objetivo é compartilhar com os outros.
2) Qual a sua avaliação sobre a atual situação do mercado de trabalho em sua profissão?
Sem dúvida, é um um mercado de trabalho emergente. graças à maior inserção do Brasil na política e no comércio internacional. Nos últimos anos, empresas brasileiras têm se internacionalizado e contratam profissionais que tenham visão global e diplomacia para ocupar posições de gestão. Multinacionais como Ambev, Danone, Embraer, Unilever e Vale oferecem vagas a trainees que possam atuar no país ou no exterior. "Cada vez mais as questões internacionais têm efeitos domésticos, por isso esse profissional é essencial na interpretação de políticas e decisões que podem impactar o negócio das empresas", afirma Maria Izabel Valadão de Carvalho, coordenadora do curso da UnB. Os postos de trabalho estão concentrados no eixo Rio-São Paulo e em Brasília (DF), mas novas vagas aparecem nas demais capitais.Concursos públicos de órgãos como os Tribunais de Contas estaduais e da União e o Itamaraty quadruplicaram o número de vagas em três anos, e o número de profissionais necessários para trabalhar no país e no exterior na área de diplomacia só deve crescer. Aumentam também os concursos para atuar como gestor de políticas públicas em ministérios e secretarias.
3) De que maneira você considera que a sua profissão contribui para a sociedade?
À priori, na minha concepção embora um ponto de vista de um pensador ligado a escola da sociedade internacional - uma visão cosmopolita - o internacionalista é um profissional apto a lidar com o diferente, o estrangeiro, o outro. Criatividade, cultura humanista, conhecimento de idiomas, riqueza enciclopédica, aberto e receptivo a novas ideias e aos novos valores. É um profissional dos tempos paradoxais que vivemos, como na sentença clássica de Charles Dickens: "vivemos os melhores e os piores tempos". É uma exigência atual do mercado de trabalho a formação multidisciplinar. Acredito que o profissional formado em Relações Internacionais está condizível com a época de crises políticas, econômicas, ambientais, morais e a busca de soluções das mesmas.
Eventos do curso de RI em 2012
Nesse ano de 2012, a coordenação do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria, em parceria com o Diretório Acadêmico Oswaldo Aranha e o Núcleo PRISMA proporcionaram diversos eventos marcantes e significativos:
1) Palestra com o general Sérgio Westphalen Etchegoyen - Comandante da 3° DE.
2) Palestra com General Brigada José Júlio Dias Barreto - Assessor Especial da 7ª Subchefia do Estado-Maior do Exército.
3) Palestra com o Tenente Coronel Marcelo Carvalho Ribeiro - Comandante do Centro de Instrução de Blindados.
4) Palestra com o Prof. Dr. Márcio Pochmann - Presidente do IPEA.
5) Palestra com o embaixador brasileiro Ruy Pereira - Representante do Brasil no MERCOSUL.
6) III Fórum Regional de Relações Internacionais.
7) I Ciclo de Minicursos - Direito Internacional Público, Direito Internacional Privado, Política Externa Brasileira, Direito do Consumidor no MERCOSUL.
8) II Ciclo de Minicursos - Marketing Internacional, Direito Constitucional, Direito da Integração e Arte, Política Internacional, Novas Abordagens Teóricas de RI.
9) Palestra com a Professora Dra. Rosana Pinheiro Machado, Made in China.
10) Palestra com a Professora Dra. Nilza Zampieri.
11) Palestra com o Professor Glberto Timm Flores.
12) Cinco Palestras do Repensando as Relações Internacionais - Prof. Dra. Teresa Cristina Schneider Marques, Zachary Palmer, Junior Ivan Bourcheid, Prof. Dr. Guillaume Leturcq e Martyna Oslizlo, Leonardo Perez e Romário Rodrigues.
13) Minicurso Racionalidade e Democracia nas Relações Internacionais com Prof. Dr. Reginaldo Peres e Prof. Marcos Palermo
14) III Ciclo de Minicursos.
15) III Semana Acadêmica de Relações Internacionais
16) Falas estratégicas: Thiago Rodrigues, Paulo Roberto de Almeida.
Minicurso Novas abordagens teóricas das Relações Internacionais
Dias 22 e 23 de novembro, teremos a continuação do III Ciclo de Minicursos de Relações Internacionais, Novas abordagens teóricas das Relações Internacionais com o professor Dr. Thiago Rodrigues da Universidade Federal Fluminense.
Horário: 08 horas às 12 horas.
Local: Auditório do CCSH (Antiga Reitoria).
II Ciclo de minicursos
No dia 21 de novembro, das 17:10 às 19:00, teremos a continuação do II Ciclo de Minicursos de Relações Internacionais. A temática proferida pelo Prof. Ms. Rafael Pentiado Poerschke é "Sistema multilateral de comércio: uma alternativa para a flexibilização de fronteiras — Parte II".
Falas estratégicas
O núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais de Santa Maria (PRISMA) promoverá no dia 24/11/21012 o primeiro "Falas Estratégicas" com o seguinte tema: "A Inteligência do Século XXI: novas abordagens para novos desafios". O evento será sediado no centro de eventos do Colégio Militar de Santa Maria (CMSM) tendo início às 14h00. Estarão presentes o Prof.Dr. Carlos Arturi, Prof.Dr. Thiago Rodrigues e o diplomata Paulo Roberto de Almeida. Para os alunos do curso de RI da UFSM será gratuito e a inscrição deve ser feita na Coordenação. Para os demais participantes o investimento é de R$20,00 e a inscrição deve ser efetuada através do site a baixo. http://www.nucleoprisma.org/falasestrategicas
Na entrevista, o professor discorre sobre a criação e elaboração do livro A Tragédia política de Ricardo III.
Karohelen Dias - Como foi a elaboração do livro?
José Renato Ferraz - O livro é fruto de 13 anos dedicados ao entendimento da obra shakespeariana, em especial, a peça Ricardo III. Foi objeto de pesquisa de iniciação científica, mestrado. Senti que era o momento ideal para a publicação deste trabalho. Por essa razão, apoiado por alguns alunos de Relações Internacionais, Guilherme Backes, Junior Bourscheid, Juliana Graffunder, Eduardo Wontroba e Taís Röpke, pudemos rever e reavaliar meu mestrado. Com a revisão finalizada pelos alunos e por mim, decidi publicar pela Azougue Editorial do Rio de Janeiro. E o livro está magnífico!
K.D. - Como iniciou o interesse em abordar o tema? Ou porque ele foi escolhido?
J.R. - Partiu de uma situação inusitada que relato de modo breve... No ano de 1999, fiquei sabendo de uma palestra intitulada A guerra em Shakespeare que foi proferida pelo professor Miguel Wady Chaia (PUC-SP). Senti-me atraído pela palestra. Ao final da mesma, tive certeza que este era o tema para ser a linha condutora da minha carreira acadêmica. Lembro que duas semanas após o evento, já tinha lido umas dez peças shakesperianas. Fiquei fascinado e apaixonado pelo objeto de estudo. Iniciei já em 1999, uma pesquisa de iniciação científica sob orientação do professor Chaia. Eu identificava nas leituras prazerosas de Shakespeare elementos que norteiam a política: conquista, posse, queda do poder, urdiduras palacianas, virtudes, fortuna, intrigas, jogos de poder. Ou seja, a arte, como a filosofia e a ciência, é um exercício de pensamento e criação capaz de gerar diferentes formas de conhecimento. Ampliar as fronteiras do conhecimento produzido pela arte e agregar novas possibilidades para a área do saber foram metas e resultados que eu esperava alcançar e alcancei.
K.D. - Quais foram os desafios ao longo da pesquisa?
J.R. - Creio que o maior desafio foi demonstrar a complexa relação entre as áreas de saber e buscar borrar as fronteiras que compartimentam a inteligibilidade do mundo. Investigar a obra shakesperiana com um olhar de cientista político não é tarefa fácil. Investigar as relações de poder, problematizar questões clássicas que envolvem a sociabilidade humana a partir de um drama shakesperiano foi, de fato, um trabalho hercúleo. Mesmo assim, um trabalho que me deixa satisfeito. A conclusão que chego é que a literatura pode fornecer consistentes elementos para auxiliar na compreensão da realidade política. Shakespeare nos transmite pistas para compreensão das quebras de legitimidade do governante, visão cíclica da história, na civilização sucedem-se governos legítimos e governos usurpadores e as trajetórias previsíveis e maléficas dos usurpadores.
K.D. - Qual é a expectativa de leitura para o seu publico?
J.R. - Suponho que as pessoas gostarão do livro. É uma linguagem acessível, didática, enriquecedora, além de ser um livro marcado por uma série de encontros cognitivos. O primeiro deles é o encontro entre arte e política, à medida que busco elucidar questões das lutas pelo poder e delimitar perspectivas para interpretar a política no seu significado polissêmico. Um segundo encontro propiciado pelo livro é a reunião orgânica entre indivíduo e poder. Ou seja, desdobra-se numa questão polêmica da política, que diz respeito à relação entre ética e governança. E um terceiro encontro vincula indivíduo, sociedade e guerra, gerando a orgânica reciprocidade entre política e guerra.
K.D. - Quais foram os objetos de estudo e porque estes foram escolhidos?
J.R. - Os objetos de estudos da presente obra são a leitura política da peça Ricardo III e o entendimento em torno do conceito de política como tragédia, ou tragédia da política. Essa ideia elucida a trajetória de Ricardo III e aponta tanto para as possibilidades da política quanto para as suas dificuldades.
Parto do pressuposto que a política é um reino da negatividade, onde os conflitos, as tensões estarão sempre presentes. É uma condição inerente ao jogo político. A tragédia da política é a impossibilidade de realização plena da arte do desejável. E considero por fim, outro aspecto que me inquieta intelectualmente, primeiro, a capacidade humana de enfrentar as forças do destino em situações extremas – diante do desafio de contestação; segundo, o conflito entre o possível e o desejável; terceiro, o exercício de julgamento – escolhas morais difíceis para os políticos – decisões que envolvem objetivos e valores políticos conflitantes. Ou seja, o ponto central de análise em relação ao estadista que deve destacar as seguintes categorias: interesses, preocupações, intenções, ambições, cálculos e erros de poder, desejos, crenças, esperanças, medos, dúvidas, incertezas.
Repórter:
Karohelen Dias - Acadêmica de Jornalismo.
Edição:
Lucas Durr Missau.
Resenha de meu livro:
O livro é uma ousadia intelectual e um instigante produto acadêmico. José Renato faz parte de um grupo de intelectuais que percebeu na contemporaneidade a complexa relação entre as áreas de saber e busca borrar as fronteiras que compartimentam a inteligibilidade do mundo. Nesse sentido, o autor supõe que também a arte - como a filosofia e a ciência - é um exercício de pensamento e criação capaz de gerar diferentes formas de conhecimento. Especialmente, no caso deste livro, o autor seleciona peças de William Shakespeare para realizar uma investigação das relações de poder, problematizando questões clássicas que envolvem a sociabilidade humana.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Guia de carreiras: relações internacionais
Profissão exige interesse por economia, política, direito e história.
Eventos esportivos e questão ambiental prometem alavancar mercado.
Vanessa Fajardo
A curiosidade que João Paulo Paixão tinha desde a infância por moedas, bandeiras e capitais do mundo todo virou profissão. O interesse o levou a cursar relações internacionais, o que lhe garantiu o cargo de assessor de relações internacionais na Prefeitura de São Paulo há três anos.
Pela prefeitura, Paixão viaja o mundo para fechar parcerias, apresentar a cidade e defender interesses do município. Além de ser bom em geografia, no entanto, quem pretende seguir carreira em relações internacionais precisa ter facilidade para aprender idiomas e interesse por economia, política, direito e história, entre outras habilidades.
A procura pela graduação tem aumentado ao longo dos anos. No ano passado, foi o terceiro curso mais procurado do vestibular da Fuvest, que seleciona para a Universidade de São Paulo (USP), com 37,82 candidatos por vaga.
Por outro lado, quem conseguir vencer o vestibular e estudar relações internacionais tem dois fortes aliados que prometem alavancar a profissão e expandir o mercado de trabalho no Brasil: a crescente preocupação com as questões ambientais e os eventos esportivos mundiais que serão sediados pelo país nos próximos anos.
O profissional formado em relações internacionais está habilitado a negociar interesses e fazer a intermediação de acordos entre diversas partes. Pode trabalhar para países, estados, prefeituras, empresas privadas e ONGs seja buscando recursos, fechando parceiras ou projetos com diferentes objetivos.
"Mente aberta e compreensão global" também são características exigidas pela profissão, segundo João Paulo Paixão, de 26 anos.
“É necessário ter tolerância cultural e empatia por outros povos. Também é preciso ter facilidade para estabelecer contatos e fazer amizades. Interesse por línguas é fundamental. Português, inglês e espanhol são básicos. É bom conseguir um diferencial como mandarim, por exemplo”, diz Paixão.
O Brasil na moda
“O Brasil é a sétima economia mundial e está cada vez mais no foco das principais empresas no exterior”, afirma Paixão. Para ele, o Brasil está na moda e Copa e Olimpíadas vão ajudar a colocar o país de vez no mercado internacional.
Outro aliado da profissão é a questão ecológica que se tornou tema de discussão no mundo todo. Paixão reforça que é necessário haver uma negociação entre as nações para que o planeta não seja afetado.
Como além de meio ambiente, o tema ecológico envolve interesses políticos, sociais e econômicos, um profissional multidisciplinar como o formado em relações internacionais, está habilitado a fazer a ponte entre as nações e instituições privadas.
Comércio exterior
O profissional formado em relações internacionais é parceiro do formado em comércio exterior e vice-versa, principalmente no setor privado, apesar de as profissões serem confundidas.
Enquanto o primeiro atua mais na parte estratégica e de planejamento dos negócios, o segundo cuida dos trâmites operacionais. "Garante que a carga que se compra ou vende será bem embarcada, armazenada e estará segura, conforme previsto em contrato", explica Paixão.
Relações Internacionais
Hoje o mundo está ficando cada vez menor devido às novas tecnologias que permitem a empresas fazerem negócios facilmente em qualquer parte do globo e negócios internacionais podem ser criados em apena sum clique. Para enfrentar esta nova realidade e este mercado em expansão os profissionais precisam estar preparados. O curso de relações internacionais vem ao encontro destas novas necessidades do mercado, provendo aos alunos as ferramentas necessárias para se destacar neste novo ambiente globalizado.
Curso de Relações Internacionais.
O curso de Relações internacionais concentra-se em relações internacionais contemporâneas e na compreensão da dinâmica global de mercado. O curso envolve uma abordagem interdisciplinar que vai do estudo da política internacional, economia política internacional até direito internacional.
O curso visa capacitá-lo para a pesquisa analítica das estruturas, processos e fatores nas relações internacionais e transnacionais. É o curso ideal para estudantes que pretendem lidar com assuntos internacionais. O curso de relações internacionais é fundamental para quem pretende trabalhar na área, pois atualmente o mercado está necessitando de profissionais, uma vez que muitos profissionais deste setor carecem de uma formação acadêmica na área. O curso é ideal para estudantes interessados em questões políticas e econômicas. O curso de Relações Internacionais fornece ao estudante a oportunidade de realizar um estágio na áream em uma empresa envolvida com assuntos internacionais. Este programa tem como objetivo expor os alunos a habilidades e conhecimento interdisciplinar do ambiente de negócios internacional, com oportunidades para desenvolver competências em várias áreas como:
Negócios: conhecimento em administração e habilidades em disciplinas de negócios internacionais, utilizados como ferramentas de análise em ambientes de negócio; Operações: conhecimento técnico de diversos ambientes de negócios internacionais, funções e operações; Economia: Conhecimento do mercado econômico Global.
Direito: Conhecimento da dinâmica do direito internacional.
Relações Exteriores: As relações políticas, sociais, econômicos e culturais dentro do sistema internacional Política externa, diplomacia e outros modos de interação entre os países do mundo
O papel das organizações internacionais: Através do curso de relações Internacionais você irá desenvolver uma compreensão sistemática das forças internacionais que moldam o nosso ambiente e as habilidades para analisar e interpretar eventos internacionais. Contendo uma mistura de análise teórica e prática, o curso também oferece oportunidades para examinar as questões históricas e contemporâneas e desenvolvimentos na política mundial.
Oportunidades de emprego
Hoje há no mercado há muitas oportunidades para pessoas com conhecimento, experiência e qualificações em relações internacionais. Novas carreiras estão abertas todas as áreas, tanto privadas como públicas e vai de árras diplomáticas à educação, forças armadas e comunicação. ele Bachelor of International Studies é um programa especializado desenvolvido para dar-lhe uma ampla compreensão de: Algumas faculdades de relações internacionais oferecem estágios e oportunidades de intercâmbio internacional.
terça-feira, 27 de março de 2012
A coragem para ser feliz
Continuamos a perder muitas coisas na vida só por causa da falta de coragem. Na verdade, nenhum esforço é necessário para conquistar – só é preciso coragem – e as coisas começarão a vir até você, em vez de você ir atrás delas. Pelo menos no mundo interior é assim.
E para mim, ser feliz é a maior coragem. Ser infeliz é uma atitude muito covarde. Na realidade, para ser infeliz, não é preciso nada. Qualquer covarde pode ser, qualquer tolo pode ser. Todo mundo é capaz de ser infeliz; para ser feliz é preciso coragem – é um risco tremendo.
Não temos o costume de pensar assim. Nós pensamos: “ O que é preciso para ser feliz? Todo mundo quer ser feliz.” Isso está absolutamente errado. É muito raro uma pessoa estar pronta para ser feliz – as pessoas investem tanto na infelicidade! Elas adoram ser infelizes. Na verdade, elas são felizes por serem infelizes.
Há muitas coisas para se entender – sem entendê-las é muito difícil se livrar da mania de ser infeliz. A primeira coisa é: ninguém está prendendo você; é você que decidiu ficar na prisão da infelicidade. Ninguém prende ninguém. O homem que está pronto para sair dela, pode sair quando quiser. Ninguém mais é responsável. Se uma pessoa é infeliz, é ela mesma a responsável. Mas a pessoa infeliz nunca aceita a responsabilidade – é por isso que continua infeliz. Ela diz: “ Estão me fazendo infeliz” .
Se outra pessoa está fazendo com que você seja infeliz, naturalmente não há nada que você possa fazer. Se você mesmo está causando a sua infelicidade, alguma coisa pode ser feita... alguma coisa pode ser feita imediatamente. Então ser ou não ser infeliz está nas suas mãos. Todavia as pessoas ficam jogando nos outros a responsabilidade – às vezes na mulher, às vezes no marido, às vezes na família, no condicionamento, na infância, na mãe, no pai... outras vezes na sociedade, na história, no destino, em Deus – mas não param de jogar nos outros. Os nomes são diferentes, mas o truque é sempre o mesmo.
Um homem torna-se realmente um homem quando aceita a responsabilidade total – é responsável pelo quer que seja. Essa é a primeira forma de coragem, a maior delas. É muito difícil aceitá-la porque a mente vai continuar dizendo: “Se você é responsável, porque criou isso?”. Para evitar isso, dizemos que os outros são responsáveis: “O que eu posso fazer? Não tem jeito... sou uma vítima! Sou jogado daqui para ali por forças maiores que eu e não posso fazer nada. Posso no máximo chorar porque sou infeliz e ficar ainda mais infeliz chorando”. E tudo cresce – se você cultiva uma coisa, ela cresce. Então você vai cada vez mais fundo... mergulha cada vez mais fundo.
Ninguém, nenhuma outra força, está fazendo nada a você. É você e só você. Isso resume toda a filosofia do karma – que é o seu fazer; karma significa ‘fazer’. Você fez e pode desfazer. E não é preciso esperar, postergar. Não é preciso tempo – você pode simplesmente pular fora disso.
Mas nós nos habituamos. Se pararmos de ser infelizes, nos sentiremos muito sozinhos, perderemos nossa maior companhia. A infelicidade virou nossa sombra – nos segue por toda a parte. Quando não há ninguém por perto, pelo menos a infelicidade está ali presente - você se casa com ela. E trata-se de um casamento muito, muito longo; você está casado com a sua infelicidade há muitas vidas.
Agora chegou a hora de se divorciar dela. Isto é o que eu chamo de a grande coragem – divorciar-se da infelicidade, perder o hábito mais antigo da mente humana, a companhia mais fiel.
OSHO, The Buddha Disease, # 27
Continuamos a perder muitas coisas na vida só por causa da falta de coragem. Na verdade, nenhum esforço é necessário para conquistar – só é preciso coragem – e as coisas começarão a vir até você, em vez de você ir atrás delas. Pelo menos no mundo interior é assim.
E para mim, ser feliz é a maior coragem. Ser infeliz é uma atitude muito covarde. Na realidade, para ser infeliz, não é preciso nada. Qualquer covarde pode ser, qualquer tolo pode ser. Todo mundo é capaz de ser infeliz; para ser feliz é preciso coragem – é um risco tremendo.
Não temos o costume de pensar assim. Nós pensamos: “ O que é preciso para ser feliz? Todo mundo quer ser feliz.” Isso está absolutamente errado. É muito raro uma pessoa estar pronta para ser feliz – as pessoas investem tanto na infelicidade! Elas adoram ser infelizes. Na verdade, elas são felizes por serem infelizes.
Há muitas coisas para se entender – sem entendê-las é muito difícil se livrar da mania de ser infeliz. A primeira coisa é: ninguém está prendendo você; é você que decidiu ficar na prisão da infelicidade. Ninguém prende ninguém. O homem que está pronto para sair dela, pode sair quando quiser. Ninguém mais é responsável. Se uma pessoa é infeliz, é ela mesma a responsável. Mas a pessoa infeliz nunca aceita a responsabilidade – é por isso que continua infeliz. Ela diz: “ Estão me fazendo infeliz” .
Se outra pessoa está fazendo com que você seja infeliz, naturalmente não há nada que você possa fazer. Se você mesmo está causando a sua infelicidade, alguma coisa pode ser feita... alguma coisa pode ser feita imediatamente. Então ser ou não ser infeliz está nas suas mãos. Todavia as pessoas ficam jogando nos outros a responsabilidade – às vezes na mulher, às vezes no marido, às vezes na família, no condicionamento, na infância, na mãe, no pai... outras vezes na sociedade, na história, no destino, em Deus – mas não param de jogar nos outros. Os nomes são diferentes, mas o truque é sempre o mesmo.
