Monstro de mil faces
A violência em nosso cotidiano parece tão banal que pensar e agir em função dela deixou de ser um ato circunstancial para se transformar numa forma do modo de ver e de viver o mundo do homem. “Desde o momento em que um longínquo ancestral do homem fez de um osso a primeira arma, a violência sempre caminhou lado a lado com a civilização”, segundo Nilo Odalia.
Lembro aqui, a sequência inicial do filme 2001 – Uma Odisséia no Espaço – que apresenta o momento em que os macacos descobrem a utilização dos ossos como arma contundente, mortal e vitoriosa. Quando o macaco vitorioso lança para o alto o osso-instrumento de morte, numa linda fusão ele se transforma numa espaçonave gigantesca com a forma de um carrossel. Ainda conforme Odalia: “São dois mundos que se interligam, e mesmo se fundem, numa continuidade que tem como elemento de ligação a violência”.
Atualmente, independente do local onde o homem vive, seja na grande cidade ou pequena, podemos ser vítimas de todos os tipos de violência física, racial, sexual, política, econômica. Ninguém está a salvo!
É normal quando falamos de violência que a primeira imagem é do ladrão de casas e carros, do assassino sanguinário, do incorrigível, do escroque, enfim, nos inúmeros criminosos que agridem pessoas e assaltam o patrimônio alheio. O pior disso tudo é que não podemos contar com os aparelhos repressivos do Estado. Isso é fato incontestável! Falido, mal gerenciado, mal equipado e mal remunerado; os “braços fortes e punitivos da organização estatal” são vítimas das eficientes facções e mentes criminosas que provocam o “reino do caos e da anarquia”.
Além disso, a violência, qualquer que seja a sua intensidade, está presente nos bairros sofisticados, de classe média e nas favelas. A ironia do tempo histórico é que parece que voltamos, ou retroagimos, a uma concepção de moradia que se aproxima à concepção medieval. Casas com altos muros parecem sombrias e assustadoras. Lembram os antigos asilos de loucos. Guaritas que lembram ameias e seteiras dos castelos medievais. O mundo torna-se menor, restringe-se. O isolamento familiar, assegurado por trás de pesados portões e protegido por uma parafernália eletrônica passando a ser o único contato com o mundo exterior. Revela com nitidez que a casa hoje é menos compreendida como o lugar de repouso e tranqüilidade, uma ligação amorosa com o exterior. Hoje é mais como um refúgio contra a violência, preocupação constante e diuturna.
Por outro lado, é menos comum pensarmos na violência institucionalizada pelos sistemas de exploração social, isto é, a violência cruel e maligna dos salários de fome, da falta de moradia, do desamparo à saúde pública, do descaso constante pela educação, do preconceito racial e sexual e etc. Violências cegas e surdas que oprimem milhões de pessoas “sem vez” e ainda “sem voz”.
De fato, a violência ou a maldade são categoricamente formas de desrespeito, agressão e destruição praticadas pelo homem contra si próprio, contra outras pessoas (sociedade) ou contra a natureza.
No ano passado, admiti numa conversa informal com amigos que não me surpreenderia mais com os atos de violência humana contra outras pessoas ou mesmo contra a natureza. Confesso irritado que errei em minha opinião.
Há poucos dias, a reportagem do Jornal da Cidade apresentou a notícia de uma crueldade com requintes “diabólicos” (humanos) contra a natureza: “Dois gatinhos foram achados mortos na Vila Independência, aparentemente enforcados. As patas dianteiras foram cravadas em tábuas, com pregos de cerca de 10 centímetros. Um deles, malhado de branco e preto, teve a barriga cortada e as entranhas expostas”. Um crime ambiental brutal e horroroso! Desejo como outras pessoas indignadas uma punição rigorosa para esses deliquentes! Chega de impunidade!
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