terça-feira, 12 de abril de 2011

Vazador do Wikileaks leva relator da ONU a repreender EUA

Vazador do Wikileaks leva relator da ONU a repreender EUA

DE SÃO PAULO

O relator especial da ONU sobre tortura, Juan Mendez, emitiu uma rara advertência o governo dos Estados Unidos nesta segunda-feira, por negar seu acesso ao soldado americano preso por ter vazado ao site WikiLeaks documentos diplomáticos do país, informou o jornal inglês "Guardian".
Segundo o jornal, o governo americano impediu visitas de Mendez ao soldado Bradley Manning. Esse tipo de advertência é usado pela ONU para censurar regimes autoritários.
"Eu estou profundamente decepcionado e frustrado pela prevaricação do governo americano em relação às minhas tentativas de visitar o senhor Manning", disse o relator da ONU em seu parecer.
A situação de Manning na prisão já tinha sido alvo de críticas e preocupação da comunidade internacional. Em janeiro, a Marinha americana substituiu o comandante do centro militar onde ele está preso depois de seus advogados e da Anistia Internacional terem denunciado supostos maus-tratos ao soldado.
Manning está preso na base de Quantico, Virginia.
Segundo o "Guardian", o relator da ONU não conseguiu autorização para se encontrar com Manning em particular, sem um soldado presente. Na presença do soldado, qualquer coisa que Manning diga pode ser usado contra ele na corte marcial.
O jornal inglês acrescenta que Mendez tem autorização para fazer visitas "não-monitoradas" a Manning. Em seu posto, ele tem conseguido colocar essa prerrogativa em prática em 18 países nos últimos seis anos.
Desde o Natal, Mendez investiga as queixas contra o tratamento dado ao soldado.
"Desde dezembro de 2010, eu venho tentando convencer o governo americano de permitir a visita a Manning, a convite de seu advogado, para avaliar sua condição", disse Mendez. "Infelizmente, o governo americano não foi receptivo a uma visita confidencial".
INTEGRIDADE
O relator da ONU também exige que as autoridades assegurem a integridade física e mental do soldado que, segundo ele, passa 23 horas por dia trancado.
Mendez iria emitir seu parecer na última sexta-feira, mas decidiu adiar para esta segunda-feira para depois do encontro com representantes do Departamento de Defesa americano e do Departamento de Estado para pedir que eles reconsiderem a decisão de negar o acesso livre ao prisioneiro.
Segundo o "Guardian", os funcionários americanos disseram que Manning pode pedir para ver Mendez em uma visita supervisionada.
"Uma conversa monitorada com Manning não está de acordo com as práticas que são aplicadas ao meu cargo em todos os países e centros de detenção que visito", disse Mendez.
O relator da ONU deixou claro, de acordo com o jornal inglês, que espera mais dos Estados Unidos. 'Os Estados Unidos da América têm um papel central em dar o exemplo em assuntos relacionados ao meu cargo como relator sobre tortura, o que os torna um parceiro vital".
O advogado do soldado, David Coombs, disse em um blog na internet que vem tentando organizar visitas, inclusive a do congressista democrata Dennis Kucinich.
Antes de assumir como relator sobre tortura, Mendez trabalhou nas Nações Unidas como especialista em genocídio.

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