1. Como avalia a atual política externa brasileira?
Avalio que ela melhorou muito neste ano. Ela ficou menos ideológica e mais focada na busca de resultados concretos. É isto que interessa ao país. Neste sentido, é importante lembrar que a política externa deve ser, como ato de Estado, racional e pragmática (mas, claro, balizada pelos princípios constitucionais fixados no Art. 4º da Constituição Federal).
2. É possível apontar diferenças entre a gestão do ex-ministro Celso Amorim e do atual ministro do MRE, Antonio Patriota?
Sim, é possível. A gestão atual do ministro Antonio Patriota é mais técnica e mais focada em resultados. Isto faz toda a diferença na atualidade.
3. Qual o papel e as perspectivas do Brasil diante de uma nova agenda mundial?
O papel será importante, em especial como potência regional. Neste sentido, é importante lembrar que o Brasil já possui uma grande liderança na América Latina. Esta influência deve se ampliar nos próximos anos e, para isto, contará muito a tradição pacifista do Brasil (hoje o país não possui conflito de qualquer significado com nenhum país da região). Assim, as perspectivas são boas. Claro que o Brasil terá que ser hábil, evitando o desperdício de energia em temas que ele não tem capacidade de equacionar.
4. Atualmente, os especialistas apontam que os Estados Unidos passam pelo chamado “declínio do poder relativo”? O senhor concorda com essa expressão?
Sim, mas apenas em uma pequena parte. É que os Estados Unidos, mesmo que tenha algumas dificuldades nas próximas décadas, continuarão a ser, pelo menos durante o século 21, uma das grandes potências (para não dizer a maior). A sua economia deve, por exemplo, permanecer acima dos treze trilhões de dólares (tendo apenas uma população de trezentos milhões de pessoas). Isto é algo extraordinário. A China, por exemplo, país mais promissor na atualidade, possui uma economia de seis trilhões de dólares (mas uma população que deve alcançar nos próximos anos a marca de um bilhão e quinhentos milhões de pessoas). Esta é uma diferença substancial.
5. De fato, qual o impacto da morte de Osama Bin Laden para os EUA e o mundo?
O impacto é muito pequeno, em termos geoestratégicos. O terrorismo continuará a ser uma ameaça, pois não depende da liderança de uma ou outra pessoa (é uma ação difusa). A maior implicação da morte de Osama Bin Laden talvez seja em termos psicológico para população norte-americana (que se sentirá talvez um pouco mais segura). Isto tende a ter alguma influência na próxima eleição para a presidência nos Estados Unidos.
6. A perspectiva de mercado de trabalho para os profissionais de relações internacionais é positiva?
Sem dúvida, muito positiva. O mundo continuará a ‘reduzir’ as distâncias e a aproximar os países e as civilizações nas próximas décadas. Nestes cenários, os profissionais das relações internacionais terão um papel diferenciado e um espaço de trabalhado cada vez mais amplo. O desafio é dar a estes profissionais uma formação qualificada.
7. O que significa a Primavera Árabe para os estudos das relações internacionais?
Significa que os estudos das relações internacionais terão que alterar alguns conceitos (e talvez alguns pré-conceitos também). Com a Primavera Árabe, o mundo vai se tornando politicamente mais homogêneo. Isto é bom, mas o profissional das relações internacionais deve ter a capacidade de entender as particularidades de cada região e de capa país.
8. A seu ver, quais os desafios estratégicos, do ponto de vista industrial-militar, que o Brasil precisa responder nesse século 21, a pouco iniciado?
É possível dizer que são muitos estes desafios. O mais importante é, contudo, o país conseguir desenvolver tecnologia de ponta nesta área.
9. Quais, num futuro próximo, as potências a assumirem as hegemonias mundiais na política? no poder militar? na produção científica? e na economia? e por que?
As potências hegemônicas nas áreas referidas devem, nas próximas décadas, continuar a ser mais ou menos as mesmas. Neste sentido, entendo que haverá mais um processo de consolidação do que de grandes alterações. Os Estados Unidos manterão uma clara dianteira; a China se consolidará como segunda grande potência mundial; a União Européia a manter sua atual posição; o Brasil continuará a ocupar um espaço intermediário, junto com a Índia e a Rússia. Por isso, não vejo grandes alterações.
10. Em sua percepção, a política de relações exteriores do Brasil tem sido tratada como política de Estado, ou como política de governo?
A política externa brasileira, nos últimos anos, tem oscilado entre as duas possibilidades. Neste momento, é possível constatar certa recuperação de uma política de Estado (e, portanto, menos ideológica). Isto é fundamental para o Brasil se consolidar como uma potência média (uma potência que deve ser ouvida em muitas questões mundiais).
11. Num mundo pós-WikiLeaks a burocracia pode se manter em estado de sigilo, ou os mínimos detalhes de todas as tratativas devem vir a público?
Os sigilos próprios da diplomacia estão, diante das novas tecnologias, seriamente ameaçados. Neste sentido, a diplomacia terá que se reinventar e adotar novas estratégias de funcionamento. Isto é possível? Entendo que sim, inclusive com o auxílio das novas tecnologias. Isto é importante? Também entendo que sim. O que quero dizer? Que o sigilo faz parte da forma de atuação da diplomacia e é um de seus elementos constitutivos. Mas, é claro que o sigilo das informações deve ser temporário.
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