Um homem torna-se realmente um homem quando aceita a responsabilidade total – é responsável pelo quer que seja. Essa é a primeira forma de coragem, a maior delas. É muito difícil aceitá-la porque a mente vai continuar dizendo: “Se você é responsável, porque criou isso?”. Para evitar isso, dizemos que os outros são responsáveis: “O que eu posso fazer? Não tem jeito... sou uma vítima! Sou jogado daqui para ali por forças maiores que eu e não posso fazer nada. Posso no máximo chorar porque sou infeliz e ficar ainda mais infeliz chorando”. E tudo cresce – se você cultiva uma coisa, ela cresce. Então você vai cada vez mais fundo... mergulha cada vez mais fundo.
Ninguém, nenhuma outra força, está fazendo nada a você. É você e só você. Isso resume toda a filosofia do karma – que é o seu fazer; karma significa ‘fazer’. Você fez e pode desfazer. E não é preciso esperar, postergar. Não é preciso tempo – você pode simplesmente pular fora disso.
Mas nós nos habituamos. Se pararmos de ser infelizes, nos sentiremos muito sozinhos, perderemos nossa maior companhia. A infelicidade virou nossa sombra – nos segue por toda a parte. Quando não há ninguém por perto, pelo menos a infelicidade está ali presente - você se casa com ela. E trata-se de um casamento muito, muito longo; você está casado com a sua infelicidade há muitas vidas.
Agora chegou a hora de se divorciar dela. Isto é o que eu chamo de a grande coragem – divorciar-se da infelicidade, perder o hábito mais antigo da mente humana, a companhia mais fiel.
OSHO, The Buddha Disease, # 27
É importante ressaltar que coragem nada tem a ver com impulsividade. A primeira é um ato planejado, estruturado, com um alvo a se alcançar. Daí o indivíduo utiliza esta força para superar os desafios e alcançar suas metas. A segunda é resultante do descontrole que, conseqüentemente, trará um resultado imprevisível. O líder, antes de tudo, precisa ter a confiança de seus liderados e isso somente será possível com atitudes corajosas e não impulsivas. Imagine uma situação de risco: um incêndio, por exemplo. Líder é aquele que corajosamente organiza o grupo, orienta e tomas as decisões acertadas. Aqui está a diferença: ele toma as decisões corretas! Mas como saber que as decisões foram as melhores? Simples: ele atua com determinação, planejamento, senso crítico e não por impulso. O líder tem que prever o futuro, imaginar as possibilidades, enxergar o que ainda não veio. Assim, poderá tomar as atitudes acertadas e com isso garantir sua eficácia na condução de equipes.
Isto me faz lembrar da história narrada no Livro das Virtudes II, de William J. Bennett, sobre Alexandre, o Grande, e que transcrevo a seguir. Certa vez ele conduzia seu exército de volta para casa depois da grande vitória contra Porus, na Índia. A região que cruzavam no momento era árida e deserta, e os soldados sofriam terrivelmente de calor, fome e, mais que tudo, de sede. Os lábios rachavam e as gargantas ardiam por falta de água. Muitos estavam prestes a se deixar cair no chão e desistir.
Um dia, por volta de meio-dia, o exército encontrou um destacamento de viajantes gregos. Vinham montados em mulas, e carregavam alguns recipientes com água. Um deles, vendo o rei quase sufocar de sede, encheu um elmo com água e ofereceu-lhe.
Alexandre pegou o elmo nas mãos e olhou em torno de si. Viu os rostos sofridos dos soldados, que ansiavam, tanto quanto ele, por algo refrescante.
- Pode levar - disse ele -, pois se eu beber sozinho o resto ficará desolado, e você não tem o suficiente para todos.
E devolveu a água sem tomar uma gota. Os soldados, aclamando seu rei, puseram-se de pé e pediram que o líder continuasse a conduzi-los adiante.
Por isso afirmo que liderar é um ato de coragem! Nem sempre o líder será aceito por todos, ou suas idéias serão assimiladas. Nesta hora é fundamental coragem para e aceitar críticas e, se necessário, mudar. O grupo percebe aquele que titubeia diante de uma decisão. A pior coisa que pode acontecer a um “líder” é não ter o respeito de sua equipe. Sabemos que a verdadeira liderança não se conquista pela força opressiva, mas pelas atitudes de coragem reconhecidas pelos liderados.
Um dia, por volta de meio-dia, o exército encontrou um destacamento de viajantes gregos. Vinham montados em mulas, e carregavam alguns recipientes com água. Um deles, vendo o rei quase sufocar de sede, encheu um elmo com água e ofereceu-lhe.
Alexandre pegou o elmo nas mãos e olhou em torno de si. Viu os rostos sofridos dos soldados, que ansiavam, tanto quanto ele, por algo refrescante.
- Pode levar - disse ele -, pois se eu beber sozinho o resto ficará desolado, e você não tem o suficiente para todos.
E devolveu a água sem tomar uma gota. Os soldados, aclamando seu rei, puseram-se de pé e pediram que o líder continuasse a conduzi-los adiante.
Por isso afirmo que liderar é um ato de coragem! Nem sempre o líder será aceito por todos, ou suas idéias serão assimiladas. Nesta hora é fundamental coragem para e aceitar críticas e, se necessário, mudar. O grupo percebe aquele que titubeia diante de uma decisão. A pior coisa que pode acontecer a um “líder” é não ter o respeito de sua equipe. Sabemos que a verdadeira liderança não se conquista pela força opressiva, mas pelas atitudes de coragem reconhecidas pelos liderados.
A história da humanidade e das grandes conquistas, a mitologia, a ciência e muitas outras áreas do conhecimento demonstram que ter coragem é o primeiro passo para se atingir um objetivo. Um exemplo marcante é Lee Iacocca. Ficou famoso pela determinação e coragem para reerguer a Chrysler e transformar-se em benchmark sobre gestão de pessoas e de negócios. Assim sendo, podemos concluir que liderar é um ato de coragem! O sujeito covarde, pessimista, que desacredita da própria sorte é esquecido, largado, deixado de lado por todos e até mesmo por si próprio. Ninguém acredita naquele que teme o futuro, muito menos nos desafios da vida.
A Hora do Amor
Pablo Neruda
Completamente bêbado de amor estou agora
Levantaram-se em minha alma as doçuras perdidas,
As trêmulas campanas de uma vida sonora
Carregam os celestes cansaços desta vida.
Vem crepúsculo morno, vem aurora rosada,
Vem fragrância de beijos, vem calor de mulher.
Tanto tempo já faz que não espero a amada,
Que me mordem os cães do desejo e da sede.
Mas se bêbado vou de amor já não me importa,
A esperança longínqua que não pode volver,
As minhas rosas levo se a vida me for curta,
É claro!, os meu rosais seu que vão florescer.
Se porém levo todos os meus rosais fechados,
Dá-me fraterna mão, dá-me um fruto, Senhor,
Dá-me dois seios mornos e dois olhos amados,
Porque sem eles, Ai, que me vai ser do amor?
Pablo Neruda
Completamente bêbado de amor estou agora
Levantaram-se em minha alma as doçuras perdidas,
As trêmulas campanas de uma vida sonora
Carregam os celestes cansaços desta vida.
Vem crepúsculo morno, vem aurora rosada,
Vem fragrância de beijos, vem calor de mulher.
Tanto tempo já faz que não espero a amada,
Que me mordem os cães do desejo e da sede.
Mas se bêbado vou de amor já não me importa,
A esperança longínqua que não pode volver,
As minhas rosas levo se a vida me for curta,
É claro!, os meu rosais seu que vão florescer.
Se porém levo todos os meus rosais fechados,
Dá-me fraterna mão, dá-me um fruto, Senhor,
Dá-me dois seios mornos e dois olhos amados,
Porque sem eles, Ai, que me vai ser do amor?
A tipologia das três formas do poder
Os estudos de política geralmente iniciam com uma análise do fenômeno do poder social. Bertrand Russel definiu-o da seguinte maneira: “Poder é a posse dos meios que levam à produção de efeitos desejados”.
Em outras palavras, o indivíduo que detém os meios de poder torna-se capaz de exercer várias formas de domínio e, por meio delas, pode alcançar os efeitos que desejar.
O fenômeno do poder costuma ser dividido em duas categorias: o poder do homem sobre a natureza e o poder do homem sobre outros homens. Frequentemente, essas duas categorias de poder andam juntas, uma influindo na outra.
A ciência política estuda, sobretudo, o poder do homem sobre outros homens, isto é, o poder social, mas também se interessa pelo poder sobre a natureza, porque essa categoria de domínio também se transforma em instrumento de poder social.
Se levarmos em conta o meio do qual se serve o detentor do poder para conseguir os efeitos desejados, destacam-se três formas de poder: o econômico, o ideológico e o político.
O poder econômico utiliza a posse de certos bens socialmente necessários para induzir aqueles que não os possuem a adotar determinados comportamentos, como, por exemplo, realizar determinado trabalho.
O poder ideológico utiliza a posse de certas idéias, valores, doutrinas, para influenciar a conduta alheia, induzindo as pessoas a determinados modos de pensar e agir.
O poder político utiliza a posse dos meios de coerção social, isto é, o uso da força física considerada legal ou autorizada pelo direito vigente na sociedade.
O poder econômico preocupa-se em garantir o domínio da riqueza controlando a organização das forças produtivas por exemplo: o tipo de produção e o alcance de consumo das mercadorias. O poder ideológico preocupa-se em garantir o domínio sobre o saber controlando organização do consenso social (por exemplo: os meios de comunicação de massa – televisão, jornais, rádios, revistas, etc.). E o poder político preocupa-se em garantir o domínio da força isntitucional e jurídica controlando os instrumentos de coerção social (por exemplo: forças armadas, órgãos de fiscalização, polícia, tribunais, etc.).
Os estudos de política geralmente iniciam com uma análise do fenômeno do poder social. Bertrand Russel definiu-o da seguinte maneira: “Poder é a posse dos meios que levam à produção de efeitos desejados”.
Em outras palavras, o indivíduo que detém os meios de poder torna-se capaz de exercer várias formas de domínio e, por meio delas, pode alcançar os efeitos que desejar.
O fenômeno do poder costuma ser dividido em duas categorias: o poder do homem sobre a natureza e o poder do homem sobre outros homens. Frequentemente, essas duas categorias de poder andam juntas, uma influindo na outra.
A ciência política estuda, sobretudo, o poder do homem sobre outros homens, isto é, o poder social, mas também se interessa pelo poder sobre a natureza, porque essa categoria de domínio também se transforma em instrumento de poder social.
Se levarmos em conta o meio do qual se serve o detentor do poder para conseguir os efeitos desejados, destacam-se três formas de poder: o econômico, o ideológico e o político.
O poder econômico utiliza a posse de certos bens socialmente necessários para induzir aqueles que não os possuem a adotar determinados comportamentos, como, por exemplo, realizar determinado trabalho.
O poder ideológico utiliza a posse de certas idéias, valores, doutrinas, para influenciar a conduta alheia, induzindo as pessoas a determinados modos de pensar e agir.
O poder político utiliza a posse dos meios de coerção social, isto é, o uso da força física considerada legal ou autorizada pelo direito vigente na sociedade.
O poder econômico preocupa-se em garantir o domínio da riqueza controlando a organização das forças produtivas por exemplo: o tipo de produção e o alcance de consumo das mercadorias. O poder ideológico preocupa-se em garantir o domínio sobre o saber controlando organização do consenso social (por exemplo: os meios de comunicação de massa – televisão, jornais, rádios, revistas, etc.). E o poder político preocupa-se em garantir o domínio da força isntitucional e jurídica controlando os instrumentos de coerção social (por exemplo: forças armadas, órgãos de fiscalização, polícia, tribunais, etc.).
As formas de desigualdade
As castas
1) Max Weber afirma que a casta é uma ordem social, o que nos leva a dizer que o sistema de castas expressa uma forma de organização específica. A ordenação social baseada nesse tipo de agrupamento definia a posição dos indivíduos nos planos econômico e político, assim como a forma de funcionamento de suas instituições.
2) Pertencer a uma determinada casta podia conferir a seus membros uma posição social que era também política ante as demais castas numa dada comunidade.
A sociedade de castas
3) A sociedade de castas encerra algumas características básicas, como, por exemplo, a hierarquização rígida, baseada em critérios como hereditariedade, profissão, etnia, religião, que determinam uma “situação de respeitabilidade” e de relações sociais. A definição desses critérios ocorre a partir de um conjunto de valores, hábitos e costumes definidos pela tradição.
4) Pode-se dizer que nas sociedades antigas, a organização social baseava-se no sistema de castas. As desigualdades políticas, jurídicas, religiosas, etc. expressavam-se através do lugar que o indivíduo ocupava na estrutura de cargos e profissões, definidos pela hereditariedade.
5) A Grécia Antiga pode ser tomada como exemplo da especialização hereditária, com a caracterização das famílias a partir de suas profissões: família de médicos, de sacerdotes, de guerreiros, e assim por diante. Heródoto (484-425 a.C) chegou a definir três classificações para a terra: terras militares, terras reais, terras sagradas.
As castas e a sociedade hindu
6) Ainda hoje existe na Índia o sistema de castas, embora modificando, pois coexiste com um sistema de classes sociais.
7) Uma das características que marcaram a estratificação social hindu foi a hereditariedade; o nascimento era a condição básica para se definir uma dada posição na ordem social. A hierarquização dava-se com base na hereditariedade e, também, nas profissões, que definiam os indivíduos como pertencentes a grupo de status diferente.
8) Os pertencentes à casta inferior eram considerados impuros e não podiam sequer prestar serviços aos membros das outras castas superiores, pois tudo o que os impuros tocassem ficava contaminado: alimento, água, roupa, etc.
9) Apenas as castas puras (superiores) eram consideradas aptas a desempenhar funções públicas e a participar de determinadas atividades religiosas. As castas impuras eram praticamente segregadas, a elas não sendo permitido freqüentar escolas e templos, dentre outros locais.
10) De forma generalizada, é possível dizer que as quatro castas principais na Índia durante muito tempo foram as seguintes: brâmane (brahmin – casta superior a todas), chátria (ksbatriya – casta intermediária, formada pelos guerreiros), vaixá (vaishya – casta intermediária, mas abaixo da chátria, formada pelos comerciantes, agricultores e pastores) e a sudra ou pária (casta inferior a todas as demais, a dos impuros).
Os estamentos
11) A sociedade feudal, que teve seu apogeu entre o século IX e o XIV, tinha a sua organização social baseada em estamentos, ou estratos. A tradição contava como um dos elementos fundamentais na definição do conjunto de relações estabelecidas entre os diferentes estratos ou estamentos: nobreza, clero e servos.
12) A honra, hereditariedade, a linhagem, eram os elementos organizadores dos estamentos, ou seja, a hierarquização se estabelecia com base num conjunto de valores culturais, definidos pela tradição.
A organização política na ordem estamental
13) Max Weber afirma no livro Economia e sociedade que o feudalismo é uma estruturação política patrimonialista por excelência. A dominação tinha como base na posse e no uso da terra.
As classes sociais
14) As classes sociais, na teoria de Marx, expressam as desigualdades sobre as quais se assenta a sociedade capitalista.
15) Para Marx, a forma como os indivíduos se inserem no conjunto de relações, tanto no plano econômico como no sociopolítico, pode explicar a divisão da sociedade em classes sociais.
As classes sociais: uma relação antagônica
16) As classes sociais se constituem em relação umas com as outras. A classe trabalhadora se constitui em relação com a classe capitalista e vice-versa. Para Marx, a classe operária e a classe burguesa estão ligadas por uma relação de antagonismo, de contradição, que se baseia no processo de expropriação (econômica) e de dominação (política).
17) Para Marx, essa relação, antagônica e contraditória, é necessária e fundamental para que exista o capitalismo.
Max Weber e a estratificação social
18) Para Max Weber, a sociedade se assenta sobre três dimensões distintas: a econômica, a social e a política.
19) A dimensão econômica estratifica a sociedade através dos critérios pautados na riqueza, na posse e na renda.
20) A dimensão social funda uma maneira de estratificação baseada no status. O seu elemento definidor é a honra e o prestígio que as pessoas/ e ou grupos desfrutam, ou não desfrutam, a posição que ocupam na sua profissão, o seu estilo de vida, etc.
21) A dimensão política funda um modo de estratificação baseado no poder. Quanto mais poder os indivíduos e/ou grupos ostentarem, melhor eles se posicionarão na escala de reconhecimento no interior dessas relações de poder e de dominação.
As castas
1) Max Weber afirma que a casta é uma ordem social, o que nos leva a dizer que o sistema de castas expressa uma forma de organização específica. A ordenação social baseada nesse tipo de agrupamento definia a posição dos indivíduos nos planos econômico e político, assim como a forma de funcionamento de suas instituições.
2) Pertencer a uma determinada casta podia conferir a seus membros uma posição social que era também política ante as demais castas numa dada comunidade.
A sociedade de castas
3) A sociedade de castas encerra algumas características básicas, como, por exemplo, a hierarquização rígida, baseada em critérios como hereditariedade, profissão, etnia, religião, que determinam uma “situação de respeitabilidade” e de relações sociais. A definição desses critérios ocorre a partir de um conjunto de valores, hábitos e costumes definidos pela tradição.
4) Pode-se dizer que nas sociedades antigas, a organização social baseava-se no sistema de castas. As desigualdades políticas, jurídicas, religiosas, etc. expressavam-se através do lugar que o indivíduo ocupava na estrutura de cargos e profissões, definidos pela hereditariedade.
5) A Grécia Antiga pode ser tomada como exemplo da especialização hereditária, com a caracterização das famílias a partir de suas profissões: família de médicos, de sacerdotes, de guerreiros, e assim por diante. Heródoto (484-425 a.C) chegou a definir três classificações para a terra: terras militares, terras reais, terras sagradas.
As castas e a sociedade hindu
6) Ainda hoje existe na Índia o sistema de castas, embora modificando, pois coexiste com um sistema de classes sociais.
7) Uma das características que marcaram a estratificação social hindu foi a hereditariedade; o nascimento era a condição básica para se definir uma dada posição na ordem social. A hierarquização dava-se com base na hereditariedade e, também, nas profissões, que definiam os indivíduos como pertencentes a grupo de status diferente.
8) Os pertencentes à casta inferior eram considerados impuros e não podiam sequer prestar serviços aos membros das outras castas superiores, pois tudo o que os impuros tocassem ficava contaminado: alimento, água, roupa, etc.
9) Apenas as castas puras (superiores) eram consideradas aptas a desempenhar funções públicas e a participar de determinadas atividades religiosas. As castas impuras eram praticamente segregadas, a elas não sendo permitido freqüentar escolas e templos, dentre outros locais.
10) De forma generalizada, é possível dizer que as quatro castas principais na Índia durante muito tempo foram as seguintes: brâmane (brahmin – casta superior a todas), chátria (ksbatriya – casta intermediária, formada pelos guerreiros), vaixá (vaishya – casta intermediária, mas abaixo da chátria, formada pelos comerciantes, agricultores e pastores) e a sudra ou pária (casta inferior a todas as demais, a dos impuros).
Os estamentos
11) A sociedade feudal, que teve seu apogeu entre o século IX e o XIV, tinha a sua organização social baseada em estamentos, ou estratos. A tradição contava como um dos elementos fundamentais na definição do conjunto de relações estabelecidas entre os diferentes estratos ou estamentos: nobreza, clero e servos.
12) A honra, hereditariedade, a linhagem, eram os elementos organizadores dos estamentos, ou seja, a hierarquização se estabelecia com base num conjunto de valores culturais, definidos pela tradição.
A organização política na ordem estamental
13) Max Weber afirma no livro Economia e sociedade que o feudalismo é uma estruturação política patrimonialista por excelência. A dominação tinha como base na posse e no uso da terra.
As classes sociais
14) As classes sociais, na teoria de Marx, expressam as desigualdades sobre as quais se assenta a sociedade capitalista.
15) Para Marx, a forma como os indivíduos se inserem no conjunto de relações, tanto no plano econômico como no sociopolítico, pode explicar a divisão da sociedade em classes sociais.
As classes sociais: uma relação antagônica
16) As classes sociais se constituem em relação umas com as outras. A classe trabalhadora se constitui em relação com a classe capitalista e vice-versa. Para Marx, a classe operária e a classe burguesa estão ligadas por uma relação de antagonismo, de contradição, que se baseia no processo de expropriação (econômica) e de dominação (política).
17) Para Marx, essa relação, antagônica e contraditória, é necessária e fundamental para que exista o capitalismo.
Max Weber e a estratificação social
18) Para Max Weber, a sociedade se assenta sobre três dimensões distintas: a econômica, a social e a política.
19) A dimensão econômica estratifica a sociedade através dos critérios pautados na riqueza, na posse e na renda.
20) A dimensão social funda uma maneira de estratificação baseada no status. O seu elemento definidor é a honra e o prestígio que as pessoas/ e ou grupos desfrutam, ou não desfrutam, a posição que ocupam na sua profissão, o seu estilo de vida, etc.
21) A dimensão política funda um modo de estratificação baseado no poder. Quanto mais poder os indivíduos e/ou grupos ostentarem, melhor eles se posicionarão na escala de reconhecimento no interior dessas relações de poder e de dominação.
Chopin, Fryderyk Franciszek
Gênio da música. Um dos maiores Compositores e concertista polonês. Nasceu em Zelazowa Wola, perto de Varsóvia, em 1° de março de 1810, faleceu em 17 de outubro de 1849, Paris.
As obras de Chopin, elevam-se a centenas, quase todas elas de difícil execução. Sua obra restringiu-se quase que exclusivamente a peças para piano. Ele refletiu muito através de sua obra o romantismo e o culto nacionalista.
Gênio da música. Um dos maiores Compositores e concertista polonês. Nasceu em Zelazowa Wola, perto de Varsóvia, em 1° de março de 1810, faleceu em 17 de outubro de 1849, Paris.
As obras de Chopin, elevam-se a centenas, quase todas elas de difícil execução. Sua obra restringiu-se quase que exclusivamente a peças para piano. Ele refletiu muito através de sua obra o romantismo e o culto nacionalista.
