quinta-feira, 16 de junho de 2011

A INGLATERRA ELISABETANA E OS CONFLITOS PELO PODER


O período em que Elisabeth permaneceu no poder, durante quase meio século, é tido pela historiografia como a idade de ouro da Inglaterra. A filha de Henrique VIII encarou, durante seu governo, inúmeras intrigas, conspirações palacianas, crises econômicas, além das ameaças interna e externa à estabilidade do seu poder. Muitos estudiosos sobre essa época convergem em dizer que a infância conturbada dessa rainha (durante o reinado de sua irmã, Maria, foi encarcerada na Torre de Londres e mantida sob constante vigilância) propiciou que ela, mais tarde, obtivesse a tranquilidade e a fleuma necessárias para bem conduzir o Estado britânico.
Durante a segunda metade do século XVI, a Inglaterra encontrava-se cercada de inimigos: de um lado havia a Escócia e de outro a França, enquanto que a Espanha, suposta aliada, esperava o momento certo para atacar. A fim de melhor administrar todas essas adversidades, a rainha cercou-se de homens confiáveis, zelando pelo patriotismo e pela consciência da razão de Estado, sem levar em conta a ascendência nobiliária de seus ministros. No entanto, deixou claro a todos os seus assessores quem, definitivamente, tomava as decisões. Em seu governo, o catolicismo da Rainha Maria foi revogado e a nação tornou-se protestante, por lei, evidenciando o estreitamento da ligação entre o Estado e a religião, já que o soberano era chefe supremo da Igreja Inglesa. Diante disso, a instabilidade política gerada pelos conflitos religiosos era eminente. Ainda nesse contexto de divergências religiosas, surgiram os protestantes radicais, conhecidos pelo nome de puritanos. Estes, juntamente com a ameaça católica vinda da Contra-Reforma, representavam uma ameaça ao status quo da política inglesa. Tal segregação da sociedade inglesa mostrava-se também no Parlamento, dividido entre conservadores (Tories) e liberais (Whigs).
Diante de uma realidade instável e belicosa, a Rainha Elisabeth dispunha de uma arma diplomática bastante eficiente: a oferta de sua mão em casamento. Em uma atitude bastante pragmática, no entanto, Elisabeth decidiu-se por “casar” com o Estado inglês, pois qualquer outro casamento ocasionaria o envolvimento do país em questões continentais, representando uma ameaça concreta a sua soberania. Frente a essa decisão da soberana, temores relacionados a sua sucessão foram suscitados pelo reino.
Outra ameaça voltada contra a Inglaterra era a presença de Mary Stuart, Rainha da Escócia, pressionada em seu país pelo reformista João Knox. Durante sua estadia ao lado de Elisabeth, inúmeros emissários católicos infiltraram-se na Inglaterra com o intuito de assassinar a Rainha, representante da mais ferrenha resistência protestante à retaliação da Igreja de Roma. Não obstante, a Inglaterra dispunha de um dos melhores serviços secretos e vários atentados planejados foram desmantelados.
Em agosto de 1572, na Noite de São Bartolomeu, os huguenotes foram massacrados nas ruas de Paris. Esse acontecimento frustrou a tentativa de aproximação entre Elisabeth e a França, na medida em que os católicos franceses readquiriram poder político e a Inglaterra passou a financiar os protestantes franceses e holandeses. Já a insurreição dos Países Baixos contra Felipe II, da Espanha, também foi apoiada pelos ingleses, visto que a Espanha representava uma ameaça ao protestantismo insular. Esse tipo de política externa insuflava ainda mais os puritanos, pois sentiam a necessidade de que o governo conduzisse uma política belicosa de inspiração protestante.
Com a entrada de inúmeros padres jesuítas e com o aumento das ameaças à vida da soberana, a Rainha inglesa, fora convencida por seus ministros de que Mary, sua prima, deveria ser assassinada pelo bem da Coroa. Sua pena capital fora, de fato, concretizada, a despeito da relutância e da hesitação da Rainha.
A atuação dos corsários nas colônias espanholas, com a complacência de Elisabeth, propiciava, cada vez mais, um clima beligerante entre os dois Estados e a guerra era tida como inevitável por ambos os lados. Como a Espanha dispunha de muita riqueza oriunda de suas colônias na América, a Inglaterra passou a saquear os portos espanhóis, bem como a buscar novas alternativas para o seu desenvolvimento. Uma delas consistiu na tentativa de colonização da América do Norte, adiada vinte anos devido à guerra com Filipe II. Esse empreendimento conferiu grande experiência aos marujos da rainha, fundamental para desbancar a superioridade econômica da Espanha.
Em 1580, a Espanha anexou Portugal e, portanto, podia contar com a frota de navios de guerra desse país para o embate com a Inglaterra. Com o passar do tempo, ambos os países preparavam-se para o conflito armado. Quando a guerra, enfim, fora concretizada, a superioridade espanhola não comprovou ser verdadeira e os ingleses acabaram derrotando a Invencível Armada. O êxito de Elisabeth nesse combate levantou drasticamente a popularidade e o prestígio da rainha a ponto de ser considerada um símbolo de majestade e de santidade concomitantemente, representando o espírito inglês da época.
Entrementes, alguns anos depois, o conde de Essex aumentara seu prestígio, ameaçando a popularidade da rainha. Após uma tentativa frustrada de invasão aos Açores, Essex perdera sua influência junto à corte. Uma nova chance fora dada a ele com o propósito de sufocar as revoltas na Irlanda, bastião do descontentamento com a dominação inglesa. Mais uma tentativa fracassada e Essex cai no ostracismo político. Numa tentativa desesperada e, até mesmo, inconsequente, tenta um golpe contra a Coroa, mas esse plano também não obtém êxito e ele é morto na Torre de Londres.
Ao longo dos anos, a rainha perde toda a sua vitalidade na gerência do Estado e, por não ter nenhum herdeiro direto, acaba escolhendo Jaime VI da Escócia, filho de Mary, sua prima, para assumir o trono, pondo fim à dinastia dos Tudors. Este se torna Jaime I da Inglaterra, que dá início à dinastia Stuart no trono inglês.
Por fim, importante salientar que a Rainha Elisabeth teve perspicácia suficiente para alavancar o desenvolvimento de seu país e de projetá-lo internacionalmente, angariando simpatizantes e silenciando opositores ao longo de quase meio século. Enfrentou batalhas para chegar ao poder, assim como para manter-se nele, seguindo, de certa forma, os ensinamentos do pai da ciência política, Nicolau Maquiavel.

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