SARAIVA, José Flávio Sombra (org). História das Relações Internacionais Contemporâneas: da sociedade internacional do século XIX à era da Globalização. São Paulo: Saraiva, 2008.
Capítulo 5: A agonia européia e a gestação da nova ordem internacional (1939-1947)
Os últimos suspiros da agonia européia: abre-se um vazio (1940-1941) (p. 177- 179)
1) A derrota francesa expressou a ruptura de uma velha ordem internacional do século XIX. A balança de poder que havia conformado a sociedade internacional européia, com valores e regras de condutas comuns, havia erodido de vez. A Alemanha era o pivô da crise que se estendia na balança de poder na Europa desde a Grande Guerra.
2) Não havia contudo, nada para substituir a ordem decadente. Alemanha, Itália e Japão.
3) Os norte americanos, impressionados com a rapidez da derrota francesa, tomaram consciência do vazio criado nas relações internacionais. Para eles, o lado europeu cedia a Hitler e o asiático parecia ameaçado pelo expansionismo japonês no Pacífico. A opinião pública começou a se mobilizar: o jornalista White criou um comitê destinado a ajudar os aliados.
4) Na América Latina, os movimentos da diplomacia foram difusos. A Argentina, mergulhada em movimentos políticos desestabilizadores, optou pela neutralidade nos assuntos europeus.
5) No MÉXICO mantinha posição de eqüidistância.
6) No Brasil, as correntes de opinião se dividiam acerca da guerra européia. Esperariam os movimentos norte americanos e os objetivos estratégicos do projeto de desenvolvimento nacional empunhado pelas elites dirigentes.
7) Os primeiros passos das independências afro-asiáticas, com suas múltiplas feições e casualidades, foram dados no contexto da Segunda Guerra Mundial.
8) Na União Soviética, a rapidez do armistício francês levou Stalin a reforçar os espaços de influência soviética no leste europeu. Na perspectiva dos acordos assinados entre Moscou e Berlim e aproveitando-se da incapacidade das duas velhas potências liberais, Stalin ensaiou a modificação do mapa político europeu. Agiu sobre os Estados bálticos, para garantir a ocupação, e comandou uma série de anexações na Romênia e na Bessarábia (transformada em Moldávia).
9) Para agravar ainda mais a agonia européia, Mussolini também iniciou sua guerra paralela, com os próprios meios e objetivos. Disputando espaços coloniais no Mediterrâneo, a mobilização italiana foi dirigida para a Grécia e para o norte da África.
A mundialização da guerra e a emergência dos flancos (1941-1945) (p. 179)
10) O ano de 1941 deve ser visto como um momento crucial de inflexão das relações internacionais contemporâneas. O vazio de poder mundial começa a ser preenchido.
11) Vários acontecimentos alimentaram o turning point de 1941. A guerra mundializou-se com o ataque alemão contra a URSS, em junho, e o japonês contra bases norte-americanas, em dezembro. A França invadida e a Grã Bretanha falida evidenciaram a decadência das antigas potências. As novas correlações de forças ampliaram o teatro dos conflitos. As guerras paralelas se uniram na maior conflagração da história da humanidade. Ao final de 1945, o mundo já se modificava plenamente. Em 1947, a balança de poder internacional era outra.
O fim do poder britânico e a emergência norte americana: o novo conceito de superpotência (p. 179- 182)
12) O declínio naval britânico e a crise do mercado financeiro comandado pela City Londrina foram os elementos episódicos da perda gradativa e profunda do poderio da velha potência liberal. Criadora da ordem internacional liberal do século XIX, a Grã-Bretanha iria ceder o espaço do poder mundial à sua ex-colônia: os Estados Unidos.
13) Os Estados Unidos observaram a crise britânica de maneira apreensiva. O endividamento da ilha demonstrara que ela não teria condições de continuar as compras dos produtos industrias norte americanos. A Grã Bretanha era a última resistência democrática européia às ambições hegemônicas de Hitler.
14) Preservar um conjunto de valores e regras que haviam alimentado a vida internacional do mundo liberal e democrático. A superação do ciúme anglofóbico dos norte americanos é, nesse sentido, peça-chave na ruptura do isolacionismo dos Estados Unidos.
15) Desde a sua reeleição, em novembro de 1940, o presidente Roosevelt preparava a opinião pública para o engajamento dos Estados no conflito europeu. A preparação ideológica da opinião pública, por sua vez, confundia-se com a própria mobilização industrial e com o rearmamento. No início de 1941, os Estados Unidos já viviam em economia de guerra sem que estivessem nitidamente presentes na guerra européia.
16) Churchill percebera o declínio do velho império e a emergência da nova potência atlântica.