DIMENSÃO POLÍTICA EM SHAKESPEARE
Miguel Chaia
Artigo publicado originalmente com o título 'O palco do poder' em Revista Entrelivros - clássicos, nº 2, Ediouro e Duetto editorial, São Paulo, 2006.
A política é um conceito polissêmico e William Shakespeare foi um autor que contribuiu significativamente para delinear uma específica concepção de política. A simples leitura das peças, sua pesquisa e encenação sempre encontraram inúmeras entradas para um mergulho na obra deste dramaturgo. Entre tantas possibilidades, ele propicia uma abordagem política que pode ser construída a partir da seguinte fala de Hamlet: “The time is out of the joint/ O tempo está fora dos eixos”. Não se trata de uma política institucional, pois mesmo que Shakespeare desenvolva seus temas em volta do trono, com personagens envolvidos num embate com o poder, ele nos fala de uma política atravessada pela gravidade e pela disjunção, imprimindo significados distintos à história de uma cidade e de uma nação.
Em movimentos pendulares perpétuos, constituem-se dois caminhos que estruturam e desestruturam as relações de poder nas peças de Shakespeare. O primeiro é delineado pelo par de opostos legitimidade-usurpação, e o segundo pela dupla estabilidade-guerra. A peça Ricardo III é emblemática desses dois movimentos ao compor uma sangrenta trajetória política devido ao desejo e projeto de ruptura institucional e ao apresentar um astuto personagem que se encontra envolvido na Guerra das Duas Rosas, que se deu entre as Casas de York e Lancaster, no século XV. Ao final da peça, com a Batalha de Bosworth Field, que encerra a Idade Média e a Guerra entre as duas casas, tem início uma nova era com Henrique de Richmond, futuro Henrique VII. Este personagem, ao vencer Ricardo III, comemora proferindo um monólogo, no qual aponta para a paz e estabilidade futura da Inglaterra: “Proclamai meu perdão para os soldados / ... / Uniremos as rosas branca e rubra. / Que o céu sorria sobre essa união, / Depois de ter chorado a inimizade. / ... / Curada a chaga, a paz é o nosso bem; / Pra quem a preservar, Deus diga ‘Amém’”.
A quebra da ordem, seja pelo golpe ou pela guerra, desestabiliza a política, retirando-a de seu curso normal, abrindo espaços para os mais diferentes tipos de violência. Neste sentido, tem-se em Shakespeare a aproximação entre política e vida, à medida em que nada separa as duas esferas, uma vez que todos os indivíduos sofrem, direta ou indiretamente, os efeitos das ações políticas, sejam eles os filhos de Henrique IV, Ofélia, Romeu e Julieta, soldados e tantos outros. Esta interrupção da legitimidade não gera medo apenas no governante, mas também amedronta familiares, súditos e governados. Nas obras de Shakespeare, usurpadores e tiranos assustam seus governados: “Oh, horror! Horror! Horror! / Boca nem coração poderão nunca / Nomeá-lo ou concebê-lo!”, grita Macduff, personagem de Macbeth, ao abrir a porta do quarto e ver chão e paredes ensangüentados pelo dilacerado corpo de Duncan, rei legítimo da Escócia, assassinado por trama do casal Macbeth. Com esta peça, Shakespeare deixa entrever não apenas uma visão devastadora que a política pode adquirir, mas aponta, inclusive, para a idéia do poder como armadilha que gera o medo e a insegurança experimentados por todos os personagens quando se rompe com a legitimidade. Este recorte de política privilegiado pelo autor é demarcado pelo tempo desestabilizado.
Se a usurpação dá início a grande parte das peças de Shakespeare, com a devida reposição da ordem no final delas, o mesmo se verifica com relação à guerra, constantemente presente nas suas obras e sendo colocada no começo e no término dos acontecimentos. Macbeth, por exemplo, inicia-se com uma guerra e termina com outra, indicando, no primeiro momento, como o resultado de uma confronto bélico pode deflagrar a instalação de um regime tirânico, pois foi para Macbeth, o general vencedor, que as três bruxas anunciaram que "sereis rei um dia". Num segundo momento, a invasão militar conduzida por Macduff leva a um bom desfecho a tensa e tirânica política interna implantada por Macbeth.
Shakespeare, na peça Macbeth, apresenta uma visão metafórica da guerra colocada numa imagem que afronta a natureza: o movimento das árvores, solidamente fixas no solo. Tanto que para Macbeth "Tal jamais se verá! Que destemido / Pode mandar nas árvores, fazer / Uma floresta inteira obedecer / És suas ordens? Augúrios excelentes! / Rebelião, não me mostreis os dentes / Antes que contra mim toda não ande / De Birnam a floresta. Até lá, o grande / Macbeth há de reinar. Chegará ao fim / Normal de sua vida, como assim / O quer a natureza". Em Macbeth, a guerra, seja ela programada ou inesperada, é fenômeno da continuidade da política interna, da desavença entre Estados vizinhos mas, também, evento que destaca a grandeza e a fragilidade dos seres humanos. Assim, ela desdobra-se em diferentes níveis: afeta a trajetória da vida e também altera as formas do regime político e, ainda, anexa reinos ou Estados vizinhos. A política da guerra, tomada da perspectiva do trono, reúne no mesmo destino homens, governantes e Estado. A guerra em Shakespeare aparece como algo estruturalmente ligado ao tipo de sistema social, como se fosse um fenômeno estreitamente ligado à difícil sociabilidade alcançada pelos homens.
Desta forma, a polarização política-horror e política-paz está intermediada, em Macbeth, pela guerra, que tanto deflagra uma política tirânica quanto pode renovar as esperanças, permitindo a implantação de um novo regime baseado na legitimidade. É nesse sentido que se pode fazer uma leitura da última fala de Malcolm, ao ser introduzido por Macduff como o novo rei da Escócia, após abater Macbeth: "...O que me resta / Por fazer, e que as novas circunstâncias / Pedem venha a cumprir-se, como seja: / Reconduzir ao lar nossos amigos / Que, fugindo às ciladas do tirano, / Tiveram que passar-se ao estrangeiro; / Desembuçar os pérfidos ministros / Do carniceiro morto e da diabólica / Rainha, que, ao que dizem, por suas próprias / Mãos se matou violentas; isto e o mais / Que for mister, farei executar, / Com a graça de Deus, em seu lugar / E tempo. A todo vós, agradecido, / A Scone, à minha coroação convido." Desprende-se desta fala que um novo initium político se fará, inaugurando outro começo; e também indica que o novo esforço político de recondução à ordem exigirá o uso da violência contra os pérfidos inimigos sobreviventes da tirania.
A guerra final, em Macbeth, é iniciada como reação ao governo tirânico deste rei, reunindo conspiradores que desenvolvem atividades políticas e militares com objetivos específicos. Macduff, ao fugir para a Inglaterra, começa a articulação de uma invasão a partir do exterior para derrubar o tirano, associado às ações desenvolvidas por Malcolm. A síntese desta trama encontra-se no ato IV, cena III, que se desenrola na Inglaterra, na Sala no Palácio do Rei. Fala Malcolm: “Procuremos alguma desolada / Sombra e em lágrimas tristes aliviemos / Os nossos corações”. Responde Macduff: “Não! Empunhemos / Nossas mortais espadas: como bravos, / Defendamos a pátria malferida. / Cada nova manhã novas viúvas / Gemem de dor e novos órfãos choram / Novas calamidades bofeteiam / Os céus na face, e eles ressoam como / Se sentissem com a Escócia e os mesmos gritos / De dor soltassem”. Ao saber das ações tirânicas, que incluíam assassinatos de mulheres e crianças, assim Ross se refere à Escócia: “Ai, pobre pátria! / Mal ousa conhecer-se. Nem podemos / Chamar-lhe mãe, que é, antes, sepultura; / Onde ninguém se vê sorrir, exceto / Quem não sabe o que faz; onde suspiros / E lamentos e gritos dilaceram / O ar sem serem notados, e violentas / Dores parecem já triviais pesares...”
Macbeth é um “príncipe novo”, astuto mas sem virtú, conforme descrições de Maquiavel ao analisar o principado obtido pela força das armas, porém com a intemperança na alma que, como fala Macduff, quando ilimitada “é tirania em nós da natureza”. O destino de Macbeth é marcado por dois fatos. O primeiro é a nomeação das bruxas que acenam com uma possibilidade política alimentando a ação de Macbeth, levando-o a confundir-se entre a possibilidade da continuidade da profecia e a sua interrupção. Ao tomar a previsibilidade como uma utopia distanciada, Macbeth deixa-se guiar apenas pela sua natureza de homem intempestivo e pela natureza do poder, não agindo virtuosamente e nem sabendo domar a fortuna, qualidade de um bom príncipe. A tirania é um resultado imediato deste tipo de indivíduo quando se encontra com o poder. O segundo acontecimento marcante é a presença de Lady Macbeth que impulsiona e reforça "as fúrias da tempestade!", conforme antecipa a primeira bruxa. Macbeth e Lady Macbeth configuram a imagem metafórica do trono manchado de sangue, expressando a presença da dualidade “racionalidade masculina-percepção e desejo feminino” nas articulações políticas. Desdobra-se, assim, o par razão-loucura, dificultando ou impossibilitando o equilíbrio temporário necessário ao fluxo normalizado das conjunturas políticas.
O esforço de Macbeth para cumprir a profecia por meio de ações políticas ilícitas voltadas a assegurar seu governo é um indício de que o poder é uma força descomunal, de difícil controle e que pode ser acionado e exercido ou com imprevisibilidade ou através de regras que tendem a impedir o seu descontrole. Macbeth é o exemplo do primeiro caso, quando ocorre um embate cego entre homem e poder. Ao analisar esta peça, Northrop Frye assinala que um rei legítimo pode ser cruel e inescrupuloso e ainda assim permanecer rei mas, ser for fraco ou incompetente, criará um vácuo de poder na sociedade, pois a ordem da natureza e a vontade de Deus exigem um governante forte e centralizador.
Neste sentido, pode-se recuperar a idéia de que o poder como força descomunal engendra uma dimensão de tragédia, onde o medo e o sangue invadem o mundo. Diz Macbeth: “Haverá sangue. / Dizem que o sangue pede sangue...” A peça Macbeth reforça, assim, as dores de uma metamorfose política e a afirmação do mal, que inverterá valores e desordenará uma ordem social. É o caso de se pensar que nesta peça o poder aparece como anjo devastador, que por um período de tempo, durante o reinado de Macbeth, torna a política o reino do horror.
Mesmo considerando a existência de tais tensões e paradoxos, Macbeth sempre será um homem de ação, deflagrando inúmeras tramas políticas que tendem a acelerar e a radicalizar a tirania. Com isso organizam-se oposiçðes e articulações tendo em vista sua deposição. As decisões e ações violentas de Macbeth e Lady Macbeth criam as condições para as, também, violentas reações políticas, resumidas na forma de guerra ofensiva comandada por Macduff e Malcolm. O tempo político instaurado por Macbeth atingiu as circunstâncias da sua própria interrupção, como se observa na seguinte fala de Malcolm: “As nossas forças estão prontas / Para marchar. Só falta despedirmo-nos. / O tirano Macbeth está maduro / Para ser sacudido; e as forças do Alto / Preparados já têm seus instrumentos. /Aceitai o conforto que em tamanha / Dor possa dar-vos nossa simpatia: / Longa é a noite que nunca chega ao dia.” No outro extremo ao reinado de Macbeth pode-se encontrar uma nova política, na qual o governante reconduz ao lar os exilados e dá esperanças aos amigos perseguidos.
Nesta sucessão de conjunturas que avançam em equilíbrio e desequilíbrio, verifica-se que em Shakespeare está presente uma visão de história cíclica, muito próxima à concepção aristotélica, na qual as boas formas de governo e as boas constituições podem se degenerar e, por sua vez, o inverso também acontece com a corrupção sendo eliminada e dando lugar à estabilidade. Assim, o ciclo inicia, termina e reinicia sucessivamente, alternando bons e maus governos. Se Macbeth interrompeu um ciclo legítimo, o seu reinado será cortado pela ação decisiva do próximo governante, no caso Macduff , que implantará um novo governo legítimo.
Em Shakespeare, a “animalidade política” do ser humano, numa outra possível comparação com Aristóteles, e o cenário envolvente do “grande mecanismo”, conforme tese de Jan Kott, são duas referências significativas para se apreender uma concepção específica de existência e de organização política. Assim, pode-se verificar neste dramaturgo que quanto mais as ações humanas se voltam para o poder ou são atraídas por ele, mais perdem o controle das suas ações, até o limite da fuga da razão ou da subjugação da virtuosidade. Nestas circunstâncias todas dadas pela quebra da legitimidade, pela irrupção da guerra e pelo exacerbamento da violência política, os textos de Shakespeare permitem formular um conceito específico, o da política como tragédia.
Do ponto de vista do gênero artístico, Shakespeare produz sob uma nova estrutura trágica, avançando em direção ao drama, forma que surge no período elisabetano sob o capitalismo e cujo foco ainda passa pelo desígnio do destino mas está centrado no indivíduo enquanto protagonista moderno. Hamlet é um bom exemplo desta encruzilhada da qual o dramaturgo quer dar conta, pois o príncipe da Dinamarca se esforça para alterar o fluxo dos acontecimentos, experimentando um dilema ético e vivendo a dúvida quanto ao sucesso dos resultados das suas ações. Trata-se de um personagem fragilizado pelos conflitos internos (produzidos pelas novas sensibilidades do sujeito) e externos (nascidos das podres relações políticas do reino da Dinamarca). Confessa, assim, o dilacerado Hamlet: “Vivo na lua, insensível à minha própria causa, / E não sei fazer nada, mesmo por um rei / Cuja propriedade e vida tão preciosa / Foram arrancadas numa conspiração maldita. / Sou então um covarde? Quem me chama canalha? / Me arrebenta a cabeça, me puxa pelo nariz, / E me enfia a mentira pela goela até o fundo dos pulmões?” Mais tarde, Hamlet deverá pronunciar a clássica fala que expressa claramente esses conflitos do sujeito moderno: “Ser ou não ser, eis a questão. / Será mais nobre sofrer na alma / Pedradas e flechadas do destino feroz / Ou pegar em armas contra o mar de angústias / E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir...” Entretanto, não se deve raciocinar como se as dúvidas hamletianas impedissem a ação. A partir destes conflitos, Hamlet lê e pensa muito, mas também arma estratégias que vão da loucura à encenação teatral para desenvolver o seu projeto de vingança.
Ao se considerar que Shakespeare não trata mais da zona fronteiriça entre deuses e homens mas das fronteiras terrenas e existenciais que pressionam o ser humano, este dramaturgo propicia as referências necessárias para a elaboração do recorte específico da política, ou seja, a política como tragédia, ao estabelecer como seu fundamento o conflito permanente e irresolúvel, motor do conhecimento e da ação humana. Nos textos deste autor, a política é uma personagem maior, estruturante e encenada tragicamente, pois se mostra insuficiente para garantir a ordem permanente e a vida das pessoas. A política é um reino que está fundamentado nos mais diferentes paradoxos, como ordem-ruptura, estabilidade-instabilidade, concórdia-discórdia, paz-guerra e vida-morte. Por isso, em A Tempestade, Shakespeare escreveu: “Somo matéria de que os sonhos são feitos. E a nossa breve vida é circundada pelo sono.” Ou ainda, ampliando de outra forma essa idéia, escreve em Macbeth: “Que a vida / É uma sombra ambulante: um pobre ator / Que gesticula em cena uma hora ou duas / ... / Significando nada”. Se a política é trágica é porque a vida é trágica e, se esta assim se configura, deve-se à natureza do sujeito envolvido, agora, com as contingências modernas. Aliás, as contingências não só cercam os indivíduos no plano existencial mas também limitam as ações políticas. Procura-se mas nunca se encontra o gozo permanente se ele for procurado nas relações sócio-políticas. O funcionamento das instituições e a natureza humana são empecilhos para usufruir a liberdade. Este lado do sujeito e da vida é reforçado pela natureza do poder, apresentado por Shakespeare como uma esfera central de dominação com certo grau de autonomia, deixando atônitos os homens e as mulheres, permanentemente atraídos por ele. Neste sentido, Shakespeare aproxima-se bastante da concepção de política e poder como formulada por Maquiavel, com sua teoria do realismo político que contempla a dinâmica autônoma do poder, a idéia da instabilidade permanente das conjunturas políticas e a imprevisibilidade do desfecho da ação do príncipe. Afinal, Maquiavel diz “que a sorte seja o árbitro da metade das nossas ações, mas que ainda nos deixe governar a outra metade, ou quase”.
A visão de política shakespeariana guarda o tempo das contingências terrenas, como pode ser exemplificado com Ricardo III que começa com um “E agora...”, marcando o encerramento de um ciclo político e o início de outro, num cenário de permanentemente mutável coreografia dos homens em torno do poder. Agora, como diz o Duque Gloster, futuro Ricardo III, tem início o inverno da nossa desesperança. O medo e a guerra entram em cena. O “agora” é, por excelência, o tempo da política, uma vez que ela está sempre se fazendo no dia a dia pela ação humana, criando relações de forças estabilizadoras e desestabilizadoras que se sucedem num movimento cujo desfecho é imponderável.
Pode-se dizer que a obra de Shakespeare, enquanto equivalência dramática, permite encenar autores da filosofia política como Maquiavel, La Boètie, Hobbes e Marx, até chegar em Nietzsche. Este dramaturgo faz parte desta família de pensadores que compreende a política como uma forma moderna de tragédia, ao colocar no palco os agônicos e infindáveis conflitos dos indivíduos e das sociedades. Em Shakespeare, enquanto houver ser humano, vida e sociedade, a política se desenvolverá como tragédia.
Bibliografia
CHAIA, M. A Natureza da Política em Shakespeare e Maquiavel. São Paulo, Revista Estudos Avançados, USP, nº 23, 1995.
FRYE, N. Sobre Shakespeare. São Paulo, Edusp, 1992.
KOTT, J. Shakespeare, Nosso Contemporâneo. São Paulo, Editora Cosac & Naify, 2003.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1969.
SHAKESPEARE, W. Macbeth, tradução de Manuel Bandeira. São Paulo, Editora Brasiliense, 1989.
SHAKESPEARE, W. Ricardo III, tradução Ana Amélia Carneiro de Mendonça e Bárbara Heliodora. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1993.
SHAKESPEARE, W. A Tempestade, tradução de Geraldo Carneiro. Rio de Janeiro, Editora Relume Dumará, 1991.
SHAKESPEARE, W. Hamlet, tradução de Millôr Fernandes. São Paulo, Editora Peixoto Neto, 2004.
Miguel Chaia – professor e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-SP.
Miguel Chaia
Artigo publicado originalmente com o título 'O palco do poder' em Revista Entrelivros - clássicos, nº 2, Ediouro e Duetto editorial, São Paulo, 2006.
A política é um conceito polissêmico e William Shakespeare foi um autor que contribuiu significativamente para delinear uma específica concepção de política. A simples leitura das peças, sua pesquisa e encenação sempre encontraram inúmeras entradas para um mergulho na obra deste dramaturgo. Entre tantas possibilidades, ele propicia uma abordagem política que pode ser construída a partir da seguinte fala de Hamlet: “The time is out of the joint/ O tempo está fora dos eixos”. Não se trata de uma política institucional, pois mesmo que Shakespeare desenvolva seus temas em volta do trono, com personagens envolvidos num embate com o poder, ele nos fala de uma política atravessada pela gravidade e pela disjunção, imprimindo significados distintos à história de uma cidade e de uma nação.
Em movimentos pendulares perpétuos, constituem-se dois caminhos que estruturam e desestruturam as relações de poder nas peças de Shakespeare. O primeiro é delineado pelo par de opostos legitimidade-usurpação, e o segundo pela dupla estabilidade-guerra. A peça Ricardo III é emblemática desses dois movimentos ao compor uma sangrenta trajetória política devido ao desejo e projeto de ruptura institucional e ao apresentar um astuto personagem que se encontra envolvido na Guerra das Duas Rosas, que se deu entre as Casas de York e Lancaster, no século XV. Ao final da peça, com a Batalha de Bosworth Field, que encerra a Idade Média e a Guerra entre as duas casas, tem início uma nova era com Henrique de Richmond, futuro Henrique VII. Este personagem, ao vencer Ricardo III, comemora proferindo um monólogo, no qual aponta para a paz e estabilidade futura da Inglaterra: “Proclamai meu perdão para os soldados / ... / Uniremos as rosas branca e rubra. / Que o céu sorria sobre essa união, / Depois de ter chorado a inimizade. / ... / Curada a chaga, a paz é o nosso bem; / Pra quem a preservar, Deus diga ‘Amém’”.
A quebra da ordem, seja pelo golpe ou pela guerra, desestabiliza a política, retirando-a de seu curso normal, abrindo espaços para os mais diferentes tipos de violência. Neste sentido, tem-se em Shakespeare a aproximação entre política e vida, à medida em que nada separa as duas esferas, uma vez que todos os indivíduos sofrem, direta ou indiretamente, os efeitos das ações políticas, sejam eles os filhos de Henrique IV, Ofélia, Romeu e Julieta, soldados e tantos outros. Esta interrupção da legitimidade não gera medo apenas no governante, mas também amedronta familiares, súditos e governados. Nas obras de Shakespeare, usurpadores e tiranos assustam seus governados: “Oh, horror! Horror! Horror! / Boca nem coração poderão nunca / Nomeá-lo ou concebê-lo!”, grita Macduff, personagem de Macbeth, ao abrir a porta do quarto e ver chão e paredes ensangüentados pelo dilacerado corpo de Duncan, rei legítimo da Escócia, assassinado por trama do casal Macbeth. Com esta peça, Shakespeare deixa entrever não apenas uma visão devastadora que a política pode adquirir, mas aponta, inclusive, para a idéia do poder como armadilha que gera o medo e a insegurança experimentados por todos os personagens quando se rompe com a legitimidade. Este recorte de política privilegiado pelo autor é demarcado pelo tempo desestabilizado.
Se a usurpação dá início a grande parte das peças de Shakespeare, com a devida reposição da ordem no final delas, o mesmo se verifica com relação à guerra, constantemente presente nas suas obras e sendo colocada no começo e no término dos acontecimentos. Macbeth, por exemplo, inicia-se com uma guerra e termina com outra, indicando, no primeiro momento, como o resultado de uma confronto bélico pode deflagrar a instalação de um regime tirânico, pois foi para Macbeth, o general vencedor, que as três bruxas anunciaram que "sereis rei um dia". Num segundo momento, a invasão militar conduzida por Macduff leva a um bom desfecho a tensa e tirânica política interna implantada por Macbeth.
Shakespeare, na peça Macbeth, apresenta uma visão metafórica da guerra colocada numa imagem que afronta a natureza: o movimento das árvores, solidamente fixas no solo. Tanto que para Macbeth "Tal jamais se verá! Que destemido / Pode mandar nas árvores, fazer / Uma floresta inteira obedecer / És suas ordens? Augúrios excelentes! / Rebelião, não me mostreis os dentes / Antes que contra mim toda não ande / De Birnam a floresta. Até lá, o grande / Macbeth há de reinar. Chegará ao fim / Normal de sua vida, como assim / O quer a natureza". Em Macbeth, a guerra, seja ela programada ou inesperada, é fenômeno da continuidade da política interna, da desavença entre Estados vizinhos mas, também, evento que destaca a grandeza e a fragilidade dos seres humanos. Assim, ela desdobra-se em diferentes níveis: afeta a trajetória da vida e também altera as formas do regime político e, ainda, anexa reinos ou Estados vizinhos. A política da guerra, tomada da perspectiva do trono, reúne no mesmo destino homens, governantes e Estado. A guerra em Shakespeare aparece como algo estruturalmente ligado ao tipo de sistema social, como se fosse um fenômeno estreitamente ligado à difícil sociabilidade alcançada pelos homens.
Desta forma, a polarização política-horror e política-paz está intermediada, em Macbeth, pela guerra, que tanto deflagra uma política tirânica quanto pode renovar as esperanças, permitindo a implantação de um novo regime baseado na legitimidade. É nesse sentido que se pode fazer uma leitura da última fala de Malcolm, ao ser introduzido por Macduff como o novo rei da Escócia, após abater Macbeth: "...O que me resta / Por fazer, e que as novas circunstâncias / Pedem venha a cumprir-se, como seja: / Reconduzir ao lar nossos amigos / Que, fugindo às ciladas do tirano, / Tiveram que passar-se ao estrangeiro; / Desembuçar os pérfidos ministros / Do carniceiro morto e da diabólica / Rainha, que, ao que dizem, por suas próprias / Mãos se matou violentas; isto e o mais / Que for mister, farei executar, / Com a graça de Deus, em seu lugar / E tempo. A todo vós, agradecido, / A Scone, à minha coroação convido." Desprende-se desta fala que um novo initium político se fará, inaugurando outro começo; e também indica que o novo esforço político de recondução à ordem exigirá o uso da violência contra os pérfidos inimigos sobreviventes da tirania.
A guerra final, em Macbeth, é iniciada como reação ao governo tirânico deste rei, reunindo conspiradores que desenvolvem atividades políticas e militares com objetivos específicos. Macduff, ao fugir para a Inglaterra, começa a articulação de uma invasão a partir do exterior para derrubar o tirano, associado às ações desenvolvidas por Malcolm. A síntese desta trama encontra-se no ato IV, cena III, que se desenrola na Inglaterra, na Sala no Palácio do Rei. Fala Malcolm: “Procuremos alguma desolada / Sombra e em lágrimas tristes aliviemos / Os nossos corações”. Responde Macduff: “Não! Empunhemos / Nossas mortais espadas: como bravos, / Defendamos a pátria malferida. / Cada nova manhã novas viúvas / Gemem de dor e novos órfãos choram / Novas calamidades bofeteiam / Os céus na face, e eles ressoam como / Se sentissem com a Escócia e os mesmos gritos / De dor soltassem”. Ao saber das ações tirânicas, que incluíam assassinatos de mulheres e crianças, assim Ross se refere à Escócia: “Ai, pobre pátria! / Mal ousa conhecer-se. Nem podemos / Chamar-lhe mãe, que é, antes, sepultura; / Onde ninguém se vê sorrir, exceto / Quem não sabe o que faz; onde suspiros / E lamentos e gritos dilaceram / O ar sem serem notados, e violentas / Dores parecem já triviais pesares...”
Macbeth é um “príncipe novo”, astuto mas sem virtú, conforme descrições de Maquiavel ao analisar o principado obtido pela força das armas, porém com a intemperança na alma que, como fala Macduff, quando ilimitada “é tirania em nós da natureza”. O destino de Macbeth é marcado por dois fatos. O primeiro é a nomeação das bruxas que acenam com uma possibilidade política alimentando a ação de Macbeth, levando-o a confundir-se entre a possibilidade da continuidade da profecia e a sua interrupção. Ao tomar a previsibilidade como uma utopia distanciada, Macbeth deixa-se guiar apenas pela sua natureza de homem intempestivo e pela natureza do poder, não agindo virtuosamente e nem sabendo domar a fortuna, qualidade de um bom príncipe. A tirania é um resultado imediato deste tipo de indivíduo quando se encontra com o poder. O segundo acontecimento marcante é a presença de Lady Macbeth que impulsiona e reforça "as fúrias da tempestade!", conforme antecipa a primeira bruxa. Macbeth e Lady Macbeth configuram a imagem metafórica do trono manchado de sangue, expressando a presença da dualidade “racionalidade masculina-percepção e desejo feminino” nas articulações políticas. Desdobra-se, assim, o par razão-loucura, dificultando ou impossibilitando o equilíbrio temporário necessário ao fluxo normalizado das conjunturas políticas.
O esforço de Macbeth para cumprir a profecia por meio de ações políticas ilícitas voltadas a assegurar seu governo é um indício de que o poder é uma força descomunal, de difícil controle e que pode ser acionado e exercido ou com imprevisibilidade ou através de regras que tendem a impedir o seu descontrole. Macbeth é o exemplo do primeiro caso, quando ocorre um embate cego entre homem e poder. Ao analisar esta peça, Northrop Frye assinala que um rei legítimo pode ser cruel e inescrupuloso e ainda assim permanecer rei mas, ser for fraco ou incompetente, criará um vácuo de poder na sociedade, pois a ordem da natureza e a vontade de Deus exigem um governante forte e centralizador.
Neste sentido, pode-se recuperar a idéia de que o poder como força descomunal engendra uma dimensão de tragédia, onde o medo e o sangue invadem o mundo. Diz Macbeth: “Haverá sangue. / Dizem que o sangue pede sangue...” A peça Macbeth reforça, assim, as dores de uma metamorfose política e a afirmação do mal, que inverterá valores e desordenará uma ordem social. É o caso de se pensar que nesta peça o poder aparece como anjo devastador, que por um período de tempo, durante o reinado de Macbeth, torna a política o reino do horror.
Mesmo considerando a existência de tais tensões e paradoxos, Macbeth sempre será um homem de ação, deflagrando inúmeras tramas políticas que tendem a acelerar e a radicalizar a tirania. Com isso organizam-se oposiçðes e articulações tendo em vista sua deposição. As decisões e ações violentas de Macbeth e Lady Macbeth criam as condições para as, também, violentas reações políticas, resumidas na forma de guerra ofensiva comandada por Macduff e Malcolm. O tempo político instaurado por Macbeth atingiu as circunstâncias da sua própria interrupção, como se observa na seguinte fala de Malcolm: “As nossas forças estão prontas / Para marchar. Só falta despedirmo-nos. / O tirano Macbeth está maduro / Para ser sacudido; e as forças do Alto / Preparados já têm seus instrumentos. /Aceitai o conforto que em tamanha / Dor possa dar-vos nossa simpatia: / Longa é a noite que nunca chega ao dia.” No outro extremo ao reinado de Macbeth pode-se encontrar uma nova política, na qual o governante reconduz ao lar os exilados e dá esperanças aos amigos perseguidos.
Nesta sucessão de conjunturas que avançam em equilíbrio e desequilíbrio, verifica-se que em Shakespeare está presente uma visão de história cíclica, muito próxima à concepção aristotélica, na qual as boas formas de governo e as boas constituições podem se degenerar e, por sua vez, o inverso também acontece com a corrupção sendo eliminada e dando lugar à estabilidade. Assim, o ciclo inicia, termina e reinicia sucessivamente, alternando bons e maus governos. Se Macbeth interrompeu um ciclo legítimo, o seu reinado será cortado pela ação decisiva do próximo governante, no caso Macduff , que implantará um novo governo legítimo.
Em Shakespeare, a “animalidade política” do ser humano, numa outra possível comparação com Aristóteles, e o cenário envolvente do “grande mecanismo”, conforme tese de Jan Kott, são duas referências significativas para se apreender uma concepção específica de existência e de organização política. Assim, pode-se verificar neste dramaturgo que quanto mais as ações humanas se voltam para o poder ou são atraídas por ele, mais perdem o controle das suas ações, até o limite da fuga da razão ou da subjugação da virtuosidade. Nestas circunstâncias todas dadas pela quebra da legitimidade, pela irrupção da guerra e pelo exacerbamento da violência política, os textos de Shakespeare permitem formular um conceito específico, o da política como tragédia.
Do ponto de vista do gênero artístico, Shakespeare produz sob uma nova estrutura trágica, avançando em direção ao drama, forma que surge no período elisabetano sob o capitalismo e cujo foco ainda passa pelo desígnio do destino mas está centrado no indivíduo enquanto protagonista moderno. Hamlet é um bom exemplo desta encruzilhada da qual o dramaturgo quer dar conta, pois o príncipe da Dinamarca se esforça para alterar o fluxo dos acontecimentos, experimentando um dilema ético e vivendo a dúvida quanto ao sucesso dos resultados das suas ações. Trata-se de um personagem fragilizado pelos conflitos internos (produzidos pelas novas sensibilidades do sujeito) e externos (nascidos das podres relações políticas do reino da Dinamarca). Confessa, assim, o dilacerado Hamlet: “Vivo na lua, insensível à minha própria causa, / E não sei fazer nada, mesmo por um rei / Cuja propriedade e vida tão preciosa / Foram arrancadas numa conspiração maldita. / Sou então um covarde? Quem me chama canalha? / Me arrebenta a cabeça, me puxa pelo nariz, / E me enfia a mentira pela goela até o fundo dos pulmões?” Mais tarde, Hamlet deverá pronunciar a clássica fala que expressa claramente esses conflitos do sujeito moderno: “Ser ou não ser, eis a questão. / Será mais nobre sofrer na alma / Pedradas e flechadas do destino feroz / Ou pegar em armas contra o mar de angústias / E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir...” Entretanto, não se deve raciocinar como se as dúvidas hamletianas impedissem a ação. A partir destes conflitos, Hamlet lê e pensa muito, mas também arma estratégias que vão da loucura à encenação teatral para desenvolver o seu projeto de vingança.
Ao se considerar que Shakespeare não trata mais da zona fronteiriça entre deuses e homens mas das fronteiras terrenas e existenciais que pressionam o ser humano, este dramaturgo propicia as referências necessárias para a elaboração do recorte específico da política, ou seja, a política como tragédia, ao estabelecer como seu fundamento o conflito permanente e irresolúvel, motor do conhecimento e da ação humana. Nos textos deste autor, a política é uma personagem maior, estruturante e encenada tragicamente, pois se mostra insuficiente para garantir a ordem permanente e a vida das pessoas. A política é um reino que está fundamentado nos mais diferentes paradoxos, como ordem-ruptura, estabilidade-instabilidade, concórdia-discórdia, paz-guerra e vida-morte. Por isso, em A Tempestade, Shakespeare escreveu: “Somo matéria de que os sonhos são feitos. E a nossa breve vida é circundada pelo sono.” Ou ainda, ampliando de outra forma essa idéia, escreve em Macbeth: “Que a vida / É uma sombra ambulante: um pobre ator / Que gesticula em cena uma hora ou duas / ... / Significando nada”. Se a política é trágica é porque a vida é trágica e, se esta assim se configura, deve-se à natureza do sujeito envolvido, agora, com as contingências modernas. Aliás, as contingências não só cercam os indivíduos no plano existencial mas também limitam as ações políticas. Procura-se mas nunca se encontra o gozo permanente se ele for procurado nas relações sócio-políticas. O funcionamento das instituições e a natureza humana são empecilhos para usufruir a liberdade. Este lado do sujeito e da vida é reforçado pela natureza do poder, apresentado por Shakespeare como uma esfera central de dominação com certo grau de autonomia, deixando atônitos os homens e as mulheres, permanentemente atraídos por ele. Neste sentido, Shakespeare aproxima-se bastante da concepção de política e poder como formulada por Maquiavel, com sua teoria do realismo político que contempla a dinâmica autônoma do poder, a idéia da instabilidade permanente das conjunturas políticas e a imprevisibilidade do desfecho da ação do príncipe. Afinal, Maquiavel diz “que a sorte seja o árbitro da metade das nossas ações, mas que ainda nos deixe governar a outra metade, ou quase”.
A visão de política shakespeariana guarda o tempo das contingências terrenas, como pode ser exemplificado com Ricardo III que começa com um “E agora...”, marcando o encerramento de um ciclo político e o início de outro, num cenário de permanentemente mutável coreografia dos homens em torno do poder. Agora, como diz o Duque Gloster, futuro Ricardo III, tem início o inverno da nossa desesperança. O medo e a guerra entram em cena. O “agora” é, por excelência, o tempo da política, uma vez que ela está sempre se fazendo no dia a dia pela ação humana, criando relações de forças estabilizadoras e desestabilizadoras que se sucedem num movimento cujo desfecho é imponderável.
Pode-se dizer que a obra de Shakespeare, enquanto equivalência dramática, permite encenar autores da filosofia política como Maquiavel, La Boètie, Hobbes e Marx, até chegar em Nietzsche. Este dramaturgo faz parte desta família de pensadores que compreende a política como uma forma moderna de tragédia, ao colocar no palco os agônicos e infindáveis conflitos dos indivíduos e das sociedades. Em Shakespeare, enquanto houver ser humano, vida e sociedade, a política se desenvolverá como tragédia.
Bibliografia
CHAIA, M. A Natureza da Política em Shakespeare e Maquiavel. São Paulo, Revista Estudos Avançados, USP, nº 23, 1995.
FRYE, N. Sobre Shakespeare. São Paulo, Edusp, 1992.
KOTT, J. Shakespeare, Nosso Contemporâneo. São Paulo, Editora Cosac & Naify, 2003.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1969.
SHAKESPEARE, W. Macbeth, tradução de Manuel Bandeira. São Paulo, Editora Brasiliense, 1989.
SHAKESPEARE, W. Ricardo III, tradução Ana Amélia Carneiro de Mendonça e Bárbara Heliodora. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1993.
SHAKESPEARE, W. A Tempestade, tradução de Geraldo Carneiro. Rio de Janeiro, Editora Relume Dumará, 1991.
SHAKESPEARE, W. Hamlet, tradução de Millôr Fernandes. São Paulo, Editora Peixoto Neto, 2004.
Miguel Chaia – professor e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-SP.
Direitos Fundamentais de Quarta Geração
Em luta “contra o racismo, o machismo e a homofobia”. Com esse slogan impresso em sua bandeira colorida, a 11° edição da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo reuniu 3,5 milhões de pessoas neste ano, contra 3 milhões de 2006, dizem os organizadores. A cerimônia oficial de abertura da Parada Gay foi marcada no dia 1º de junho p.p., por críticas à falta de uma legislação que iniba a violência contra os homossexuais.
De acordo com dados fornecidos pela Associação Internacional de Gays e Lésbicas, em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos Internacionais de Gays e Lésbicas, em 1999 foram 169 homossexuais assassinados, em 2000 este número baixou para 130 homicídios. O Brasil, segundo as duas instituições, é o campeão mundial de homicídios contra as minorias sexuais. “A cada dois dias um homossexual é assassinado no Brasil”, disse Luiz Mott, 55, presidente do Grupo Gay da Bahia e professor de antropologia da Universidade Federal da Bahia. Esse número supera o de países como Estados Unidos e Inglaterra onde os crimes de ódio são freqüentes. Neles ainda existem restrições legais à prática homossexual. E preocupante saber que superamos até mesmo países islâmicos e africanos considerados mais homofóbicos, onde há uma legislação punitiva contra os praticantes daquilo que é classificado como “vício dos colonialistas brancos”. Em síntese: em nenhum país do mundo, inclusive na América Latina, são assassinados tantos gays como no Brasil.
O Estado democrático de direito que nasce das lutas burguesas contra o absolutismo tem como princípios norteadores: a supremacia da vontade popular, a igualdade de direitos e a preservação da liberdade. O primeiro, como destaca Dalmo de Abreu Dallari colocou o problema da participação popular no governo. Suscitou acesas controvérsias e deu margem às mais variadas experiências, tanto no tocante à representatividade, quanto à extensão do direito de sufrágio e aos sistemas eleitorais e partidários. O segundo, entendido sobretudo como o poder de fazer tudo o que não incomodasse o próximo e, também, como o poder de dispor de sua pessoa e de seus bens, sem qualquer interferência do Estado. O terceiro, entendido como a proibição de distinções no gozo de direitos, sobretudo por motivos econômicos ou de discriminação entre classes sociais, sexo, etnia, crença.
No Brasil, o debate relativo aos direitos fundamentais de quarta geração – opção sexual e ao biodireito – ainda é muito tímido e polêmico. Poucos avanços tiveram as legislações infraconstitucionais. A resistência de grande parte de nossos congressistas em relação a esses assuntos ainda é fortemente ideológica e preconceituosa. É o que percebe a respeito do tema união homossexual e direitos relativos à previdência e a herança. A Justiça de Goiás reconhece a união entre homossexuais. Por sua vez, o STJ reconheceu em 2005 o direito do companheiro homossexual receber pensão previdenciária por morte. A Justiça do RJ deu guarda ao filho da cantora Cássia Eller, morta em 2001, a sua companheira.
Com tanto preconceito e ódio rondando as minorias, Mott acredita nas campanhas de educação sexual, em punições mais rigorosas e na conscientização pelo respeito à dignidade humana como forma de mudar esse quadro. A expectativa é tirar o Brasil da primeira posição no ranking de crimes contra os homossexuais.
Na verdade, os crimes praticados contra homossexuais são, em grande parte, crimes de ódio. Crimes homofóbicos, tendo como móvel a não aceitação e ódio por parte do agressor em relação à vítima por ser gay, lésbica, travesti ou transexual. O chamado crime de ódio-intolerância contra minorias raciais, sexuais, físicas, religiosas ou políticas- caracteriza-se por insulto, destruição do patrimônio, agressão física e assassinato.
Eventos como a "Parada do Orgulho Gay", em São Paulo, são, na opinião de Mott, uma oportunidade para que a maioria das pessoas se familiarize com a diversidade sexual, aprendendo a desfazer preconceitos por meio da convivência.
Guardemos a intolerância para os políticos corruptos que infestam a nossa pátria cordial.
Em luta “contra o racismo, o machismo e a homofobia”. Com esse slogan impresso em sua bandeira colorida, a 11° edição da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo reuniu 3,5 milhões de pessoas neste ano, contra 3 milhões de 2006, dizem os organizadores. A cerimônia oficial de abertura da Parada Gay foi marcada no dia 1º de junho p.p., por críticas à falta de uma legislação que iniba a violência contra os homossexuais.
De acordo com dados fornecidos pela Associação Internacional de Gays e Lésbicas, em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos Internacionais de Gays e Lésbicas, em 1999 foram 169 homossexuais assassinados, em 2000 este número baixou para 130 homicídios. O Brasil, segundo as duas instituições, é o campeão mundial de homicídios contra as minorias sexuais. “A cada dois dias um homossexual é assassinado no Brasil”, disse Luiz Mott, 55, presidente do Grupo Gay da Bahia e professor de antropologia da Universidade Federal da Bahia. Esse número supera o de países como Estados Unidos e Inglaterra onde os crimes de ódio são freqüentes. Neles ainda existem restrições legais à prática homossexual. E preocupante saber que superamos até mesmo países islâmicos e africanos considerados mais homofóbicos, onde há uma legislação punitiva contra os praticantes daquilo que é classificado como “vício dos colonialistas brancos”. Em síntese: em nenhum país do mundo, inclusive na América Latina, são assassinados tantos gays como no Brasil.
O Estado democrático de direito que nasce das lutas burguesas contra o absolutismo tem como princípios norteadores: a supremacia da vontade popular, a igualdade de direitos e a preservação da liberdade. O primeiro, como destaca Dalmo de Abreu Dallari colocou o problema da participação popular no governo. Suscitou acesas controvérsias e deu margem às mais variadas experiências, tanto no tocante à representatividade, quanto à extensão do direito de sufrágio e aos sistemas eleitorais e partidários. O segundo, entendido sobretudo como o poder de fazer tudo o que não incomodasse o próximo e, também, como o poder de dispor de sua pessoa e de seus bens, sem qualquer interferência do Estado. O terceiro, entendido como a proibição de distinções no gozo de direitos, sobretudo por motivos econômicos ou de discriminação entre classes sociais, sexo, etnia, crença.
No Brasil, o debate relativo aos direitos fundamentais de quarta geração – opção sexual e ao biodireito – ainda é muito tímido e polêmico. Poucos avanços tiveram as legislações infraconstitucionais. A resistência de grande parte de nossos congressistas em relação a esses assuntos ainda é fortemente ideológica e preconceituosa. É o que percebe a respeito do tema união homossexual e direitos relativos à previdência e a herança. A Justiça de Goiás reconhece a união entre homossexuais. Por sua vez, o STJ reconheceu em 2005 o direito do companheiro homossexual receber pensão previdenciária por morte. A Justiça do RJ deu guarda ao filho da cantora Cássia Eller, morta em 2001, a sua companheira.
Com tanto preconceito e ódio rondando as minorias, Mott acredita nas campanhas de educação sexual, em punições mais rigorosas e na conscientização pelo respeito à dignidade humana como forma de mudar esse quadro. A expectativa é tirar o Brasil da primeira posição no ranking de crimes contra os homossexuais.
Na verdade, os crimes praticados contra homossexuais são, em grande parte, crimes de ódio. Crimes homofóbicos, tendo como móvel a não aceitação e ódio por parte do agressor em relação à vítima por ser gay, lésbica, travesti ou transexual. O chamado crime de ódio-intolerância contra minorias raciais, sexuais, físicas, religiosas ou políticas- caracteriza-se por insulto, destruição do patrimônio, agressão física e assassinato.