17) Para os Estados Unidos, os experimentos da cooperação econômica com a Grã Bretanha, às vésperas da mundialização da Segunda Guerra, serviriam para o mundo do pós-guerra. As bases do Plano Marshall já estavam sendo plantadas antes mesmo da entrada efetiva dos norte americanos no conflito mundial.
18) A diplomacia do dólar vital para a inserção norte americana nos anos 1920 cedia lugar a diplomacia ilegal dos Estados Unidos para utilizar um termo de Jean Batiste Duroselle. Os Estados Unidos, agora, expunham a Grã Bretanha ao ridículo da dependência em relação aos próprios interesses no continente europeu e no mundo.
19) Assim, em 1941, emergia um novo conceito: o de superpotência. Os Estados Unidos gestavam uma nova condição da inserção internacional dos Estados na era contemporânea das relações internacionais. A superioridade econômica, associada à capacidade e à vontade para sobrepujar as potências européias tradicionais, elevava os Estados Unidos ao cerne das decisões internacionais de uma forma diferente da idéia de hegemonia coletiva que presidira até então o ordenamento internacional.
20) Pearl Harbor, nas ilhas do Havaí, não era o pretexto procurado por Roosevelt, que imaginava ataques japoneses nas Filipinas e nas Índias Neerlandesas. O ataque japonês à base norte americana, em 7 de dezembro de 1941, comoveu a opinião pública. Os 86 navios perdidos e mais de três mil homens mortos e feridos levariam os Estados Unidos para o coração da Segunda Guerra Mundial.
21) Em dezembro de 1941, os Estados Unidos uniram as duas guerras paralelas, a da Ásia e da Europa, em uma só. Transformavam-se assim no centro do mundo. Assumiam os norte americanos a responsabilidade internacional de administrar a agonia européia, a emergência do Japão na Ásia e a contenção do flanco oriental sob o controle da URSS. Nascia a a política de superpotência: adequava-se, nos EUA, a supremacia econômica à vontade política de intervir de maneira planetária.
A arrancada soviética à busca de espaços: o nascimento de um gigante no flanco oriental (p. 182- 184)
22) O ataque alemão à União Soviética, em 22 de junho de 1941, implementado o Plano Barbarossa de ocupação da Europa Oriental até as fronteiras soviéticas, foi outro significativo momento de ruptura da Segunda Guerra Mundial. O espaço vital para a Alemanha na Europa, um dos objetivos da política de guerra, chocava-se com a busca de espaços de poder pelos soviéticos na mesma região.
23) Berlim e Moscou romperiam, nos primeiros meses de 1941, o jogo de cortejo mútuo para assumir posições antagônicas.
24) A Inquietação da liderança do Kremlin decorreu na busca de espaço próprio no oriente europeu e na Ásia. Nascia a arrancada soviética na direção da construção da superpotência. Entendendo que necessitava armar-se mais, antes de enfrentar a Alemanha, Stalin procurou explorar ao máximo as potencialidades da convivência de Hitler.
25) A estratégia soviética era diminuir a possibilidade de manter a guerra em duas frentes, simultaneamente: no Ocidente, com a Alemanha, e no Oriente, com o Japão. Pacto de não agressão com o Japão.
26) No final de outubro de 1941, a União Soviética era incluída na aliança ocidental.
27) O flanco oriental da guerra foi extremamente violento. No início de 1941, deu-se o início das movimentações militares espetaculares dos soviéticos. A história das estratégias e das perdas humanas compõem um capítulo todo especial da Segunda Guerra Mundial.
28) De qualquer forma, em dezembro de 1941, diante da contenção do avanço alemão nas porta de Moscou, da primeira perda hitlerista de uma Blitzkrieg e da força do inverno russo, as relações internacionais ganhavam outro gigante: a URSS.
29) EM 1994, o rolo compressor dos soviéticos forçou o recuo gradual das tropas alemãs na Ucrânia, na Bielo-Rússia e na Polônia. Stalin celebrou os avanços e continuou a desenvolver sua engenharia política e militar com o objetivo de impor administrações temporárias, favoráveis à sovietização do poder e à satelização vis-à-vis Moscou, aos territórios liberados no leste europeu e no Báltico.
30) O curso da conflagração levava, assim, a balança de poder para os aliados. A tomada da Normandia e a ocupação da Alemanha seriam os símbolos marcantes da recomposição das forças militares e morais a favor dos aliados, bem como o prenúncio do fim de uma grande agonia.
O Japão e a grande Ásia Oriental (p. 184-186)
Periferias em agitação: a América Latina e a África (p.186-188)
A nova ordem internacional : o mundo já é outro (1945-1947) (p.188)
O preâmbulo de um novo tempo nas relações internacionais (p. 189-192)
As Nações Unidas e o gerenciamento da paz: da desconfiança à ruptura (p. 192- 195)
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