Eventos como a "Parada do Orgulho Gay", em São Paulo, são, na opinião de Mott, uma oportunidade para que a maioria das pessoas se familiarize com a diversidade sexual, aprendendo a desfazer preconceitos por meio da convivência.
Guardemos a intolerância para os políticos corruptos que infestam a nossa pátria cordial.
Existencialismo – A realização completa da vida humana
O termo existencialismo designa o conjunto de tendências filosóficas que, embora divergentes em vários aspectos, têm na existência humana o ponto de partida e o objeto fundamental de reflexões. Por isso, podemos designá-las mais propriamente filosofias da existência, no plural.
Se refletirmos sobre o que é existir, veremos que existir implica a relação do homem consigo mesmo, com outros seres humanos, com as coisas e com a natureza. São relações múltiplas, concretas e dinâmicas. E também relações determinadas e indeterminadas.
Nas diversas definições elaboradas pelos filósofos existencialistas sobre esses temas, encontramos algumas concepções básicas, cujo traço comum é a visão dramática do destino do homem.
Vejamos alguns traços que caracterizam o existencialismo:
- O ser humano é representado como uma realidade imperfeita, aberta e inacabada, que foi “lançada” ao mundo e vive sob riscos e ameaças.
- A liberdade humana não é plena, mas condicionada às circunstâncias históricas da existência. Nesse sentido, o querer não se identifica ao poder. O homem age no mundo superando ou não os obstáculos que se lhe apresentam.
- A vida humana não é um caminho linear em direção ao progresso, ao êxito e ao crescimento. Ao contrário, é marcada por situações de sofrimento, como a doença, a dor, as injustiças, a luta pela sobrevivência, o fracasso, a velhice e a morte. Assim, não podemos ignorar o sofrimento humano, a angústia interior, a exploração social. É preciso considerar esses aspectos adversos da vida e encará-los de frente.
Filósofos inspiradores do Existencialismo
As filosofias da existência propriamente ditas surgiram no século XX, mas sofreram grande influência do pensamento de alguns filósofos do período anterior. Entre eles destacam-se Schopenhauer, Kierkegaard, Nietzsche e Husserl.
Nietzsche
Friedrich Nietzsche (1844-1900) nasceu em Rocken, uma localidade da Alemanha atual. Filho de um culto pastor protestante, possuía um gênio brilhante, tendo estudado grego, latim, teologia e filosofia. Em 1869, tornou-se professor titular de Filosofia na Basiléia. A partir da leitura de O mundo como vontade e representação, de Schopenhauer, sentiu-se profundamente atraído pelas reflexões filosóficas.
Em sua obra, Nietzsche critica a tradição filosófica ocidental a partir de Sócrates, a quem acusa de ter negado a intuição criadora da filosofia anterior, pré-socrática. Nessa análise, estabelece a distinção entre dois princípios: o apolíneo e o dionisíaco – a partir, respectivamente, de Apolo (deus da razão, da clareza, da ordem) e Dionísio (deus da aventura, da música, da fantasia, da desordem). Para Nietzsche, esses dois princípios ou dimensões complementares da realidade, o apolíneo e o dionisíaco, foram separados na Grécia Socrática, que, optando pelo culto à razão, secou a seiva criadora da filosofia, contida na dimensão dionisíaca.
Posteriormente, Nietzsche desenvolveu uma crítica intensa dos valores morais, propondo uma nova abordagem: a genealogia da moral, isto é, o estudo da origem e da história dos valores morais. A conclusão de Nietzsche foi a de que não existem noções absolutas de bem e mal. Para ele, as concepções morais surgem com os homens, a partir das necessidades dos homens. Ou seja, são produtos da história humana. Os homens são os verdadeiros criadores dos valores morais, sobretudo as religiões, como o judaísmo e o cristianismo para a civilização ocidental, que impõem muitos desses valores humanos como se fossem produto da “vontade de Deus”.
Assim, se compreendermos que os valores presentes em nossa vida são construções humanas, estamos no dever de refletir sobre nossas concepções morais e enfrentar o desafio de viver por nossa própria conta e risco.
Segundo a análise de Nietzsche, no momento em que o cristianismo deixou de ser a “única verdade” para se tornar uma das interpretações possíveis do mundo, toda a civilização ocidental e seus valores absolutos também foram postos em xeque. O próprio Nietzsche disse: “Quem vos fala é o primeiro niilista perfeito da Europa”.
Ser niilista significa não crer em nenhuma verdade moral ou hierarquia de valores pré-estabelecidos. O niilismo de Nietzsche baseava-se na afirmação da “morte de Deus”, isto é, na rejeição à crença de um ser absoluto, transcendental, capaz de traçar “o caminho, a verdade e a vida” para o ser humano.
Apesar desse niilismo em relação aos valores consagrados da civilização, Nietzsche defendia outros valores, afirmativos da vida, capazes de expandir as energias latentes em nós. “Ouse conquistar a si mesmo” talvez seja o grande conselho nietzschiano “àqueles que buscam viver a “liberdade da razão”, sem conformismo, resignação ou submissão.
Husserl
Nasceu a 8 de abril de 1859, na cidade de Preossnitz, situada na Moravia, região que pertencia ao Império Austro-Húngaro. Estudou Matemática e entrou para a Filosofia influenciado pelo filósofo Franz Brentano (1838-1917). Morreu em 1938, aos 79 anos de idade, proibido de Lecionar e perseguido pelos nazistas devido a sua origem judaica. Husserl formulou um método de investigação filosófica conhecida como fenomenologia.
A fenomenologia consiste basicamente na observação e descrição rigorosa do fenômeno, isto é, daquilo que se manifesta, aparece ou se oferece aos sentidos ou à consciência. Dessa maneira, busca-se analisar como se forma, para nós, o campo de nossa experiência. O sujeito deve, portanto, orientar-se por ele.
Conforme analisou o filósofo existencialista francês Merleau-Ponty, Husserl tentou a “reabilitação ontológica do sensível”. Isso significou, na história da filosofia, uma volta às próprias coisas, das quais o sujeito tinha se afastado.
Heidegger
Nascido em Messkirch, na região de Baden, Alemanha, Martin Heidegger (1889-1976) desenvolveu sua formação filosófica na Universidade de Freiburg, onde foi discípulo de Edmund Husserl.
Em sua carreira universitária e filosófica, podemos destacar as seguintes etapas: doutorou-se em Filosofia no ano de 1914; assumiu uma das cátedras de Filosofia na Universidade de Masburg em 1923; publicou, em 1927, uma de sua mais importantes obras, Ser e tempo, em 1929, sucedeu na Universidade de Freiburg a seu antigo mestre Husserl.
Em 1933, ano em que Adolf Hitler se tornou chanceler da Alemanha, Martin Heidegger foi nomeado reitor da Universidade de Freiburg, aderindo formalmente ao Partido Nazista. No discurso que proferiu como reitor, Heidegger anunciou, efusivamente, suas esperanças no nazismo, julgando-o capaz de promover a redenção do povo germânico. Para manter-se coerente com o nazismo, afastou-se do seu antigo amigo Husserl, que era judeu.
Não muito tempo depois, talvez por tomar consciência das crescentes atrocidades praticadas pelos nazistas, Heidegger demitiu-se da reitoria da Universidade de Freiburg. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, buscou o isolamento em sua casa nas montanhas da Floresta Negra. Até sua morte, manteve raros contatos sociais, relacionando-se apenas com reduzido grupo de amigos.
O despertar pela angústia
Um dos objetivos básicos da obra de Heidegger Ser e tempo é investigar o sentido do ser. Para efetuar tal tarefa, começou pela investigação do ser que nós próprios somos. Criando uma terminologia própria, Heidegger denominou o modo de ser do homem, nossa existência, com a palavra Dasein, cujo sentido é ser-aí, estar-aí.
Analisando a vida humana, o filósofo descreveu três etapas básicas que marcam a existência e que, para maioria dos homens, culminam numa existência inautêntica:
• O fato da existência – o homem é “lançado” ao mundo, sem saber por quê. Ao despertar para a consciência da vida, já está aí, sem ter pedido.
• O desenvolvimento da existência – o ser humano estabelece relações com o mundo. Para existir, o homem projeta sua vida e procura agir no campo de suas possibilidades. Assim, move uma busca permanente para realizar aquilo que ainda não é. Em outras palavras, existir é construir um projeto.
• A destruição do eu – tentando realizar seu projeto, o homem sofre a interferência de uma série de fatores adversos que o desviam de seu caminho existencial. Trata-se do confronto do eu com os outros. Um confronto no qual o homem comum é, geralmente derrotado. O seu eu é destruído, arruinado, dissolve-se na massa humana. Em vez de tornar-se si mesmo, o homem torna-se aquilo que os outros desejam. O sentimento profundo que faz o homem despertar da existência inautêntica é a angústia, pois ela revela a nossa impessoalidade no cotidiano, o abandono do nosso próprio eu diante da opressão do mundo como um todo.
O termo existencialismo designa o conjunto de tendências filosóficas que, embora divergentes em vários aspectos, têm na existência humana o ponto de partida e o objeto fundamental de reflexões. Por isso, podemos designá-las mais propriamente filosofias da existência, no plural.
Se refletirmos sobre o que é existir, veremos que existir implica a relação do homem consigo mesmo, com outros seres humanos, com as coisas e com a natureza. São relações múltiplas, concretas e dinâmicas. E também relações determinadas e indeterminadas.
Nas diversas definições elaboradas pelos filósofos existencialistas sobre esses temas, encontramos algumas concepções básicas, cujo traço comum é a visão dramática do destino do homem.
Vejamos alguns traços que caracterizam o existencialismo:
- O ser humano é representado como uma realidade imperfeita, aberta e inacabada, que foi “lançada” ao mundo e vive sob riscos e ameaças.
- A liberdade humana não é plena, mas condicionada às circunstâncias históricas da existência. Nesse sentido, o querer não se identifica ao poder. O homem age no mundo superando ou não os obstáculos que se lhe apresentam.
- A vida humana não é um caminho linear em direção ao progresso, ao êxito e ao crescimento. Ao contrário, é marcada por situações de sofrimento, como a doença, a dor, as injustiças, a luta pela sobrevivência, o fracasso, a velhice e a morte. Assim, não podemos ignorar o sofrimento humano, a angústia interior, a exploração social. É preciso considerar esses aspectos adversos da vida e encará-los de frente.
Filósofos inspiradores do Existencialismo
As filosofias da existência propriamente ditas surgiram no século XX, mas sofreram grande influência do pensamento de alguns filósofos do período anterior. Entre eles destacam-se Schopenhauer, Kierkegaard, Nietzsche e Husserl.
Nietzsche
Friedrich Nietzsche (1844-1900) nasceu em Rocken, uma localidade da Alemanha atual. Filho de um culto pastor protestante, possuía um gênio brilhante, tendo estudado grego, latim, teologia e filosofia. Em 1869, tornou-se professor titular de Filosofia na Basiléia. A partir da leitura de O mundo como vontade e representação, de Schopenhauer, sentiu-se profundamente atraído pelas reflexões filosóficas.
Em sua obra, Nietzsche critica a tradição filosófica ocidental a partir de Sócrates, a quem acusa de ter negado a intuição criadora da filosofia anterior, pré-socrática. Nessa análise, estabelece a distinção entre dois princípios: o apolíneo e o dionisíaco – a partir, respectivamente, de Apolo (deus da razão, da clareza, da ordem) e Dionísio (deus da aventura, da música, da fantasia, da desordem). Para Nietzsche, esses dois princípios ou dimensões complementares da realidade, o apolíneo e o dionisíaco, foram separados na Grécia Socrática, que, optando pelo culto à razão, secou a seiva criadora da filosofia, contida na dimensão dionisíaca.
Posteriormente, Nietzsche desenvolveu uma crítica intensa dos valores morais, propondo uma nova abordagem: a genealogia da moral, isto é, o estudo da origem e da história dos valores morais. A conclusão de Nietzsche foi a de que não existem noções absolutas de bem e mal. Para ele, as concepções morais surgem com os homens, a partir das necessidades dos homens. Ou seja, são produtos da história humana. Os homens são os verdadeiros criadores dos valores morais, sobretudo as religiões, como o judaísmo e o cristianismo para a civilização ocidental, que impõem muitos desses valores humanos como se fossem produto da “vontade de Deus”.
Assim, se compreendermos que os valores presentes em nossa vida são construções humanas, estamos no dever de refletir sobre nossas concepções morais e enfrentar o desafio de viver por nossa própria conta e risco.
Segundo a análise de Nietzsche, no momento em que o cristianismo deixou de ser a “única verdade” para se tornar uma das interpretações possíveis do mundo, toda a civilização ocidental e seus valores absolutos também foram postos em xeque. O próprio Nietzsche disse: “Quem vos fala é o primeiro niilista perfeito da Europa”.
Ser niilista significa não crer em nenhuma verdade moral ou hierarquia de valores pré-estabelecidos. O niilismo de Nietzsche baseava-se na afirmação da “morte de Deus”, isto é, na rejeição à crença de um ser absoluto, transcendental, capaz de traçar “o caminho, a verdade e a vida” para o ser humano.
Apesar desse niilismo em relação aos valores consagrados da civilização, Nietzsche defendia outros valores, afirmativos da vida, capazes de expandir as energias latentes em nós. “Ouse conquistar a si mesmo” talvez seja o grande conselho nietzschiano “àqueles que buscam viver a “liberdade da razão”, sem conformismo, resignação ou submissão.
Husserl
Nasceu a 8 de abril de 1859, na cidade de Preossnitz, situada na Moravia, região que pertencia ao Império Austro-Húngaro. Estudou Matemática e entrou para a Filosofia influenciado pelo filósofo Franz Brentano (1838-1917). Morreu em 1938, aos 79 anos de idade, proibido de Lecionar e perseguido pelos nazistas devido a sua origem judaica. Husserl formulou um método de investigação filosófica conhecida como fenomenologia.
A fenomenologia consiste basicamente na observação e descrição rigorosa do fenômeno, isto é, daquilo que se manifesta, aparece ou se oferece aos sentidos ou à consciência. Dessa maneira, busca-se analisar como se forma, para nós, o campo de nossa experiência. O sujeito deve, portanto, orientar-se por ele.
Conforme analisou o filósofo existencialista francês Merleau-Ponty, Husserl tentou a “reabilitação ontológica do sensível”. Isso significou, na história da filosofia, uma volta às próprias coisas, das quais o sujeito tinha se afastado.
Heidegger
Nascido em Messkirch, na região de Baden, Alemanha, Martin Heidegger (1889-1976) desenvolveu sua formação filosófica na Universidade de Freiburg, onde foi discípulo de Edmund Husserl.
Em sua carreira universitária e filosófica, podemos destacar as seguintes etapas: doutorou-se em Filosofia no ano de 1914; assumiu uma das cátedras de Filosofia na Universidade de Masburg em 1923; publicou, em 1927, uma de sua mais importantes obras, Ser e tempo, em 1929, sucedeu na Universidade de Freiburg a seu antigo mestre Husserl.
Em 1933, ano em que Adolf Hitler se tornou chanceler da Alemanha, Martin Heidegger foi nomeado reitor da Universidade de Freiburg, aderindo formalmente ao Partido Nazista. No discurso que proferiu como reitor, Heidegger anunciou, efusivamente, suas esperanças no nazismo, julgando-o capaz de promover a redenção do povo germânico. Para manter-se coerente com o nazismo, afastou-se do seu antigo amigo Husserl, que era judeu.
Não muito tempo depois, talvez por tomar consciência das crescentes atrocidades praticadas pelos nazistas, Heidegger demitiu-se da reitoria da Universidade de Freiburg. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, buscou o isolamento em sua casa nas montanhas da Floresta Negra. Até sua morte, manteve raros contatos sociais, relacionando-se apenas com reduzido grupo de amigos.
O despertar pela angústia
Um dos objetivos básicos da obra de Heidegger Ser e tempo é investigar o sentido do ser. Para efetuar tal tarefa, começou pela investigação do ser que nós próprios somos. Criando uma terminologia própria, Heidegger denominou o modo de ser do homem, nossa existência, com a palavra Dasein, cujo sentido é ser-aí, estar-aí.
Analisando a vida humana, o filósofo descreveu três etapas básicas que marcam a existência e que, para maioria dos homens, culminam numa existência inautêntica:
• O fato da existência – o homem é “lançado” ao mundo, sem saber por quê. Ao despertar para a consciência da vida, já está aí, sem ter pedido.
• O desenvolvimento da existência – o ser humano estabelece relações com o mundo. Para existir, o homem projeta sua vida e procura agir no campo de suas possibilidades. Assim, move uma busca permanente para realizar aquilo que ainda não é. Em outras palavras, existir é construir um projeto.
• A destruição do eu – tentando realizar seu projeto, o homem sofre a interferência de uma série de fatores adversos que o desviam de seu caminho existencial. Trata-se do confronto do eu com os outros. Um confronto no qual o homem comum é, geralmente derrotado. O seu eu é destruído, arruinado, dissolve-se na massa humana. Em vez de tornar-se si mesmo, o homem torna-se aquilo que os outros desejam. O sentimento profundo que faz o homem despertar da existência inautêntica é a angústia, pois ela revela a nossa impessoalidade no cotidiano, o abandono do nosso próprio eu diante da opressão do mundo como um todo.
Fábrica de Moscas
A obra literária Senhor das Moscas escrita por William Gerald Golding (1911-1993), romancista e poeta inglês, recebeu, em 1983, o prêmio Nobel de Literatura por esse fascinante livro. Essa obra retrata a regressão à selvageria de um grupo de crianças inglesas de um colégio interno, presos em uma ilha deserta sem a supervisão de adultos, após a queda do avião que as transportava para longe da guerra. No início, os meninos apreciam a vida sem a supervisão de adultos e ocupam a maior parte de seu tempo brincando na água e jogando de acordo com a Enciclopédia livre. À medida que decorre a história, Ralph e Jack, protagonistas, confrontam-se pelo poder. Várias crianças são vitimadas por essa disputa política.
Muitos estudiosos apontam que o Senhor das Moscas é um trabalho de filosofia moral. Isso fica evidente, com o cenário parasídiaco da ilha, com toda a água e comida necessários. Golding nos revela nessa obra o cárater anárquico, catódico e sinestésico de uma comunidade de crianças ausentes de autoridade parental.
Autoridade, segundo o Dicionário Houaiss da língua portuguesa, de origem etimológica latina auctor, possui múltiplos significados, dentre os mais importantes, o direito ou poder de ordenar, de decidir, de atuar, de se fazer obedecer.
A necessidade de autoridade é fundamental? O que significa o enfraquecimento ou a destruição da autoridade em nossos dias? Por que clássicos de Homero, Shakespeare, Dostoievski, Kafka, George Orwell, ou mesmo, William Gerald Golding versam sobre o enfraquecimento da autoridade? De fato, essas questões norteiam um tema bastante recorrente nas Ciências Sociais, em específico, da Ciência Política: o excesso, a limitação ou a ausência da autoridade.
Autoridade é fundamental, isso é inegável. Seja por parte do Estado em relação à sociedade; seja por parte dos pais em relação aos filhos. “Assim como é da natureza do homem viver em sociedade, e esta exige o poder, é da natureza do homem desejar e obedecer ao poder. Mas se todos quisessem o poder e não obedecer, ou se todos se resignassem a obedecer e ninguém se dispusesse a mandar, a sociedade se dissolveria”.
Na família, autoridade é essencial na educação dos filhos. Os pais devem criar regras de conduta estimulando as crianças e os adolescentes a reproduzirem tais “mandamentos” em outras instâncias sociais, seja na escola ou no clube.
O sociólogo Richard Sennet (1943-) afirma que as crianças, os adolescentes precisam de autoridades que as orientem e tranqüilizem. Os adultos realizam uma parcela essencial de si ao serem autoridades: é um modo de expressarem interesse por outrem. Há um medo persistente de sermos privados dessa experiência.
Mas o que se constata na atual limitação da autoridade parental é a ausência de regras, ou seja, de disciplina. A psicóloga Viviane Namur Campagna afirma: “a atitude dos pais em geral, na vida, é mais importante do que aquilo que eles de fato se propõem a dizer ou fazer com os filhos”. Os pais muitas vezes querem que os filhos aprendam conceitos que eles na prática não exercem, por exemplo, querem que os filhos aprendam a respeitar os outros quando, na pressa de deixar os mesmos na escola, param em fila dupla ao invés de aguardar sua vez na fila, deixando os filhos em situação de perigo e passando na frente dos outros. Ensinamos assim na prática o ditado maquiavélico: “os fins justificam os meios”.
“Aprender a ter disciplina é aprender conceitos morais indispensáveis para ter um bom-caráter. Ter bom-caráter significa respeitar a si mesmo e aos outros”. Para educar é preciso de fato crer no que se educa e ter para si os mesmos valores e parâmetros. É um trabalho de auto-observação constante, onde a coerência tem que ser sempre procurada. Além de que essa responsabilidade não é delegada a parentes, professores, inspetores, diretores de escola ou outros. Essa responsabilidade são pertencentes ao pais. Esses devem ser firmes em seus propósitos de disciplina, apesar do cansaço e das contestações dos filhos. Exercer autoridade é assim, conquistar admiração e ensinar o respeito ao próximo. Moscas ou homens? Pais, vocês escolhem.
A obra literária Senhor das Moscas escrita por William Gerald Golding (1911-1993), romancista e poeta inglês, recebeu, em 1983, o prêmio Nobel de Literatura por esse fascinante livro. Essa obra retrata a regressão à selvageria de um grupo de crianças inglesas de um colégio interno, presos em uma ilha deserta sem a supervisão de adultos, após a queda do avião que as transportava para longe da guerra. No início, os meninos apreciam a vida sem a supervisão de adultos e ocupam a maior parte de seu tempo brincando na água e jogando de acordo com a Enciclopédia livre. À medida que decorre a história, Ralph e Jack, protagonistas, confrontam-se pelo poder. Várias crianças são vitimadas por essa disputa política.
Muitos estudiosos apontam que o Senhor das Moscas é um trabalho de filosofia moral. Isso fica evidente, com o cenário parasídiaco da ilha, com toda a água e comida necessários. Golding nos revela nessa obra o cárater anárquico, catódico e sinestésico de uma comunidade de crianças ausentes de autoridade parental.
Autoridade, segundo o Dicionário Houaiss da língua portuguesa, de origem etimológica latina auctor, possui múltiplos significados, dentre os mais importantes, o direito ou poder de ordenar, de decidir, de atuar, de se fazer obedecer.
A necessidade de autoridade é fundamental? O que significa o enfraquecimento ou a destruição da autoridade em nossos dias? Por que clássicos de Homero, Shakespeare, Dostoievski, Kafka, George Orwell, ou mesmo, William Gerald Golding versam sobre o enfraquecimento da autoridade? De fato, essas questões norteiam um tema bastante recorrente nas Ciências Sociais, em específico, da Ciência Política: o excesso, a limitação ou a ausência da autoridade.
Autoridade é fundamental, isso é inegável. Seja por parte do Estado em relação à sociedade; seja por parte dos pais em relação aos filhos. “Assim como é da natureza do homem viver em sociedade, e esta exige o poder, é da natureza do homem desejar e obedecer ao poder. Mas se todos quisessem o poder e não obedecer, ou se todos se resignassem a obedecer e ninguém se dispusesse a mandar, a sociedade se dissolveria”.
Na família, autoridade é essencial na educação dos filhos. Os pais devem criar regras de conduta estimulando as crianças e os adolescentes a reproduzirem tais “mandamentos” em outras instâncias sociais, seja na escola ou no clube.
O sociólogo Richard Sennet (1943-) afirma que as crianças, os adolescentes precisam de autoridades que as orientem e tranqüilizem. Os adultos realizam uma parcela essencial de si ao serem autoridades: é um modo de expressarem interesse por outrem. Há um medo persistente de sermos privados dessa experiência.
Mas o que se constata na atual limitação da autoridade parental é a ausência de regras, ou seja, de disciplina. A psicóloga Viviane Namur Campagna afirma: “a atitude dos pais em geral, na vida, é mais importante do que aquilo que eles de fato se propõem a dizer ou fazer com os filhos”. Os pais muitas vezes querem que os filhos aprendam conceitos que eles na prática não exercem, por exemplo, querem que os filhos aprendam a respeitar os outros quando, na pressa de deixar os mesmos na escola, param em fila dupla ao invés de aguardar sua vez na fila, deixando os filhos em situação de perigo e passando na frente dos outros. Ensinamos assim na prática o ditado maquiavélico: “os fins justificam os meios”.
“Aprender a ter disciplina é aprender conceitos morais indispensáveis para ter um bom-caráter. Ter bom-caráter significa respeitar a si mesmo e aos outros”. Para educar é preciso de fato crer no que se educa e ter para si os mesmos valores e parâmetros. É um trabalho de auto-observação constante, onde a coerência tem que ser sempre procurada. Além de que essa responsabilidade não é delegada a parentes, professores, inspetores, diretores de escola ou outros. Essa responsabilidade são pertencentes ao pais. Esses devem ser firmes em seus propósitos de disciplina, apesar do cansaço e das contestações dos filhos. Exercer autoridade é assim, conquistar admiração e ensinar o respeito ao próximo. Moscas ou homens? Pais, vocês escolhem.
Devido à grande abertura proporcionada pela formação do internacionalista, são várias as áreas em que ele pode atuar.
Segundo Fred Halliday, pesquisador da London School of Economics, considerado hoje um dos maiores especialistas na área:
“Os três elementos constitutivos das Relações Internacionais, o interestatal, o transnacional e o sistêmico, permitem muitas especializações e várias abordagens teóricas. Hoje, as RI abrangem como subcampos somados à teoria internacional (isto é, a teorização destes três elementos), os estudos estratégicos, os estudos de conflito e paz, a análise de política externa, a economia política internacional, a organização internacional e um grupo de questões normativas pertinentes à guerra: obrigação, soberania e direitos. A estes subcampos, analiticamente distintos, pode ser somado o das especializações regionais nos quais as abordagens teóricas são aplicadas aos estudos de Estados individuais e de grupos de Estados. Tais subcampos podem não envolver diferentes perspectivas teóricas, mas variam consideravelmente na ênfase relativa atribuída às questões, por exemplo, de ideologia e direito, de economia ou de poder militar. Só nos anos 1980, várias novas questões internacionais foram incorporadas ao âmbito analítico da disciplina e ensinadas em cursos separados: o uso do mar e política de oceanos, mulheres e a arena internacional, as relações internacionais no Terceiro Mundo, as questões ecológicas, as dimensões internacionais da comunicação, dentre outras”.
(Halliday, Fred. Repensando as relações Internacionais. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1999: 22.).
Segundo Fred Halliday, pesquisador da London School of Economics, considerado hoje um dos maiores especialistas na área:
“Os três elementos constitutivos das Relações Internacionais, o interestatal, o transnacional e o sistêmico, permitem muitas especializações e várias abordagens teóricas. Hoje, as RI abrangem como subcampos somados à teoria internacional (isto é, a teorização destes três elementos), os estudos estratégicos, os estudos de conflito e paz, a análise de política externa, a economia política internacional, a organização internacional e um grupo de questões normativas pertinentes à guerra: obrigação, soberania e direitos. A estes subcampos, analiticamente distintos, pode ser somado o das especializações regionais nos quais as abordagens teóricas são aplicadas aos estudos de Estados individuais e de grupos de Estados. Tais subcampos podem não envolver diferentes perspectivas teóricas, mas variam consideravelmente na ênfase relativa atribuída às questões, por exemplo, de ideologia e direito, de economia ou de poder militar. Só nos anos 1980, várias novas questões internacionais foram incorporadas ao âmbito analítico da disciplina e ensinadas em cursos separados: o uso do mar e política de oceanos, mulheres e a arena internacional, as relações internacionais no Terceiro Mundo, as questões ecológicas, as dimensões internacionais da comunicação, dentre outras”.
(Halliday, Fred. Repensando as relações Internacionais. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1999: 22.).
Pinot Noir: Considerado mais leve do que o Merlot e o Cabernet, a variedade de uvas Pinot Noir revela um leve vinho frutado com sugestões de amoras, violetas e temperos bem sutis. Feito em vários países, é caracterizado pelo aroma da terra e uma textura sedosa. Melhor opção para compra: marcas americanas, de Washington ou de Oregon.
Chianti: Um tinto italiano, viçoso e seco, nomeado a partir da região Chianti, na Toscana. Antigamente identificado como garrafas de palha e toalhas xadrez, os Chianti vendidos nos Estados Unidos tornaram-se mais sofisticados e são uma excelente escolha para aqueles que procuram um tinto levemente ácido, mas leve e penetrante. Melhor opção: marcas italianas.
Vinhos tintos são mais vigorosos do que os brancos e portanto uma escolha bem aconchegante durante noites frias como hoje.
Cabernet: Nomeado a partir da clássica variedade de uvas vermelhas, o popular Cabernet é um tinto agradável e vigoroso que pode exibir toques de groselha, carvalho ou cerejas pretas. Fabricado no mundo todo, alguns Cabernets podem ter também toques de cedro e ameixa. Melhor opção para compra: Chilenos, argentinos e da Califórnia.
Cabernet: Nomeado a partir da clássica variedade de uvas vermelhas, o popular Cabernet é um tinto agradável e vigoroso que pode exibir toques de groselha, carvalho ou cerejas pretas. Fabricado no mundo todo, alguns Cabernets podem ter também toques de cedro e ameixa. Melhor opção para compra: Chilenos, argentinos e da Califórnia.
Como muitas coisas na vida, apreciar vinho é uma sensibilidade que se adquire. Muitos que já disseram não se importar tanto com vinho mudaram de ideia quando conheceram safras melhores. Se você pretende ampliar seus horizontes em qualquer aspecto da vida, você precisa estar aberto à experimentação e aproveitar as oportunidades para tentar coisas novas. Você pode ter algumas surpresas ótimas. Um dos obstáculos mais traiçoeiros para o novato sofisticado é a temida carta de vinhos. Apesar de existir um universo de vinhos a explorar, saber o básico deve ajudar você a evitar vacilos ou dar de ombros. Seja num restaurante ou numa adega, a chave é manter uma ou duas escolhas sempre em mente.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
DIMENSÃO POLÍTICA EM SHAKESPEARE
Miguel Chaia
Artigo publicado originalmente com o título 'O palco do poder' em Revista Entrelivros - clássicos, nº 2, Ediouro e Duetto editorial, São Paulo, 2006.
A política é um conceito polissêmico e William Shakespeare foi um autor que contribuiu significativamente para delinear uma específica concepção de política. A simples leitura das peças, sua pesquisa e encenação sempre encontraram inúmeras entradas para um mergulho na obra deste dramaturgo. Entre tantas possibilidades, ele propicia uma abordagem política que pode ser construída a partir da seguinte fala de Hamlet: “The time is out of the joint/ O tempo está fora dos eixos”. Não se trata de uma política institucional, pois mesmo que Shakespeare desenvolva seus temas em volta do trono, com personagens envolvidos num embate com o poder, ele nos fala de uma política atravessada pela gravidade e pela disjunção, imprimindo significados distintos à história de uma cidade e de uma nação.
Em movimentos pendulares perpétuos, constituem-se dois caminhos que estruturam e desestruturam as relações de poder nas peças de Shakespeare. O primeiro é delineado pelo par de opostos legitimidade-usurpação, e o segundo pela dupla estabilidade-guerra. A peça Ricardo III é emblemática desses dois movimentos ao compor uma sangrenta trajetória política devido ao desejo e projeto de ruptura institucional e ao apresentar um astuto personagem que se encontra envolvido na Guerra das Duas Rosas, que se deu entre as Casas de York e Lancaster, no século XV. Ao final da peça, com a Batalha de Bosworth Field, que encerra a Idade Média e a Guerra entre as duas casas, tem início uma nova era com Henrique de Richmond, futuro Henrique VII. Este personagem, ao vencer Ricardo III, comemora proferindo um monólogo, no qual aponta para a paz e estabilidade futura da Inglaterra: “Proclamai meu perdão para os soldados / ... / Uniremos as rosas branca e rubra. / Que o céu sorria sobre essa união, / Depois de ter chorado a inimizade. / ... / Curada a chaga, a paz é o nosso bem; / Pra quem a preservar, Deus diga ‘Amém’”.
A quebra da ordem, seja pelo golpe ou pela guerra, desestabiliza a política, retirando-a de seu curso normal, abrindo espaços para os mais diferentes tipos de violência. Neste sentido, tem-se em Shakespeare a aproximação entre política e vida, à medida em que nada separa as duas esferas, uma vez que todos os indivíduos sofrem, direta ou indiretamente, os efeitos das ações políticas, sejam eles os filhos de Henrique IV, Ofélia, Romeu e Julieta, soldados e tantos outros. Esta interrupção da legitimidade não gera medo apenas no governante, mas também amedronta familiares, súditos e governados. Nas obras de Shakespeare, usurpadores e tiranos assustam seus governados: “Oh, horror! Horror! Horror! / Boca nem coração poderão nunca / Nomeá-lo ou concebê-lo!”, grita Macduff, personagem de Macbeth, ao abrir a porta do quarto e ver chão e paredes ensangüentados pelo dilacerado corpo de Duncan, rei legítimo da Escócia, assassinado por trama do casal Macbeth. Com esta peça, Shakespeare deixa entrever não apenas uma visão devastadora que a política pode adquirir, mas aponta, inclusive, para a idéia do poder como armadilha que gera o medo e a insegurança experimentados por todos os personagens quando se rompe com a legitimidade. Este recorte de política privilegiado pelo autor é demarcado pelo tempo desestabilizado.
Se a usurpação dá início a grande parte das peças de Shakespeare, com a devida reposição da ordem no final delas, o mesmo se verifica com relação à guerra, constantemente presente nas suas obras e sendo colocada no começo e no término dos acontecimentos. Macbeth, por exemplo, inicia-se com uma guerra e termina com outra, indicando, no primeiro momento, como o resultado de uma confronto bélico pode deflagrar a instalação de um regime tirânico, pois foi para Macbeth, o general vencedor, que as três bruxas anunciaram que "sereis rei um dia". Num segundo momento, a invasão militar conduzida por Macduff leva a um bom desfecho a tensa e tirânica política interna implantada por Macbeth.
Shakespeare, na peça Macbeth, apresenta uma visão metafórica da guerra colocada numa imagem que afronta a natureza: o movimento das árvores, solidamente fixas no solo. Tanto que para Macbeth "Tal jamais se verá! Que destemido / Pode mandar nas árvores, fazer / Uma floresta inteira obedecer / És suas ordens? Augúrios excelentes! / Rebelião, não me mostreis os dentes / Antes que contra mim toda não ande / De Birnam a floresta. Até lá, o grande / Macbeth há de reinar. Chegará ao fim / Normal de sua vida, como assim / O quer a natureza". Em Macbeth, a guerra, seja ela programada ou inesperada, é fenômeno da continuidade da política interna, da desavença entre Estados vizinhos mas, também, evento que destaca a grandeza e a fragilidade dos seres humanos. Assim, ela desdobra-se em diferentes níveis: afeta a trajetória da vida e também altera as formas do regime político e, ainda, anexa reinos ou Estados vizinhos. A política da guerra, tomada da perspectiva do trono, reúne no mesmo destino homens, governantes e Estado. A guerra em Shakespeare aparece como algo estruturalmente ligado ao tipo de sistema social, como se fosse um fenômeno estreitamente ligado à difícil sociabilidade alcançada pelos homens.
Desta forma, a polarização política-horror e política-paz está intermediada, em Macbeth, pela guerra, que tanto deflagra uma política tirânica quanto pode renovar as esperanças, permitindo a implantação de um novo regime baseado na legitimidade. É nesse sentido que se pode fazer uma leitura da última fala de Malcolm, ao ser introduzido por Macduff como o novo rei da Escócia, após abater Macbeth: "...O que me resta / Por fazer, e que as novas circunstâncias / Pedem venha a cumprir-se, como seja: / Reconduzir ao lar nossos amigos / Que, fugindo às ciladas do tirano, / Tiveram que passar-se ao estrangeiro; / Desembuçar os pérfidos ministros / Do carniceiro morto e da diabólica / Rainha, que, ao que dizem, por suas próprias / Mãos se matou violentas; isto e o mais / Que for mister, farei executar, / Com a graça de Deus, em seu lugar / E tempo. A todo vós, agradecido, / A Scone, à minha coroação convido." Desprende-se desta fala que um novo initium político se fará, inaugurando outro começo; e também indica que o novo esforço político de recondução à ordem exigirá o uso da violência contra os pérfidos inimigos sobreviventes da tirania.
A guerra final, em Macbeth, é iniciada como reação ao governo tirânico deste rei, reunindo conspiradores que desenvolvem atividades políticas e militares com objetivos específicos. Macduff, ao fugir para a Inglaterra, começa a articulação de uma invasão a partir do exterior para derrubar o tirano, associado às ações desenvolvidas por Malcolm. A síntese desta trama encontra-se no ato IV, cena III, que se desenrola na Inglaterra, na Sala no Palácio do Rei. Fala Malcolm: “Procuremos alguma desolada / Sombra e em lágrimas tristes aliviemos / Os nossos corações”. Responde Macduff: “Não! Empunhemos / Nossas mortais espadas: como bravos, / Defendamos a pátria malferida. / Cada nova manhã novas viúvas / Gemem de dor e novos órfãos choram / Novas calamidades bofeteiam / Os céus na face, e eles ressoam como / Se sentissem com a Escócia e os mesmos gritos / De dor soltassem”. Ao saber das ações tirânicas, que incluíam assassinatos de mulheres e crianças, assim Ross se refere à Escócia: “Ai, pobre pátria! / Mal ousa conhecer-se. Nem podemos / Chamar-lhe mãe, que é, antes, sepultura; / Onde ninguém se vê sorrir, exceto / Quem não sabe o que faz; onde suspiros / E lamentos e gritos dilaceram / O ar sem serem notados, e violentas / Dores parecem já triviais pesares...”
Macbeth é um “príncipe novo”, astuto mas sem virtú, conforme descrições de Maquiavel ao analisar o principado obtido pela força das armas, porém com a intemperança na alma que, como fala Macduff, quando ilimitada “é tirania em nós da natureza”. O destino de Macbeth é marcado por dois fatos. O primeiro é a nomeação das bruxas que acenam com uma possibilidade política alimentando a ação de Macbeth, levando-o a confundir-se entre a possibilidade da continuidade da profecia e a sua interrupção. Ao tomar a previsibilidade como uma utopia distanciada, Macbeth deixa-se guiar apenas pela sua natureza de homem intempestivo e pela natureza do poder, não agindo virtuosamente e nem sabendo domar a fortuna, qualidade de um bom príncipe. A tirania é um resultado imediato deste tipo de indivíduo quando se encontra com o poder. O segundo acontecimento marcante é a presença de Lady Macbeth que impulsiona e reforça "as fúrias da tempestade!", conforme antecipa a primeira bruxa. Macbeth e Lady Macbeth configuram a imagem metafórica do trono manchado de sangue, expressando a presença da dualidade “racionalidade masculina-percepção e desejo feminino” nas articulações políticas. Desdobra-se, assim, o par razão-loucura, dificultando ou impossibilitando o equilíbrio temporário necessário ao fluxo normalizado das conjunturas políticas.
O esforço de Macbeth para cumprir a profecia por meio de ações políticas ilícitas voltadas a assegurar seu governo é um indício de que o poder é uma força descomunal, de difícil controle e que pode ser acionado e exercido ou com imprevisibilidade ou através de regras que tendem a impedir o seu descontrole. Macbeth é o exemplo do primeiro caso, quando ocorre um embate cego entre homem e poder. Ao analisar esta peça, Northrop Frye assinala que um rei legítimo pode ser cruel e inescrupuloso e ainda assim permanecer rei mas, ser for fraco ou incompetente, criará um vácuo de poder na sociedade, pois a ordem da natureza e a vontade de Deus exigem um governante forte e centralizador.
Neste sentido, pode-se recuperar a idéia de que o poder como força descomunal engendra uma dimensão de tragédia, onde o medo e o sangue invadem o mundo. Diz Macbeth: “Haverá sangue. / Dizem que o sangue pede sangue...” A peça Macbeth reforça, assim, as dores de uma metamorfose política e a afirmação do mal, que inverterá valores e desordenará uma ordem social. É o caso de se pensar que nesta peça o poder aparece como anjo devastador, que por um período de tempo, durante o reinado de Macbeth, torna a política o reino do horror.
Mesmo considerando a existência de tais tensões e paradoxos, Macbeth sempre será um homem de ação, deflagrando inúmeras tramas políticas que tendem a acelerar e a radicalizar a tirania. Com isso organizam-se oposiçðes e articulações tendo em vista sua deposição. As decisões e ações violentas de Macbeth e Lady Macbeth criam as condições para as, também, violentas reações políticas, resumidas na forma de guerra ofensiva comandada por Macduff e Malcolm. O tempo político instaurado por Macbeth atingiu as circunstâncias da sua própria interrupção, como se observa na seguinte fala de Malcolm: “As nossas forças estão prontas / Para marchar. Só falta despedirmo-nos. / O tirano Macbeth está maduro / Para ser sacudido; e as forças do Alto / Preparados já têm seus instrumentos. /Aceitai o conforto que em tamanha / Dor possa dar-vos nossa simpatia: / Longa é a noite que nunca chega ao dia.” No outro extremo ao reinado de Macbeth pode-se encontrar uma nova política, na qual o governante reconduz ao lar os exilados e dá esperanças aos amigos perseguidos.
Nesta sucessão de conjunturas que avançam em equilíbrio e desequilíbrio, verifica-se que em Shakespeare está presente uma visão de história cíclica, muito próxima à concepção aristotélica, na qual as boas formas de governo e as boas constituições podem se degenerar e, por sua vez, o inverso também acontece com a corrupção sendo eliminada e dando lugar à estabilidade. Assim, o ciclo inicia, termina e reinicia sucessivamente, alternando bons e maus governos. Se Macbeth interrompeu um ciclo legítimo, o seu reinado será cortado pela ação decisiva do próximo governante, no caso Macduff , que implantará um novo governo legítimo.
Em Shakespeare, a “animalidade política” do ser humano, numa outra possível comparação com Aristóteles, e o cenário envolvente do “grande mecanismo”, conforme tese de Jan Kott, são duas referências significativas para se apreender uma concepção específica de existência e de organização política. Assim, pode-se verificar neste dramaturgo que quanto mais as ações humanas se voltam para o poder ou são atraídas por ele, mais perdem o controle das suas ações, até o limite da fuga da razão ou da subjugação da virtuosidade. Nestas circunstâncias todas dadas pela quebra da legitimidade, pela irrupção da guerra e pelo exacerbamento da violência política, os textos de Shakespeare permitem formular um conceito específico, o da política como tragédia.
Do ponto de vista do gênero artístico, Shakespeare produz sob uma nova estrutura trágica, avançando em direção ao drama, forma que surge no período elisabetano sob o capitalismo e cujo foco ainda passa pelo desígnio do destino mas está centrado no indivíduo enquanto protagonista moderno. Hamlet é um bom exemplo desta encruzilhada da qual o dramaturgo quer dar conta, pois o príncipe da Dinamarca se esforça para alterar o fluxo dos acontecimentos, experimentando um dilema ético e vivendo a dúvida quanto ao sucesso dos resultados das suas ações. Trata-se de um personagem fragilizado pelos conflitos internos (produzidos pelas novas sensibilidades do sujeito) e externos (nascidos das podres relações políticas do reino da Dinamarca). Confessa, assim, o dilacerado Hamlet: “Vivo na lua, insensível à minha própria causa, / E não sei fazer nada, mesmo por um rei / Cuja propriedade e vida tão preciosa / Foram arrancadas numa conspiração maldita. / Sou então um covarde? Quem me chama canalha? / Me arrebenta a cabeça, me puxa pelo nariz, / E me enfia a mentira pela goela até o fundo dos pulmões?” Mais tarde, Hamlet deverá pronunciar a clássica fala que expressa claramente esses conflitos do sujeito moderno: “Ser ou não ser, eis a questão. / Será mais nobre sofrer na alma / Pedradas e flechadas do destino feroz / Ou pegar em armas contra o mar de angústias / E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir...” Entretanto, não se deve raciocinar como se as dúvidas hamletianas impedissem a ação. A partir destes conflitos, Hamlet lê e pensa muito, mas também arma estratégias que vão da loucura à encenação teatral para desenvolver o seu projeto de vingança.
Ao se considerar que Shakespeare não trata mais da zona fronteiriça entre deuses e homens mas das fronteiras terrenas e existenciais que pressionam o ser humano, este dramaturgo propicia as referências necessárias para a elaboração do recorte específico da política, ou seja, a política como tragédia, ao estabelecer como seu fundamento o conflito permanente e irresolúvel, motor do conhecimento e da ação humana. Nos textos deste autor, a política é uma personagem maior, estruturante e encenada tragicamente, pois se mostra insuficiente para garantir a ordem permanente e a vida das pessoas. A política é um reino que está fundamentado nos mais diferentes paradoxos, como ordem-ruptura, estabilidade-instabilidade, concórdia-discórdia, paz-guerra e vida-morte. Por isso, em A Tempestade, Shakespeare escreveu: “Somo matéria de que os sonhos são feitos. E a nossa breve vida é circundada pelo sono.” Ou ainda, ampliando de outra forma essa idéia, escreve em Macbeth: “Que a vida / É uma sombra ambulante: um pobre ator / Que gesticula em cena uma hora ou duas / ... / Significando nada”. Se a política é trágica é porque a vida é trágica e, se esta assim se configura, deve-se à natureza do sujeito envolvido, agora, com as contingências modernas. Aliás, as contingências não só cercam os indivíduos no plano existencial mas também limitam as ações políticas. Procura-se mas nunca se encontra o gozo permanente se ele for procurado nas relações sócio-políticas. O funcionamento das instituições e a natureza humana são empecilhos para usufruir a liberdade. Este lado do sujeito e da vida é reforçado pela natureza do poder, apresentado por Shakespeare como uma esfera central de dominação com certo grau de autonomia, deixando atônitos os homens e as mulheres, permanentemente atraídos por ele. Neste sentido, Shakespeare aproxima-se bastante da concepção de política e poder como formulada por Maquiavel, com sua teoria do realismo político que contempla a dinâmica autônoma do poder, a idéia da instabilidade permanente das conjunturas políticas e a imprevisibilidade do desfecho da ação do príncipe. Afinal, Maquiavel diz “que a sorte seja o árbitro da metade das nossas ações, mas que ainda nos deixe governar a outra metade, ou quase”.
A visão de política shakespeariana guarda o tempo das contingências terrenas, como pode ser exemplificado com Ricardo III que começa com um “E agora...”, marcando o encerramento de um ciclo político e o início de outro, num cenário de permanentemente mutável coreografia dos homens em torno do poder. Agora, como diz o Duque Gloster, futuro Ricardo III, tem início o inverno da nossa desesperança. O medo e a guerra entram em cena. O “agora” é, por excelência, o tempo da política, uma vez que ela está sempre se fazendo no dia a dia pela ação humana, criando relações de forças estabilizadoras e desestabilizadoras que se sucedem num movimento cujo desfecho é imponderável.
Pode-se dizer que a obra de Shakespeare, enquanto equivalência dramática, permite encenar autores da filosofia política como Maquiavel, La Boètie, Hobbes e Marx, até chegar em Nietzsche. Este dramaturgo faz parte desta família de pensadores que compreende a política como uma forma moderna de tragédia, ao colocar no palco os agônicos e infindáveis conflitos dos indivíduos e das sociedades. Em Shakespeare, enquanto houver ser humano, vida e sociedade, a política se desenvolverá como tragédia.
Bibliografia
CHAIA, M. A Natureza da Política em Shakespeare e Maquiavel. São Paulo, Revista Estudos Avançados, USP, nº 23, 1995.
FRYE, N. Sobre Shakespeare. São Paulo, Edusp, 1992.
KOTT, J. Shakespeare, Nosso Contemporâneo. São Paulo, Editora Cosac & Naify, 2003.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1969.
SHAKESPEARE, W. Macbeth, tradução de Manuel Bandeira. São Paulo, Editora Brasiliense, 1989.
SHAKESPEARE, W. Ricardo III, tradução Ana Amélia Carneiro de Mendonça e Bárbara Heliodora. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1993.
SHAKESPEARE, W. A Tempestade, tradução de Geraldo Carneiro. Rio de Janeiro, Editora Relume Dumará, 1991.
SHAKESPEARE, W. Hamlet, tradução de Millôr Fernandes. São Paulo, Editora Peixoto Neto, 2004.
Miguel Chaia – professor e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-SP.
Miguel Chaia
Artigo publicado originalmente com o título 'O palco do poder' em Revista Entrelivros - clássicos, nº 2, Ediouro e Duetto editorial, São Paulo, 2006.
A política é um conceito polissêmico e William Shakespeare foi um autor que contribuiu significativamente para delinear uma específica concepção de política. A simples leitura das peças, sua pesquisa e encenação sempre encontraram inúmeras entradas para um mergulho na obra deste dramaturgo. Entre tantas possibilidades, ele propicia uma abordagem política que pode ser construída a partir da seguinte fala de Hamlet: “The time is out of the joint/ O tempo está fora dos eixos”. Não se trata de uma política institucional, pois mesmo que Shakespeare desenvolva seus temas em volta do trono, com personagens envolvidos num embate com o poder, ele nos fala de uma política atravessada pela gravidade e pela disjunção, imprimindo significados distintos à história de uma cidade e de uma nação.
Em movimentos pendulares perpétuos, constituem-se dois caminhos que estruturam e desestruturam as relações de poder nas peças de Shakespeare. O primeiro é delineado pelo par de opostos legitimidade-usurpação, e o segundo pela dupla estabilidade-guerra. A peça Ricardo III é emblemática desses dois movimentos ao compor uma sangrenta trajetória política devido ao desejo e projeto de ruptura institucional e ao apresentar um astuto personagem que se encontra envolvido na Guerra das Duas Rosas, que se deu entre as Casas de York e Lancaster, no século XV. Ao final da peça, com a Batalha de Bosworth Field, que encerra a Idade Média e a Guerra entre as duas casas, tem início uma nova era com Henrique de Richmond, futuro Henrique VII. Este personagem, ao vencer Ricardo III, comemora proferindo um monólogo, no qual aponta para a paz e estabilidade futura da Inglaterra: “Proclamai meu perdão para os soldados / ... / Uniremos as rosas branca e rubra. / Que o céu sorria sobre essa união, / Depois de ter chorado a inimizade. / ... / Curada a chaga, a paz é o nosso bem; / Pra quem a preservar, Deus diga ‘Amém’”.
A quebra da ordem, seja pelo golpe ou pela guerra, desestabiliza a política, retirando-a de seu curso normal, abrindo espaços para os mais diferentes tipos de violência. Neste sentido, tem-se em Shakespeare a aproximação entre política e vida, à medida em que nada separa as duas esferas, uma vez que todos os indivíduos sofrem, direta ou indiretamente, os efeitos das ações políticas, sejam eles os filhos de Henrique IV, Ofélia, Romeu e Julieta, soldados e tantos outros. Esta interrupção da legitimidade não gera medo apenas no governante, mas também amedronta familiares, súditos e governados. Nas obras de Shakespeare, usurpadores e tiranos assustam seus governados: “Oh, horror! Horror! Horror! / Boca nem coração poderão nunca / Nomeá-lo ou concebê-lo!”, grita Macduff, personagem de Macbeth, ao abrir a porta do quarto e ver chão e paredes ensangüentados pelo dilacerado corpo de Duncan, rei legítimo da Escócia, assassinado por trama do casal Macbeth. Com esta peça, Shakespeare deixa entrever não apenas uma visão devastadora que a política pode adquirir, mas aponta, inclusive, para a idéia do poder como armadilha que gera o medo e a insegurança experimentados por todos os personagens quando se rompe com a legitimidade. Este recorte de política privilegiado pelo autor é demarcado pelo tempo desestabilizado.
Se a usurpação dá início a grande parte das peças de Shakespeare, com a devida reposição da ordem no final delas, o mesmo se verifica com relação à guerra, constantemente presente nas suas obras e sendo colocada no começo e no término dos acontecimentos. Macbeth, por exemplo, inicia-se com uma guerra e termina com outra, indicando, no primeiro momento, como o resultado de uma confronto bélico pode deflagrar a instalação de um regime tirânico, pois foi para Macbeth, o general vencedor, que as três bruxas anunciaram que "sereis rei um dia". Num segundo momento, a invasão militar conduzida por Macduff leva a um bom desfecho a tensa e tirânica política interna implantada por Macbeth.
Shakespeare, na peça Macbeth, apresenta uma visão metafórica da guerra colocada numa imagem que afronta a natureza: o movimento das árvores, solidamente fixas no solo. Tanto que para Macbeth "Tal jamais se verá! Que destemido / Pode mandar nas árvores, fazer / Uma floresta inteira obedecer / És suas ordens? Augúrios excelentes! / Rebelião, não me mostreis os dentes / Antes que contra mim toda não ande / De Birnam a floresta. Até lá, o grande / Macbeth há de reinar. Chegará ao fim / Normal de sua vida, como assim / O quer a natureza". Em Macbeth, a guerra, seja ela programada ou inesperada, é fenômeno da continuidade da política interna, da desavença entre Estados vizinhos mas, também, evento que destaca a grandeza e a fragilidade dos seres humanos. Assim, ela desdobra-se em diferentes níveis: afeta a trajetória da vida e também altera as formas do regime político e, ainda, anexa reinos ou Estados vizinhos. A política da guerra, tomada da perspectiva do trono, reúne no mesmo destino homens, governantes e Estado. A guerra em Shakespeare aparece como algo estruturalmente ligado ao tipo de sistema social, como se fosse um fenômeno estreitamente ligado à difícil sociabilidade alcançada pelos homens.
Desta forma, a polarização política-horror e política-paz está intermediada, em Macbeth, pela guerra, que tanto deflagra uma política tirânica quanto pode renovar as esperanças, permitindo a implantação de um novo regime baseado na legitimidade. É nesse sentido que se pode fazer uma leitura da última fala de Malcolm, ao ser introduzido por Macduff como o novo rei da Escócia, após abater Macbeth: "...O que me resta / Por fazer, e que as novas circunstâncias / Pedem venha a cumprir-se, como seja: / Reconduzir ao lar nossos amigos / Que, fugindo às ciladas do tirano, / Tiveram que passar-se ao estrangeiro; / Desembuçar os pérfidos ministros / Do carniceiro morto e da diabólica / Rainha, que, ao que dizem, por suas próprias / Mãos se matou violentas; isto e o mais / Que for mister, farei executar, / Com a graça de Deus, em seu lugar / E tempo. A todo vós, agradecido, / A Scone, à minha coroação convido." Desprende-se desta fala que um novo initium político se fará, inaugurando outro começo; e também indica que o novo esforço político de recondução à ordem exigirá o uso da violência contra os pérfidos inimigos sobreviventes da tirania.
A guerra final, em Macbeth, é iniciada como reação ao governo tirânico deste rei, reunindo conspiradores que desenvolvem atividades políticas e militares com objetivos específicos. Macduff, ao fugir para a Inglaterra, começa a articulação de uma invasão a partir do exterior para derrubar o tirano, associado às ações desenvolvidas por Malcolm. A síntese desta trama encontra-se no ato IV, cena III, que se desenrola na Inglaterra, na Sala no Palácio do Rei. Fala Malcolm: “Procuremos alguma desolada / Sombra e em lágrimas tristes aliviemos / Os nossos corações”. Responde Macduff: “Não! Empunhemos / Nossas mortais espadas: como bravos, / Defendamos a pátria malferida. / Cada nova manhã novas viúvas / Gemem de dor e novos órfãos choram / Novas calamidades bofeteiam / Os céus na face, e eles ressoam como / Se sentissem com a Escócia e os mesmos gritos / De dor soltassem”. Ao saber das ações tirânicas, que incluíam assassinatos de mulheres e crianças, assim Ross se refere à Escócia: “Ai, pobre pátria! / Mal ousa conhecer-se. Nem podemos / Chamar-lhe mãe, que é, antes, sepultura; / Onde ninguém se vê sorrir, exceto / Quem não sabe o que faz; onde suspiros / E lamentos e gritos dilaceram / O ar sem serem notados, e violentas / Dores parecem já triviais pesares...”
Macbeth é um “príncipe novo”, astuto mas sem virtú, conforme descrições de Maquiavel ao analisar o principado obtido pela força das armas, porém com a intemperança na alma que, como fala Macduff, quando ilimitada “é tirania em nós da natureza”. O destino de Macbeth é marcado por dois fatos. O primeiro é a nomeação das bruxas que acenam com uma possibilidade política alimentando a ação de Macbeth, levando-o a confundir-se entre a possibilidade da continuidade da profecia e a sua interrupção. Ao tomar a previsibilidade como uma utopia distanciada, Macbeth deixa-se guiar apenas pela sua natureza de homem intempestivo e pela natureza do poder, não agindo virtuosamente e nem sabendo domar a fortuna, qualidade de um bom príncipe. A tirania é um resultado imediato deste tipo de indivíduo quando se encontra com o poder. O segundo acontecimento marcante é a presença de Lady Macbeth que impulsiona e reforça "as fúrias da tempestade!", conforme antecipa a primeira bruxa. Macbeth e Lady Macbeth configuram a imagem metafórica do trono manchado de sangue, expressando a presença da dualidade “racionalidade masculina-percepção e desejo feminino” nas articulações políticas. Desdobra-se, assim, o par razão-loucura, dificultando ou impossibilitando o equilíbrio temporário necessário ao fluxo normalizado das conjunturas políticas.
O esforço de Macbeth para cumprir a profecia por meio de ações políticas ilícitas voltadas a assegurar seu governo é um indício de que o poder é uma força descomunal, de difícil controle e que pode ser acionado e exercido ou com imprevisibilidade ou através de regras que tendem a impedir o seu descontrole. Macbeth é o exemplo do primeiro caso, quando ocorre um embate cego entre homem e poder. Ao analisar esta peça, Northrop Frye assinala que um rei legítimo pode ser cruel e inescrupuloso e ainda assim permanecer rei mas, ser for fraco ou incompetente, criará um vácuo de poder na sociedade, pois a ordem da natureza e a vontade de Deus exigem um governante forte e centralizador.
Neste sentido, pode-se recuperar a idéia de que o poder como força descomunal engendra uma dimensão de tragédia, onde o medo e o sangue invadem o mundo. Diz Macbeth: “Haverá sangue. / Dizem que o sangue pede sangue...” A peça Macbeth reforça, assim, as dores de uma metamorfose política e a afirmação do mal, que inverterá valores e desordenará uma ordem social. É o caso de se pensar que nesta peça o poder aparece como anjo devastador, que por um período de tempo, durante o reinado de Macbeth, torna a política o reino do horror.
Mesmo considerando a existência de tais tensões e paradoxos, Macbeth sempre será um homem de ação, deflagrando inúmeras tramas políticas que tendem a acelerar e a radicalizar a tirania. Com isso organizam-se oposiçðes e articulações tendo em vista sua deposição. As decisões e ações violentas de Macbeth e Lady Macbeth criam as condições para as, também, violentas reações políticas, resumidas na forma de guerra ofensiva comandada por Macduff e Malcolm. O tempo político instaurado por Macbeth atingiu as circunstâncias da sua própria interrupção, como se observa na seguinte fala de Malcolm: “As nossas forças estão prontas / Para marchar. Só falta despedirmo-nos. / O tirano Macbeth está maduro / Para ser sacudido; e as forças do Alto / Preparados já têm seus instrumentos. /Aceitai o conforto que em tamanha / Dor possa dar-vos nossa simpatia: / Longa é a noite que nunca chega ao dia.” No outro extremo ao reinado de Macbeth pode-se encontrar uma nova política, na qual o governante reconduz ao lar os exilados e dá esperanças aos amigos perseguidos.
Nesta sucessão de conjunturas que avançam em equilíbrio e desequilíbrio, verifica-se que em Shakespeare está presente uma visão de história cíclica, muito próxima à concepção aristotélica, na qual as boas formas de governo e as boas constituições podem se degenerar e, por sua vez, o inverso também acontece com a corrupção sendo eliminada e dando lugar à estabilidade. Assim, o ciclo inicia, termina e reinicia sucessivamente, alternando bons e maus governos. Se Macbeth interrompeu um ciclo legítimo, o seu reinado será cortado pela ação decisiva do próximo governante, no caso Macduff , que implantará um novo governo legítimo.
Em Shakespeare, a “animalidade política” do ser humano, numa outra possível comparação com Aristóteles, e o cenário envolvente do “grande mecanismo”, conforme tese de Jan Kott, são duas referências significativas para se apreender uma concepção específica de existência e de organização política. Assim, pode-se verificar neste dramaturgo que quanto mais as ações humanas se voltam para o poder ou são atraídas por ele, mais perdem o controle das suas ações, até o limite da fuga da razão ou da subjugação da virtuosidade. Nestas circunstâncias todas dadas pela quebra da legitimidade, pela irrupção da guerra e pelo exacerbamento da violência política, os textos de Shakespeare permitem formular um conceito específico, o da política como tragédia.
Do ponto de vista do gênero artístico, Shakespeare produz sob uma nova estrutura trágica, avançando em direção ao drama, forma que surge no período elisabetano sob o capitalismo e cujo foco ainda passa pelo desígnio do destino mas está centrado no indivíduo enquanto protagonista moderno. Hamlet é um bom exemplo desta encruzilhada da qual o dramaturgo quer dar conta, pois o príncipe da Dinamarca se esforça para alterar o fluxo dos acontecimentos, experimentando um dilema ético e vivendo a dúvida quanto ao sucesso dos resultados das suas ações. Trata-se de um personagem fragilizado pelos conflitos internos (produzidos pelas novas sensibilidades do sujeito) e externos (nascidos das podres relações políticas do reino da Dinamarca). Confessa, assim, o dilacerado Hamlet: “Vivo na lua, insensível à minha própria causa, / E não sei fazer nada, mesmo por um rei / Cuja propriedade e vida tão preciosa / Foram arrancadas numa conspiração maldita. / Sou então um covarde? Quem me chama canalha? / Me arrebenta a cabeça, me puxa pelo nariz, / E me enfia a mentira pela goela até o fundo dos pulmões?” Mais tarde, Hamlet deverá pronunciar a clássica fala que expressa claramente esses conflitos do sujeito moderno: “Ser ou não ser, eis a questão. / Será mais nobre sofrer na alma / Pedradas e flechadas do destino feroz / Ou pegar em armas contra o mar de angústias / E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir...” Entretanto, não se deve raciocinar como se as dúvidas hamletianas impedissem a ação. A partir destes conflitos, Hamlet lê e pensa muito, mas também arma estratégias que vão da loucura à encenação teatral para desenvolver o seu projeto de vingança.
Ao se considerar que Shakespeare não trata mais da zona fronteiriça entre deuses e homens mas das fronteiras terrenas e existenciais que pressionam o ser humano, este dramaturgo propicia as referências necessárias para a elaboração do recorte específico da política, ou seja, a política como tragédia, ao estabelecer como seu fundamento o conflito permanente e irresolúvel, motor do conhecimento e da ação humana. Nos textos deste autor, a política é uma personagem maior, estruturante e encenada tragicamente, pois se mostra insuficiente para garantir a ordem permanente e a vida das pessoas. A política é um reino que está fundamentado nos mais diferentes paradoxos, como ordem-ruptura, estabilidade-instabilidade, concórdia-discórdia, paz-guerra e vida-morte. Por isso, em A Tempestade, Shakespeare escreveu: “Somo matéria de que os sonhos são feitos. E a nossa breve vida é circundada pelo sono.” Ou ainda, ampliando de outra forma essa idéia, escreve em Macbeth: “Que a vida / É uma sombra ambulante: um pobre ator / Que gesticula em cena uma hora ou duas / ... / Significando nada”. Se a política é trágica é porque a vida é trágica e, se esta assim se configura, deve-se à natureza do sujeito envolvido, agora, com as contingências modernas. Aliás, as contingências não só cercam os indivíduos no plano existencial mas também limitam as ações políticas. Procura-se mas nunca se encontra o gozo permanente se ele for procurado nas relações sócio-políticas. O funcionamento das instituições e a natureza humana são empecilhos para usufruir a liberdade. Este lado do sujeito e da vida é reforçado pela natureza do poder, apresentado por Shakespeare como uma esfera central de dominação com certo grau de autonomia, deixando atônitos os homens e as mulheres, permanentemente atraídos por ele. Neste sentido, Shakespeare aproxima-se bastante da concepção de política e poder como formulada por Maquiavel, com sua teoria do realismo político que contempla a dinâmica autônoma do poder, a idéia da instabilidade permanente das conjunturas políticas e a imprevisibilidade do desfecho da ação do príncipe. Afinal, Maquiavel diz “que a sorte seja o árbitro da metade das nossas ações, mas que ainda nos deixe governar a outra metade, ou quase”.
A visão de política shakespeariana guarda o tempo das contingências terrenas, como pode ser exemplificado com Ricardo III que começa com um “E agora...”, marcando o encerramento de um ciclo político e o início de outro, num cenário de permanentemente mutável coreografia dos homens em torno do poder. Agora, como diz o Duque Gloster, futuro Ricardo III, tem início o inverno da nossa desesperança. O medo e a guerra entram em cena. O “agora” é, por excelência, o tempo da política, uma vez que ela está sempre se fazendo no dia a dia pela ação humana, criando relações de forças estabilizadoras e desestabilizadoras que se sucedem num movimento cujo desfecho é imponderável.
Pode-se dizer que a obra de Shakespeare, enquanto equivalência dramática, permite encenar autores da filosofia política como Maquiavel, La Boètie, Hobbes e Marx, até chegar em Nietzsche. Este dramaturgo faz parte desta família de pensadores que compreende a política como uma forma moderna de tragédia, ao colocar no palco os agônicos e infindáveis conflitos dos indivíduos e das sociedades. Em Shakespeare, enquanto houver ser humano, vida e sociedade, a política se desenvolverá como tragédia.
Bibliografia
CHAIA, M. A Natureza da Política em Shakespeare e Maquiavel. São Paulo, Revista Estudos Avançados, USP, nº 23, 1995.
FRYE, N. Sobre Shakespeare. São Paulo, Edusp, 1992.
KOTT, J. Shakespeare, Nosso Contemporâneo. São Paulo, Editora Cosac & Naify, 2003.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 1969.
SHAKESPEARE, W. Macbeth, tradução de Manuel Bandeira. São Paulo, Editora Brasiliense, 1989.
SHAKESPEARE, W. Ricardo III, tradução Ana Amélia Carneiro de Mendonça e Bárbara Heliodora. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1993.
SHAKESPEARE, W. A Tempestade, tradução de Geraldo Carneiro. Rio de Janeiro, Editora Relume Dumará, 1991.
SHAKESPEARE, W. Hamlet, tradução de Millôr Fernandes. São Paulo, Editora Peixoto Neto, 2004.
Miguel Chaia – professor e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-SP.
sábado, 18 de fevereiro de 2012
Os Think Tanks e sua influência na política externa dos EUA - a arte de pensar o impensável
Maurício Santoro
Doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e membro da carreira do funcionalismo federal de especialista em políticas públicas e gestão governamental. Lecionou Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas (FGV), na Universidade Candido Mendes e na Academia Militar das Agulhas Negras. E-mail:msantoro@iuperj.br.
TEIXEIRA, Tatiana. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2007, 268 páginas.
Estima-se que existam cerca de 1.500 think tanks nos Estados Unidos da América (EUA), com forte influência sobre as políticas públicas, mas o fenômeno ainda é tão mal compreendido que sequer há uma definição consensual do que são essas organizações. O livro Os think tanks e sua influência na política externa dos EUA - a arte de pensar o impensável, da jornalista Tatiana Teixeira, preenche importante lacuna nas pesquisas realizadas no Brasil. A obra é fruto da Dissertação de Mestrado em Relações Internacionais defendida pela autora na Universidade Federal Fluminense (UFF) e laureada pela embaixada norte-americana com o Prêmio Franklin Roosevelt 2007, concedido a trabalhos sobre os Estados Unidos.
Tatiana Teixeira aborda primordialmente o papel dos think tanks neoconservadores norte-americanos na conjuntura política pós-11 de setembro - oportunidade privilegiada para compreender as disputas por poder e influência na formulação da política externa dos EUA. O medo disseminado após os atentados criou a oportunidade para a implementação de uma agenda diplomática formulada em grande medida em instituições como Heritage e Project for the New American Century, que há anos refletiam sobre assuntos como o combate ao terrorismo e pregavam a derrubada de regimes políticos no Oriente Médio, quando estes fossem hostis aos Estados Unidos.
Contudo, o livro de Tatiana Teixeira vai muito além desse aspecto e examina o surgimento e o desenvolvimento dos think tanks, mostrando as transformações pelas quais passaram ao longo do tempo. A autora começa com um sumário das abordagens teóricas sobre o papel das idéias e dos intelectuais na ação política, recorrendo a Pierre Bourdieu, Karl Mannheim e Michel Foucault, entre outros. Examina o "poder simbólico" exercido pelas idéias nos conflitos de interesses, mas também ressalta o quanto o pensamento pode ser manipulado para referendar decisões que já haviam sido tomadas de antemão.
Em seguida, examina os diversos papéis que os especialistas acadêmicos podem desempenhar nos think tanks, identificando seis tipos principais (p. 71-72). Os mais importantes são os scholar-statesman, que ocuparam altos cargos no governo, no Conselho de Segurança Nacional, no Departamento de Estado ou no Pentágono. Em seguida, vêm os policy specialists, cuja área de atuação está restrita a um nicho particular das políticas públicas e em geral estão envolvidos sobretudo com pesquisa acadêmica de longo prazo. A autora distingue-os dos policy consultants, que trabalham no curto prazo e estão mais voltados ao atendimento de seus clientes do que ao diálogo com o público em geral. Os government experts usam seus cargos burocráticos para participar no debate político a partir de uma posição de poder. A autora também examina os policy interpreters, que "buscam espaço nos editoriais dos jornais, telejornais ou programas de entrevistas. Os veículos de comunicação dependem desses especialistas para dar uma aparência de profundidade, diversidade, equilíbrio e isenção a sua cobertura diária" (p. 71). Por fim, há os policy enterpreneurs, dedicados à criação de instituições e à fundação de think tanks.
Assim como os intelectuais exercem diversas tarefas nos think tanks, essas instituições também desempenharam funções distintas na cena pública ao longo do século XX. Tatiana Teixeira avalia que existem quatro ondas principais na história dessas organizações (p. 86-95). A primeira acompanha a "era progressista" do início do século XX e é marcada pela ascensão dos Estados Unidos ao papel de grande potência, com a criação de think tanks como Council on Foreign Relations e Brookings Institution. Funcionavam como "universidades sem alunos", e destacava-se sua pesquisa acadêmica de alta qualidade.
A segunda dá-se no bojo do surgimento do complexo industrial-militar norte-americano na Segunda Guerra Mundial e no início da Guerra Fria, quando "fez-se necessária a emergência de analistas capazes de entender, prever e dialogar com um mundo em transformação e cheio de incógnitas a serem respondidas" (p. 87). O think tankclássico dessa fase é a RAND Corporation.
Já os anos 1960 e 1970 são marcados pela cisão da elite norte-americana, com os conflitos em torno da Guerra do Vietnã, dos problemas sociais dos EUA e dos embates políticos e culturais entre esquerda e direita. Marco dos chamados advocacy think tanks, assim caracterizados pela autora: "A partir de uma espécie de 'filosofia Wal Mart', com idéias expostas como as mercadorias na prateleira de uma grande loja, os advocacy think tanksseguem um programa ideológico preciso com recomendações operacionais para influenciar quem é influente" (p. 137). São dessa época o Heritage, o Cato e o Center for Strategic and International Studies (CSIS).
Por fim, a quarta onda nasce com o fortalecimento dos conservadores no governo Reagan e nela se destacam instituições como Bradley e Smith Richardson. Os advocacy think tanks passam a dedicar-se cada vez mais aomarketing de idéias, com ampla capacidade de influenciar a agenda pública, seja por contatos no governo, seja pelos meios de comunicação.
Os think tanks exercem diversas funções. A mais conhecida é pautar o debate político por meio da publicação de estudos, artigos de opinião e da participação de seus membros na mídia. A mistura entre pesquisa e advocacy faz deles a ponte entre conhecimento e poder. No sistema político altamente fragmentado dos Estados Unidos, osthink tanks assumem tarefas de representação de diversos grupos de interesses, embora muitas vezes com pouca transparência com relação a como são financiados. O discurso de que defendem o "interesse público" não se sustenta diante dos nexos existentes entre essas organizações, conglomerados econômicos ou partidos políticos. Seu poder é ilustrado por citação bem-humorada do jornalista Steve Waters: "Como você muda o mundo? Bem, existem os caminhos óbvios, como tomar o poder, ser absurdamente rico ou trabalhar pesado por meio do processo eleitoral. E existem os atalhos, como o terrorismo ou formar um think tank" (p. 105).
Tatiana Teixeira chama a atenção para a função de "incubador ou reciclador de talentos" exercida pelos think tanks ao funcionar como "um local de entressafra para que aqueles que deixaram o poder tenham onde formular, elaborar e difundir suas idéias, mantendo-se na ativa, sem cair no esquecimento, e trocando experiências com os membros permanentes dessas organizações" (p. 117), observando também que "é raro hoje alguém chegar ao primeiro e segundo escalões do governo, nas áreas de política externa e segurança nacional, sem já ter passado ou estar vinculado a algum think tank" (p. 119).
O tipo de rede de contatos pessoais formada a partir desse tipo de instituição é conhecida como revolving door:
O processo de exercer influência é interessante, porque tem efeito circular. Chega-se ao ponto de onde se saiu. Laconicamente os passos dados são: escrever livros, depor no Congresso, conseguir contatos informais no Capitólio ou na Casa Branca e na imprensa, fazer conferências e aparecer na mídia, onde os integrantes dos think tanks são reconhecidos como autoridade legítima para comentar questões políticas. (p. 149).
Uma vez examinados esses elementos gerais, a autora estuda o caso dos neoconservadores no governo George W. Bush. Ela narra a história da formação dessa corrente ideológica, começando pelos progressistas desiludidos com os rumos da esquerda, a partir dos anos 1960/1970. A autora aponta que suas decepções os levaram a defender a retomada de valores conservadores, como maior espaço para a religião na vida pública, e analisa sua convergência e divergência com outras tendências da direita norte-americana, em particular os movimentos cristãos. Destaca-se o maior ativismo dos neoconservadores com a promoção da democracia no exterior e suas posturas mais flexíveis com relação à economia - não compartilham, por exemplo, da adesão ao livre-comércio que caracteriza a ideologia conservadora nos EUA.
A autora afirma que o casamento entre os neoconservadores e os outros ramos da direita norte-americana foi celebrado durante o governo Reagan. Contudo, nas administrações seguintes, os neoconservadores afastaram-se dos cargos mais importantes, embora tenham se dedicado a aperfeiçoar suas ferramentas de luta política:
Embora tenham ficado afastados do poder nos anos 90, tanto no governo de George H. W. Bush (de 1989-93), quanto no de Bill Clinton (1993-2001), os neocons aproveitaram esse período para construir e consolidar um eficiente método voltado para a batalha das idéias, graças a uma densa infra-estrutura intelectual, com nomes de alto calibre, da qual os think tanks fazem parte. (p. 166).
Em seguida, Tatiana Teixeira examina em detalhes o funcionamento dos principais think tanks dos neoconservadores como Heritage, American Enterprise Institute e Project for the New American Century. Ela questiona a qualidade da pesquisa desenvolvida por essas instituições, afirmando que muitas vezes se trata mais da reafirmação de posições políticas, com forte visibilidade na mídia: "Os críticos afirmam que se trata, na verdade, de uma loja de conveniência de idéias, com material de qualidade duvidosa, mas com incontestável e incrível capacidade de marketing" (p. 210).
Jornalista experiente, com passagens pelo jornal O Globo, pela Agência EFE e atualmente na France Press, a autora discute o perigoso papel que a mídia desempenha na ponte entre os think tanks e as políticas públicas, mostrando como muitas vezes repórteres com prazos apertados sucumbem à pressa e preferem dar voz aos articulados membros dessas organizações, em vez de estimular a reflexão cautelosa e ponderada sobre os temas internacionais. O recurso exagerado aos media doctors empobrece o nível das reflexões e dá margem à captura da agenda pública por parte de camarilhas políticas atentas à importância de influenciar os meios de comunicação.
Em suas considerações finais, Tatiana Teixeira destaca a internacionalização crescente dos think tanks, com o modelo norte-americano disseminando-se para outros países. Ela defende a ampliação do leque ideológico dessas organizações como uma garantia de que estimularão o debate democrático de idéias, observando com preocupação que seu caráter está cada vez mais voltado para advocacy do que para pesquisa objetiva. A autora observa que os think tanks cumprem funções democráticas positivas, como "sistematizar as idéias que circulam no meio político" (p. 225, em negrito no original). Entretanto, é preciso mais diversidade nas discussões:
Logo, a saída parece ser a variedade de instituições para democratizar o debate e fomentar a vitalidade intelectual, para que a Política Externa norte-americana rejuvenesça com novas idéias, ao contrário de reciclar de maneira contínua antigos conceitos, que claramente não se aplicam ao atual mundo em estágio transitório. (p. 225, em negrito no original).
No contexto atual dos Estados Unidos, tal diversificação significa questionar a hegemonia conservadora sobre a agenda pública. No que toca à política externa, Tatiana Teixeira chama a atenção para os impactos catastróficos da guerra do Iraque e as críticas internacionais que o conflito provocou com relação às estratégias de segurança nacional formuladas por Washington.
Resenha recebida em janeiro e aprovada para publicação em agosto de 2008.
Maurício Santoro
Doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e membro da carreira do funcionalismo federal de especialista em políticas públicas e gestão governamental. Lecionou Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas (FGV), na Universidade Candido Mendes e na Academia Militar das Agulhas Negras. E-mail:msantoro@iuperj.br.
TEIXEIRA, Tatiana. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2007, 268 páginas.
Estima-se que existam cerca de 1.500 think tanks nos Estados Unidos da América (EUA), com forte influência sobre as políticas públicas, mas o fenômeno ainda é tão mal compreendido que sequer há uma definição consensual do que são essas organizações. O livro Os think tanks e sua influência na política externa dos EUA - a arte de pensar o impensável, da jornalista Tatiana Teixeira, preenche importante lacuna nas pesquisas realizadas no Brasil. A obra é fruto da Dissertação de Mestrado em Relações Internacionais defendida pela autora na Universidade Federal Fluminense (UFF) e laureada pela embaixada norte-americana com o Prêmio Franklin Roosevelt 2007, concedido a trabalhos sobre os Estados Unidos.
Tatiana Teixeira aborda primordialmente o papel dos think tanks neoconservadores norte-americanos na conjuntura política pós-11 de setembro - oportunidade privilegiada para compreender as disputas por poder e influência na formulação da política externa dos EUA. O medo disseminado após os atentados criou a oportunidade para a implementação de uma agenda diplomática formulada em grande medida em instituições como Heritage e Project for the New American Century, que há anos refletiam sobre assuntos como o combate ao terrorismo e pregavam a derrubada de regimes políticos no Oriente Médio, quando estes fossem hostis aos Estados Unidos.
Contudo, o livro de Tatiana Teixeira vai muito além desse aspecto e examina o surgimento e o desenvolvimento dos think tanks, mostrando as transformações pelas quais passaram ao longo do tempo. A autora começa com um sumário das abordagens teóricas sobre o papel das idéias e dos intelectuais na ação política, recorrendo a Pierre Bourdieu, Karl Mannheim e Michel Foucault, entre outros. Examina o "poder simbólico" exercido pelas idéias nos conflitos de interesses, mas também ressalta o quanto o pensamento pode ser manipulado para referendar decisões que já haviam sido tomadas de antemão.
Em seguida, examina os diversos papéis que os especialistas acadêmicos podem desempenhar nos think tanks, identificando seis tipos principais (p. 71-72). Os mais importantes são os scholar-statesman, que ocuparam altos cargos no governo, no Conselho de Segurança Nacional, no Departamento de Estado ou no Pentágono. Em seguida, vêm os policy specialists, cuja área de atuação está restrita a um nicho particular das políticas públicas e em geral estão envolvidos sobretudo com pesquisa acadêmica de longo prazo. A autora distingue-os dos policy consultants, que trabalham no curto prazo e estão mais voltados ao atendimento de seus clientes do que ao diálogo com o público em geral. Os government experts usam seus cargos burocráticos para participar no debate político a partir de uma posição de poder. A autora também examina os policy interpreters, que "buscam espaço nos editoriais dos jornais, telejornais ou programas de entrevistas. Os veículos de comunicação dependem desses especialistas para dar uma aparência de profundidade, diversidade, equilíbrio e isenção a sua cobertura diária" (p. 71). Por fim, há os policy enterpreneurs, dedicados à criação de instituições e à fundação de think tanks.
Assim como os intelectuais exercem diversas tarefas nos think tanks, essas instituições também desempenharam funções distintas na cena pública ao longo do século XX. Tatiana Teixeira avalia que existem quatro ondas principais na história dessas organizações (p. 86-95). A primeira acompanha a "era progressista" do início do século XX e é marcada pela ascensão dos Estados Unidos ao papel de grande potência, com a criação de think tanks como Council on Foreign Relations e Brookings Institution. Funcionavam como "universidades sem alunos", e destacava-se sua pesquisa acadêmica de alta qualidade.
A segunda dá-se no bojo do surgimento do complexo industrial-militar norte-americano na Segunda Guerra Mundial e no início da Guerra Fria, quando "fez-se necessária a emergência de analistas capazes de entender, prever e dialogar com um mundo em transformação e cheio de incógnitas a serem respondidas" (p. 87). O think tankclássico dessa fase é a RAND Corporation.
Já os anos 1960 e 1970 são marcados pela cisão da elite norte-americana, com os conflitos em torno da Guerra do Vietnã, dos problemas sociais dos EUA e dos embates políticos e culturais entre esquerda e direita. Marco dos chamados advocacy think tanks, assim caracterizados pela autora: "A partir de uma espécie de 'filosofia Wal Mart', com idéias expostas como as mercadorias na prateleira de uma grande loja, os advocacy think tanksseguem um programa ideológico preciso com recomendações operacionais para influenciar quem é influente" (p. 137). São dessa época o Heritage, o Cato e o Center for Strategic and International Studies (CSIS).
Por fim, a quarta onda nasce com o fortalecimento dos conservadores no governo Reagan e nela se destacam instituições como Bradley e Smith Richardson. Os advocacy think tanks passam a dedicar-se cada vez mais aomarketing de idéias, com ampla capacidade de influenciar a agenda pública, seja por contatos no governo, seja pelos meios de comunicação.
Os think tanks exercem diversas funções. A mais conhecida é pautar o debate político por meio da publicação de estudos, artigos de opinião e da participação de seus membros na mídia. A mistura entre pesquisa e advocacy faz deles a ponte entre conhecimento e poder. No sistema político altamente fragmentado dos Estados Unidos, osthink tanks assumem tarefas de representação de diversos grupos de interesses, embora muitas vezes com pouca transparência com relação a como são financiados. O discurso de que defendem o "interesse público" não se sustenta diante dos nexos existentes entre essas organizações, conglomerados econômicos ou partidos políticos. Seu poder é ilustrado por citação bem-humorada do jornalista Steve Waters: "Como você muda o mundo? Bem, existem os caminhos óbvios, como tomar o poder, ser absurdamente rico ou trabalhar pesado por meio do processo eleitoral. E existem os atalhos, como o terrorismo ou formar um think tank" (p. 105).
Tatiana Teixeira chama a atenção para a função de "incubador ou reciclador de talentos" exercida pelos think tanks ao funcionar como "um local de entressafra para que aqueles que deixaram o poder tenham onde formular, elaborar e difundir suas idéias, mantendo-se na ativa, sem cair no esquecimento, e trocando experiências com os membros permanentes dessas organizações" (p. 117), observando também que "é raro hoje alguém chegar ao primeiro e segundo escalões do governo, nas áreas de política externa e segurança nacional, sem já ter passado ou estar vinculado a algum think tank" (p. 119).
O tipo de rede de contatos pessoais formada a partir desse tipo de instituição é conhecida como revolving door:
O processo de exercer influência é interessante, porque tem efeito circular. Chega-se ao ponto de onde se saiu. Laconicamente os passos dados são: escrever livros, depor no Congresso, conseguir contatos informais no Capitólio ou na Casa Branca e na imprensa, fazer conferências e aparecer na mídia, onde os integrantes dos think tanks são reconhecidos como autoridade legítima para comentar questões políticas. (p. 149).
Uma vez examinados esses elementos gerais, a autora estuda o caso dos neoconservadores no governo George W. Bush. Ela narra a história da formação dessa corrente ideológica, começando pelos progressistas desiludidos com os rumos da esquerda, a partir dos anos 1960/1970. A autora aponta que suas decepções os levaram a defender a retomada de valores conservadores, como maior espaço para a religião na vida pública, e analisa sua convergência e divergência com outras tendências da direita norte-americana, em particular os movimentos cristãos. Destaca-se o maior ativismo dos neoconservadores com a promoção da democracia no exterior e suas posturas mais flexíveis com relação à economia - não compartilham, por exemplo, da adesão ao livre-comércio que caracteriza a ideologia conservadora nos EUA.
A autora afirma que o casamento entre os neoconservadores e os outros ramos da direita norte-americana foi celebrado durante o governo Reagan. Contudo, nas administrações seguintes, os neoconservadores afastaram-se dos cargos mais importantes, embora tenham se dedicado a aperfeiçoar suas ferramentas de luta política:
Embora tenham ficado afastados do poder nos anos 90, tanto no governo de George H. W. Bush (de 1989-93), quanto no de Bill Clinton (1993-2001), os neocons aproveitaram esse período para construir e consolidar um eficiente método voltado para a batalha das idéias, graças a uma densa infra-estrutura intelectual, com nomes de alto calibre, da qual os think tanks fazem parte. (p. 166).
Em seguida, Tatiana Teixeira examina em detalhes o funcionamento dos principais think tanks dos neoconservadores como Heritage, American Enterprise Institute e Project for the New American Century. Ela questiona a qualidade da pesquisa desenvolvida por essas instituições, afirmando que muitas vezes se trata mais da reafirmação de posições políticas, com forte visibilidade na mídia: "Os críticos afirmam que se trata, na verdade, de uma loja de conveniência de idéias, com material de qualidade duvidosa, mas com incontestável e incrível capacidade de marketing" (p. 210).
Jornalista experiente, com passagens pelo jornal O Globo, pela Agência EFE e atualmente na France Press, a autora discute o perigoso papel que a mídia desempenha na ponte entre os think tanks e as políticas públicas, mostrando como muitas vezes repórteres com prazos apertados sucumbem à pressa e preferem dar voz aos articulados membros dessas organizações, em vez de estimular a reflexão cautelosa e ponderada sobre os temas internacionais. O recurso exagerado aos media doctors empobrece o nível das reflexões e dá margem à captura da agenda pública por parte de camarilhas políticas atentas à importância de influenciar os meios de comunicação.
Em suas considerações finais, Tatiana Teixeira destaca a internacionalização crescente dos think tanks, com o modelo norte-americano disseminando-se para outros países. Ela defende a ampliação do leque ideológico dessas organizações como uma garantia de que estimularão o debate democrático de idéias, observando com preocupação que seu caráter está cada vez mais voltado para advocacy do que para pesquisa objetiva. A autora observa que os think tanks cumprem funções democráticas positivas, como "sistematizar as idéias que circulam no meio político" (p. 225, em negrito no original). Entretanto, é preciso mais diversidade nas discussões:
Logo, a saída parece ser a variedade de instituições para democratizar o debate e fomentar a vitalidade intelectual, para que a Política Externa norte-americana rejuvenesça com novas idéias, ao contrário de reciclar de maneira contínua antigos conceitos, que claramente não se aplicam ao atual mundo em estágio transitório. (p. 225, em negrito no original).
No contexto atual dos Estados Unidos, tal diversificação significa questionar a hegemonia conservadora sobre a agenda pública. No que toca à política externa, Tatiana Teixeira chama a atenção para os impactos catastróficos da guerra do Iraque e as críticas internacionais que o conflito provocou com relação às estratégias de segurança nacional formuladas por Washington.
Resenha recebida em janeiro e aprovada para publicação em agosto de 2008.
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